Sumã Pedrosa
Passam minutos, horas, dias...
Eu só pensando em você,
Pensando em você,
Pensando em você...
É uma rotina bem-vinda!
Cada espaço do meu pensamento
Preenchido por seu cheiro, sua voz,
Olhares, dizeres, movimentos...
Como eu poderia me cansar?
Nada desejo nessa rotina mudar.
Como eu poderia me entediar?
Esse hábito quero eternizar!
É uma alegria, um encanto...
Dádiva divina eu recebi.
Acolho a graça de querer bem e tanto.
Amar você assim!
Minha resposta é um sorriso
Largo, pleno, radiante.
Sua presença em mim inspira,
Ilumina-me o semblante!
Que a força do meu pensar
Tenha o poder de o corporizar
Que você chegue sem demora
E eu possa, enfim, o abraçar!
Depois voltarei a pensar, a pensar, a pensar...
Acha-se pequeno?
Pensa que seu esforço é inútil?
É da centelha, é da faísca
que provém a explosão.
Persista!
Suas fagulhas
detonarão o bem.
Coração de Maria
Desprezando os conselhos do poeta
Sem emitir palavra, João dizia:
Não se aproxime. Não se aproxime muito.
Não inocule em mim a inconveniência da
Profundez de uma amizade verdadeira.
Caminhemos em vias paralelas.
Lado a lado em diferentes caminhos.
Cultivemos o descompromisso dos
Relacionamentos efêmeros.
Busquemos a qualidade do que é fugaz.
A mensagem não dita foi devidamente compreendida.
Maria não tentaria transpor os limites.
Todavia, ser intensa era-lhe intrínseco,
E a esperança não se deixa abater.
Buscaria outro alguém que, como ela,
Ousasse experimentar a dádiva...
“O presente é tão grande!” – ensina o poeta.
Ansiava pelo essencial.
Queria mãos dadas!
João não será esquecido.
Já está aconchegado naquele coração.
Coração de amiga. Coração de irmã.
Coração que ama. Coração de Maria.
Discurso da felicidade
Meu peito está aqui a arder!
A felicidade veio me visitar.
Quero aproveitá-la em cada segundo,
Sei que suas visitas são plenas, todavia, rápidas.
Veio a mim hoje, que grata surpresa.
É tão bem-vinda! Poderia aqui se instalar!
Foi o que sugeri a ela.
Mas ela bem se explicou...
Se me demoro,
Corro o risco de você não me perceber,
Não me dar atenção,
Não agradecer a minha presença.
Bom mesmo é chegar e você fazer festa
Como, aliás, está fazendo agora.
Sou Felicidade
E também me alegro, também fico feliz.
O que me alegra é o seu regozijo quando me avista ainda ao longe
E durante todo o tempo em que permaneço junto a você.
De que valeria eu, Felicidade,
Se me entristecesse?
Rejubile-se sim com minha presença!
Desfrute de todas as venturas que lhe oferto.
Demonstre gratidão enquanto me experimenta
E esperança quando eu não estiver tão perto.
De quando em quando, sempre voltarei
Logo estarei aqui novamente.
Mas atente-se: você tem amor, você tem amigos, ama e é amada.
Então, nos intervalos que lhe concedo, entenda-se feliz.
A saudade e eu
Não sei mais quem hospeda quem.
Quem foi ao encontro da outra
E achou por bem ali morar.
Quem terá invadido?
Quem foi a vítima resignada
Que se deixou invadir?
Não sei.
Há tanto tempo estamos juntas,
Entrelaçadas, emaranhadas, entrançadas,
Que a razão se perdeu.
Tantas vezes quis expulsá-la
E ela não foi.
Não queria me deixar só.
Talvez seja eu a invasora de sua morada.
Talvez tenha sido eu a invadir
Seu terreno e tomá-lo por meu.
Se ela já me mandou partir alguma vez,
Se já me quis ver pelas costas,
Não tenho essa recordação.
Deve ser mesmo ela a hospedeira.
Paciente que é,
Deixa-me ir ficando...
Suporta meus deboches,
Aguenta minhas grosserias,
Sem me mandar embora.
Mas que ironia!
Como voltar?
Como ir embora?
Tanto tempo juntas!
Se me for, sentirei saudades...
E cá já estarei de volta.
Sons da madrugada (1)
Galo canta desesperado,
Cachorro late incomodado,
Ambulância ecoa nervosa,
Criança chora clamando urgência.
