Hermann Hesse
A poesia cria um espaço mágico onde o inconcebível pode se harmonizar e o impossível pode se tornar real.
Era uma vez um indivíduo, de nome Harry, chamado de o lobo da estepe. Andava sobre dois pés, levava roupas e era um homem, mas no fundo era, na verdade, um lobo da estepe. Havia aprendido muito do que as pessoas com bom entendimento podem aprender e era um homem muito inteligente. Mas não havia aprendido uma coisa: estar satisfeito consigo mesmo e com sua vida. Isso não pôde conseguir." O Lobo da estepe, H.Hesse
Nós somos Sol e Lua, querido amigo, nós somos o mar e a terra. Não é o nosso propósito o de nos tornarmos um ao outro, mas sim o de reconhecer um ao outro, aprender a ver o outro e homenageá-lo pelo que ele é: cada um é o oposto e o complemento.
Não sou eu que devo julgar a vida de outro homem. Devo julgar, devo escolher, devo desprezar, puramente para mim. Para mim, apenas.
Quando descarreguei o golpe imaginava encontrar diante de mim um homem forte e pronto para a defesa e, longe disso, acabei por ferir um homem calado, sofrido e inerme, que se entregou em silêncio.
Sempre acreditei, e ainda acredito, que qualquer que seja a sorte que surja em nosso caminho, boa ou má, sempre podemos dar-lhe significado e transformá-la em algo de valor.
"Eu comecei a entender que o sofrimento e as decepções e a melancolia estão lá para não nos frustrar ou nos depreciam ou nos privar da nossa dignidade, mas sim para nos amadurecer e nos transfigurar."
Foi nessa hora que Sidarta cessou de lutar contra o destino. Cessou de sofrer. Em seu rosto florescia aquela serenidade do saber, à qual já não se opunha nenhuma vontade, que conhece a perfeição, que está de acordo com o rio dos acontecimentos e o curso da vida; a serenidade que torna suas as penas e as ditas de todos, entregue a corrente, pertencente à unidade.
Pobre daquele que não pode se dar a um prazer sem pedir antes a permissão dos outros.
Surgiram diante de mim novas, indiretas e complexas relações, novas possibilidades de amor e vida, que me levaram a pensar nas mil almas do Tratado do Lobo da Estepe
Cada ser humano não é apenas ele mesmo, é também o ponto único, todo especial, sempre importante e singular, onde os fenômenos do mundo se cruzam uma única vez e, dessa forma, nunca mais. Por isso a história de cada ser humano é importante, eterna, divina. Por isso cada ser humano, enquanto viver e cumprir a vontade da natureza, é maravilhoso e digno de todo cuidado. Em cada um, o espírito se tornou forma; em cada um, a criatura sofre; em cada um, um salvador é crucificado...
A vida de cada pessoa é um caminho para si mesmo, a tentativa de um caminho, a insinuação de uma trilha. Nenhum ser humano jamais foi inteiramente si mesmo, mas cada um de nós luta para tornar-se si mesmo. Alguns de maneira apática, outros, de modo mais leve, cada um como pode. Cada um carrega até o fim restos de seu nascimento, a linfa e a casca de seu ambiente original, primitivo. Muitos nem se tornam humanos, permanecem sapo, lagartixa, permanecem formiga. Muitos são em cima humanos, embaixo peixe. Mas cada um é um esforço da natureza em busca do humano. As origens de todos nós são comuns, as mães, todos saímos do mesmo orifício; mas cada um se esforça, num esforço e empenho das profundezas, na direção de suas próprias metas. Podemos entender uns aos outros, mas cada um só pode interpretar a si mesmo.
Mas, na eternidade, como vês, não há tempo; a eternidade não é mais que um momento, cuja duração não vai além de um gracejo.
Fé e dúvida caminham juntas, são complementares. Aquele que nunca duvida nunca verdadeiramente acreditará.
Alguns de nós pensam que se agarrar às coisas nos torna fortes; mas às vezes é soltar que nos fortalece.
Não tenho o direito de me chamar de alguém que sabe. Eu era alguém que procurava, e ainda sou, mas não procuro mais nas estrelas ou nos livros; começo a ouvir os ensinamentos do meu sangue pulsando dentro de mim. Minha história não é agradável, não é doce e harmoniosa como as histórias inventadas; tem gosto de tolice e confusão, de loucura e sonho, como a vida de todas as pessoas que não querem mais mentir para si mesmas.
Você só tem medo se não estiver em harmonia consigo mesmo. As pessoas têm medo porque nunca se assumiram para si mesmas.
Quando alguém está buscando, é muito fácil que ele veja somente a coisa que está procurando; que ele seja incapaz de encontrar qualquer outra coisa, incapaz de absorver qualquer coisa, porque está apenas pensando naquilo que está buscando, porque tem um objetivo, porque está obcecado por seu objetivo. Buscar significa: ter um objetivo; mas encontrar significa: estar livre, estar receptivo, não ter um objetivo. Você, ó digno, é talvez realmente um buscador, pois ao se esforçar em direção ao seu objetivo, você não vê muitas coisas que estão sob seu nariz.
Ninguém me inspirava medo. Meus colegas haviam percebido isso e demonstravam por mim oculto respeito que às vezes me fazia rir.
Nosso trabalho era erguer no mundo uma ilha, talvez um exemplo e, quando não, o anúncio de uma possibilidade diferente. Por tanto tempo antes solitário, conheci então aquela comunidade que se faz possível entre homens que experimentaram a mais absoluta solidão.
Unicamente o meu consenso, a minha vontade, a minha compreensão carinhosa são necessários para que todas as coisas sejam boas, a ponto de somente me trazerem vantagens, sem nunca me prejudicarem.
Hermínia e Maria me haviam assinalado em sua inocência esse jardim, e eu fora seu hóspede agradecido; mas em breve seria tempo de sair dele, pois me sentia confortável demais nesse jardim. Era meu destino continuar aspirando pela coroa da vida na expiação de seus infinitos pecados. Uma vida fácil, um amor fácil, uma morte fácil – tais coisas não eram para mim.