Jaci Parvati
Encontro das águas
Tudo flui, como às águas
de um calmo rio,
Contornando os obstáculos,
Mas seguindo o ritmo da vida.
As vontades, desejos são de cada um.
Cada qual sente a sua maneira,
Luta com os demônios,
Sonha com os próprios anjos.
Sim, de seu modo.
Os outros não podem querer
pensar, sentir, e desejar
Acordando com as próprias vontades de outrem,
E realizá-las.
Cada qual trilha seus caminhos.
Se caminham juntos é porque
As vontades uniram em dois elos.
Num objetivo comum.
Nenhum deixou de ser,
Ambos querer estar para serem,
No mesmo trilho.
E só o tempo dirá se o caminho
Floriu ou secou.
Oxalá!que assim seja.
Lembranças
Um leve sorriso no canto da boca
Os olhos acendem
O coração acelera
O corpo dança
O pensamento viaja
Chega no destino
Lembranças...
Momentos mágicos
Parados no tempo
Sentidos cada nascer do eu
Em ti.
Desejos
Pudesse seguir teus passos,
Seguiríamos os caminhos do desejo,
Juntos, nos consumiriam os
No fogo que nos queima.
E os prazeres da alma
Se rejubilariam.
Mas os olhos do juízo,
estam a espreitar.
São minutos de pensamentos impuros,
E um leve sorriso nos lábios,
Já envaidece o corpo.
A procura
Saio a tua procura,
Uma leve brisa
na noite fria
traz-me ao teu lado.
Os olhares se cruzam,
Sente-se os desejos
A flor da pele,
O brilho nos olhos,
O sorriso nos lábios,
As mãos que se tocam,
O sangue que aquece os corpos.
As palavras se perdem na multidão,
Somos sós entre muitos.
E os mundos caminham juntos
Não se contém.
Nessa intercessão de almas
Que a vida se unifica
E faz todo sentido.
O amor floresce a cada toque
E transborda sem se deixar ver.
No silêncio da noite,
E os ruídos abafam-se.
E os corações sentem.
Equilíbrio?
São as emoções controladas?
Controle do corpo?
Dos desejos, das vontades?
Segue-te firme.
As lembranças fechadas
Num cofre, escondidas de ti mesmo.
A tempestade ameaça,
Ainda consegue controlar o pensamento.
Até quando?
O sol aparece no cume da montanha,
O coração explode!
Essa força magnética,
Que teima juntar dois elos distantes.
Que se procuram,
E nunca se encontram.
E o sol se põe,
Sem alterar o dia,
O equilíbrio que só a natureza tem.
Angústia
Vejo o rio seguir seu curso,
Encontro-me só.
A natureza chama-me,
Como uma mãe afetuosa.
Expõe toda a beleza
Num piscar de olhos,
Mas o vazio faz eco
No silêncio das palavras.
As força que busco nos sentimentos,
Enlouquece-me.
É um redemoinho de emoções.
Entre o que é,
E o oposto de ser,
Cria-se um abismo,
Que constantemente mergulho.
Ainda consigo submergir.
Até quando?...
O desfecho.
Os nós que nos atam
São os mesmo que nos separam.
O tempo transcorre e
Enrredamos nos próprios nós,
Que nos sufocam.
Apertam ao redor de nós mesmos.
Cada laço desfeito,
Ata-se do outro lado.
Nas curvas dos tortos caminhos
nos perdemos.
Agora nem o tempo está a favor.
Somente o vento
que trás a vontade
de continuar o caminho
sem olhar para trás.
Ilusões
Deixo-me levar,
entre plumas e paetês,
vive uma princesa.
Construo o castelo,
com todos seus personagens,
inclusive o príncipe.
Esse se apresenta garboso:
Cabelos ao vento, sedosos, macios
Como uma pétala de rosa.
Olhar ambíguo, penetrante, profundo, limpo como um dia de sol.
Montado no seu cavalo Alasão,
Aparece depois da curva da estrada,
E todas as esperanças surgem,
no íntimo, no fundo da alma,
Naquele ser tão puro e frágil,
Que ao menor sopro,
Se quebra como um cristal.
Mas a força do amor,
Esse elixir de vitalidade,
transforma-a numa guerreira invencível.
Porque negar esses pequenos momentos de felicidade?
Ilusões de momentos,
Mesmo que a cada suspiro,
Tudo, tudo, mesmo tudo
Desvanece-se ao vento.
O tempo
Há tempo para tudo.
Tempo para rir, chorar,
Viver, amar e morrer.
Mas o tempo distorce,
Engana, atraiçoa.