A cama range de um lado,
O filho ressona aninhado,
Marido ronca como que em prosa,
O relógio acompanha a cadência.
Um gato grita miados roucos,
Um carro buzina e canta pneus,
Jovens bêbados bradam como que loucos,
Proclamam queixumes de amores seus.
Lá fora, noite acesa!
Os ruídos denunciam a atividade delirante.
Cá dentro, a casa dorme!
Noite escura, tinidos de sono reconfortante.
Só a caneta escreve
Movimentos que escuto de leve.
Nítidos somente a mim, e a mais ninguém,
Distingo outros sons também.
Som da saudade gritando no peito,
Som das palavras fervilhando a mente,
Som do cansaço suplicando leito,
Som da existência implorando argumento.
Tantos sons no silêncio pouco tranquilo da noite insone.
Três e treze, marcam os ponteiros.
Há algo que esta questão solucione?
Meu sono aniquilado por bulícios certeiros?
A chuva começa. É mais um som!
Chuva mansa, sem relâmpago ou trovão.
Mas seu som se sobrepõe, é o seu dom.
Está em seu âmago cumprir sua missão.
Como mãe amorosa
Ciente da fadiga enorme
Acalenta-me, religiosa
Instruindo suave: dorme!
É o que permanece.
Só a chuva mansa.
Nina-me e me adormece
A chuva... amansa.
Sons da madrugada (2)
A chuva mansa, na madrugada, quer me ajudar.
Como acalanto de colo de mãe,
Ela canta: dorme!
Em seus braços, sou criança.
Todavia, ambulâncias, na rua, se afligem.
Agora são muitas, tão próximas...
Arrancam-me do repouso sagrado
Levam-me aos sons do sofrimento alheio.
Liberto-me dos sons internos,
Consigo ouvir além.
Contemplo gritos que não vêm de mim,
Mas são meus. Sou um com aqueles que clamam.
Será que durmo?
Ou só agora desperto?
Os sons são tão perturbadores...
Como não os ouvia antes?
Som do sofrimento gerado pelo desprezo,
Som de exaustão causada pela humilhação,
Som atormentado por sentir o menosprezo,
Som do abatimento e da submissão.
Tantos sons na agonia terrível da noite insone.
Quatro e vinte, marcam os ponteiros
Há algo que esta questão solucione?
Lamentos ecoando no escuro traiçoeiro?
A chuva, dentro de mim, escorre pelos olhos
Lá fora, agora, a chuva chama.
Como instrução ministrada por mãe,
Embora mansa, clama: Levanta!
É o que permanece!
Só a chuva mansa.
Desperta-me e chama-me à ação.
A chuva... Avante!
Hoje preciso do silêncio
Verbalizar é o chamado. Porém hoje eu gostaria mesmo era de poder experimentar o silêncio, mas silêncio também no pensar. Os pensamentos podiam desacelerar... entender que a mente também precisa de descanso. Às vezes, é necessário parar, pois a saudade também tem o poder de nos deixar exaustos. Parar... Nem fazer perguntas nem tentar respondê-las; nem gritar nem sussurrar; nem isso nem aquilo. Eu queria mesmo era conseguir sentir o nada até que ele me incomodasse.
Mas silenciar a mente não faz calar o coração. Querer insano esse que experimento! Não há mesmo como tapar o grito que sai do coração! Como não escutá-lo? Como ignorá-lo sem apresentar distúrbios de alguma ordem?
Tendo a compreensão da impossibilidade do silêncio buscado, verbalizo. Não posso silenciar minha mente nem meu coração. Levo-os então a sonhar. Sonho feito de sons... Coloco o repertório que me agrada, a trilha sonora de tempos felizes, vozes que têm me feito falta, risos que alegram, olhares que denunciam o amor, abraço que redime e dilui a solidão. Sou generosa comigo em meu próprio sonho.
Como Mário Bennedetti, compreendo que o maior erro que alguém pode cometer é tentar extirpar da cabeça o que inunda o coração. Entendo agora que não é do silêncio que necessito, preciso é da esperança. Acreditar no sonho, continuar a caminhada com sorriso no rosto e fé no coração. Dou-me conta de que é verbalizando que a alma se acalma e retoma o ardor e a alegria. O silêncio se fez sim, externamente, e foi necessário para o colóquio interno, para que o sonho aflorasse e para que mente e coração, em união, voltassem a sonhar, voltassem a crer.
