JWPapa
Minha loucura é proporcional à minha sanidade. Quanto mais enlouqueço, mais vivo me sinto. Quanto mais louco, mais lúcido.
As bibliotecas são os QG’s da supra-inteligência, onde estrategicamente são tramadas as guerras contra a ignorância e o não conhecimento.
[...] As madrugadas são mesmo frias e sujas e estão quase sempre vestidas de silêncios e gritos horrorosos, prontos a nos assombrar já na próxima esquina.
[...] Todo mundo precisa de alguém.
Eu preciso de alguém que precisa de alguém que precisa de mim...
Mas isso não precisa ser um toma lá dá cá! Pode ser natural.
Sem ninguém ter de se machucar.
A vida é curta demais para sermos arrogantes.
Quando se vê já passou, perdemos, e ai já não adianta de nada.
Podemos sempre recomeçar, é claro, mas as lágrimas demoram a cicatrizar e recomeços podem ser um grande martírio para alguns.
Quem existe aí que atire a primeira pedra
Não basta estar vivo. É preciso se sentir vivo todos os dias. A cada milésimo de segundo. Já pela manhã bem cedinho antes mesmo de pormos os pés no chão. Não basta estar vivo. É preciso se sentir vivo. De outra forma, seria como não existir verdadeiramente. Multidões caminham cegamente pelas ruas, e caminhando vazias ou esvaziadas, seguem seu rumo preestabelecido pela sorte sem se importar com o seu karma. Existir é mais que isso. Existir como pessoa humana que se faz cotidianamente na relação com o outro, nas convergências e divergências próprias aos sujeitos em relação e que entendem o real significado das palavras empatia, diferença, diversidade, resiliência vai muito além disso. Talvez seja mesmo imensurável a ideia de existir. Pois não se trata de trabalhar duro, ou ganhar muito dinheiro e enriquecer e depois guardar tudo debaixo do colchão. Existir é descobrir um sentido novo de estar na vida, mesmo essa sendo tão dura as vezes, e fazer da sua realidade o lugar perfeito para se estar durante toda a sua existência. Existir é, na verdade, estar em relação com o outro que o tira de sua zona de conforto fazendo com que você se pergunte a cada novo encontro quem é você e em que medida você existe enquanto tenta existir o outro ao relacionar-se com você. A sua relação com o outro lhe confere o sentimento de existência? Você percebe-se capaz de transcender ao estar em contato com a maior inspiração de Deus? Se o outro não te faz existir e você não permite que o outro exista, então temos um dilema... Na verdade, um paradoxo. Matamos Deus e em consequência disso deixamos de existir? Ou passamos a existir somente a partir da morte de Deus na contemporaneidade?
[...] Existir é, na verdade, estar em relação com o outro que o tira de sua zona de conforto fazendo com que você se pergunte a cada novo encontro quem é você e em que medida você existe enquanto tenta existir o outro ao relacionar-se com você.
[...] Não basta estar vivo. É preciso se sentir vivo todos os dias. A cada milésimo de segundo. Já pela manhã bem cedinho antes mesmo de pormos os pés no chão. Não basta estar vivo. É preciso se sentir vivo. De outra forma, seria como não existir verdadeiramente.
[...] Multidões caminham cegamente pelas ruas, e caminhando vazias ou esvaziadas, seguem seu rumo preestabelecido pela sorte sem se importar com o seu karma. Existir é mais que isso.
[...] Não se trata de trabalhar duro ou ganhar dinheiro e enriquecer e depois guardar tudo debaixo do colchão. Existir é descobrir um sentido novo de estar na vida, mesmo essa sendo tão dura as vezes, e fazer da sua realidade o lugar perfeito para se estar durante toda a sua existência.
[...] A sua relação com o outro lhe confere o sentimento de existência? Você percebe-se capaz de transcender ao estar em contato com a maior inspiração de Deus? Se o outro não te faz existir e você não permite que o outro exista, então temos um dilema... Na verdade, um paradoxo. [...] Matamos Deus e em consequência disso deixamos de existir? Ou passamos a existir somente a partir da morte de Deus na contemporaneidade?
[...] Talvez seja mesmo imensurável a ideia de existir. Não basta estar vivo. É preciso se sentir vivo. De outra forma, seria como não existir verdadeiramente.
