Fabio Gomes Ferreira
Lembrei das manhãs de julho e de todas as formas que experimentamos para que o dia surgisse sem que desviássemos a felicidade que naquele momento estava onde nos encontrávamos. Daí você sorriu daquele jeito, fechando os olhos, sem exigências. E agora eu ainda permaneço nessa dimensão em que você me surge como paz e eu como uma possibilidade de cores novas para o seu dia. Vamos ficar assim hoje, ainda que o dia nos apareça dessa forma, incompleto, consideremos o azul, encontrando um certo prazer em nossas verdades restauradas.
Todas as manhãs continuam sendo assim, você principiando meus pensamentos e eu impassível de recuar. Então penso que deva ser assim mesmo, você crescendo mais um dia e eu exigindo que o temeroso tempo me sirva soluções e dessa forma, minhas primeiras horas permaneçam nesse mutismo. Deixo o óbvio para aqueles que não apreciam as surpresas e pra você eu trago um sol laranja, oscilando sentimentos na limpidez das suas palavras. Mando-te nuvens reestruturadas e nossa fotografia... Se por ventura o dia hoje decidir lhe exigir alguma coisa, escolha nosso atalho, aquele tangível, recupere seu sorriso e escorregue até onde conseguir me encontrar. Eu continuarei aqui, inatingível de asperezas qualquer, apenas te esperando para mostrar que os meus dias situam-se nas estradas surpreendentes que forçosamente eu escolher...
Deixo a abstração do próximo instante fugir na sensibilidade intocável onde dormem os ninhais das águias e no espaço entre o céu e a terra nascer o meu tempo e dele tocar o implícito em palpitante realidade.
Há instantes na memória que nunca terminam, por maior que seja a conjectura daquele que não suspirou flores ou as entrelinhas da madrugada de quem viveu o reconhecível. Nos pensamentos reside a melodia e não a partitura, logo o dizer é inatingível ao que se é conhecido, o pensamento é muito além das sílabas e para isso o amor reside a memória de qualquer verdade escrita ou em profunda consciência em que num infinito de céu, toda luminosidade percorre a faísca nascente.
Tenho asas expostas de humanidade, aranha discursiva que modela o fio onde viver é minha própria nostalgia. Há ventos assumidos que passam da tranquilidade ao furacão anunciado no fato e na pronúncia do que simplesmente é, o dia na sua dimensão de estar.
Que da passagem dos dias saberei um pouco mais sobre minha identidade que nasceu em tempos muito vivos, não mortos. Que o engodo das mesmices afugentem-se do claro eterno que permeia meus quereres aflorados e a noite continue sendo segura com suas madrugadas onde a ancestralidade de hoje possa ser ainda mais compreendida e dessa forma eu em forma tão errônea diante multidões siga as estrelas no encalce dos meus próprios passos. Nesse ciclo de vida hoje eu e todo fatalismo mergulhamos terra adentro para saber mais do pó, tocar raízes um pouco mais profundas e nesse manancial beber de mais verdades nessa construção de poder ser e existir como humano que somos, e no encontro dessas profundidades subterrâneas também possa regenerar minhas composições como tais realidades que são. Meu aceitar humano entoa milhares de coisas que vez ou outra podem não ser aceitas, mas nada importa sobre esse fantástico de observação, atento-me ao fato de ser unicamente sobre minha própria identidade num transmudar de história a cada novo dia, cada novo ciclo. E hoje estar grato à vida que diante momentos tão difíceis que já assolaram a humanidade e nosso planeta encontro-me vivo e com muita saúde para seguir o próximo passo.
Na garoa fina que vinha caindo as crianças corriam para as ruas esperando a chuva que viria do céu numa alegria a qual contagiava aquela cidadezinha inteira. Os telhados coloridos falavam de histórias não contadas e a luz mansa da manhã brilhavam todas galharias daquelas árvores que o tempo nunca desbotara. Naquelas águas coloridas as crianças brincavam e bordavam sobre os tapetes brancos estendidos para elas. Tinha gosto de jujubas, de uma infância eternizada daqueles momentos.
Em realejo o sol nunca deixa de ser azul, há sempre uma canção que faz ninar as crianças enquanto vagam com seus unicórnios. Como é possível sabe-lo? Os gatos cantam e os pássaros desfilam sobre a relva que cresce linda. De repente num interlúdio de pássaros vi uma clareira de formigas dançando de mãos dadas, era sobre a chuva daquelas esquinas esquecidas e entre pássaros e formigas que cantavam, as anêmonas esverdeadas dançavam canções de sereias do mar que já molhadas estavam.
