Madasivi
Um amanhecer,
Dois gumes,
Três desejos,
Quatro linhas escritas,
Cinco minutos de olhos fechados?
Seis horas, é hora de zarpar,
Sete vezes sete deve ser colocado em prática,
Oito em ponto é momento de testar a paciência,
Nove horas tenho encontro marcado contigo,
Dez é o número da camisa que você joga no meu time,
Onze é um enigma pra mim,
Doze já foi, quem viveu, viveu!
E Treze é hoje, para alguns uma sexta-feira agourenta e para outros sexta-feira de boniteza,
É a saudade que espreito nos olhares lançados da face do tempo,
É a saudade calada,
É a saudade que vem sem pedir consentimento,
É a saudade armada,
É a saudade que é um arquipélago de sentimentos que flutuam submersos,
É a saudade que desnuda enroupada,
É a saudade que sacia esfomeada,
É a saudade que vive falecida,
É a saudade que chega a qualquer hora,
É a saudade que entra pela janela de quem quer ir embora,
Lençóis do mar que corre,
Inda que cedo ou mesmo que tarde,
Com tua incomensurável graciosidade chegaste,
Inda que dê saudade do tato, do sotaque, seria bem menos sem a recordação da tua meiguice sem inverdade,
Ainda assim espero resquícios de realidade na menina dos olhos da eternidade,
O casco rasgou,
A fogueira apagou,
O balão caiu,
A criança sorriu,
O risco brasil subiu,
A bola rebolou,
O suor escorreu,
A lágrima rolou,
O gosto da saudade bateu,
A lua acendeu,
O sol clareou,
A chuva pingou,
O rio secou,
A represa sumiu,
O poeta dormiu,
A planta cresceu,
A festa aconteceu,
A alegria contagiou,
O dia acabou,
A semana novamente começou,
O décimo segundo mês voou,
E o velho ano está aqui,
Sussurrando bem baixinho,
Que não vai mais voltar,
Mas, um novo ano vem chegando,
Nas asas das borboletas...
...Das surpresas...
...que batem no ar!
O carcará voa por aí,
Com sua envergadura chega logo,
Vem e faz a força ruir,
Vai e deixa o medo sentir,
Agora é a tristeza que está na cara,
O choro é pesado,
E o tempo roubará a lembrança?
Fica a saudade,
Diante da janela que não é minha,
Se estende o sol solenemente,
Algumas sombras dançam,
Ao som das notas escuras,
Carregadas, ameaçadoras,
Enérgicas, repentinas,
Vamos comprar churros e risos,
Vamos vender abraços e compassos,
Vamos fugir fugido,
Vamos para longe do mundo,
Vamos para quem sabe onde,
Sorriso de pétala morena,
Asa que pode voar longe, mas insiste fazer morada do lado esquerdo do peito,
Rastro de um olhar eterno de amora madura,
Alma que esparrama açúcar pelo caminho,
Longe, tão longe,
Que a imaginação se cansou e ficou pelo caminho,
Mas é lá, bem lá longe,
Que acordei com a ânsia de fazer meu ninho,
Chores, ó menina,
Que não sei quem és,
Que não sei onde estás,
Que não conheço tua sorte,
Mas que sorte teria?
Junto às cinzas da tragédia,
Que desnuda tua alma,
Que acutila tua história,
Que traz somente uma atroz certeza,
A dor não passa, te rasga,
O que tenho?
O que me espera?
O que faço?
O que mais quero?
O que tem aqui dentro?
Para que tanto anseio?
Tenho uma alma agitada querendo dizer,
Tudo – mas se eu soubesse falar,
Tenho ouvidos abertos,
Nada – dentro de mim está mouco,
A quietude está conversando comigo,
Diz sobre uma coisa que perdi,
Que deixei de lado e com o tempo se perdeu,
Não foi uma coisa qualquer,
A semente é lançada e dá fruto, amo,
A raiz cresce, aprofunda, cuido,
A flor nasce, amadurece e deixa seu perfume, guardo,
A flor vive, morre, desaparece, fica eterna, não esqueço,
Asfalto rosado,
Inverno,
Tempo sequioso,
Sitibundo,
Caminho colorido,
Renovo,
Amanhecer calmo,
Perpétuo,
Minha vida é esperar,
Esperar,
Esperar,
Vida que não é mais minha,
É da esperança que dança,
Pra lá e pra cá,
Lasque-se,
Lasque-se,
Não maldiz,
Nasce do regaço,
Feliz,
Morre no cangaço,
Infeliz,
Como a bala da arma,
Maria Bonita,
Como a pólvora clarão,
Capitão Lampião,
Lasque-se,
Lasque-se,
Náuseas de um gesto indigesto,
Medo de uma inércia eterna,
Escritas de um texto sem contexto,
Sentimento e uma isolada liberdade lanterna,
É a menina da favela,
Olhem o pé sujo dela,
Tá tão colorido,
Quanto seu (des)escondido sorriso,
Esconde um universo de humanidade e beleza,
Meus olhos de sonhos,
Andam tão distantes,
Tudo que vejo,
Simplesmente não está,
Vejo o que puramente é,
Assim, tão singular,
Meus olhos de vaga-lumes,
Andam apagados,
Nada que miro acende-me,
Tudo me vê,
Mas nada vejo,
Me foge a pluralidade,
Do olhar que sopra,
E reacende o sonhar,