Coleção pessoal de MSoucasaux

Encontrados 10 pensamentos na coleção de MSoucasaux

As velhas casas da Ubá

As velhas casas da Ubá, que vou enfim conhecendo ao passar diante delas, revelam um lugar onde o tempo ficou esquecido, salvas raras edificações nela presentes que podem até mesmo passar desapercebidas em meio a tanto passado.
As janelas lacradas, mas nalgumas delas permite-se ver um tempo longínquo, quando observado através das mesmas. Quem resiste em meio à penumbra de seus interiores? Talvez pessoas que testemunham, de longas datas, estas mesmas residências... Esta rua.
As antigas árvores também estão lá, mas algumas são jovens e talvez sejam elas o que há de novo num lugar onde tudo parece ter ficado esquecido por resistência daqueles que ainda não morreram.
Na última esquina, ao passar em frente a um velho bar, olhei, inesperadamente, a face de um senhor, que também me fitou. Senti que, naquele semblante, se revelava como seria o meu quando eu chegasse à sua idade. Não sei bem o que ele poderia ter pensado ao me olhar, se também me viu, nele, quando tinha a minha idade. Mas tudo foi assim, em poucos segundos, e lá estava eu virando a esquina, deixando a Ubá.
O que me desperta a atenção num lugar pelo qual jamais me interessei, são os mistérios que começam a ser revelados através dos mesmos.

Numa das colunas do bar, a imagem de Nossa Senhora com menino Jesus nos braços parece observar as partidas de sinuca... Bem ali, “Santa Amélia” leva para onde havia uma Imperial que eu gostava de ver.
Os cenários mudam, mas não para melhor... A perda dos encantos leva os nossos também e quando o comum se expande, é preciso buscar outros caminhos.

Este Mundo Sem Razão

Se não houvessem fronteiras, não haveriam as guerras,
Certamente haveria um mundo melhor sem elas.
As fronteiras distinguem as pessoas,
As distinções geram preconceitos,
E preconceitos promovem conflitos.
Somos iguais, somos feitos da mesma matéria,
Nossas diferenças não estão em nosso DNA
Ou em nossas digitais, como nos fazem crer.
Elas estão em nossa forma de pensar,
Na maneira como olhamos nossos semelhantes.
Estamos impregnados de preconceitos,
Por não nos enxergarmos como almas,
Enquanto que, o que temos aqui,
Nada mais que este nosso corpo,
Este "equipamento" necessário para vivermos,
Neste planeta que habitamos.
Enquanto o respeito for dado apenas àqueles que
Se apresentam pelas roupas que vestem,
Pelos seus ternos, pelas suas gravatas,
Não poderemos esperar por um mundo mais justo.
Enquanto não entendermos os que tem fome,
Os que agonizam pelas doenças que dizimam,
Não poderemos esperar por um mundo mais humano.
Mais que lugarejos, porém, nações inteiras morrem,
Vidas desprezadas, vidas que já nascem mortas.
Pela fome, pelas doenças, pelas guerras...
Almas que perdem seus corpos,
Corpos que perdem suas almas...

Naufrágio

Não falas do naufrágio,
Das noites tempestuosas,
Dos mastros partidos,
Das velas rasgadas,
Da nossa falta de rumo.
Da água invadindo
Nossa frágil embarcação.

Não falas da ausência das estrelas,
Dos clarões emanados das densas nuvens,
Que nos cobriam pesadamente.
Das preces pelo fim da noite,
Dos esforços para sobrevivermos,
Da ausência de um lugar
Onde descansar nossos corpos,
Desfalecidos pela luta desigual.

Não falas de nossa sobrevivência,
Que não aconteceu.

Ciclos

A causa foi perdida e nós, causadores, também perdemos.
O nosso mundo ficou vazio e agora ouve-se ecos.
Trapaceamos conosco, vivemos apenas para aprender
Que podemos repetir erros o quanto desejarmos,
Como existissem desde nossas origens.

Aprendemos a crer no provável,
Pois o provável ocorre... E se repete.
Mesmo intuindo o que não poderíamos ser,
Ainda assim, fomos.
Por isso, começou dia e terminou noite.

E voltaremos para repetir os erros,
De uma forma melhorada, menos imatura.

Perdão peço por mais este tempo perdido.
Mas precisarei de outros perdões,
Pois o ciclo não findou.

