Coleção pessoal de silvia04

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Poemapranto

Não há mais lágrimas para chorar.
Todas as palavras foram ditas e crestaram
como folhas secas.

A dor cresce
- dura e forte -
como as árvores definitivas.
A dor se instala.

Os olhos, porém, vêem e assistem e testemunham
para além e para aquém da fronteira do homem.

Que fazer desta dor?
Nossas mãos nos escavam e tentam arrancá-la
como a um fruto maldito.

- Amigo,
que vento mau dispersou
o que colhemos juntos?
Do sonho, só a semente do Azul ficou.

Mil punhais varam os ares:
- do homem só restou o que ele não queria."

Poesias do livro O TEMPO REINVENTADO

Hoje
fui ontem em sua boca,
que num tempo de retorno
me fizeram
os teus olhos de longes e distâncias.

E assim
por ser de ontem e não
de agora,
e muito mais miragem do que
VIDA
a imagem na tela recomposta
no tempo recuado está perdida.

Ergo-me agora
contra o tempo e contra tu mesmo
despedaço os espelhos da memória
e grito meu nome
sem data
eu que fui-sou-e-serei
sendo agora.

reinvento
a imagem
que há detrás dos olhos

inverto os calendários
e sou o Agora."

Aqui Estou, aqui estamos
e esse espelho que nos olha triste,
surpresos permanecemos e
mudos
ante o que somos e não sabemos que seja.
Revelai-nos, ah, REVELAI-NOS
AGORA, semeai-nos para que
germine a recôndita semente da
definitiva definição
(o mistério de nós)..."

...Lança teu grito no meu silêncio
descobre-me
dá-me um nome.

Quero olhar-te com
a última-face-oculta
emergida de mim.


Crava tua verdade em minha verdade.
Revela-me
ou destrói-me..."

Venho
como o fim das coisas
os últimos acontecimentos.

Meu signo é o
do desespero e
só há uma face
- e é amarga.

No entanto
sou como as coisas
nascentes
e há um sol
tentando irromper
no horizonte do
meu âmago.
Cheiro a grama fresca
e meus olhos não têm tempo..."

Aqui estou.
Digo meu nome
me espanto da moldura no meu rosto
me coloco na vida
e não me sei...

...Aqui estou.
Compondo os dias e
esse espelho que me olha triste.

Em começos e fins me interponho
- pergunta e resposta de mim mesma -
de mim que me inicio e me concluo
no gemido só
que me unifica..."

Não saberei de ti
nem do galope de cavalos no teu sangue.

Do teu mistério
(da dor do amor do sonho)
não saberei,

só saberei de paz
e das searas de nuvens que apascento..."

Por trás de vidraças
te pressinto
e em eco escuto tua voz
- onde as mãos
dize-me
que um encontro tenho
marcado
com tua sombra.
Como buscar-te
se os relógios ficaram sem memória
e num tempo indiviso estou
perdida..."

Dual

É tempo de pressa.
É tempo de dor.

-Dá-me a chave,
ah, dá-me a chave
de ti,
que nas soleiras te decifro.

Inconclusa
te necessito
para ódio ou para o amor

que já me fui
e tanto
em ti
que já não sei
se Sou ou És:

se falas
ouço a minha voz
se te estranho
a mim repilo
e não sei se te amando
é a mim que amo.

Temo, pois, que
morrendo a ti desfaça
e se te perco,
onde a minha face?