Lina Marano
Assombração:
Uma sombra feminina
Que lembra sobras do passado
Assombrando-lhe o presente
Sobretudo nas noites insones
Sem sobretudo!
Asa morena
Vem e me abraça!
A dor é pequena,
Mas constante, não passa!
O passado condena,
A alma estilhaça...
Felicidade, me acena,
Me enche de graça...
Teu lixo
É meu luxo
Meu capricho
Teu muxoxo
Teu cochicho
Meu arrocho
Teu esguicho
Meu repuxo
Teu seixo
Meu debuxo
(Luxo o lixo)
Para elas,
As flores,
Há sempre encontros,
Ainda que seus caminhos
Desertores,
Sigam linhas
Paralelas,
Nos descaminhos
Da vida.
Enfim,
Nada pára elas!
(Paralelas)
No tabuleiro da vida,
Há sempre um vassalo
Paparicando um rico,
Dando investida,
Fazendo fuxico.
Há quem pule como cavalo
Pro lado que convém,
Se dizendo cavalheiro,
Mas não engana a ninguém!
Há quem viva como carneiro,
Trabalhando como peão,
Contando vintém,
Sem alma, sem coração ...
Tem quem se esconda atrás de Rainha
Rocando que nem menininha,
Fugindo mais que fora da lei
Mas arrotando como Rei.
E há quem lute com gana
Sem espada, sem medo ...
Joga com classe, como Dama,
Esses se contam no dedo!
(Jogo de Damas)
As asas do anjo batem breve,
De leve, o barco flutua na brisa.
Avisa o Capitão - "Ninguém ao leme!
Treme sonolento, mar adentro,
Bem no centro do doce sussurro,
Cai o muro à luz da lua.
(Sussurros de Anjo)
Um frame,
Um ditame ...
Não gosta?
Não reclame!
Mas não encosta!
Passe adiante,
Sem resposta!
Mas se gosta,
Deite confiante
Nesse enxame.
Inflame!
Se esparrame
E ame!
(frAME)
Me conta
De ponta a ponta
Reconta
Me deixa pronta
Pra tua afronta
Depois toda tonta
Me desmonta
E remonta
(Me conta!)
Doce menina,
Do olhar que acetina,
Dissipando a neblina;
Da voz que fascina,
Quebrando a rotina;
Da boca alcalina,
Que a minha bolina;
Teu beijo fulmina,
O coração, que amotina;
És minha heroína
E minha ruína.
Eu sou o verso
O anverso e o reverso
Sou a partida e o regresso
Quando desisto, logo recomeço
E se confirmo, depois desconverso
Até me concentro, mas depois disperso
Eu nego, nego e confesso
Sou a amiga e o adverso
Um anjo puro e perverso
Caso perdido, de sucesso
Se acalmo o passo, logo já apresso
A ninguém obedeço, mas a todos favoreço
Não sou santa e pago o preço
Mas pouco me importa o que pareço
É na solidão que me fortaleço
E entre amigos, que eu cresço
Nada quero e nada te peço
Apenas entenda o que eu professo
Minha ausência e meu excesso
(Verso e Anverso)
Azaramboar
Ao acaso!
Sina encontrar,
Abstrato singular,
Dentro do prazo!
Quero captar
Seu interesse
Seu olhar
Sem descaso!
Que tal esse?
Vai comentar
Que eu arraso?
Nem pensar!
Só extravaso!
Me olhavas com aquele olhar de cobiça inquieta...
me tomavas com tua inquietação visivelmente marcada... a inquietar-me os lábios sequiosos.... me deixando em inquietante tontura ...
(Inquietude)
Em beijos submersos, sentia tua lasciva língua invasora de cavidades em castidade já agora esquecida....
Entre olhares perversos e índole predadora, a cada mordida, mais apetecia-te as entranhas úmidas em meus anseios de ti...
Seguia a tua boca em meus seios... em meus meios... lá no fundo, bem no fundo do mar.
(Amor Submerso)
Três batidas na madeira
pra isolar mau-olhado,
pra segurar namorado...
