"As Boas Ações" Bertold Brecht
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Amo e retribuo o carinho para com todos que me rodeiam com verdades isentas de dissimulação.
Quando se ama com verdade, olhar para o que se passa do lado de fora é totalmente desnecessário. Tudo (absolutamente tudo) acontece dentro de nós. Você não tenta mais entender o Universo, e passa a valorizar os que semeiam paz de mãos dadas contigo. Esta é a força resultante de duas vogais, duas consoantes e uma infinidade de significados que preenchem todo o nosso ser e nos transformam em seres abundantes.
Amamos de alguns jeitos e maneiras muito diferentes: incondicionalmente, reciprocamente e até de forma imaculada - todos tão necessários, tão intensos e tão diversos entre si. Através destas vertentes de afinidade, unimos, levitamos e exercitamos os músculos que bombeiam a energia vital por todo o nosso corpo.
Dizem que o ódio anda lado a lado, e que saímos de uma faceta para outra quando não somos correspondidos. Eu particularmente não acredito, principalmente quando nosso coração está repleto de axiomas e premissas verdadeiras.
Amar e viver são diligências positivas e afins, portanto, quando a carência de algo realmente verdadeiro paira sobre uma relação que deveria ser sublime, ame mesmo assim, mesmo que o seu silêncio ecoe e demore a despertar quem perdeu a chance de usufruir do que você entregaria intensamente e sem dissimulações.
Duvide da luz dos astros, de que o sol tenha calor, duvide até da ciência, mas confie em seu amor - ele te fará maior do que já é. E se for realmente legítimo, nunca te transformará em escravo de algo que se desprendeu.
Eu te amo.
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Vivi ao tentar amar
Perdi ao tentar mentir
Venci ao tentar lutar
Caí ao tentar partir
Cresci ao tentar rezar
Subtraí ao tentar trair
Investi ao tentar somar
Omiti ao tentar sentir
Existi ao tentar voar
Desisti ao tentar sorrir
Consegui ao tentar passar
Resisti ao tentar ruir
Pressenti ao tentar pensar
Dormi ao tentar sair
Digeri ao tentar parar
Evoluí ao tentar subir
Vesti ao tentar causar
Ouvi ao tentar fluir
Admiti ao tentar lacrar
Insisti ao tentar florir
Tentei morri covarde
Conquistei pari coragem
Vence quem passa por essa vida com mais simplicidade. E se precisar pagar a felicidade com reciprocidade, te amo. Meu sorriso é seu.
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Amizades não são impostos compulsórios
Laços afetuosos não dissipam nossa compostura
Na sobriedade armazenada em barris de carvalho
Na embriaguez coletada em nascentes potáveis
Condescendência não se sustenta sem lisura
Amizades não são tributos mandatórios
Elos afáveis não consomem nossa virtude
Na discrição engarrafada em pallets de madeira
No pileque reunido em estuários correntes
Benevolência não se sustenta sem atitude
Amizades não são dízimos capitais
Ligações amistosas não esbanjam nossa castidade
Na austeridade gravada em medalhas de prata
No porre recolhido em baías balneáveis
Diligência não se sustenta sem verdade
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Quando entendi que a vitória só vem depois de uma maratona e não de uma corrida de cem metros, passei a aproveitar o percurso com mais inteligência. Reciclo, resisto e utilizo um bom par de tênis.
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Ansiedade, não me devore
Ansiado estou, regozijo diário
Aflição, não me apavore
Preocupado estou, eterno cenário
Instantâneo não perdura
A unanimidade é burra
Estou a levar uma surra
O frenesi me sussurra
Afobado estou, imutável otário
Felicidade, não me demore
Apurado estou, mal do sagitário
Sorte, me revigore
Dedicado estou, é deficitário
Prosperidade que não dura
A velocidade me empurra
Estou a pedir com condura
A alucinação me esturra
Acalmando estou, sou retardatário
Sucesso, não evapore
Preparado estou, é fiduciário
Resiliência: não comemore!
Consciente estou, pois é temporário
A idade amadura
O tempo me urra
Visto armadura
Venci a ditadura
Saciado estou, sou majoritário
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Liberdade é manifestar...
Nome e sobrenome sem receio
Sonhos e conquistas dos anseios
Amores e afirmações sem rodeios
Viver é expandir...
