Tinta
Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta
fiandeiras
guardiãs,
ao tecer o embalo
da rede rubra ou lilás
no mar da palavra
escrita voraz.
Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta
fiandeiras
tecelãs
retratos do que sonhamos
retratos do que plantamos
no tempo em que nossa
voz era só silêncio.
Quando uma pintura ultrapassa a matéria da tinta, ela deixa de ser apenas imagem e se torna poesia que pulsa, uma crônica que narra silêncios, um manifesto político que inquieta, um grito que atravessa o tempo e uma denúncia que insiste em não calar. Ela não está no quadro, mas nos olhos de quem a sente, nos mundos que transforma e nas feridas que expõe para que jamais sejam esquecidas.
Tinta d'ouro
A vida sorri no milagre de uma aurora.
Presente de mão divina
Iluminando os nossos pensamentos
O sol ainda adormecido.
Depois de uma noite, escondido
espreguiça os seus primeiros raios
que espalha-se como pó de pirlimpimpim
Flutuo nos meus pensamentos…
Na leveza da sua magia
Quimeras do meu sentir!
Raios de sol que vem com a alvorada.
Pujantes de brilho e cor
Rei supremo do firmamento
Senhor de tantos encantos!
Com fulgor lança o seu manto áureo
que cobre o imenso mar
Numa exibição sedutora
de lusco-fusco, puro êxtase!
Os seus raios de vida beijam a terra
e transbordam raios de amor
Ardente carícia de um toque
que aquece a rosa orvalhada
Que brilha linda e viçosa!
Espalhando perfume de amor.
Os raios de sol na relva
desenham uma trilha dourada
escrita com tinta d'ouro
pelo mais nobre poeta do universo!
A noite faz parte da vida.
mas a escuridão não é eterna
Que tem fé sempre alcança!
A esperança de um novo amanhecer
-
O sentimento nem sempre era tangível em papel e tinta, né, Clarice? Eu sinto muito.
Admito que continuo me perguntando se você era tão exigente. Se empilhava papéis amassados ao redor da sua máquina de escrever.
Se rasgava seus livros com ódio. Se questionava: isso é bom?
Você viveu poesias, dramas e contos que jamais leremos. E, mesmo parindo tantas páginas, nem 100 séculos te decifrarão.
Mas é justo, caso o dom da vida seja existir, em partes, intocável e sagrada.
Pelo menos você retribuiu essa justiça, tornando acessíveis alguns gritos íntimos dessa dor missionária.
seja na introspecção angustiante de Lóri (tantas de nós) ou nas suas tramas nitidamente pessoais.
Que vê lição nas galinhas, nas rachaduras... Que vê Deus ao pisar num rato morto na orla do Rio de Janeiro.
E, a propósito, custei a recuperar o rumo após "Perdoando Deus".
Sempre admirei sua coragem de lançar palavras céu afora e f#das!
"Quem quiser ler, leia por sua conta e risco". Um certo descaso com o perfeccionismo e com as opiniões.
Era seu modo de sobrevivência, né? Mas também... que opinião vai impedir um ovo prestes a chocar?
Pois eu assumi o risco... (devo dizer que tinhas razão!)
Mesmo acessando suas páginas (desesperada pela identificação), nasceu a minha maior dor: não ler seus escuros.
O que você foi quando suas mãos estiveram amputadas... quando, na missão da escrita, você aposentou as fardas?
Minha dor é não saber o que se passava na sua cabeça enquanto o bolo de palavras não descia (nem por reza) esôfago abaixo.
Era isso que eu queria perguntar, mas cheguei uns 50 anos atrasada.
Aquela dor de estar entalada... de nenhum arsenal de palavras ser suficiente para fazer escorregar o sentimento que se agarrou na garganta.
O que você fazia?
Quando não era a palavra, ERA O QUÊÊÊ?
Qual era o mecanismo, Clarice?
(silêncio!)
Perdi a palavra viva andando pelas ruas da Tijuca. Fiquei com os ecos, que são meu desespero de hoje e ciclicamente.
Mas é justo, né?
Você continua intocável. Não é sobre a escrita, é sobre aquilo que não se fez ler.
Não é sobre o pecado... consumado. Ele pode ser escrito.
A dor sempre residirá sobre a nossa sagrada, intocável, dolorosa e incompreensível solidão!
Meu presente de Natal?
