Mato
Às vezes parece que a coisa empena
E o perfume da açucena vira cinza de carvão
Mas sou feito mato na beira do rio
Não me esconda desafio
E não me entrego nunca não
DESLUMBRE
Quando duas línguas se tocam
O mundo de quem deseja o beijo
Torna-se oração perfeita
Sabores ardem sedentos
Nesse encontro de saliva e espasmos
Extraindo dos lábios molhados
Aceites inaudíveis das vozes dos hálitos
Da ternura única e efervescente
Todo perfume tateia o momento
Assistindo espargir pela sala do anseio
A dissimulada fome engolindo as palavras
Dado ser afoito intenso e místico
O espírito aguarda que o corpo entreveja
Pelos olhos fechados em êxtase
O deslumbre da língua quando beija
É mato?
— Arranca que é mato!
— Pra mim é flor.
— Mas é mato, menina.
— E o que é que tem se for?
— Tem que arrancar, senão se alastra.
— Prefiro mato espalhado do que concreto e esse cheiro de piche.
— Você ainda não entende. Isso se chama modernidade.
— Então me manda de volta para a antiguidade.
— Não tem como voltar, agora é só pra frente.
— E desde quando a frente não tem flor?
Creio que na fase que cheguei na vida, uma coisa posso dizer com certeza que não consigo mais abrir mão...viver no mato, na natureza, envolta em céu, verde, água e terra. É bom demais, experimente, é inevitável a conexão imediata e o reconhecimento de sua verdade essencial.
Eu não queria que houvessem construções...
Casas ou ruas pavimentadas
eu não queria!
Eu queria que fosse tudo árvore
E que morássemos na árvore...
Queria que o mundo fosse mato!
Que só ficassem de pé
os museus
os teatros
as bibliotecas públicas
os templos religiosos que pregassem o amor e a caridade...
E as casas de chocolate!
Da roça...
Da roça, das mão suja de terra, que é de prantá,
Sô fia do mato, doce quinem água de mina,
Meus véi trabaiva na roça, pra famia sustentá,
O zói enche d’agua do tanto que admira.
Sô poeta lá da grota, dos versim de roça,
Carrego na voiz a sanfona e a viola,
Sô o disco de vinil da veia vitrola,
Minhas rima mantém viva aquelas moda.
Inda lembro do rádio vermeio do meu veio avô,
Da casa de assoaio alto, do chêro das marmita dos trabaiadô,
O café margoso pra curá as pinga de onte enquanto escutava,
Se eu tô aqui é purquê meu povo da roça abriu os camim na inxada.
Só cunverso nos verso cas palavra de antigamente,
Pra honrrá quem veio antes de eu e me firmô nesse chão,
Foi na roça que pai e mãe prantô pros fí coiê mais na frente,
Passano dificudade e guentano humilhação.
Meu povo era brabo demais da conta, pensa num povo bão,
Parece que iscuto a voiz dos meu véi quando iscuto os modão,
Meu peito dói de tanta farta que faiz, oi ai,
Vovô resmungava nos canto e parecia poesia, até dava paiz.
Da roça sim sinhô. Essa poeta aqui é fia do sertão,
Não herdô terra nem fazenda, mais nunca se invergonhô,
E eu vô falá procêis, tentano num chorá, guenta coração!
Eu tenho um orgulho danado doncovim e da muié que eu sô.
Cheiro de Mato
As vezes a gente acorda pisando fundo
Acelerando ao máximo para não chegar
Tão longe do horizonte desse teu olhar.
Gosto da sua velocidade quem sabe a me encontrar.
Esse corpo poético não há perfume melhor.
A fragrância de seus lábios misturada com teu suor.
Dois corpos duas respirações entrelaçados como cipó.
E as borboletas de seu olhar o fogo do sol maior.
E chega a hora de todos viajantes talvez precisar partir.
Quando se ama não se quer ir tão longe.
O sentimentos e a alma não se esconde.
Por mais invisível seja nosso horizonte...
Eu gosto do seu silêncio e da sua reputação.
Eu gosto da tua saudades e coração,
Dificil é a tua ausência veneno e ilusão,
Esperança entre lágrima ė uma insurreição.
Hoje imaginei não fugir sem destino pelo mundo afora.
