Coleção pessoal de PensamentosRS
Mas uma coisa sei: qualquer evento nos marca e nos transforma só na repetição ou, melhor dito, num segundo momento, em que ele é evocado, retomado, revivido.
O craque costuma antever as jogadas, saber antes dos outros. Como ele sabe? Sabendo. Existe um saber que antecede o pensamento.
Aquele que crê que sabe uma coisa mas, na realidade, a ignora, com seu suposto saber fecha o poro de sua mente por onde poderia penetrar a autêntica verdade.
Pensem como é dura, rígida, inerte, fria como um metal, para o ouvido da criança, a primeira vez que a ouve, a palavra “hipotenusa”!
Precisamente, ao nos convencermos de que a mulher amada não é como acreditávamos, mas só uma imagem generosa que havíamos feito, produz-se em nós a catástrofe da desilusão.
Na história, toda superação implica uma assimilação: há de tragar-se o que se vai superar, trazer para dentro de nós precisamente o que queremos abandonar.
Só um ser de intermissão, situado entre a besta e Deus, dotado de ignorância, mas ao mesmo tempo sabedor dessa ignorância, sente-se impelido a sair dela e vai, em dinâmico disparo, tenso, ansioso, da ignorância até a sabedoria. Esse ser intermediário é o homem.
Alguém me deu veneno, mas este perdeu sua virulência ao misturar-se com a comida: ele, ao dar o veneno, implicou-se em um crime, mesmo se não causou mal.
Como é possível viver surdo às derradeiras, às dramáticas perguntas? De onde vem o mundo, para onde vai?
O vigor intelectual de um homem, como o de uma ciência, se mede pela dose de ceticismo, de dúvida que é capaz de digerir, de assimilar.
Cada um de nós é metade o que é e metade o ambiente em que vive. Quando este coincide com nossa peculiaridade e a favorece, nossa pessoa se realiza por inteiro, sente-se corroborada pelo entorno e incitada à expansão de seu impulso íntimo.
Costumamos dizer que não estava em nosso poder determinar os pais que nos caberia, dados a nós pelo acaso; mas nos é possível nascer por nosso arbítrio.
É preciso durante toda a vida aprender a viver e, o que talvez cause maior admiração, é preciso durante toda a vida aprender a morrer.