Não olhe assim de esguelha,
É uma antiga brincadeira!
- De gente supersticiosa!
De gente medrosa!
Não, é de gente romântica!
- Gente imatura!
Depende da semântica.
Melhor ser feliz ou ser madura?
(doce imaturIDADE)
Marinheiro, marinheiro
Coloca teu barco no mar,
Já é tarde, vai ligeiro
Não deixes a alma encalhar
Leva aquele pote de cinzas
Pra na correnteza, esvaziar
O passado é um fantasma
Que faz o barco afundar
Mas que te sirva de carranca
Para o mau agouro afugentar
Segue o curso, solta a âncora
As ondas saúdam tua partida
Livra a farda da cânfora
Esquece o porto suicida
Ouve o canto da sereia
E te apaixona na lua cheia
(Segue o Mar)
Você o elegeu
Em busca de mudança
Mas sendo um fariseu
Ele traiu sua confiança!
Vestia uniforme de herói
Escondendo a grande pança
Mas a índole que o mói
Levou-o à matança!
O mal a tudo corrói
Até mesmo a esperança!
(Enganos)
Nas horas vagas,
Divago nas palavras...
Vou bem devagar,
Divulgando em versos,
Nas vagas do mar,
Os devotados beijos,
Que devo lhe dar!
Eles seguem em cardume,
Devastando a noite,
No nevoeiro do devaneio,
Na trilha do vaga-lume.
( A trilha do Vaga-lume)
Quando o dia nasceu
Vi seus olhos nos meus
Os meus sonhos, nos seus
Pendurados num fio!
É a nossa estrada!
Preenche o quarto vazio
Da minha casa
Vem correr no meu rio
Ser a minha calçada
Sentir meu corpo no teu
Como toalha molhada
Vem colher sua flor
Bem no fundo do céu
Já não quero mais nada
(Quando o dia nasceu)
Inspirada na musica
A pele que há em mim
Além da grade
Há uma claridade
Que me cega!
Que cobra fidelidade
Sem entrega;
Que promete a felicidade
Quem me nega
Além da grade,
Tanta mentira,
Tanta verdade,
Na luz que conspira,
Na crueldade
Com que me atira
À realidade de ser metade
Além da grade,
A luz da esperança,
Acreditar na nossa dança,
Te esperar à eternidade
(upGrade)
Ainda vivo da viagem
Na nossa carruagem
E fico sem coragem
De ir embora
Meu bem
Tiravas a embalagem
E ficávamos de beberagem
No vai e vêm
Do crepúsculo à aurora
De que eu era refém
Eras meu remédio, sem dosagem
Tempestade, sem estiagem
Eras o motor e a embreagem
E eu, do teu corpo senhora
Aderente feito tatuagem
Eu era uma, eu era cem
Era todas do teu harém
E todos nos olhavam com desdém
O que me resta agora?
Tudo o que eu viva, estará aquém
(eFEITO taTUagem)
Quando andas daquele jeito
No teu gingado perfeito
Mulher, eu me deleito
Debruçado no parapeito
Volto pro quarto e me ajeito
No nosso leito ainda desfeito
Ouço teus passos e suspeito
Que tens o desejo mal satisfeito
Mas que fazer? Eu aceito!
Imagina se te enjeito!
És minha, sou teu eleito!
Já refeito, eu aproveito!
Meu bem, meu bem
Joguei mal olhado
Pra te manter apaixonado
Deixa a maldita e vem
Meu bem, meu bem
Te espera nossa maloca
A cama malajambrada,
Me cobre de malmequeres,
Me sufoca
De maledicentes prazeres
Quero teus olhares maldosos
Tua saliva bendida
Me benze, me unta,
Estou mal prescrita
Meu bem, meu bem
Me trata bem mal
Minha salvação
É o pecado original!
Moça
Que não almoça
Não faças troça
Do meu amor
Ouça
Meu chamado endossa
Venha e destroça
A minha dor
Moça
Que no meu corpo se enrosca
E de minh'alma se apossa
És meu anjo pecador