Coleção pessoal de Madasivi

101 - 120 do total de 377 pensamentos na coleção de Madasivi

⁠⁠Manhã rotineira —
Vou pela rua, com os cantos pelos cantos
que estão cantando,

⁠⁠E lá no fim,
Sempre lá,
Está o abismo,
Tão real,
Como um esteta da vida trágica humana,
Que a suspeita Nietzschiana suspira,
Calmamente,
E eternamente retorna,
Dizendo,
Tudo é abismo,
Abismo destino,

⁠Por um instante estou tão longe,
Que saio rompendo contraste,
Levanto lírico, imaginativo,
Eis o belíssimo cantábile,
Torno a deitar-me,
Com a sinfonia N°2 de Rachmaninoff,

⁠É no fim da festa que a cachaça fica brava,
Que a boca deixa de ficar amarga,
Que a noite termina bem,
Quando se tem alguém,

⁠E a verdade rega,
Encharca meu coração,
Goteja o colírio de paz,
Traz paz no olhar,

⁠Enquanto a plantinha cresce tudo acontece,
É a vida que segue,
É a nova história que reescreve,
É a beleza que enobrece,
É a arte que engrandece,
É a elegância que enriquece,

⁠Para minha alma, que anseia,
A Tua suave e doce presença,
Que traz,
Conforto,
E uma paz,
Que é sem fim,
Sim, é sem fim,

⁠É pelo mau cheiro do vento bravio que sei o tamanho da onda indócil que vem pela frente,
Maré de tempestade no ar,

⁠Salvação,
Estás surda à misericórdia,
Estorvas meu dia,
Apertas minha petição amordaçada,
Ouço os gemidos n'alma sufocada,
Boca amarga,
Piedade cinzelada,
[Selá]
Clamo,
Espero,
Inclino,
Sofro à beira da catacumba,
Fraco,
Sucumbo,
Estou esquecido no túmulo,
Lançado na negrura profundeza do nada,
Ira pesada,
Aflição,
Solidão,
Preso no calabouço.
Cego,
Triste,
Diariamente grito,
Rendo-me
Desprovido de encanto,
Boca costurada que não levanta um novo canto,
Amor sem voz,
Fidelidade caindo no despenhadeiro,
Treva que fez morada onde dormia a beleza,
Justiça que perdeu a memória,
Socorro,
Prece da manhã,
Rejeição,
Face que foge,
Tempos de padecimento,
Andanças no beco do falecimento,
Agonia que aterroriza,
Cólera que cerca,
Pavor que causa náuseas,
Afundo-me,
Ninguém,
Só,
Escuridão,
Minha sombra que me abraça,
Amiga,

⁠Ave-marias,
Um silencioso hiato aquece-me,
Ave-marias,
As vozes, as cordas e tudo mais dizem a verdade,
Ave-marias,
Ouço a lenta respiração que corta a besta pressa,
Ave-marias,
Quanta delicadeza num punhado de dó, ré, mi, fá, sol, lá, si,
Ave-marias,
Tempo que foge devagar,
Ave-marias,
Santos cantos,
Ave-marias,
Acalentado pela esperança,
Ave-marias,
Pode o riso ser eterno?
Ave-marias,
Só se a vontade estiver cega,
Ave-marias,
Para todos ouvirem,
Ave-marias,
Inesquecivelmente profundo,
Ave-marias,
Doze vezes ouvindo,

⁠Pés descalços,
Calçados,
Com chinelo, coturno, tênis, tamanco,
Sapato de salto alto, sandália, e bota de falso couro,
E o que mais se tem nestes metros quadrados,
É pé rapado meu senhor dos desafortunados,
Sujos, soltos, cansados, presos e amarrados,
Me socorre de tanta pisadura dura,
Que nossa alma quase desgraçada,
Está descalça e sem doçura,

⁠Morre o sol,
Em qualquer lugar,
Nasce a lua,
Pra todos um (en)luar,

⁠Asas de borboletas pretas numa tarde de domingo,
Dinah Washington perfumando os ouvidos bem baixinho,
Risos molhados e paladar com gosto de camafeu numa longa noite,
Imagem na parede que fala como gente,

⁠E quando abro a porta despreocupado,
Encontro o desvelo com aceno inesperado,

⁠A sós,
Depois dos afazeres,
Restou na ponta do dedo um fio de lã daquele manto,
Que "nus" amamos,

⁠Num buraco infindo,
Despenco-me,
Por detrás da máscara,
Encontro-me,
No silêncio de um mosteiro,
Ouço-me,
Trajando uma nova vestimenta,
Desnudo-me,
Tempo para tudo,
Refaço-me,

⁠Cores que se apagaram no rossio vermelho do porto dos cinco mares,
Zênite que debruça pra ouvir a lágrima jeremiada que desmaia nas faces,
Algo inabitável que fica inquieto na beira do barranco de uma narrativa,
Rastros de beleza num chão semoto e pisada triste desmedida,

⁠Na pele,
Sentimos os leves olhos da alma desatarem os nós,
Duas almas num corpo infando,
Até tentamos,

⁠Doeu,
Dentro do coração nu,
Uma dor doente de verdade,
Que choramos,

⁠E eu?
E tu?
E onde?
É que estamos?
Certo que,
No lugar irretocável,
Que deveríamos estar,