Elegia de um Tucano Morto
QUEM DIRIA
Quem diria que um triste dia
Esta rosa fosse uma elegia?
Que esta amizade, antes bem que tarde
Trar-me-ia a face da infelicidade?
Que este canto lindo
Viria ser findo, pra ferir a alma e
A matar dormindo?
Que este sonho imenso
Com que há de intenso
Desodorisasse do amor o incenso?
E por fim o rótulo
Da minha ilusão, seguiria aceso
E faria preso este coração.
Elegia às ilusões
Se entendes o que digo
é porque da mesma enfermidade
padecemos.
Portanto falemos, falemos e falemos
Para ver se a ferida,
aberta,
vazia
Cicatrize e não mais ensista
em expor minhas doces desilusões.
Elegia do dia 05 de maio
Realidade cruel
Procuro me recompor
Como?
Tenho que aprender a viver só
A vida não acabou
É só mais um amor mal correspondido.
Coração é imprevisível
E totalmente irresponsável
Eu sei disso melhor do que eu queria
A beleza nasceu em você,
A resistência,a fidelidade a ti mesma,o frio
E o calor.
Em mim nasceu o amor,
A dor.
Subversivo meu coração grita
Reage,chora,pára...Tudo pára
Você segue...
A vida segue...
Mas a minha parou
Nas poucas lembranças
No que restou
Ilusão?
Utopia?
E quando não vale mais a pena?
E quando é em vão a luta?
Lutar em vão?
Quanta ironia!
Eu sei o que seria certo a fazer:
Esquecer
Ou pelo menos me ocupar em tentar
Mas sei que não adianta
Sou refém desse amor
Vida cinza!
Eu em minha madrugada gélida
Vencida pelo cansaço:durmo
Num sonho:sua volta
O céu reveste-se com o arco-íris
Representando a alegria,
A vida que volta com você.
O sorriso volta.
Acordo:
Sento na cama e reflito
Sobra somente a ilusão,a vontade
Do teu amor indisponível
Fecho-me a qualquer outro.
Despertaste em mim o amor
Conquistaste a minha entrega.
Eu consegui!
Me desprender de mim
Me entregar por inteira
Um novo desafio agora:
Desprender-me por inteira
O passado nega a ele mesmo:
Quer ser presente
Meu coração oscila
Não sabe o que é certo
Perdido nesse labirinto
Deserto.
No escuro caminha
É preciso
Mesmo preso com grilhões
Aos sorrisos
O pulso pulsa
A vida segue seu percurso
Perguntas me angustiam:
Como está você essa noite?
Onde foi que você se meteu então?
Tento me entender.
Tento te encontrar.
Solidão...
Tudo está tão estranho
Ver minha história agora
Chega até ser engraçado...
Mas é triste,triste demais...
Se ao menos tivesse um culpado...
Procuro uma direção
Não posso me entregar,
Não posso te entregar,
Tenho que resistir.
Poema em Solidão nº9
1º tempo:
Elegia - Ai, que hoje te encontro
e te perco hoje.
Da noite milenar vens
me confessar teu amor dói
em mim como um claro punhal.
- Vinte vezez possuis a minha alma
e me deixas mais-só-na-solidão
que nem a mim mais possuo.
- Ai, hoje que vens,
hoje me deixas,
hoje te encontro
e te perco hoje..."
Elegia é minha alma! Navalhas cortantes de vivências amordaçadas chegam repentinamente, deixando sequelas e causando um cataclismo profundo em todo o ser. Devaneios se misturam com cenas reais e temos a sensação de que tudo parece perdido...
Elegia do Amor
O Amor,
Desiludido com Ódio,
Subiu até o topo dum prédio
E de lá se jogou!
Aqueles
Que viram Amor pular,
Viram pela última vez o Amor.
Enquanto o Ódio,
Dia após dia, crescia forte
Entre eles!
ELEGIA DO AMOR
Foi tão lindo aquele amor
Que vivemos sóbrios, felizes
Encantados, apaixonados.
Foste carne, sonho, realidade
Amor e prazer em noites
De manhãs quentes, primaveris!
Foste fruta, estrada, mar
Doçura, poema de posteridade
Escrito nas nuvens com giz
Meus olhos deslumbrados
Não sabiam de você, desviar.
Foste um destes amores febris
Que nos faltam palavras
Pra todo amor poder mencionar
Mas, aí, de repente toda doçura
Do mel azedou...
Virou de ponta cabeça
Se transformou!