De repente num interlúdio de pássaros ví uma clareira de formigas dançando de mãos dadas, era sobre a chuva daquelas esquinas esquecidas e entre pássaros e formigas que cantavam, as anêmonas esverdeadas dançavam canções de sereias do mar que já molhadas estavam.
A manhã debruça na janela como simples dia de janeiro, enquanto as avozinhas dormem seus sonhos e os relógios não marcam outro tempo se não o da felicidade cotidiana. Vão se os mundos, caem as chuvas e as peraltagens de crianças nas ruas.
O vento comunica na dispersão de harmonizar polaridades, traz vida e leva possibilidade de novas formas para todos seres vivos. O alento divino em todas direções, a pisada que levanta poeira e move, move para criar na sua invisibilidade, mas que nos permite sentir num frescor de alma sentida, ornamentada. Não para, segue-se movendo, transformando toda lividez.
Uma voz, um canto nascido para o encanto de onde se chega e no ar se vai em branco. Leva pois essa voz onde estiveres nesse presente que te recebes estrela, onde repousam todos inícios límpidos e puro.
Não vamos deixar o tempo passar entre nós, há muito orgulho pairando sobre o amor que é a verdadeira fortaleza.
Uma vez construí um castelo de areia para nele abrigar meu desengano. Quando as ondas chegaram seus segredos foram levados para o horizonte, num todo querer de abandono. Fiquei ali parado entre o âmbar do céu e toda névoa de areia e sal. Toda imensidão de vidas entre eu e meus mundos refletia também um vazio cantante. Mas vazio de que? Como a vida que talvez repousasse também não seguia premente suas decisões em tantos tons de anil? Voltarei amanhã e quiçá não encontre uma concha marinha onde em seus labirintos escute o que não vim buscar...
Maritacas verdes fazem morada nesse telhado de estrelas e todas manhãs saem cantantes para suas vidas pássaros de ser.
Não prescindia nada além do refúgio de estar consigo mesma. Aprendera desde criança que podia estar em qualquer lugar quando fechasse os olhos. Faria grandes viagens para dentro si e descobriria o que não lera em livro algum. Na verdade tudo já fora escrito, mas disso ela não sabia, ainda. Em seu seguir distraída deparou-se com o grilo falante, portento grilo. Foi então que ele lhe cantou aquela primavera que destoava seu pequeno mundo naquele frágil instante de percepções. Quando voou ela compreendera que havia muitas flores naquela composição melódica e que ao abrir as janelas deveria se juntar aos seus pares num prenúncio do belo que haveria de ser. Aquele canto não estava escrito ainda, foi assim que ela descobriu.
Então eu senti sua sombra, mas ela não me assusta, percebes?! Eu já encontrei a escuridão e quase perdi minha luz, num dia tão claro como esse. Há muito sobre nossa força desconhecida, num timbre capaz de incitar nossa coragem diante às armadilhas do caminho. Resgate pois então qualquer fagulha que o sol amanhecer.
O sabor vital torna-se mais vivo quando o sol baixando convida pássaros num pôr-de-sol a cantarem mais uma vez antes de dormirem estrelas todo engano do mundo.
Mas falo da noite porque nos sonhos todos podem se encontrar, sem as barreiras atravessadas do terreno que transfiguram seus próprios limites. Noite não tem limite; é abundante demais de azul, do que pensa e aspira, como fôlego para tocar a magia das estrelas que de algum lugar chegam aqui através do tempo que conhecemos tão pouco. Mas essa ingenuidade de criança no tempo existe diante o que é, foi ou será.
Eram duas espontaneidades que brincavam no tempo. Toda e qualquer expressão eram peripécias de areia e mar; eu renascia sol e luar.
Cada existir realmente acaba um dia? Se o espaço parece tão infinito, que me caberia dizer do tempo? Mas se toda existência não acabasse, qual propósito teria para o espírito em sua continuidade? Já me peguei acordado enquanto a cidade dormia toda sua forma humana, atravessando espírito alegre que no seguinte repousar seguia sendo sobre a vida; uma compreensão de amor tardio e vasto para aquelas horas. O que havia para amar naquele silêncio e tão grande escuridão? Era meu próprio existir efêmero fulminante que simplesmente transladava barreiras silenciosas no compasso de cada respiração do que viria a descobrir depois.
Cantarei todo caminho indicado na apreciação da consciência que relega classificações desejáveis por qualquer um; tipo canto de acontecimento para acalmar dúvidas enganosas. No abismo onde o silêncio fora lançado ver a vida com sua capacidade em desdobrar todo lugar desabrochando um ensaio significante de toda minuciosa circunstância com vigor das aparições de tudo que falta diante a mínima constatação de preenchimento. Cantar o contínuo aproximando-se de qualquer exemplo vivo.