Coleção pessoal de Madasivi

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⁠Um alivio num momento de vasca,
Um bem no tempo mal,
Aquilo obscuro,
Inapreciável,
E um travesseiro acordado,
Com olhos esbugalhados,
Guarda a cabeça que descansa,
Um corpo desabado,
Tudo suspenso,
Espera,
Dorme,

⁠Ouço,
Alguém batendo na porta,
Do tronco oco,
Noutro dia,
Era amarelo,
Agora é outro,
Preto,
De topete vermelho,
E o lenho cede,
Esfarela,
Com a força do machado bicudo,
Contradizendo tudo,

⁠Acolá depois da fronteira,
Tudo acontece,
Aqui dentro,
Nada (des)acontece,

⁠Como cães,
Doentes,
Babam,
Rosnam,
Ladram,
Avançam,
Querem comer,
Corra,
Fuja,
Ou,
Morra,

⁠Alguns sustos que meus olhos,
Levam quando te reparam,
Não repare,

⁠Algumas piscadelas bastam,
E ficas como um reflexo irretocável da eternidade,

⁠Bem mais alto,
Que os pássaros,
Dos terraços dos prédios,
Estão três rapinas,
Que planam em círculos,
Parecem vontades,
Que ficam girando,
Nos cantos da mente,
Sonhos coloridos,

⁠No céu desenhado,
De grandes rebanhos,
Nuvens ovelhas,
Hélices vão,
Fumaças ficam,

⁠Cruzamentos
Que estão logo ali,
Cruzam,
No chão tórrido,
Vindas,
Passadas,
Partidas,
Pedaladas,
Aceleradas,

⁠Como tijolos,
Dos muros das casas,
Vão momentos,
Fugazes como fumaças,

⁠Nos galhos escuros,
Folhas aladas,
Em cima dos olhos,
Sombras levadas,

⁠A hora do travesseiro é a penosa hora desalmada,

⁠Cada piscada é uma adaga cravada na alma,
Tempo insone que entra pela porta sem ferrolhos,

⁠Nesta noite fico desse jeito,
Com vontade de inundar o peito,
De lamber o céu imperfeito,
Engolir toda a chuva a eito,

⁠É no segundo tempo que o jogo emociona,
Que a bola esquenta no pé,
Que a emoção da torcida arrebenta,
A hora do olé,

⁠E a chuva?
Ela veio,
E não caiu sozinha,
Sei que lágrimas caíram também,
E são suas,
Então,
Chore Maria,
Faz bem,
Logo passa,
Mas saiba,
As ações soluçam as reações,
A vida mole não é nobre,
Como é bom ser valente,
Então,
Sorria Maria!

⁠Que bom que as horas são incertas,
Que a vida não faz teste de solo fértil,
Que as sementes das garantias não estão plantadas,
Que dependemos da coragem gentil,

⁠Que o improviso seja idolatrado,
E que sempre nos ajude a perceber o tempo desencontrado,

⁠Céu pardacento,
Emoldurado pelas copas das árvores gris,
Deitado neste colchão de cimento,
Embatuco para amenizar parte da minha cicatriz,

⁠E vento anseio ser,
E invisivelmente estar,
Em cada pedaço de lugar,
Brincar de ventania,