Markus Zusak
Estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiura e sua beleza e me pergunto como uma coisa pode ser as duas.
Muitas vezes, tento lembrar-me dos retalhos de beleza que também vi naqueles tempos. Revolvo minha biblioteca de histórias.
Na verdade, estou pegando uma agora.
Creio que você já sabe metade dela e, se vier comigo, eu lhe mostro o resto. Mostro-lhe a segunda metade de uma menina que roubava livros.
Sem saber, ela aguarda inúmeras coisas a que aludi há pouco, mas também espera por você.
Está carregando neve para um porão, imagine só.
Punhados de neve congelada são capazes de fazer quase qualquer um sorrir, mas não nos podem fazer esquecer.
Lá vem ela.
...Uma série de ferimentos aflorou à superfície da pele. Tudo por causa das palavras."
(A Menina que Roubava Livros)
Nada alterava o fato de ela ser uma menina magrela e perdida em mais um lugar estranho, com mais gente estranha. Sozinha.
Às vezes as pessoas são bonitas. Não pela aparência física. Nem pelo que dizem. Só pelo que são.
É inegável como a verdade pode ser brutal às vezes. Só dá pra admirá-la. Geralmente passamos a vida acreditando em nós mesmos. "Eu tô bem", dizemos, "Tá tudo bem". Mas às vezes a verdade pega no pé e não tem santo que a faça desgrudar. E aí que percebemos que às vezes ela nem chega a ser uma resposta, mas sim uma pergunta. Mesmo agora, estou aqui pensando até que ponto minha vida é convincente. Passo a vida levando as pessoas pra tudo quanto é canto da cidade, ouvindo gente me dizendo aonde ir e o que fazer. Observo as pessoas. Falo com elas. O tempo está bom hoje. O tempo está sempre alguma coisa. Estou me queixando? Reclamando? Não. Foi isso que escolhi fazer. Mas é isso que você quer?, pergunto. Por alguns quilômetros, minto pra mim mesmo, dizendo sim, é isso que eu quero. Tento me convencer que é exatamente isso que eu quero da vida, mas sei que não é.
Naquela noite, quando Hans acendeu a luz no banheirinho indiferente, Liesel observou a estranheza dos olhos de seu pai de criação. Era feitos de bondade e prata. Como prata mole, derretida. Ao ver aqueles olhos, Liesel compreendeu que Hans Hubermann tinha muito valor.
Não posso fazer nada se ela não quer o amor de ninguém, só posso respeitar.
- Tá tudo bem, Ed - ela diz, e sei que está sendo sincera.
Taí um lance superbacana: eu e a Audrey estamos sempre numa boa.
Essa é a minha vida. Tenho cabelo escuro, sou moreno claro, olhos castanho-escuros. Sou um cara bem normal, nada sarado. Eu devia endireitar a postura e parar de me curvar, mas não consigo. Quando estou de pé, coloco as mãos nos bolsos. Minhas botas já estão se desmantelando, mas mesmo assim não as tiro dos pés, porque gosto delas pra caramba.
O que eu mais gosto é de andar com as mãos nos bolsos, com o Porteiro de um lado e fazendo de conta que a Audrey está do outro.
A imagem que tenho da gente na cabeça é sempre de costas.
Tem sempre um brilho escurecendo.
Tem sempre a Audrey.
Tem sempre o Porteiro.
Tem sempre eu. E eu estou sempre segurando os dedos da Audrey com os meus. - Ed Kennedy - Eu Sou o Mensageiro.
Não resmungou nem gemeu nem bateu com os pés. Simplesmente engoliu a decepção e optou por um riso calculado - um presente dela para si mesma.
(A Menina que Roubava Livros)
Ao longo dos anos, vi inúmeros rapazes que pensam estar correndo para outros rapazes. Não estão. Eles correm para mim.
(Em A menina que roubava livros)
Essa história me deixou cheio de culpa. Tento me livrar, mas volta sempre. Ninguém disse que seria fácil
Sabe, dizem que há inúmeros santos que não tem nada a ver com a Igreja e praticamente nenhum conhecimento de Deus. Mas dizem que Deus anda com essas pessoas sem que elas se dêem conta disso. Os olhos dele estão dentro de mim agora, acompanhado pelas palavras.
situação paradoxal:
"Havia gente por toda parte, na rua da cidade, mas o forasteiro não poderia sentir-se mais só se ela estivesse deserta".