Vida é caminhar
Obrigo-me a caminhar logo na primeira hora da manhã. Mas, hoje, não quis caminhar no mesmo chão de antes. Mudei a direção. Ao mudar a direção, vi que os ares também mudaram. Tão bom mudar ares! Muda-se o chão, muda-se a paisagem. No caminho costumeiramente percorrido, a visão é de concreto. Sons de escapamento e buzina. O cheiro é ocre. Rostos sisudos e apressados marcham em passos largos. Mas a pista é ótima. Perfeita. Plana, larga, asfaltada, com aclives e declives muito sutis, quase imperceptíveis.
Hoje não. A distância da nova pista de caminhada é a mesma, mas o rumo tomado é outro. E essa pequena variação regou a semente da percepção. Hoje o dia tem todas as cores da caixa. O cheiro é um misto de verde suave e cor de rosa. E o que é incrível: há pouquíssimas pessoas; são os pássaros que criam o rumor da vereda. Os mais variados tipos de pássaros, os mais variados tipos de canto. São dois quilômetros de pensamentos leves, de atenção ao movimento do ar entrando pelas narinas, plenificando os pulmões, retirando de dentro o que não deve permanecer ali. Não há asfalto, a calçada é estreita, acentuados aclives e declives. O corpo sente bem o quanto é fácil percorrer as descidas e como são penosas as subidas, quanto esforço físico é despendido.
Deve ter sido um anjo a sussurrar-me enquanto eu dormia, orientando-me a alterar a rotina; solicitando-me que mudasse, a começar do lugar onde caminho diariamente. Decidir-me por realizar a mudança segredada ao meu ouvido sonolento, representou a tomada de posse do favor do conselho. O presente recebido foi lembrar que 'vida é caminhar'. E a caminhada verdadeira não é feita apenas de caminhos planos. A subida é difícil e exige esforço, a descida é rápida e fácil. Há que se prestar atenção ao ar respirado, àquilo que nos faz bem, ao que não está sendo salutar; há que se enxergar o belo. Ele, o belo, está aí ininterruptamente para colorir nossos dias; mas a atenção é exigida, pois, apesar de evidente, ele facilmente é ocultado pelo véu da rotina, impregnada de mecanicidades e apegos, que turva a nossa visão.
Tanto a realizar e eu aqui...
Pode ser que seja o ar!
Sim, deve ser esta atmosfera a me deixar assim lânguida...
Vontade de nada fazer, desmotivada de toda a ação.
Tanto a se realizar e eu aqui;
Refém de uma falta a me devorar o interior...
Nem riso nem choro, só a sonolenta apatia.
Foi a brisa que trouxe o cansaço, carência ou ansiedade?
Veio no vento esta angústia recheada de ausência, privação, saudade?
Não importa: terá de se retirar!
Não tenho tempo pra isso.
Aprendi a fórmula do antídoto:
Não é admissível esperar por novos ares!
É com o querer que se modifica o clima.
São meus pulmões a devolver ao ambiente o ar que o aromatiza.
Nunca mais fico de bem.
Vez ou outra, na minha infância, eu escutava alguém dizer: "vou ficar de mal! Nunca mais fico de bem". Achava isso bem estranho; ficava pensando o que seria esse 'de mal'. Fato é que não entendia aquela fala. Até porque, como geralmente vinha da boca de uma criança, depois de poucos minutos, uma chamava a outra para "voltar a ficar de bem". Lembro que nunca fiquei de mal. Por volta dos 8 anos, tive uma discussão com umas amigas e fui embora pra casa. Não tinham se passado nem 15 minutos quando elas foram me chamar para jogar queimada. Não havia em mim um só resquício de irritação. Nem nelas.
Mas, lá com uns 13 anos, voltando de ônibus da escola, uma de minhas amigas que cresceu e estudou comigo entre os 7 e 9 anos, começou a me instigar, falando que a escola dela era milhões de vezes melhor que a minha. Tivemos uma discussãozinha de adolescente, em que eu fiquei curtindo com ela, levando-a na brincadeira, e, no final, ela ficou bem brava. Foi uma tolice, porque foi a primeira vez que alguém ficou de mal de mim. E o afastamento que veio em seguida foi bem doloroso. Nunca deixei de gostar dela, mas não a procurei para pedir que voltássemos a ficar de bem, nem ela a mim. Só fomos voltar a trocar algumas palavras quando já éramos adultas, casadas, com filhos. Não é lamentável?