[...] No fim, talvez seja essa mesma a grande questão da vida: a nossa capacidade de absorver as quedas e buscar forças onde aparentemente não há, para incessantemente continuarmos a seguir em frente todos os dias.
Fragmento do texto: "A reinvenção diária do 'eu' e as mudanças 'definitivas' da vida".
<Trevo de cuatro hojas>
Planté mi alma en un jarrón de oscuridad,
Regando los dolores más inquietantes de mi silencio.
He sufrido silencio por vidas karmicas enteras,
La soledad me ha robado todo, hasta la tristeza.
Regaba mis lamentos tres o cuatro veces por semana,
En un esquema de agua fresca en la nuca cuando el mundo parecía querer caer,
Sol caliente en la espalda cuando no sabía adónde ir
Y mucha charla junto a los oídos de mis tréboles de la suerte
Siempre que estaban tristes.
Planté mi suerte en un vaso profundo de tierra negra muy fértil
Y de brotes muy prósperos.
Sequé, lloré, casi me fui, pero no me morí de hambre.
Salido y, resistente, hoy crezco trébol de cuatro hojas.
<Trevo de quatro folhas>
Plantei minha alma num vaso de escuridão,
regando as dores mais inquietantes do meu silêncio.
Sofri calado por vidas karmicas inteiras,
a solidão roubou-me tudo, até a tristeza.
Regava meus lamentos três ou quatro vezes por semana,
num esquema de água fresca na nuca quando o mundo parecia querer cair,
sol quente nas costas quando não sabia aonde ir
e muita conversa ao pé dos ouvidos dos meus trevos da sorte
sempre que eles estavam tristes.
Plantei minha sorte em um vaso raso de terra preta muito fértil
e de brotos dores muito prósperos.
Sequei, chorei, quase parti, mas não morri de inanição.
Reergui-me e, resiliente, hoje floresço trevo de quatro folhas.
Gigante
No peito a dor que aflora
e florescida faz surgir o medo
- um medo gigante - do tamanho da tua solidão.
Na escuridão do teu quarto, apavorado e indefeso,
você sofre sozinho(a) a dor que o peito grita.
E gritando em silêncio o mais alto que pode
você cobre a cabeça com o cobertor
e abafa o som do teu próprio pranto com o travesseiro
por medo de alguém ouvir.
Gigante é a dor que sente agora
do tamanho do mundo - um mundo enorme –
que existe por detrás dos olhos, por detrás dos óculos,
por detrás do muro, por detrás de tudo.
O monstro, antes minúsculo e insignificante,
agora agiganta-se e vorazmente o devora por completo.
Um quase lamento de domingo
Naquela madrugada, juntei todos os meus cacos
com os restos da imensa tristeza que me consumia
e tranquei tudo junto com os meus sonhos
em um envelope branco sem selo.
Junto com as cinzas do meu corpo cansado
e com o pranto que inundava meus olhos de lágrimas na ocasião.
Por todos os lados que eu olhasse
só via os insetos (todos) caminhando sem rumo,
perdidos pelo chão da cozinha.
Na pia, os pratos sujos, com os restos da janta de ontem.
Despedaçado por dentro,
vesti a dor que o caminho pintava d’ouro.
Caminho amargo e duro que se precipitava.
E bem em meio a este meu lamento,
vi refletido no espelho do móvel de subir ratos lá de casa,
dois ou três segundos do mais puro desespero
e da mais singular desilusão.
<Memórias do caos>
Põe fermento na mistura, sova e amassa a massa,
deixa a mistura vingar, deixa o bolo da vida crescer.
Por que o tédio, amigo, é a sala de espera do caos:
- Do nada, transborda e escorre pelas bordas
e sem se perceber, o vazio que era, rapidamente deixa de ser.
Valoriza as suas conquistas diárias, segue em frente com a tua vida,
dá um beijo de boa noite na sua filha
e um abraço apertado no seu pai...
Por que de repente a roda da vida gira
e até o caos que parecia bom vai entediar você.
<Estes dias>
Eu sou os lugares que fui
as pessoas que vi
sou as canções que escutei
as dores que senti.
Eu sou os passos que dei
nos caminhos rudes que percorri
eu sou de longe o melhor dos outros
um pouco de cada um
eu sou o brilho nos olhos da noite
e a cegueira que hora menos hora nos orienta
eu sou o que de bom há nos outros
e o que deles pelas estradas da vida recolhi.
