Engolir
Ela sentia como se estivesse sendo engolida pela escuridão. Não importa o quanto tentasse, simplesmente não havia escapatória…
Se o pensar e a poesia
Fosse carne no churrasco,
Tanta gente engoliria
O pitéu, mesmo com asco.
(Carlos de Castro, in Há Um Livro Triste Por Escrever, em 15-06-2024)
Não é falsa adoração,
e sim pura poética,
Por dores engolidas,
e sete fortes badaladas
Por ter visto o amor
em franca liquidação.
Não foi instintivo,
e permanece sensitivo,
Por entrega derramada
dos cinco sentidos;
Nos teus jogos lascivos,
por ter entregue o coração.
Não é preciso provar,
e sim deixar nas mãos de Deus,
Por crer na força do tempo,
e na certeza de que cumpri
A minha parte com amor,
e devotei de fato o coração.
Não há nada de oculto,
e não há tempo para o amor,
Por crer que o tempo
e o relógio não o definem,
O tempo de amor é de amar
em tempo e sempre é tempo!
Esbanja a vontade indelével,
Supera a vergonha engolida,
Busca a verdade lasciva,
Enfrenta a opinião alheia,
Abraça com ânimo rebel,
Revela este amor incrível!
Suaviza como o vento,
Acaricia como a neblina,
Balança como o mar,
Carrega como o barco,
Providencia como a duna
Esbanja como a Lua.
Acolhe como as areias,
Estoura como a espuma,
Invade como a onda,
Floresce como as flores,
Recolhe-me feito concha,
Colore como o Sol e suas cores.
Esbanja-me quando fores meu,
Usufrui-me por inteira,
Toma-me por tua,
Encanta-me como presa,
Devora-me sem gentileza,
O destino me trouxe como prometeu.
Há uma diferença entre ser tolerado e ser quisto; ser engolido e ser bem-vindo; ser aturado e ser amado. Esse liminar pode ser representado como uma fenda enorme ou uma linha tênue, dependendo da forma como enxergamos ou queremos enxergar a sua forma. Compreender isso é dar um passo em direção à compreensão de vida.
A cegueira da cidade esconde tatos e olfatos
As ruas possuem velocidade autônoma
São ruínas engolindo sentidos.
Sabe, é muito triste você ver os dias passando e, a cada dia que passa, você começa a ser engolido pela rotina e não pode fazer nada para impedir isso.
Você acorda, é segunda-feira. Você toma o café e vai para o ponto, a insônia do final de semana ainda te afeta. Você acorda na metade do caminho para o colégio e o resto do dia é como qualquer um: primeiro tempo no colégio, você almoça, segundo tempo, você pega o ônibus para a faculdade, você dorme no caminho, pega o ônibus pra casa, você janta e se deita; cansado de mais para tomar um banho.
É terça-feira, você não dormiu ainda, o banho espanta o sono que logo volto quando você senta no ônibus, você acorda na metade do caminho; está com uma cara horrível no reflexo da janela. Primeiro tempo, você almoça, segundo tempo, você acorda em cima do ponto da faculdade, você volta para casa, toma um banho e dorme, não esta com fome essa noite.
Você está atrasado, é quarta-feira. Você pega o segundo ônibus e chega em cima do horário na aula, é intervalo do primeiro tempo e seus amigos tentam te apresentar uma pessoa nova, você não sabe o nome dela e esta com fome de mais pra se preocupar com isso. A falta do café de fez comer o dobro no almoço. Você dorme no ônibus a caminho da faculdade e passa do seu ponto, vai chegar meia hora atrasado. Você chega e dorme, sem comer ou tomar banho.
É quinta-feira, você dormiu só metade da noite e, mesmo assim, está mais animado. Toma café e vai para o ônibus, você não consegue dormir. Percebe que tem alguém te olhando e, quando você olha de volta, ela sorri. Você não retribui o sorriso. Primeiro tempo, seus amigos te chamam pra jogar cartas, você não sabe jogar cartas. Almoço. Segundo tempo. Tem prova na faculdade hoje, você não estudou. Chega em casa, frita um ovo, toma banho e dorme.
Você acorda antes do despertador. É sexta-feira. Coloca um par da roupa na mochila hoje. Você toma café reforçado. Seu ônibus está atrasado, você perde alguns minutos. Por causa do atraso você vai em pé, não tem como dormir. A caminhada te deixa cansado e com cede. Primeiro tempo, você encontra a mesma menina que te olhava no ônibus, você a ignora. Almoço. Segundo tempo, nada de anormal até aqui. Hoje não tem aula na faculdade.
Você acorda na casa da sua avó, é sábado. Ela fica contente por você estar ali, você também fica ao ver a felicidade dela. Não tem nada para fazer ai, só a televisão para assistir e sua avó para conversar. Você não tem internet no celular, mesmo assim olha para ele a todo instante. A noite chega mais rápido do que você espera, sua avó vai dormir cedo. O celular não tocou ainda.
Você acorda meio dia, o almoço de domingo já esta pronto. Seus tios apareceram para visitar sua avó, sua aparência esta horrível. Parece que ninguém além de você percebeu isso. Seus tios vão embora, sua avó se deita. Você espera ela levantar para poder ir para casa. Seus pais estão no quarto assistindo e seu pai pergunta sobre sua avó, você diz que ela esta bem, toma um banho e vai para o quarto. O céu já esta escuro quando você chega em casa, são 22h. Nada, nenhuma mensagem. Você sabe que espera por algo que jamais ira acontecer de novo. Você vai até sua gaveta e pega uma caixa, que não esta escondida. Ainda é domingo e você acaba de desistir de esperar e vai até a única solução que lhe resta, se drogar, sentir seu corpo flutuar e sua cabeça esquecer cada problema que te prejudica.
Você acorda, é segunda-feira. Você toma o café e vai para o ponto [...]
Linguagem engolida
Debulhada em palavras perdidas
Escorreram contidas
Um tanto emudecidas
Quanto esquecidas do dono da voz
Era uma linguagem-prisão
Sem conexão
Livre associação
Se a vida é feita de escolhas, eu escolho o A(mar), mesmo que essa escolha implique ser engolida pelas ondas de mim mesma.
Hoje me perguntaram se você ainda estava aqui, tropecei, engoli seco e me safei.
Pra ser mais específico, estava em um posto ao lado do meu trabalho conversando com uma amiga, Camila é o nome dela inclusive. Do nada como sempre você surge na conversa, ela me pergunta se você ainda está aqui, eu tropeço no meu sentimento, engulo seco a não reciprocidade dele, e me safo com a mentira do não.
Um breve segundo consegue estragar tudo.
Uma lembrança do que deseja esquecer atormenta o coração.
Você parece ter a mesma necessidade que o ar que contem nos meus pulmões.
Profundo de mais pra ser meu, é específico demais pra ser mentira.
Meu amor, não diga de dor pra mim
Você não aguentou a noite chorando
Engolindo lágrimas como um mar sem fim
Diziam que o amor era pra ser algo
Bom algo eterno
Eu só carrego pra sempre no meu peito a dor
Deste amor
Que não durou nem a metade do inverno.