Vanessa Brunt
Cuidar de uma árvore todos os dias não garante que ela vingue duradouramente, mas garante que o jardineiro seja cada vez melhor no que faz e que saiba cada vez mais em que solo deve ou não plantar. Ser um bom jardineiro importa mais do que ter uma árvore boa. Só um bom jardineiro pode criar uma floresta. Se você deixou saudade, já (se) vingou. E só faz falta quem não faltou enquanto durou.
Amar é planejar. Planejar é sempre limpar a janela por querer, e não somente após o embaçar pior da chuva.
Continuo (r)indo.
Estou sempre (r)indo, porque só fica o que me acompanha e estou sempre progredindo.
Corrida realmente duradoura não é para o de maior velocidade, mas sim para o que não para de percorrer.
Só demore onde puder sempre estar.
Só (de)more onde puder sempre estar.
Só (de)more onde puder (sempre) estar.
Querer reciprocidade não é fazer visando algo em troca. É fazer esperando que valha a pena. É como jogar um amortece-dor no chão para ir até ele em queda libre, esperando apenas que ele ao menos continue ali.
Que meu transbordar afaste os secos.
Que meu mergulhar afaste os rasos.
Que minha exacerbação afaste os ilegíveis.
Que meu tanto afaste os quases.
Que minhas palavras me livrem
dos que não querem livros (inteiros).
Que minhas páginas afastem os abreviados.
Que minha sirene afaste os sonolentos.
E minha exclamação, os de fases.
Que minha poesia afaste qualquer copia-dor.
Que meu oitenta afaste os oitos.
Que minha intensidade afaste os mornos.
Que meus vintes nunca voltem pros dezoitos.
Sei que fervo o tempo inteiro, mas só assim se esteriliza,
conserva e faz banquete que dá para cheirar.
Que minhas cicatrizes fechem o que não for para paz dar.
Que meus princípios dêem fim aos sem querer.
Decida se quer ser marca ou mancha.
E se quer ser (res)pingo,
que minha chama afaste você.
(Vanessa Brunt | @vanessabrunt)
EIS QUE CIMENTO
O tempo nada constrói. O que constrói é a permanência. Permanência sem esforço nada constrói, vira ausência. Ausência nada constrói, não vira saudade, vira esque-cimento. (Esque)cimento... eis que cimento! Este sim, muito constrói, porque é lembrar sem querer voltar. Vira espaço para o adiante, abre alas para o transforma-dor, vira a clara imagem tortuosa de como alguém deixou de ser (ou nunca seria). Porque você pode ir, mas como você foi sempre vai ficar.
Nunca aceito que o seco ou o raso tirem de mim o que sei que deve ser. Até porque a cura para tudo é sempre se molhar: no suor, nas lágrimas ou nos mergulhos.
— Olha como ele demonstrou
e com-provou o que sente (por você). Que máximo!
Não é?
— Não. Que mínimo.
A saudade me machuca,
mas você me assassina.
A saudade me inclina,
mas você me arranca.
Fico onde
ainda der
para (revi)ver.
Neste mundo de guerras, só ando onde for possível estar sempre amada.
Neste mundo de guerras, só ando onde for possível ficar amada.
Eu caibo até onde não tem cabimento. Eu só não caibo onde não tem crescimento. Se não traz CIMENTO, não creio. Ou é construção ou abre alas.