Fabio Gomes Ferreira
A comodidade existe para provar que existem pessoas satisfeitas e plenamente felizes com um mundo em chamas...
De uma forma incompreendida a vida passa e o que antes era de uma intensidade voraz se desfaz na prova de que nada resiste ao tempo.
Talvez a felicidade possa ser uma questão permanente, como corredeiras limpas e livres de recessentimentos. Para algumas pessoas é uma questão de cultivo, para outras, improvável acaso. Algumas pessoas só conseguem em manhãs líricas ou em singelas tardes onde o sol se põe. Azul, branco, verde ou carmim? Praia, montanha, praça ou jardim? É, para algumas pessoas é necessário uma dose média e diária de cada coisa, como uma telenovela que você acompanha todos os dias. Algumas pessoas só são capazes de vê-la acontecer se for como "antes", nesse caso o encontro é quase sempre solitário. Algumas pessoas nem precisam de tantos motivos, basta encontrar um porto e, como aspirina, ela chega e borbulha num ponto de apoio. Para alguns a felicidade do outro reflete na retina, chove flores em noites de lua cheia. E para alguns, quando a terra está bem seca como um deserto desnorteado as flores daqueles cactos só lhes trazem esperança. Esperança de nuvens se formando e uma chuva encharcando terras sedentas por água. Está chovendo !!!
Eu te amo como um amor espreito mas, que escapa pelas frestas e toma conta de todo espaço. Te amo perto, sem limitações, sem orgulho, um precisar sem exigências. Te amo no encontro, na partida, num tempo desconhecido. Engraçado que hoje acordei pensando muito mais em você e nem se quer insisti para que isso me levasse para dançar. Fico aqui parado, num momento de aceitação em que eu cedo e você me rapta, tomando conta de todos os meus pensamentos...
Tenho me acostumado a ficar assim todos os dias, me inebriando de você. Como se dessa forma pudesse chamar sutilmente a maneira doce com que você me olha. Como se assim eu pudesse aos poucos ir moldando a forma com que você me chega. Inconscientemente eu passo as fronteiras, desnudo os limites e te encontro transmutando meu dia dessa forma. Ainda que a distância intente por um caminho oblíquo eu vou sufocando a saudade e esvaindo em fumaça todas as primaveras que você não estiver. Dessa forma vou esperando, impulsionando para um dia de verão ao seu lado e ver os borrifos brancos num azul de céu renascido.
Que o futuro não esteja restrito aos dias parecidos com esse início de semana. Que continue atento aos nossos sonhos e desejos, ocupando todos os lados do meu pensamento. Que você venha amanhã na mesma brevidade com que me visitou hoje tão cedo. Chegando no momento em que abri os olhos, apenas para me lembrar que será maravilhoso o dia que pudermos acordar e sorrirmos para os mesmos raios de sol dourados adentrando pelas frestas da nossa janela. Gostaria de pedir que essas marcas ficassem um pouco menos evidentes em mim, que fossem rápidas, e, não tão ofuscantes dessa forma que, até mesmo uma criança é capaz de saber que amo você, porque nenhuma lucidez cumprirá minha necessidade de poder tocar sua mão e dizer: “está tudo bem, vou estar sempre aqui para cuidar de você”. Que hoje qualquer palavra incompreendida, qualquer lembrança faltosa, qualquer desencontro brusco que o destino tenha nos presenteado seja capaz de ir embora, porque assim, certo como o azul do céu, nossas vidas reformularão caminhos para voltarmos.
Que não haja pretexto para o dia deixar de reforçar sua imagem sólida que une-se aos meus pensamentos. Que as cores oscilem, porque assim o dia poderá explodir numa súbita felicidade azul, descontrolando o vento, espreitando aquelas nuvens que fazem desenhos despenteados no seu céu dourado. Vamos falar desaforos para a saudade persistente e acabar com essa hostilidade porque assim, dessa forma, a saudade poderá escrever um romance e ser heroína em outra história. O que nos resta é deixarmos as definições espiando pela janela e seguirmos o fluxo natural das coisas, transcender todos os dias essa distância.