Era amor principiante, aprendiz
E quando menos esperamos
Se definhou!
De todo amor que se quis
Restou apenas uma canção
E um nome que não se pronuncia
Não se comenta, nem se diz.
Você era, foi, passou!
Uma Elegia Branca
Se soubesses do meu ímpeto
A sede da flor em teu corpo
(e tuas pétalas cor de vida)
Dona do meu amor, tua beleza me fascina!
me matas e me salvas
{Traz-me em cada suspiro a ânsia
e a cada momento a falta}
Meu todo está em ti
e é no teu silêncio que meu sonho dorme
No entanto, sinto meu sonho morrer
Move-se de mim o espírito
e já não ecoa no vento meu apelo inútil
já não pulsa forte meu coração estúpido
já não me vertem mais puríssimas lágrimas
Mas ainda ouço na voz da ausência
todas tuas sílabas inexistentes
Elegia da Paixão -
E é como se o teu beijo tocasse no meu ventre
e é como se a tua pele me vestisse de cetim
e é como se o teu olhar num sopro de repente
me levasse nas asas de um desejo sem ter fim.
E é como se o suor dos nossos corpos fosse um rio
e é como se os nossos lábios fossem duas rosas
e é como se a noite nos levasse num navio
onde as nossas linguas se entrelaçam saborosas.
E é como se o teu toque esculpisse o meu regaço
e é como se a minha cama fosse o teu abrigo
e é como se o teu cheiro fosse o meu abraço
nessas noites em que não podes estar comigo.
E é como se tudo, em torno, sem ti, fosse vazio
e é como se em mim, esse vazio, fosse criança
e é como se ao meu peito ausente, gelado e frio
voltasse aquela angústia que vivi na minha infância.
E é como se os teus olhos fossem dois pedintes
e é como se os meus fossem dois poços de amargura
e é como se a minha dor já não tivesse ouvintes
nesta tórrida procura de afecto e de ternura.
E é como se nas veias o sangue não corresse
e é como se as viuvas pelos mortos não chorassem
e é como se no peito o coração já não batesse
e as andorinhas pelos Céus já não voassem.
E é como se afinal os poetas não escrevessem
e é como se o destino já não quisesse o fado
e é como se do fado as guitarras se perdessem
e os povos não tivessem o destino já marcado.
E é como se o mar já não tivesse os horizontes
e é como se o Céu se afundasse sem destino
e é como se tivessem pela vida secado as fontes
e eu voltasse aquela triste idade de menino.
E é como se a morte se espalhasse pelo ar
e é como se a vida fosse um pássaro na mão
e é como se estes versos que escrevo por te amar
fossem a mais bela Elegia da Paixão.
ELEGIA AO PRIMEIRO AMOR
(Apaixonado, arrebatadoramente apaixonado. Amante confesso e condenado)
Chuva.
Tarde.
Pôr do sol.
E versos morenos sobre a areia.
Calor.
Noite.
Lua cheia.
E um banco de jardim com dois amores.
Adolescência.
Descoberta do outro.
Beijo das mãos.
Toques de lábios carnudos.
Desnudos, os corações se apaixonam.
Como é possível?
primeira tarde
primeira noite
alma ansiosa
amor platônico
tomar conta de tudo?
Instalar-se para sempre
“feito um posseiro”
dentro do meu mundo!
(jan./1992)
Passar pela vida como uma sombra escura
Não é grata missão nem bondosa elegia
Mas a minha batalha segue pelo dia
Nos versos de dor que encontra a cura.
Sei que poderei apenas relembrar
a pele cor pêssego maduro,
mas neste caminho perduro
onde pude no gozo de outrora beijar.
Mas sei que serei chamado num raio de luar
Para o umbral das nuvens e do céu, partir
E certamente há um momento sublime por vir
Onde até Sócrates e Galileu vou encontrar.
E meu semblante não estará mais pálido e branco
Pois sabia que pelo menos no céu poderia
Novamente ter quem eu tanto queria.
Com o coração vencer qualquer pranto.
Elegia
As árvores em flor, todas curvadas,
Enfeitarão o chão que vais pisar.
E a passarada cantará contente
Bem lindos cantos só em teu louvor.
A natureza se fará toda carinho
Para te receber, meu grande amor.
Virás de tarde, numa tarde linda –
Tarde aromal de primavera santa.
Virás na hora em que o sino ao longe
Anuncia tristonho o fim do dia.
