Madasivi
Cavalo primata que não cansa,
Criança na corcova descansa,
Galho seco que não despedaça,
Maritaca que na ponta canta,
Depois que a chuva passou,
Levou com ela,
Os amores, os sonhos,
As dores e as doses,
Ficaram apenas os copos vazios,
Alguns com marcas de batom,
E a certeza de beijos alcoólicos,
Nosso apego é manejado,
Com cordas e crinas,
Vem resistindo,
Mais que o tempo tragável,
E as dores inacabáveis,
- Aceita um café?
- Hum, sim com muito prazer,
- Então, vou passar um agora,
- Mas é aquele?
- Sim, aquele dos grãos da Mantiqueira,
Que exala o doce perfume de um lar,
Que é intenso como um instante,
Que é forte como o ato de perdoar,
Que é puro como um inesquecível gesto elegante,
Eis o colírio que pinga comiseração nos meus olhos cegos,
É o amor que faz florescer toda raiz sem vida, todo presente sem esperançoso futuro,
Quantas vezes me pego sendo insensível, mas ainda luto em dizer que sou mais sensível do que insensível, será?
Tenho comigo sonhos pluralizados,
Todos os dias acordo miragens,
Encho jazigo vazio de esperança,
Respiro euforias como criança,
Venho contigo nos olhos de hoje,
Enxergo a teimosia de ontem,
Logo consigo viver amenidades invisíveis,
Escolho a poesia silenciosa na mão que escrevo,
Na marginal do rio,
De curvas salazes,
Margeio o cheiro de casa,
A vontade de descalçar o pé do chão,
E silenciar num vazio de asa,
Vazio,
Como um corpo sem o fôlego da vida,
Como um dia sem esperança,
Como a inquietude de uma alma sem paz,
Como um prato sem comida,
Há vazio que não se pode encher,
Triste é o vazio,
" "
Soluço afogado em águas ferventes,
Sinto o choro gemer dentro de mim,
Dor agonizante sem fim,
Inefável sentimento enfim,
Morro sempre assim,
Ouvindo o desespero do meu choro dizendo,
Morri,
Morri,
Quando não se tem um regaço,
Pra encostar a cabeça cansada de desgosto,
Um bom vinho é o melhor colo,
Na hora bravia que falta um consolo,
Você vem, no vaivém da valsa,
Vagarosamente e vistosa,
Vênus vestida de vivente,
Vínculo de vibração vital,
Você vale valentia, vale vadiagem,
Vale vinho com vodca,
Vale viver sem vergonha,
Vale o vento que vira na viela,
Você vai, no vibrato do violino ,
Velozmente e vejo,
Vai sem vestígio,
Venusto veneno,
Você vale a vontade voraz,
Vale a vicissitude da vida,
Vale a violeta que voa,
Vale a volúpia vivaz de te venerar,
Passarinho da megalópole,
Acorda já no fio,
Galho elétrico no poste,
Canta bem cedo,
E depois foge,