Mas não tenha grandes pretensões a meu respeito!
Tenho em mim o pior das ruas:
- o grito mais ensurdecedor
- a tristeza mais aguda
- o vazio mais estridente...
Tenho em mim todas as dores da alma
e as vezes fico tão insuportável,
que me torno instável, perigoso!
As vezes saio sem rumo, saio do prumo,
desqualifico-me como pessoa, beiro a irracionalidade.
As vezes me sinto perdido, perco o sentido,
decolo em pista curta e pouso no raso do céu.
As vezes... Na maioria das vezes, eu sigo sozinho,
tentando encontrar o caminho de casa.
Mas sem asas, voo pra qualquer direção.
Tem dias que eu encontro o caminho,
e há aqueles dias em que perco totalmente a noção.
<Coca-Cola com veneno de rato e limão capeta>
Morri aos quinze anos de idade.
Não me lembro muito bem do motivo da minha morte na ocasião.
Na noite daquele fatídico domingo,
abraçado com a enorme dor que me consumia,
saltei umas dez vezes do cume mais escuro da minha existência.
Enquanto eu caía,
pude sentir as dores nas vozes gritadas
e o sofrimento nas distorções das guitarras insensíveis e frias
que ressoavam tristes enquanto vibravam e reverberavam
através dos meus fones de ouvido.
Os mesmos fones que me protegeram em vida
e que se espatifaram mudos na solidão do meu travesseiro,
na agonia da minha jornada de pesadelos madrugada adentro,
até o desembocar na segurança da manhã seguinte,
quando o sol veio me consolar.
De todas as dores sentidas à época, a de segunda-feira,
dia seguinte ao incidente, foi a mais dolorida.
Mais até do que a dor da véspera, em tom de despedida.
Pareceu-me a morte, pareceu-me que não pararia, pareceu, parecia...
Nada comparado às feridas de agora, é claro, nem à escuridão de ontem.
E pra minha infelicidade, duas décadas depois, o meu corpo ainda está em queda livre.
E a escuridão que me habitava as noites, jamais se fez luz, um diazinho sequer.
Pior... Agora dá expediente também durante o dia.
Hoje, faz vinte e um anos que morri pela primeira vez,
e desde a minha última partida, essa é a primeira vez que comemoro em vida.
<Misofonia>
Até os teus mínimos ruídos me irritam...
Mastigas de um jeito tão irritante estas tuas palavras inconclusas
e respiras tão arrogantemente o ar que te faz palpitar as veias do pescoço,
que até o farfalhar das folhas secas caindo do pé de osso de morcego
- (fruta roxa roída a exaustão),
me traz mais sossego do que esta tua sinfonia de retalhos sonoros.
O som da bandinha de rua nos teus olhos;
o som do teu sorriso doce, encabulado e quieto;
o som do teu silêncio... Ah, o som do teu silêncio!
Sendo quebrado pela língua áspera lambendo o sal dos lábios
e da inquietude da tua alma em desalinho,
até o som da minha própria saliva seca tentando lubrificar a boca,
tentando não explodir em ódio, me inquietam.
Apavoro-me, apavora-me a orquestra que o cerca.
Estou enlouquecendo com tamanho barulho!
E agora esse maldito pássaro metido a Pavarotti...
Por que não te calas maldito? Por que não te calas, pássaro idiota.
<O menino quase invisível>
De tão leve naquela noite, parecia voar por entre os carros...
Bailava pelo asfalto feliz, como se estivesse no teatro municipal.
Seu corpo parecia flutuar pelas calçadas manchadas de dores e silêncios enormes.
Marchando solene pela madrugada seguia calado, silenciado, parecendo cansado de estar sempre em modo repetição... Exausto! Era como se sentia quando se deitou na porta da padaria naquela noite.
Assim como fez praticamente todos os dias de sua vida até ali, (treze insólitos dias),
com as mãos trêmulas e sujas do pó do asfalto,
arrastou-se lentamente, e rastejando puxou para o seu lado uma latinha de metal encardida (dessas de refrigerante)
que qualquer criança compra na vendinha da porta da escola.
Acendeu com dificuldade o isqueiro,
que por diversas vezes naquela noite o aqueceu.
Rodou a carretilha do isqueiro como quem brinca de roleta russa.