Eu estarei saudoso à tua espera
E me perguntarás, pasma, sorrindo:
Como eu pude adivinhar quando chegavas,
Se era surpresa, se de nada me avisaste?
Ah, meu amor! Foi o vento que trouxe o teu perfume
E foi esta inquietação, esta mansa alegria
Que tomou meu solitário coração...
Elegia a Monsaraz -
Ó minha terra!
Terra minha, tão perto
e tão distante ...
Navio imerso nos meus sonhos!
Berço onde desci
ao mar da vida sem ternura.
Deixa que te veja, hoje e sempre
entre noite escura.
Monsaraz,
senhora minha,
madre,
raiz!
Diz-me onde te feri!
Teu semblante me proteja!
Teu olhar, sombras e recantos,
me afague, sossegue, recolha ...
Não há planura sem horizonte
ou pátria sem Alma,
não há prados como os teus
cobertos por um véu ...
Monsaraz, aia dos meus dias,
senhora dos meus cedros,
madre do meu tecto,
raiz do meu loureiro.
Diz-me onde te perdi!
Ai, quanto me dói em ti meu coração!
Talvez por magoa ou saudade, angustia
ou solidão ... aquela solidão,
a nossa solidão!
Solidão imensa de quem é teu!
E eu sou-o sem demora.
Desperta Monsaraz, vila morta!
Que o tempo passa e com ele passo eu,
fecha-se-me a porta ...
Acorda! Desperta! Recorda!
Tu ficas, intima, infinita ... eu parto,
poeta, errante!
Ó minha terra-fria,
tão perto, tão distante ...
Elegia a Nós -
Eu sou
esse espaço
onde ninguém
pode habitar.
Sou essa Vida
que ninguém
pode viver.
Sou esse Fado
que ninguém
pode cantar.
Sou aquele
que ninguém
pode entender!
Eu sou alguém
que ninguém
pode tocar.
Esse
que apenas
será livre
à hora
de morrer ...
E tu!
Sempre
tão tu!
A quem
ninguém vê
mas sente!
E onde
nos perdemos?!
Onde?!
Ai de nós,
neste
desencontro,
permanente,
que
morremos,
que
morremos ...
Elegia ao Cavalo e o Guerreiro Agredidos
Algozes de uma invasão
anunciada que não respeitaram
a Pátria, o cavalo e o guerreiro,
desta vida não merecem
mais nada.
Não podem ser chamados
de gente junto com aqueles
que são da barbárie cúmplices
silenciosos.
Por todos vocês foi agredido
o cavalo herdeiro do sangue
de outros cavalos ancestrais
que abriram trilhas carregando tropeiros nas costas para construir
a Nação.
O quê foi feito com o cavalo
e o guerreiro vocês fizeram
com o seu próprio espírito,
e não adianta apagar porque
não será conseguido.
Todo o mal que foi feito é a vitrine
de tudo aquilo na existência
vocês são: a sua própria
maldição.
O meu eu foi ao chão
junto com o guerreiro agredido,
saibam que esta elegia
é para que este crime
nunca mais seja na vida
esquecido.
Estes versos têm o signo
dos Três Poderes e da Esplanada,
das artes e da memória
da Pátria depredrada.
Algozes como vocês são
o espelho de um projeto
de poder que nunca dará certo
e a cara da ingratidão.
Amo Viver em Rodeio
Não tenho razões
para escrever uma
elegia porque amo
viver em Rodeio
e aqui é só alegria.
LEGADOS ... ! Manuscritos do Mar Morto.
" Ó Pai Celestial ... Traze à Tua Terra O reinado da Paz !"
Manuscritos do Mar Morto.
É um mundo que relegaAs perspectivas de Futuro ...
Um Mundo sem PiedadeÉ um mundo fadado à VingançaE ao Ódio ...
Um Mundo sem MisericórdiaSe perde pela Intolerância ...
Um Mundo sem o RespeitoEntre irmãos
Se lança à obscuridadeDa rés Difamação ...
Um Mundo sem Perdão
Extrai de si mesmoA possibilidade do Recomeço ...
Um Mundo que renega a Sabedoria
Divaga pela Inutilidade
E pela Ignorância ...
Um Mundo sem PazÉ um mundo que se compraz com o Caos
Tendo como LegadoA Destruição e a Morte ...
Um Mundo que negligencia a Vida
Apenas sobrevive
Colocando em xeque a grandiosidadeDe sua própria Existência ...
Um Mundo sem a Consciência DivinaÉ um mundo mergulhado no Ceticismo
Que apenas obstrui a Luz ..