Coleção pessoal de melgudam
Não tenho encontrado as palavras certas. Assim como também não tenho feito as escolhas certas nos últimos meses. E nesse fim de maio, nada está certo. Por algum tempo desisti de escrever, por outro tempo desisti de escolher. Mas sentimentos inexprimíveis continuaram subsistindo e o tempo continuou passando, por mais que eu tenha optado por ficar parada. É, a dor não espera eu achar a descrição perfeita pra ela, talvez por não fazer questão nenhuma de ser perfeita também. E a vida não abrange meus lutos, talvez por não abranger mesmo descanso nenhum até que a morte seja minha. E nesse fim de tudo, nada está claro. Por algum tempo eu quis ter as palavras certas, mas hoje eu só quero qualquer coisa, que não seja essa necessidade perturbante de escrever sobre tristezas que eu não traduzo.
Minha vida toma rumos opostos numa velocidade tão intensa que já cheguei a triste conclusão que Deus não sabe o que fazer comigo, só pode!
A coisa. O que deixa tudo com cara de metade. O que coloca três pontinhos na última palavra. A coisa que dói e consola simultaneamente, incessantemente. A paz mais triste. O inferno silencioso que ofusca os sons da rua. A coisa. As sobras dum passado. O prato principal da cabeça vazia. A coisa que faz sonhar um pesadelo suportável, mas que não termina quando desperta, porque nunca dorme. Nem morre. A coisa linda que eu quero esquecer. A coisa podre que eu só sei lembrar. A coisa essa que não dá pra alcançar com as mãos, mas vive do meu lado o tempo inteiro. A coisa que vê o que eu não enxergo. A coisa que fala o que ninguém ouve. A coisa que toca e não tem calor, mas arrepia o corpo todo. E que não pesa o lado da cama, mas dorme comigo toda noite. A coisa que existe sem querer. E que quer o que não existe mais. A coisa que quase não tem nome, não fosse a criatividade do brasileiro em inventar pra coisa, uma palavra: saudade.