Madasivi
Dança debaixo do sol,
Pipa que tenta escapulir com o vento,
Criança com anseios de asas,
Sarau no ninho,
Noite que chega mansa,
Chalram os passarinhos,
Se é pra ir,
O rio que leve,
Se é pra ficar,
A terra que devore,
Se é pra atravessar,
Levo comigo,
Mas qual?
Manjericão?
Pra cuidar da alma e coração?
Ou levo comigo,
Alecrim?
Pra fazer cócegas no pé do humor da consternação?
Vou deitar um casal de sementes no berço do meu jardim,
Quem sabe noutro dia levantará um pé de manjecrim?
Quando acordei estava com uma afável sensação,
Como de quem dormiu com a graça,
Como de quem sonhou com a perfeição,
Era o rouxinol que na noite passada me presenteava na janela de casa,
Pus minha cabeça no travesseiro,
Esperando o sono que teimosamente demorava,
Entre uma piscadela e outra comecei a ouvir um melodioso companheiro,
Era o rouxinol que cantava,
Continuava enrolado no quarto sem luz,
E o sono não tinha pressa de chegar,
E lá fora com a sua tocata apaixonada, como de alguém que seduz,
Era o rouxinol que cortejava a formosura do luar,
Enfim me rendi na quietude do momento,
E com uma leveza no olhar,
Dormi como uma criança no balanço,
Era o rouxinol que murmurava a cantiga de ninar,
Pombo que descansa,
Depois de uma taça,
De vinho fácil,
Espírito Santo,
Com gemidos fortes,
Voa pelo céu perfumado,
De baga da videira,
Surgiram enredos embriagados,
Coisas de uma tarde com gosto de charutos,
E a lembrança de uma noitada de vinho,
E tantas outras com gosto de lúpulo,
Nada melhor que qualquer bom motivo,
Para um gole de um rebolado sonho,
Tocando sem parar nesse palco,
É o samba do devaneio,
Vinho pra enaltecer a gratidão,
Ouvido aberto pra não deixar de perceber o som das taças gargalharem,
O bico da caneta escreve,
O silêncio que não emudece,
O bico da caneta escreve,
O papel que cada palavra aqui adoece,
O bico da caneta escreve,
O fim triste desta prece,
O bico da caneta escreve,
O imbecil que tanto fala e nada acresce,
O bico da caneta escreve,
O doido desejo de enlouquecer pra entender o que endoidece,
O bico da caneta escreve,
O pé de amor que nunca floresce,
Na geometria,
Dos dias,
As horas,
Perderam,
Suas,
Cadências,
Figurativas,
Ganharam,
Minhas,
Formas,
Inconscientes,
Das Cores,
Das Linhas,
Dos Pontos,
E tudo,
Dependeu,
Dos olhos,
Do princípio,
Do homem,
Que sentiu,
Cada,
Pincelada,
Van-guar-dis-ta
Com,
Separação,
Silábica,
Sim,
Senhor,
De Mondrian,
Com Maliévitch,
Sem Strzeminski,
Foi Picasso,
Quem Dali,
Na dianteira,
Do movimento,
Na linha de frente,
Do momento,
Ficou,
Enquadrado,
O silêncio branco,
Embasbacado,
O riso negro,
Suspenso,
O quase fim,
Policromo,
Poetas e seus olhares,
Não consigo entender esses olhares cheios de cores,
Enquanto alguns olham a lagarta comendo caminho,
Eles já estão voando com as borboletas,
Canta arara,
Canta e cantarola,
Voa e leva minha vontade de rabiscar um céu com asas,
Vontade de pintar as pedras com as cores do arco-íris,
Catadupa!
Abraça borboleta,
Chega e abarca,
Fica bem perto para sussurrar segredos que são só nossos,
Catarata!
Força que rasga,
Cala a voz do que é miúdo,
Silencia o tempo,
Arranca um brilho no olhar da vida brava,
Catarata!
Salta água,
Pincha e arrebenta,
Deita e vai dizendo preces caladas, verdades molhadas e uma beleza sempar,
Catadupa!
O sangue negro extraído,
Da mais fina veia,
Do puro grão do café,
Acordei assim,
Restrito para mim,