Sem invadir os limites de ninguém
Falar, ser ouvido e compreendido por alguém
Concordar ou discordar sem retificações
Somar e ratificar sem abreviações
É poder andar, cantar
Dançar, rir e chorar
É ser carne, osso e espírito
Gargalhar sem motivos
Sorrir para as crianças
Espreitar o subjetivo
É poder ficar feliz ou triste
Errar, perdoar, aprender e evoluir
Aplaudir o privilégio
Exorcizar o sacrilégio
É fazer nossa alma fluir
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Solidão
Viés fúnebre
Spa do diabo
Vinho, vinagre
Miolo amassado
Esmurro a madeira
Isola
Congregação
Esguelha da alma
Terreiro de luz
Charuto, cachaça
Oxalá, sua cruz
Espada de Ogum
Amola
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Quando espreito condições adversas, as tiro das sombras e as coloco sob a luz. Assim confronto meus maiores temores a partir da racionalização da origem. Caso fuja do que chegou para testar minhas fraquezas, posso ficar acorrentado no passado ou encadeado no futuro.
Depressão, ansiedade e ausência íntegra de uma reconexão com um presente que espera o máximo de mim. A guerra interior é desencadeada, e eu crio minhas trincheiras para eliminar tudo que tenta esmagar meu coração.
Reviro minhas gavetas e busco na dor extrema, aquilo que pode ser a base do iceberg. Neste exato momento expando minha consciência e volto a respirar evolução e prosperidade.
Um guerreiro não parece, ele é.
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Sonhar é ansiar o impossível
Realizar é tornar factível
Escrevi não tinha tinta
Recitei não tinha verso
Comprimi não tinha cinta
Inverti não tinha inverso
Adoeci não tinha leito
Pari não tinha feto
Amamentei não tinha peito
Dormi não tinha teto
Engordei não tinha roupa
Mastiguei não tinha dente
Ruminei não tinha boca
Atirei não tinha pente
Laborei não tinha aula
Soletrei não tinha letra
Capturei não tinha jaula
Discuti não tinha treta
Projetei não tinha escala
Plantei não tinha rosa
Viajei não tinha mala
Conversei não tinha prosa
Garimpei não tinha ouro
Meditei não tinha mantra
Amarelei não tinha louro
Contraiu não tinha câimbra
Planejei não tinha plano
Juntei não tinha caco
Enxuguei não tinha pano
Naveguei não tinha barco
Acordei não tinha sol
Encorajei não tinha luta
Relacionei não tinha rol
Atendi não tinha escuta
Rezei não tinha vela
Advoguei não tinha caso
Adotei não tinha tutela
Posterguei não tinha atraso
Subi não tinha escada
Abri não tinha janela
Queimei não tinha largada
Fritei não tinha panela
Escavei não tinha terra
Soprei não tinha vento
Amputei não tinha serra
Superei não tinha talento
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Minha alma sente frio
Arrepio, calafrio
A saudade está no cio
Esvazio, um vazio
Suas cinzas pelo rio
Nostalgia, sem seu brio
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Sete dois; comecei a ensaiar o livre arbítrio no ventre da minha genitora, e materializei meu elo com o mundo já no primeiro choro. O aprendizado, a dor e o desconhecimento do provérbio "só se afoga quem sabe nadar". Afundei nas minhas primeiras tentativas ao optar pelo gume errado da faca, e lembrei que a piscina amniótica não serviu como treino.
Criei uma carapaça tão forte quanto a armadura de Ogum, "cascorei" e saí cavalgando até tropeçar com a fraqueza dos fortes. A ansiedade antagônica e latente me desviou do tempo do Homem, e hoje ainda me sinto responsável pela erupção de algo adormecido perante a visão daqueles que ignoram.
Enquanto meu âmago ainda espera por um comportamento diferente do mundo, torço calado por uma reação massiva à minha voz.
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Quando me predisponho a sentar, escrever e decifrar a vida com doses de eloquência e pragmatismo, faço associações e remissões para um raciocínio coerente e fechado. Invariavelmente, meus pensamentos estão associados ao propósito e remetidos aos vínculos estabelecidos entre o nascer e morrer.
Propósito para termos um futuro que impulsione nosso presente, e vínculos porque não construímos destinos com carreira solo. Temos os que torcem incondicionalmente, os que aplaudem, os que invejam, os que são indiferentes, e aqueles que fazem acontecer junto. Todas essas interações na busca por um sentido, tornam-se vínculos.
