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Em pedaços
Depois de algumas decepções, passei a crer em cicatrizes. Mas não naquelas que eu posso ver, essas sei que são reais. Aquelas que mesmo sem que eu saiba que estão ali, me torturam, me alertam, me proíbem, roubam sem dó todo o sentimento. Como um terrorista que esta disposto a tirar a própria vida por suas convicções.
Talvez nem sejam cicatrizes. São feridas, feridas abertas. Prontas para serem cutucadas em uma tortura sem fim.
Essa minha obsessão. Mesmo que me esforce minhas feridas parecem uma doença contagiosa. Um monstro que prolifera, e vai como uma avalanche torturando, decepcionando, machucando a todos. Mas eu não era assim.
Me ofereço como barro que pode ser moldado e se transformar em um belo vaso. Mas não me derrube, não me quebre em pedaços. Porque dificilmente conseguirá me colar, me deixar com a beleza de um novo. Se mesmo que quebrado você ainda me queira. Junte os pedaços e cole sem pressa. As vezes o mesmo sentimento que tinha ao me moldar o faça ter paciência para colar pedaço por pedaço, até que não sobre um farelo. Que mesmo com marcas, cicatrizes, ainda te de prazer ao pensar que foi obra tua.
Posso até tentar juntar os pedaços. Mas o artista nunca serei eu. Se hoje falo isso é por que sei que nada vai suprir a necessidade que tenho que cole o vaso que você quebrou, sem nenhuma dó deixou em pedaços.
"Contemplo-te"
Da costela de Adão nunca vieste;
Pois não podes provir de uma parte tão insignificante à vida
Também não vieste de nenhuma explosão cósmica;
Pois o pó das estrelas já é natural de ti.
Não vieste de qualquer ventre humano;
não vieste de qualquer acaso;
também não vieste de religiões por dois motivos:
Religiões são incertas e tu vens de emoção.
Definir de onde vens não é trabalho para um simples leigo,
mas aqui vai meu simplório achismo:
Tu vens do mais nobre e detalhado desenho;
vens do mais engenhoso e incidente projeto deliberado.
Cabe agora às autoridades da ciência, explicar-me de onde vens tu.
Mas independente de onde vens uma certeza tenho:
És sinônimo de benevolência, simpatia, ternura e afeição...
És complexa, mas acima de tudo, és você.
O casebre do João
Sou feito o João de barro
Tenho asas para voar
Aonde a vontade me dar
O céu inteiro à disposição,
Mas prefiro construir minha casinha
Nesta árvore sozinha
Enchê-la com tudo que me agrada
Aconchegar-me em seu interior
Vê o sol se pôr
De lá só sair
Para a saudade vir
E retornar logo depois.
João-de-barro , meu amigo
Queria na tua casa morar
Certo é que ali estaria seguro
Seguro na certeza de ter um lar
João, reforma tua casa
Aumenta as paredes, faz tudo bem certo
Me dê um quarto, serei teu inquilino
Ao menos, terei sobre mim um teto
João, é bom contigo morar
Nem me importo com você viver
Aqui é quentinho, aqui é gostoso
Aqui vou ficar e aqui vou morrer,
Mas não se mude e me deixe só
Pois morrerei a não mais te ver
João é o ser mais próximo da humanidade
Para inicio, carrega o parecido no nome
E se houve inspiração humana em João
Houve inspiração de João no homem
João estava aqui desde a moradia das cavernas
Viu a formação da primeira cidade
E antes mesmo de “criarem” o elevador
Ele já subia, mostrando sua superioridade
Inspirou desde a mansão até a cabana
Modelo europeu , tendência americana
É o responsável pelas estruturas que temos hoje
Mesmo nunca tendo levado um pingo de fama
Mas a fama até que não te interessa
O mais importante é o barro, o trabalho
É a proteção, pois lá vem a chuva
Sei que não gostas de estar molhado,
Mas também é esteticista
Muito preocupado com o formato
És o João-de-barro Niemeyer
Ou faltou em Niemeyer o sobrenome de João-de-barro
João-de-barro que tudo faz pelo trabalho ,
Mas também faz pelos filhos seus
João-de-barro, o segundo engenheiro do céu
Atrás apenas e somente de Deus.
João-de-Barro , o “faz tudo” da natureza.