Depois disso, aprendi o que era ficar de mal; é deixar o mal crescer dentro da gente; é perder aquela virtude infantil de sentir o valor do outro. É óbvio que o outro não deixou de ser querido; é óbvio que gostaríamos de reatar os laços; mas deixamos o rancor ir crescendo, permitimos que ele vá dando um sabor amargo nas lembranças antes tão doces ou tão bem temperadas. Tantas aventuras, gargalhadas, travessuras que nem nos permitimos mais ventilar na memória... Agora estamos de mal.
Antes fossem só as crianças que ficassem de mal; elas sim, sabem fazer isso do jeito certo! Jovens e adultos perdem a linha, esquecem como se faz. Para a criança, o outro é o que importa, porque nem mesmo consegue distinguir de fato onde é que termina o eu para começar o outro. Esse é o tempo em que se é um com o outro. Não é adorável?
Então começamos a crescer, nos individualizamos. Sabemo-nos separados e assim nos fazemos. Cada um para o seu lado e se há motivos para discussões, e sempre há, agora pode haver também a separação sem volta. De uma grande e linda amizade pode ficar apenas uma dor no peito de quem não teve o amor pueril que chama a crescerem juntos.
Isso acontece porque, em algum ponto, entendemos que o outro se apequena. Não somos mais um com ele, agora somos mais. Quando o olhamos, ou dele lembramos, maior que ele está aquilo que nos irritou, chateou ou indignou; e isso toma uma proporção maior do que o valor do outro. É importante perceber o quanto isso é sério e é fácil entender se exemplificarmos usando uma cédula de valor.
No Brasil, a cédula de maior valor é a de 100 reais. Pois bem, se acharmos uma cédula suja de barro, ou com um pequeno rasgo, ou toda amassada, embolada, ainda assim nos alegraremos pela sorte de tê-la achado. Independentemente do seu estado, ela não perde o seu valor. Com as pessoas deveria acontecer exatamente assim: a pessoa tem o seu valor e não o perde por ter-nos feito algo que nos entristeceu. Jogá-la fora, 'matá-la' em nossa vida, querer nunca tê-la conhecido é, para mim, um dos maiores males que pode existir entre as pessoas. É mesmo algo comparável à morte; tão ou mais doloroso que ela.
Quando vejo amigos se afastando com o tom de até nunca mais, ou um tempo próximo ao nunca, dói em mim. Quanta estupidez! Quanta vida jogada fora! Lembro da parábola do filho pródigo. Sim, porque aquele filho ficou de mal do pai. O pai não; este nunca guardou rancor pelas intempéries do filho. Com certeza, ficou muito triste, muito chateado; mas rancoroso, jamais. E, desde então, sua vida foi esperar o seu retorno, esperar para poder o abraçar novamente. Claro que seguiu a vida fazendo o que devia fazer e amando todos os seus. Mas vivia à espera do filho que nunca deixara de amar.
Penso que eu 'puxei' isso do Pai. Não sei ficar de mal. Nunca soube e espero jamais aprender. Fico sim irada vez ou outra, e me derramo feito lava de vulcão. Mas passada a erupção, mal lembro do que a causou. Tantas feitas, uma questão qualquer que poderia ser resolvida de uma maneira mais amena. Tantas vezes tenho de pedir perdão... Mas ficar de mal, isso não é pra mim. Continuo achando estranho como da primeira vez que alguém falou isso perto de mim. Só que naquela época não doía, até porque nem era sério. Hoje, no mundo adulto, o 'ficar de mal' é uma terrível doença; é um grande mal. É a própria doença do mundo!
Espero em Deus
Espero em Deus que teu sucesso seja pleno, que lhe traga alegria e satisfação.Espero em Deus que teu bom trabalho lance sementes nos corações e que elas cresçam e frutifiquem.Mas espero, ainda mais, que as sementes que tu lanças com santa intenção e carinho para quem as quiser plantar, tenham a força de revolver a ressecada e dura terra que está aí em teu coração.
Não estou te julgando, como pode parecer. É que vejo a tua tristeza e solidão. É por isso que desejo que tu consigas tomar o remédio que dás aos outros. Penso que te será mais amargo que a eles; mas é bem provável que te leve à cura. É bem provável que esse peso que deixa teus ombros envergados seja lançado fora.
Espero em Deus, portanto, que tu tenhas a coragem para tomar do teu antídoto e que encares a necessária convalescença. Espero em Deus que sejas feliz e alcances prosperidade. Amém!