Coleção pessoal de artemisia_bathory
Que é que eu faço, é de noite e eu estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro.
Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. (...) Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso.
Agora é um instante. Já é outro agora. (...)
Agora é um instante. Você sente? Eu sinto. (...)
Nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante.
O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.
Durante cataclismos globais, nossa consciência coletiva entra em sincronia, assim como sequencias numéricas criadas por números gerados aleatoriamente, a ciência não explica este fenômeno, mas a religião sim, se chama prece, um pedido coletivo em uma só voz, uma esperança compartilhada, um medo aliviado, uma vida poupada, números são constantes, até deixarem de ser, em tempos de tragédia, e de alegria coletiva, nesses breves momentos apenas a experiencia emocional compartilhada faz o mundo parecer menos aleatório.
Em toda a chance que eu tiver para perdoar o meu inimigo irei faze-lo. Perdoar alguém é como dar a sua benção, perdoar alguém é dizer que aquilo não o machuca mais, é querer que o outro se sinta tão bem quanto você se sente agora. Mesmo que ainda haja ressentimento ser capaz de reconhecer a dor do outro por te magoar e perdoar um arrependimento genuíno.
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
Passado
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já me não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais. A única aristocracia é nunca tocar.