O “faz tudo “ ,sim senhor!
João-de –barro engenheiro , arquiteto voador
João-de-barro aviador , compositor e pai protetor
João, o divino
Facilmente associado aos santos
João não é limitado como os humanos
João voa, João é anjo
Ele tem tudo o que alguém quer
João tem instinto, tem engenharia, tem alturas
Ele é naturalmente e por vocação
Perto de Deus e próximo das criaturas
Isso mesmo,João, o perto de Deus
Até no barro há o que se comparar
E se um se ocupou e com ele fez a sua obra-prima
O outro usa como matéria-prima para se ocupar
Pro João-de-barro só presta o barro
Molhado, ligado, pesado
Com dor, com esforço, com entrega
Aos muitos, aos poucos, revezados .
Não dói e nem reclama
Nem ao menos ele sai aos berros
João-de-barro pra fazer o que é de barro
Precisa se transformar em João de ferro
João das classes sociais
João, o falso-verdadeiro
João rico , é arquiteto
João pobre , é pedreiro
João, reforma essa tua casa
E aprende a alicerces colocar
Pois daqui há um tempo não muito distante
Não acharás altura onde morar
João , reforma tua casa
E nem precisa mais nela eu caber
Se apenas couber a ti
Conseguirás então sobreviver
João , reforma tua casa
Mas tente fazer tudo bem certo
Não quero te olhar e perceber
Que agora transitastes para João-sem-teto
João, reforma essa tua casa
Se quiseres, podes comigo morar
Pois pelo que és , seria a coisa mais triste
Se eu visse o João-de-barro sem lar.
Ah, joão de barro, se tu soubesse o quanto me dói ver-te voando pra longe de mim com estas asas machucadas. Dói ter de te ver assim, cabisbaixo, voando sozinho sem poder te acompanhar. Eu lembro quando tu era um pássaro livre, voando por aí, sendo aparentemente tão feliz como um pássaro pode ser, as vezes eu até achava que tu eras o pássaro mais feliz que já conheci. Radiante, livre, cantando aquele canto que contagiava. Ah, joão de barro, tu nunca me contaste que na verdade estavas desmoronando por dentro, eu nunca quis tanto trazer felicidade pra alguém. Nunca antes de ti, joão de barro. Nunca antes de ti. Eu queria seguir-te em todos os seus vôos, te ajudar a voar quando tuas asas estivessem cansadas, eu te amei mais do que achei ser possível, caber tanto amor assim em um coração tão pequenino. Eu te amei mais que se pode imaginar, a ponto de querer ficar até o fim da vida voando contigo, aonde quer que tu fosses; escutando teus cantos, dos mais alegres as melodias mais tristes, olhando teus olhos de pássaro ferido ou observando como eles pareciam sempre sorrir junto contigo. Ah, joão de barro, mal sabia eu que um pássaro não sobrevive a amarras. Tu não estavas preso a mim, é claro, não de forma literal. Eu não me atreveria a colocar-te em uma gaiola apenas pra manter-te comigo. Mas apenas a gaiola do meu coração já foi demais pra ti. Eu te amei, ou talvez ainda ame, mas talvez jamais saberei. Não importa. Eu deveria saber que um pássaro deve ser livre. Eu deveria saber que um dia tu irias ficar sufocado na minha pequena gaiola de amor, eu sabia que isso ia te machucar, mas fui egoísta. João de barro, tem dias que a primeira coisa que penso é em como eu queria que tu tivesses ficado. Mas isso iria impedir tuas asas de baterem livres por aí. Eu só quero que sejas feliz. Sem clichês. Me dói, e talvez eu nunca tenha tido escolha, ela sempre foi sua, mas quero que você vá, voe pra onde quer que seja, voe até pra bem longe de mim, mas siga teu caminho pra ser feliz. Bata suas asas pro rumo da felicidade, e não o contrário. Como em uma canção dos Beatles, "pegue teus olhos cansados e aprenda a ver. Toda sua vida, você estava apenas esperando por esse momento para ser livre." João de barro, voe...
(Eu ainda posso escutar tua melodia em meus sonhos, então por favor, nunca deixe de cantá-la)
Pode-se ser feliz molhado de chuva e sujo de barro e, infeliz no conforto de uma cama aconchegante..