Pensamentos

Sirvo meus pensamentos
Em taças de pouco valor.
Não há qualquer bebida excêntrica,
Nem intenção de embriagar quem ingerir.
Sóbrios, cuja certeza tenho que não farão mal,
Embora não saiba que bem possam oferecer.

Distribuo meus pensamentos vãos,
Espalhando-os por toda parte.
São vazios preenchendo espaços.

Os meus pensamentos vis dedico
A todos personagens desinteressantes,
Folclóricos, lendários ou do meu imaginário.
Fiquem com meus pensamentos,
A eles peço que façam aquilo que desejarem.
Dou-lhes a liberdade de guardá-los ou não.

Nos meus pensamentos bons estão meus sonhos,
A cada momento retornam em diferentes formas,
Oriundos de uma mesma história.

Meus pensamentos que foram servidos,
Já não me servem mais.
Invólucros sem conteúdos,
Imaginações sem idéias,
Desejos sem sentimentos.

Meus pensamentos que distanciavam de mim,
Não vão muito além daqui.
Cansados,
Confusos,
Descrentes...

Do Tempo

Agora não é tarde,
Mas também não é cedo.
Há um espaço que não existe,
Um vácuo, um hiato.

O tempo aqui não se conta,
Ele não adianta nem atrasa os ponteiros.
Aqui nada move à primeira vista,
Mas tudo muda de lugar o tempo todo.

O tempo aqui é curto,
Mas também é longo,
É uma breve eternidade.
Não avança, nem retrocede.

É uma sucessão de erros perfeitos,
E de acertos equivocados.

O tempo aqui se cansa,
E recosta num passado,
E se esfrega, se roça, até arrancar farpas.
...E se purifica por um segundo.

Vida

Gosto quando me levam por aí.
Mas não ocorre toda noite.
Noites cujos epílogos são prenúncios
Aos mistérios que abrigam as madrugadas.
Quentes ou frias... Madrugadas.
Vejo aviões passando tão perto desse lugar,
Vejo jovens mulheres... Quem sabe, mulheres...
Almas mercando corpos nas esquinas.
Portas fechadas... Silhuetas nas penumbras...
Carros aproximando... Vidas expostas... Prazeres unilaterais.
Falsas euforias contracenam com a angustia da vida real.
E o valor do "amor" negociado.
Jovens entorpecidos errantes e aflitos na turva visão
Dos pares de faróis em meio aos frenéticos movimentos.
Do outro lado, a iluminada Rosa Vermelha inicia a Vermelha.
Rosas vermelhas representam o ápice das paixões... O sangue... A carne.
"Still Loving You" fazendo trilha neste "trailer" da vida... "Time, it needs time..."
A vida mudando e ainda assim é bem conhecida.
Mais a frente, parecendo um farol... Esse mistério que te envolve...
E o mistério persiste.
Cruzo túneis, depois deles tudo é tão normal... Tão sóbrio.
Contrastes com a louca sedução dos lugares que ficaram para trás.

Mãos

Pegue em minhas mãos,
Não direi o que desejo,
Quero entregá-las àquilo que desejas.

Oriente-as no que fazer,
Movimente-as como desejar,
Serão objetos para delinear,
A obra que irás criar.

São teus instrumentos,
Aquilo que precisas,
E o que elas mais desejam ser.

Envolva-as de tua inspiração.

Sejam estas mãos, ainda que num rascunho,
Um esboço de tua obra maior.

Aqui estão minhas mãos,
Entregues à tua imaginação.

Desacertos

Façamos um brinde,
Estilhaçando as taças,
Ferindo nossas mãos,
Unindo nossos sangues.

Serão palavras incompreensíveis,
Talvez sugiram um pacto,
Ou tolas promessas de amor.
Desacreditaremos do mundo,
Vivendo unicamente nós.

Serão nossos corações escravos,
De um amor improvável.
O martírio presente,
Dia e noite, pelos séculos
Das nossas existências,
Para fazer compreender
O nosso significado.

Brindemos novamente,
De mãos vazias,
E sangue seco.
Estaremos em silêncio,
Desacreditando de tudo.

Destilaremos nossos sentimentos,
Como lento veneno injetando na veia,
Definhando nossos corações.
Aflitos, em vão acreditaremos
Encontrar, noutros, um sustentáculo
Para o conforto desta condenação.