Pensamos que estamos
Aquecendo a fogueira,
De repente a chama vai
Se consumindo, até se extinguir.
O que resta são cinzas,
Ao vento que o tempo produziu.
Os nós se desatam,
Não existe mais laços.
Os silêncios criaram vazios,
Que o tempo não alimentou,
Só consumiu .
O muito tempo do tempo,
Desfez a trama tecida.
Muitos projetos se perderam
Por falta de coerência,
Ei-los, uma nova página em branco
Pronta a ser escrita,
Ser vivida intensamente,
Sem medos...
Somente com alegria
De viver.
Resignação
O pássaro canta,
A melodia corrói as defesas da alma,
Todas as músicas
Submergem....
Um silêncio!
Lembranças...
Sonhos nascidos,
Vividos,
Cada dia como se fosse o último,
Como diz o poeta.
Fica
A essência,
Esse perfume que embriaga,
Envolve em nuvens de pensamentos,
Viaja infinitos,
Reduz distâncias,
E fica.
Agarrado a tua pele,
Envolvido no teu corpo,
Tatuado na tua alma.
Como o primeiro raio de sol
Que brilha, ilumina,
aquece a terra.
Explode de vontades,
E caminha,
Sempre...
Um passo na frente,
Outro atrás.
Assim, foi o que aprendi,
Quando criança.
Recomeço
Morro cada segundo,
Quando o coração bate
Mais alto que a vontade.
A razão faz-se serva
das emoções,
E a vida segue cambaleando,
destruindo tudo a sua margem:
Plantas, flores, raízes, tudo que é belo.
Muitas questões se levantam,
Os olhos não querem ver,
Os pensamentos se escondem.
A verdade tenta surgir em cada curva da estrada, mas queima, doe, te fragiliza.
E a nuvem dos sonhos,
com seus fantasmas surge tão afetuosa, mais uma vez a menina se deixa levar
pelos encantos, e sonha, sonha.
Promessas feitas e quebradas,
como um cristal.
São tempos de esquecer...
E um novo recomeço.
Sensações:
Preencho-me
Transbordo-me
Esvazio-me.
Nessa mudança de estado,
A vida se dá.
Somos um ponto no Universo.
E ao redor tudo gira, gira e gira.
Se completa:
Preenche-se
Tranborda-se
Esvazia-se.
Inspiração...
Falta-me inspiração,
Mas quero escrever,
Tenho que me perder,
Para me encontrar.
A magia toma conta e crio,
As palavras surgem sem pensar.
Deixo-me nua numa folha de papel branco,
Pouco tempo dura essa bulinação de pensamentos.
Volto a mim e nada sei,
Como se acordasse de uma transe.
O que cruzou o portão da minha consciência,
Num relâmpago de inconsciência,
Registrou-se, ficou.
Senão perdeu-se no instante do tempo.
Angústia real
As palavras desejadas,
Não ditas, nem ouvidas com o tempo.
Imaginadas, sonhadas em músicas
Ao longe...
Sonho o amor distante, perto,
Ao ouvido.
Muitos sons, muitas rimas,
Muitas poesias, mas um só coração.
Alimento-me desse amor,
Em cada canção:
Todo dia, todo dia...
Os olhos brilham, o sorriso no corpo todo, e o peito explode.
E o dia segue em sonhos.
À noite potencializa as emoções,
Questões?
Há razão?
Solidão. É real.
Deito-me a sonhar, e acordo.
Sentimentos II
A chuva cai mansinha
Ouço os pingos caírem lá fora.
E o crepitar da lenha no fogo,
Aquece as lembranças
Faz-se silêncio.
Os pensamentos amanhecem,
como um filme.
Tudo revela-se.
Tudo? Os sentimentos?
É a intensidade,
Não o tempo,
Que os eternizam.
Acontece, sem aviso,
Sem hora, sem estratégia.
Simplesmente, acontecem.
Possuem-me,
Impotente sem reação
Atacam o alvo,
Flechada, imobilizada,
Dominam a alma.
Desprotegida,
Entrego-me,
Sem forças,
Derrotada,
Aceito,
Sigo,
Resignada,
E feliz.
Volto para casa
Reflexão
Cerro os ouvidos,
Cego os olhos,
E os fantasmas perseguem-me.
A espreitar-me quando adormeço.
No controle: em espiral jogam-me,
Para dentro, para fora...
Um constante movimento:
Dentro de mim.
Aflita, entorpecida
Sinto à noite enegrecer-me.
Correntes que prendem,
Elos que se enroscam.
Arrasto-me nas lembranças.
À noite fria arrepia.
As lágrimas molham o corpo.