Tentar se livrar de um pecado em cima de nossos esforços, seria como lavar uma louça com a mão suja de barro.
ARGILA (BARTOLOMEU ASSIS SOUZA)
Faço, d"argila de que sou feito
Boneco tão parecido comigo
O ar quente que exalo
Endurece o que antes era maleável
Se o barro faz alguém
Sou essa argila da terra moldada
Produto criado, cozido e temperado
E esse boneco sou eu, ou argila?
ISBN: 978-85-7893-519-1
A rua da casa onde morei em minha infância, era chão coberto com saibro (barro). Tinha que ter manutenção e sempre apareciam buracos.
Lembro-me que depois foi coberta por paralelepípedos.Tinha que ter manutenção e vez por outra apareciam, buracos.
Ah! Enfim Hoje, ela é asfaltada. Tem que ter manutenção e tem buracos.
Que saudade daquela rua de barro!
ser de barro
ser de vidro
ser despedaçado
ser quebrado
o barro se molda
o vidro se corta:/
escolhas apenas escolhas
Para formar um vaso perfeito é preciso extrair o barro sujo, tirar dele as impurezas e iniciar o molde até que fique conforme quer o oleiro.
"Não vá com muita sede ao pote!”
Essa frase começou a ser dita baseada na estória de uma pessoa que já havia andado muito pelo deserto e estava morrendo de cansaço e de sede. Chegou o momento tão esperado quando, finalmente, se deparou com um pote de barro cheio de água fresquinha e cristalina. Mas, no desespero, foi com tanta avidez, com tanta pressa e falta de atenção para pegar o pote, que acabou deixando-o cair no chão e se espatifar, não conseguindo beber nenhuma gota daquela água que poderia saciar toda a sua sede.
O desejo de resultados rápidos pode conduzir ao desvio de algumas etapas que poderiam ser cruciais para o sucesso de um processo. Isso causaria uma perda significativa na qualidade e consequente frustração no resultado final.
Caminhe, vá devagar, cuidadosamente, passo a passo, em direção ao pote.
Segure o pote com firmeza e beba da água sentindo o frescor e o alívio de matar a sua sede suavemente.
Feliz é o homem pequeno, feito de barro amargo, mas com a massa cinzenta intensa e pura. O homem de cabeça boa, que na vida vence desafios.
Era uma vez barro, hoje um MITO.
Voltando do barro de onde fora
Gerado
E por fim nascer “o mito...”
De um grito
Apenas uma voz
Irrompendo o teor em meio à injustiça
Imbuído em uma única essência
Gerado para este fim
Dentre à ignorância
Que margeia e espreita.
Surgindo lá de longe
Não para ser aprisionado.
Nem aqui nem acolá
Despontando do nascente
Livre pelo principio
Que o gerou e o fez dentre barro:
“O homem para torna-se mito”...
(Marta Freitas) 17/12/2013.
Filtro de barro
A água é indubitavelmente, o líquido por excelência, que refresca a sede. Mas, não apreciei um bom copo d’água como aqueles provenientes de um filtro de barro. Sim, daqueles que se encontram facilmente na casa de toda avó.
Agora, vejo filtros modernos, ligados diretamente à torneira. Filtros com purificadores, filtros com duas opções de temperatura da água: gelada e natural. Até encontrei um filtro automático, apenas se colocava o copo e a água decantava sem interferência humana. Esses tipos de filtros retardatários não matam a minha sede.
A sensação de suprir nossas necessidades básicas quando, em uma situação de extrema vontade, causa-nos uma prazerosa sensação de alívio. Nessa situação, qualquer água serve.
O filtro de barro, por sua vez, possui o método de filtragem mais eficiente e barato do mercado; além de, manter a temperatura da água sempre ideal. É possível sentir um leve gosto de argila, mas, a água continua insossa e potável. O gostinho típico é marca, selo da simplicidade de uma época nostálgica. É! Decididamente, eu jamais hei de comprar filtros modernos.
Sofrimento é barato como barro e duas vezes mais comum. O que importa é o que cada homem faz com ele.
"Entre todos os pássaros que neste mundo estão, um em especial me chama mais a atenção, pois ele compartilha conosco a sua técnica e inteligência, quando se trata de uma construção. Seu nome é muito comum diante da multidão, ele faz a sua casa com barro e todos o chamam de João"