Coleção pessoal de PensamentosRS
Na história, toda superação implica uma assimilação: há de tragar-se o que se vai superar, trazer para dentro de nós precisamente o que queremos abandonar.
Só um ser de intermissão, situado entre a besta e Deus, dotado de ignorância, mas ao mesmo tempo sabedor dessa ignorância, sente-se impelido a sair dela e vai, em dinâmico disparo, tenso, ansioso, da ignorância até a sabedoria. Esse ser intermediário é o homem.
Alguém me deu veneno, mas este perdeu sua virulência ao misturar-se com a comida: ele, ao dar o veneno, implicou-se em um crime, mesmo se não causou mal.
Como é possível viver surdo às derradeiras, às dramáticas perguntas? De onde vem o mundo, para onde vai?
O vigor intelectual de um homem, como o de uma ciência, se mede pela dose de ceticismo, de dúvida que é capaz de digerir, de assimilar.
Cada um de nós é metade o que é e metade o ambiente em que vive. Quando este coincide com nossa peculiaridade e a favorece, nossa pessoa se realiza por inteiro, sente-se corroborada pelo entorno e incitada à expansão de seu impulso íntimo.
Costumamos dizer que não estava em nosso poder determinar os pais que nos caberia, dados a nós pelo acaso; mas nos é possível nascer por nosso arbítrio.
É preciso durante toda a vida aprender a viver e, o que talvez cause maior admiração, é preciso durante toda a vida aprender a morrer.
Acertará quem não confiar em nada do que hoje se prega, se ostenta, se prepara e se louva. Tudo isso vai sumir mais rápido do que veio.
A saúde das democracias, qualquer que seja seu tipo e seu grau, depende de um mísero detalhe técnico: o procedimento eleitoral. Tudo o mais é secundário.
Toda vez que você quiser ter a chance de acertar uma previsão sobre o mundo, aposte no pior. A chance de você acertar é enorme.
Entregue a si mesma, cada vida fica em si mesma, vazia, sem ter o que fazer. E como precisa se preencher com algo, finge frivolamente, dedica-se a ocupações falsas, que nada impõem de íntimo e sincero.