Era o destino te tatuando na parte interna da memória.
A gente não fez loucuras de amor mas se adora...
A vida existe escorregões e do destino sou a hora.
Não que seja certo também que seja errado.
O amor também já amou e foi atropelado
Como o tempo a gente brilha e tudo se torna abençoado.
No campo do amor a lei maior ser apaixonado.
Um fio de cabelo deixado no meu pescoço
Um elogio para alimentar as veias de bom moço.
Se o amor não me amar grito socorro
Para que vires anjos e beije meu rosto.
E a vida é um rio com fortes correntezas
Quanto maior a montanha mais linda a cachoeira.
Te gosto e sinto a sua brisa calma como lareira.
Pode ser que sejas amor ou apenas uma flor rasteira...
Quero sentir o cheiro de nosso amor no silêncio de nosso deserto.
Lembranças de mato queimado e corpos suados.
Os beijos molhado e sonhos eternizados
Aromatizado pelo destino dos amantes apaixonados.
Só quem ouve o som da cachoeira e sente o balançar das árvores ao vento. Só quem pisa a mansa relva e caminha na mata verde. Só quem vive a natureza com a alma, corpo e coração. Só quem sabe o que é o mato vai entender minha saudade, mesmo quando fico só algumas horas longe disso aqui...
Vejo muito mato e vários morros.
O prisma: o mais lindo
A paisagem me deixa funcional
E por onde quer que eu olhe:
Mato e morro
O verde me aconchega,
O mar, inspira
O inóspito
E há mais mato e mais morro
A quintessência, alvíssara
O inócuo e às vezes modorrento
O cuntatório,
Mato e morro
Até encegueirava
O ósculo
Mas, nitificou
Aquilo que era recôndito
Era mato e era morro
Agora,
Vejo que você também me inspira
Minha quimera
E eu
Mato e morro
Por você.
O simples
Na pequena casa de madeira as velas acesas iluminam a escuridão,
a janela aberta permite o cheiro do mato entrar,
os cavalos descansam, os cachorros estão com seus olhares hipnotizados pela beleza da lua e das estrelas,
o sereno aqui e a cerração acolá são as companhias de cada gole dado na boa cachaça,
o silêncio da noite calma as vezes é interrompido pelo rastejo no mato,
sentado na cadeira de balanço observo a paisagem sem celular, sem televisão, sem carro e me emociono ao perceber o quanto è bom poder desfrutar da simplicidade.
A CASINHA
Bem no meio da floresta
A casinha isolada
A luz é do vagalume
O som é da bicharada
Da terra vem a sustância
Do rio água para a estância
Natureza abençoada
“Você não vai, você está no Paraíso, se passar a vida esperando ir para o paraíso, vai passar a eternidade na morte.”
Deixar o mato crescer não significa que seu jardim se tornou um inferno, você precisa cuidar.
Se o jardim é seu, não espere que Deus corte o mato.
A Coruja-do-mato guarda
o caminho da minha casa,
A Lua saúda a Via Láctea
e as estrelas fazem serenata,
Confesso noite e dia que
você tem me deixado apaixonada.
Tenho a companhia
fiel de uma linda
Coruja-do-Mato,
A poesia ilumina
cada passo a ser dado,
Um dia vou ganhar
o teu coração apaixonado.
Cardume se deixando
levar pelas águas
para ver até onde vai dar,
Há sempre um Mato-Grosso
dele querendo se afastar,
O cardume não abandona
nenhum pelo caminho,
Ele só segue viagem com
todo o cardume reunido.
Floresce toda cândida
a Bromélia cravo-do-mato
plena na Mata Atlântica
desta terra romântica
neste finalzinho de fevereiro
enfeitando com as suas flores
lilases e rosas inusitadas
num galho de uma Jaqueira
antiga que ainda com os seus
frutos saborosos nos brinda
e o balanço da ventania
me faz agradecida a maravilha
por tantas belezas ao nosso redor
em esbanjamento com direito
doçura e um imenso amor no peito.
Borboleta de encontro raro
é a Capitão-do-mato,
Que põe o coração de quem
a encontra em disparo,
É assim que quero ser
para você quando te ver
e te retribuir colocando
no pedestal mais fino e caro.