Coleção pessoal de SilvioFagno
Implacável -
É até fácil imaginar o sorriso
calmo e paciente
da morte,
meio de canto, ainda
contido,
com a implacável sabedoria
de silenciar e observar
o quanto a gente
desperdiça
tempo.
O Mesmo Caminho -
Depois daquela primeira
vez,
por conta de um copo
d'água (isso sete anos
antes),
não me recordo mais
quantas e quantas vezes
eu peguei o mesmo
caminho com lágrimas nos
olhos e aperto no peito.
Com aquele gosto amargo
do desprezo, da decepção, entalado sufocando, quase insuportável.
Sempre acompanhado de
uma frase:
"é, mais uma vez".
Na esperança que aquela
fosse a última. (Nunca foi).
Ah,
meu pai sentiria vergonha
de mim.
Um Compromisso Seu -
Incompreensível,
louco,
interessante,
sonhador,
distorcido,
idiota,
belo,
ridículo,
genial, lunático, sábio...
O que você entende apartir
do que eu escrevo,
é muito mais um compromisso
seu com a língua pátria,
do que meu com
você.
A Fila -
Tem sempre alguém nascendo,
chorando, amando,
se despedindo.
A vida, a sorte, o Tempo:
são eles que organizam
a fila.
Mais cedo ou mais tarde
chegará a nossa
vez.
Restos de Sonhos -
Não sou o que aquela
criança que fui
sonhou.
Sou os restos de sonhos
que a realidade ainda
não matou.
Uma Flor Em Seu Cabelo -
Tão íntimo
que fica impossível acreditar
que ela não tenha
desabrochado
aí.
Extremamente Chato -
Um sentimento,
por maior que seja,
por mais belo e cuidadoso
e verdadeiro que seja,
quando demora demais
para ser entendido,
valorizado, correspondido,
satura:
Fica extremamente
chato.
Pelos Dois -
Algumas pessoas
fazem por onde a gente
nunca esquecê-las:
Seja pelo bem ou pelomal,
masquase sempre
pelos dois.
Àqueles Que Me Mataram -
Me sinto completamente
vencido, derrotado.
Talvez isso,
denuncie uma fraqueza:
minha fraqueza.
E,
de fato,
de certo modo,
eu me sinto, realmente
mais fraco que cada um deles.
Mas eu não suportaria fazer
o que fizeram, como
fizeram - COVARDIA.
Muito menos ser
um deles.
Ridículo -
Acostume uma sociedade
a cultuar tudo que há de
mais medíocre e
superficial,
e ela não se dará mais
conta do ridículo.
Uma Eternidade -
De alguma maneira,
tudo é necessário - no seu
tempo, ao seu modo, à sua
medida:
do cientista ao coveiro.
Intelectual nenhum
faria bem o trabalho diário
de um rude
lavrador.
As diaristas
salvam mais famílias
do que âncoras de
telejornais.
Os padeiros estão acordados
todas as madrugadas,
trabalhando e trabalhando
para que o pão chegue
quentinho à mesa
do empresário que,
por sua vez,
nutre dezenas de empregos
e, consequentemente
de famílias,
mas enquanto isso,
dorme.
Se uma pessoa diz amar o
que faz e faz com empenho
e dedicação,
por mais simples
que seja,
há aí algo de muito
valioso,
e há nisso
uma eternidade.
Quando o ser humano entender
que a vida não é esta
competição sangrenta - como
tem sido por séculos, e
intensificada neste último -
(ainda que, de algum
modo, naturalmente haja),
estrangulando o mal
do ego,
não haverá nem muito
nem pouco:
mas o necessário.
Abraçar o Risco -
Um sentimento
só se faz verdadeiro,
quando se abraça o risco
de se entregar
por inteiro.
Ângulo -
Um amor inteiro,
quando não pode mais
ser amor,
vira ódio à direita
num ângulo de
noventa
grus.
Alguns (raros),
adormecem em sonhos
leves à esquerda,
e se transformam em
algo parecido com
amizade.
Mas amor só morre
(quando morre),
como indiferença na
outra extremidade
a cento e oitenta.
O amor bateu forte:
entrou feliz, sorridente,
sonhador pela porta
da frente.
Comeu, dormiu, sonhou
mais, brincou mais,
sorriu melhor.
Mas chorou...
O amor apanhou e,
triste,
acabou expulso pela porta
dos fundos de uma casa
mal-assombrada
chamada: realidade.
Desânimo -
É arrastar-se, quase que
rastejando, esbarrando
em tudo,
até a próxima
frase,
que só diz isto...
Mais paralisante que
o medo;
Mais vazio que
o nada;
Mais...
Propaganda Ruim -
O que esses aplicativos populares
já me mandaram de bundas
epernas e peitos,
na tentativa de meconvencer
a baixá-los...
Besteira:
se me conhecessem,
mandariam os
teus olhos.