Riscou a pedra do isqueiro como quem puxa o gatilho de uma arma na direção da própria cabeça.
Aquele projétil foi o último. Aquela pedra foi a última.
Quando voltou do transe o trânsito já estava complicado...
Buzinas, carros por todos os lados, pessoas caminhando apressadas e o olhando atravessado como se ele fosse um bicho e prestes a atacá-las.
Ainda meio sem saber aonde estava, espreguiçou-se lentamente, por duas vezes seguidas. Logo após isso, deitou-se novamente sob a marquise. E apesar de ser ainda uma segunda-feira nem se importou! Não teria mesmo de ir para a escola.
E antes que pudesse voltar a sonhar novamente, foi enxotado às turras e a vassouradas pelo dono da padaria, que além de uma caneca de água fria, atirou-lhe também dois ou três pães dormidos.
A sua sorte era tudo o que lhe restava. Tomara que só lhe atirassem pão e água; paz, cama e teto ele já tinha desde a inauguração daquela padaria, há uns três ou quatro anos atrás.
E só pra constar... as vassouradas diárias do dono da padaria era a sua
<Chiquinho (Sexta-feira treze)>
Quando a morte nos abraça e segue caminhando a nosso lado, falando baixinho em nossos ouvidos os seus segredos mais bem guardados,
ela parece querer que ninguém desconfie que seus intentos são engenhosos:
- Uma queda da própria altura, um tropeção imbecil
e a cabeça explode em uma quina qualquer...
Quando a morte nos abraça pelo caminho
é o nosso descaminho que ela quer.
Não foi a cachaça maldita
nem esse bendito calor
caminhando pela rua do bairro, esquivou-se pra despedida
veio a morte enxerida e com um abraço apertado o golpeou.
Tentaram reavivá-lo... Não teve jeito!
Já estava confortável em seu leito chão.
Todos diziam que ele era um bom sujeito
mas agora caído, morto, duro e frio o que dirão?
Chamavam incessantes por seu nome:
- Chico! - Chico! - Chico! - Chico...
Tentavam reavivá-lo, faziam massagem em seu coração,
respiração artificial, preces a Nossa Senhora Aparecida...
Mas ele já estava confortavelmente acomodado em seu leito chão.
Descansava da vida
da sua nada mole vida
em vida.
Todos perplexos já haviam entendido
encerrara-se mais uma vida, secara mais uma flor
e aquele corpo duro e frio contorcido na avenida
padeceu feito outros tantos todos os dias, o motivo: - desamor.
<Evolui dai e voa! Voa daí e evolui! Voa, evolui daí>
A vida moldou-me na pancada,
tornei-me plástico, maleável, flexível!
- Não manipulável. Adaptei-me e evolui,
na medida em que a vida me sovava feito pão.
Depois de um tempo nesse estado, parecia falar outra língua.
Algumas coisas pareciam tão distantes
para os que não podiam ver o mundo de onde o via,
tudo parecia distante daquele mundo ínfimo que fui um dia
tudo era tão iminente, que parecia uma catarse
uma inevitável catarse, mais dia ou menos dia.
Nadava na lama e era tão feliz, que podia enxergar além dali
além daquele pequeno mundo, fechado e sem mobilidade
àquela altura, já era alguém além dali, livre de ser igual a todos
nem melhor nem pior, mas podia ver antes de todos
muito além da superficialidade que corrompia o intelecto de todos ali.
Em meio a toda aquela lama,
a voz na consciência que gritava todos os dias:
- Evolui dai e voa!
Voa daí e evolui.
Voa, evolui daí.
Aprendi a ser tolerante, sendo tolerante
e a respeitar, respeitando
não haviam outras opções na ocasião,
desde muito cedo,
ou era assim ou era assim.
E se hoje sou capaz de enxergar
a alma das pessoas
e ver nelas o que nelas há de melhor,
mesmo que isso não pareça tão evidente num primeiro olhar
é porque a vida evoluiu-me a ponto de tal.
Depois de estar tanto tempo fechado em si mesmo,
não é tão difícil sair, na verdade é um grande prazer sair
e encontrar o mundo escancarado,
ofertando tantas possibilidades de ser o que se quiser ser.
E apesar de ser bom estar dentro, é ainda muito melhor do lado de fora.
Evolui dai e voa! Voa daí e evolui! Voa, evolui daí.