O calor do fogo, seca, queima,
As cinzas se desfazem:
A perda dói.
Amor incondicional
Vivi meio século,
Então chegou:
O amor!
Não esse dos filmes, dos romances,
Mas o da poesia.
Incondicionalmente,
Sem pretensões de ser,
Sem pensamentos,
Sem vontades,
Somente existir.
Dominou-me.
Que susto!
Esperneei, enlouqueci,
E, resignei-me.
Completa-me.
Deixa estar...
Sente-se ao meu lado
Aprecia a paisagem:
Tudo é belo!
vento e a flor
O vento passou faceiro,
A flor despertou no jardim.
Toda vez que passa incerto,
A flor desperta.
Troca-se movimento,
Por ação.
Nesses laços que se entrelaçam,
Muito se ganha,
Muito se perde.
Como um pêndulo suspenso,
Lutando com as forças do vento.
O vento que trás todas as incertezas,
De tempestades anteriores.
A flor que só abre-se ao vento
Para despertar:
- Que sonha o vento como uma brisa suave, assobiando levemente.
Sentindo seu leve toque nas pétalas,
Como um inseto sugando o néctar.
Levando o mel para suprir
Suas necessidades.
E a primavera renasce
A cada troca,
sem a interferência do mundo.
Apenas o movimento do vento,
E, a ação da flor.
As palavras
Diz-me:
- Deixe andar...
Esquecer?
Lembrar?
As palavras
Às vezes a gramática nos socorre,
E outras o coração traduz.
Como vamos saber,
Se o sujeito é triste?
Ou alegre?
Às vezes as palavras ditas
Carregadas de sentimentos, outras não.
Outras o predicado está triste?
Ou alegre?
E as palavras se perdem no significado.
Deixam de ser símbolos, e são flechas,
Lançadas no alvo.
Sangra.
Dóe.
E para dor o significado é:
sofrimento, pena, mágoa, aflição, pesar.
E sente-se, em toda extensão da palavra.
E assim vamos, decifrando as palavras,
Nesse contexto, com texto, sem texto.
Até no silêncio, as palavras mudas,
Tem significados.
Dois mundos
Penso.
O que tens que tanto te ilumina,
E atrai-me?
Horas gastas tentando encontrar
o fio da meada.
É o brilho opaco que encontro
No fundo do olhar;
Essa necessidade de Ser,
Provar a si que és;
Aquela força de viver,
Que ultrapassa a avalancha
de gelo diária que enfrenta
e congela a alma;
O desejo de sentir a essência
de cada ser;
A descoberta dos mistérios,
dos enigmas, dos abismos;
O aconchego das palavras
sem ruídos,
no vazio do silêncio.
É tudo e o nada,
Sem formas, sem limites,
Dissolvidos no ar,
Como uma neblina,
Que ofusca os olhares
Menos atentos,
Mas ilumina
o teu e o meu olhar
É nessa distância,
Entre dois olhares,
Que há a junção
Dos mundos.
Micro segundos
Pensava...
Só pássaros voam?
Sinto-me embriagada de sensações,
Inteiramente a voar, nas nuvens.
O azul do céu infiltrou-se
nas minhas veias,
os raios de luz penetram
meu corpo,
Incendeia.
O sorriso começa tímido
e se prolonga
numa intensa gargalhada.
Encho-me de vida!
E tu, só tu...
O que fazes comigo?
Pedes-me um momento.
E digo-te: - quando me tocas,
Não só com as mãos,
Mas com toda alma.
A felicidade são esses
Micro segundos de luz.
Sou plenamente feliz.
Paraíso!
Imaginava paisagem
Uma montanha,
Um vale,
Uma casinha,
Um rio,
E toda luz refletida,
E todas as cores,
E todos os tons,
Todos os sons,
Toda beleza presente,
E imaginável.
Enganei-me.
O paraíso é como a felicidade.
Está dentro de nós.
Aquele momento intenso,
Que o céu, vem ao encontro do mar,
Se une num só,
Uma linha tênue ao infinito.
Inteira,
Presente,
Una.
A direita,
A esquerda,
A frente,
pelas costas,
No centro:
Sente a luz que irradia,
E brilha.
Leve,
Mas cheia,
Completa de si,
Preenche todos os vazios.
E petrifica
Na alma, o instante,
O eterniza.
Maná
O frio congela o corpo.
Sinto um líquido macio,
Quente, espesso, perfumado,
Escorrer no rosto,
A boca gulosa abre, engole-o.
Escorrega suavemente,
Pela garganta.
Se dilui.
Integra-se,
E aquece,
O corpo gelado.