É muito surreal achar que um propósito almejado e plantado ao longo de uma jornada linda e exaustiva, bem como os vínculos impagáveis que construímos ao longo deste percurso, aconteçam sem explicações ou justificativas. É muito raso acreditar que tudo faz parte de uma cadeia fria e evolutiva, com legados inteiros virando pó sem uma perpetuidade espiritual. Não se trata de apego, mas de sanidade.
Prefiro acreditar em um fio invisível que estabeleça conexões após nossa desmaterialização, que nos conecte aos nossos antepassados e tudo aquilo que absorvemos de aprendizado para uma encarnação mundana. Prefiro desacreditar que depois de tanta luta e troca, tenhamos que nos preparar para uma finitude, um desfecho vazio para os que partem e cruel para os que ficam.
A vida nos ensina o poder dos significados, e por isso buscamos um sentido para tudo. Eu imagino uma morte travestida de renascimento, um legado ativo das pessoas que tive a sorte de conviver, e uma consciência imortalizada para uma evolução espiritual. Se meus pensamentos são fruto de um delírio pessoal, porque existimos e aprendemos a amar tanto a vida quanto o próximo?
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Meu coração
Sangue calejado
Minha missão
Destino arrojado
A verdade liberta
Presente, passado
Minha porta aberta
Laroiê, tá trancado
Destranca e liberta
Meu fardo pesado
Esperança aquieta
Sonho alvejado
Coragem desperta
Olhar marejado
Poeta disserta
Aplauso versado
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Devotei boa parte da vida ao acaso, mas foi o descaso alheio que implodiu nas minhas entranhas. Frustro, afoguei minhas expectativas em lágrimas de descrença e vi minha magia exclusa da vulgaridade que se agarra aos abecedários triviais.
Segui sem estupidificar minha mensagem, e vi os frutos da minha imaginação morrerem em terrenos inóspitos. Direcionei minha alma para os que enxergam além dos estribilhos que viram bordões na boca dos insipientes, e reagi à força centrípeta que comprime toda a manada no senso comum.
Sustentei meu cerne, mas perdi para os estereótipos e protótipos que pregam o populismo. Vi o frenesi da criação transbordar de erudição pelas minhas próprias mãos, e naufraguei em um mar inepto e desprovido de sentido.
Quase meio século e sinto que estou ermo, mas prostituir meu talento seria divagar em tempestades de sucesso, enlouquecer diante de algo que não se presume e me resume sem autenticidade.
Entre aniquilar minha essência e pluralizar, fico singular.
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Existem situações que nos levam a uma saudade imensurável, e aí vemos o Universo parar no tempo. Se melancolia remete a coisas não experimentadas, nostalgia é a lembrança vivida na prática.
Ontem senti uma agrura psicológica e quis ser 36 anos mais novo. Balbuciei uma juventude de barba e cabelos brancos.
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Do samba ao fado
Subitamente
O impossível golfado
A tarde decora
Meu cárcere privado
O silêncio isola
Meu grito abafado
O tempo passou
A barba cresceu
O diabo amassou
Pão desvaneceu
A noite aflora
Meu décimo verso
Meu medo evapora
Joguei pro Universo
Pensamento fluiu
Dormi, repensei
A vida extorquiu
Meu triunfo, cobrei
O dia acalora
Meu sol, astro-rei
Caipira, caipora
Eu desenterrei
Meu tesouro perdido
Meu sonho real
Tudo faz sentido
Brasil, Portugal
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Depois que confiei
Nunca mais temi
Depois que alcei
Nunca mais caí
Depois que iluminei
Nunca mais anoiteci
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Hoje estamos bem distantes do local que plantamos nossa primeira semente, mas quem disse que a colheita é realizada no mesmo solo que plantamos?
Levamos nossas raízes nas asas. Um pouco de você, um pouco de mim e muito de nós.
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Sentei à margem do rio
Do cais espreitei o cais
Da nascente para Foz
Corrente inquieta
Barcos inertes
Observei minha tela
Emoção fluiu na inquietude
Razão ancorou na estaticidade
Distanciei os pólos do vislumbre
Legitimei a inconstância
Autentiquei a impermanência
Fechei as janelas da alma
Clamei por equilíbrio
E meu córtex reverenciou o rio
Chorei, lembrei de você
Olhei para o horizonte
E minha razão já estava longe