Faça-me um bilhete escrito à mão
Deixe borrar a tinta com uma gota de seu perfume
Dobre e sele com um beijo marcado de batom...
Não estou leiloando minha voz,
Tampouco o que penso,
A tinta da minha mão é inapagável e impagável,
Cor invisível da liberdade,
Nem todo poema é tinta e papel
Saiba ver de onde vem, onde tem
Cada alvorecer
Pensamento do dia 19/10
Não basta apenas passar tinta no passado, é necessário emassar, alisar, lixar ai sim pintar uma nova vida.
Porque não me envergonho dos pingos de tinta sobre mim. Pois é o dom que Deus me deu, para sustentar minha família.
MINHA PAREDE
A minha parede, tem verde,
assim como o horizonte..
parede secam, tinta verde
rede estendida, suave sede.
Na minha parede, tem sonho
nesse mundo assim medonho
sonhos que morrem tristonho
muito antes do abandono.
Na minha rede, tem teias
que no balango se estapeia
tantas peias em minhas veias
que minha vida encandeia.
Na minha parede, tem rede
que aos meus sonhos, laça
um dia eu sei minha parede
mudará essa minha raça.
Antonio Montes
Tinta verde.
Que a seca faminta
não tire o que veste
do couro e da sinta
do pouco que reste
antes que seja extinta
o verde da tinta
que pinta o nordeste.
Caminho certeiro
No longo caminho da estrada
conto estrelas no céu.
Absorvo a luz, como a tinta no papel.
Noite escura, fria e só a lua ao léo
é inverno rigoroso e o caminho longo, mas prazeroso.
Sinto gosto, sinto cheiro, sinto a vida sem anseio
e foi na chegada do destino, que descobre porque veio.
É o mar, a companhia, o vinho e o palheiro. São vagas as palavras, mas o destino foi certeiro.
Eu sei, você sabe
Tinta preta e papel
Um terceiro no par
Mesmo que seja leve
Eu nunca soube atuar
Melhor deixa como está
Eu sei, você sabe
Julieta e Romeu
Só se for pra casar
Mesmo que seja fácil
Eu sempre quis complicar
Então me diz
Que fica aqui
Comigo e vai demorar
Só se for pra deixar o teu abraço
Em volta dos meus braços
Quando a sorte não quiser me escutar
Só se for pra entender o que eu digo
Ser sempre o meu amigo
Sem perder aquele jeito de amar
Eu sei, você sabe
Tinta preta e papel
Um terceiro no par
Mesmo que seja leve
Eu nunca soube atuar
Melhor deixa como está
Eu sei, você sabe
Julieta e Romeu
Só se for pra casar
Mesmo que seja fácil
Eu sempre quis complicar
Então me diz
Que fica aqui
Comigo e vai demorar
Só se for pra deixar o teu abraço
Caber bem nos meus braços
E fazer a sorte desabrochar
Só se for pra tornar o seu sorriso
Meu mais seguro abrigo
Sem perder aquele jeito de amar
LÍNGUA VIVA
Tenho uma palavra na pontinha da caneta
Agarrada
Mergulhada na tinta
Não quer sair ainda
Se for um verbo
Tomara que não seja de estado
Permaneceria estática, atrofiada
Que seja um verbo de ação
Que me leve por aí
Mexa minha alma, mova meu corpo
Se for pronome
Que me situe no espaço
No tempo
Talvez seja adjetivo
Se for, que me modifique
Provoque uma metamorfose
Caso seja substantivo
Que seja composto
Traga-me boas companhias
Ela está aqui na pontinha da caneta
Teimosa
Acho que é uma nova palavra
Está nascendo agora...
"Alguns sujam as mãos de sangue e outros sujam as mãos de tinta. Escolhas que nós fazemos mesmo que não seja uma decisão só nossa..."
A faca.
O papel não aceita mais minha tinta.
Não entende esse pecado de tentar em vão.
Fraco e sem dedos nas mãos vou tremulando a faca...
Deleite para o fim da dor.
.Páginas rasgadas
A tinta derramada
de um livro destruído
dos versos esboçados
ao parágrafo esquecido.
Das histórias de romance
que retratavam o amor
com distúrbios emocionais
surgem histórias de terror.
Os contos incontáveis
que escondem algo ruim
as memórias imensuráveis
que parecem não ter fim.