Que nesse dia de ostensivas possibilidades você chegue com sutileza, para me levar sem hesitação onde você vive em absoluto. Vem, vamos embora desse desalento e transmutar o dia para aqueles dias de encontro, dias que vieram antes e que agora fica fácil de compreender que, hoje isso seria único. Vem, eu tenho um sol pra te dar, uma chuva fina no telhado e beija-flores no jardim. Vem, porque não existe outra forma, nos reconhecemos naquele instante e todas as respostas seguiram num paroxismo absoluto das nossas perguntas. Vem, vamos deixar esse dia amarrotado, diluir nossos sonhos encolhidos, aprumar todo o verde e enristar aquela alegria que fazia parte de todas as nossas manhãs.
E essa alegria compacta que chega definindo o dia? Vamos dar linha aos pensamentos independentes e vislumbrar a felicidade. Como eu gostaria que você pudesse ver a expressão dos meus olhos quando o carteiro passou de novo deixando sua carta, achei até estranho você me escrever assim, repetidamente mas, você falava de amor. Agora vejo suas solicitações firmando cores, lúcidas. Ontem você disse que precisava de mim por perto e eu te falei né, esperar-te-ia com os braços abertos em casa, numa compreensão de sossegar seus sustos, clarear as sombras que ousarem naufragar qualquer esperança do seu dia.
Eram passos para uma ontogenia ainda desconhecida por eles, mas trilhavam uma direção, um caminho. Aqueles passos aguardariam no cais, no mar, no verde de algum lugar trazendo a surpresa do inesperado que viriam em júbilo de emoções naquela estada ali, fosse vindo do vento, fosse vindo do mar... eles não tinham pressa, como as nuvens.
Deixa essa chuva cair e na segurança desse dia deixe, ela sabe para onde vai nos levar. Vou solicitar para você chegar e firmar em cores nessa manhã e voltaremos a espiar o mundo da nossa janela. Que a lucidez nos chegue trazendo uma lembrança única toda vez que solicitarmos saudade. Pode continuar falando das borboletas, é impossível não nos rendermos às coisas naturais. Enquanto prescindo a saudade deixe a chuva, deixe.
Nesse instante sou capaz de sentir a própria distância retraindo-se para longe desse dia que reflete um amarelo em faíscas, involuntariamente. Seu rosto me chega como aquelas nuvens que agora aproximam a vontade de ficar mais um pouco e, de repente, são nos seus olhos que eu paraliso, são seus olhos que trazem a tranquilidade do dia e me exterioriza para perto de você. Vamos ver se alcançamos o tempo e pegamos a distância distraída, assim devassamos essa saudade e vislumbraremos os domingos futuros. Vou sair na chuva e cantar aquela canção para você me ouvir e quando abrir as janelas para o dia entrar feche os olhos, pois te mando fogo no vento, te mando esse amarelo em círculos dourados para alegrar o seu dia.
Levante hoje mais cedo e vamos vagar unicamente nesse dia repleto de tentativas e possibilidades sublinhadas. Coloque aquele sorriso que toma forma toda vez que você olha pra mim. Vamos ignorar o tempo que nos deixa esperando, pintar de branco a saudade que esmaga por dentro e no final da tarde quando você chegar, distraidamente te levarei para pisar em estrelas...
Naquela extensão de céu azul debruço em ti meus braços, minha ternura suavizada projetando inesperados devaneios. Vamos chegar até a margem e afundar no escuro as insolucionadas fronteiras porque hoje é dia de céu azul e nossos desejos podem emergir renovando aquele nosso sonho de ficar junto pra sempre, aquele sonho que nós guardamos, inatingível às pessoas comuns, às pessoas de natureza vazia. Vamos abrir as janelas para o dia nos permitir uma alegria lúcida, doce e derramar sobre a manhã uma permanente felicidade despida de saudade e dessa forma não hesitaremos em permanecer nossas lembranças convergindo para àqueles dias que fomos inteiramente felizes.
Que a chama seja impressa nesse dia e mesmo que você não diga nada ainda haja essa brisa que eu permito lhe alcançar e, dessa forma, o amarelo vivo do dia possa te circundar. Ouço a musica do rádio enquanto lavo meu rosto e sem reclamar com a preguiça eu acompanho distraído a coincidência da nossa musica tocar tão cedo, escorregando melodias que esparrama por toda a casa. Agora vou sair e comprar o pão que você adora numa consistência que te espreita baixinho todo o belo da manhã e para a saudade hoje vou ser indolente, porque sua lembrança é amplificador para minha felicidade...
Ontem você me ligou eis que meu coração ansiou para voltar nos dias de inverno. Sua voz principiava cuidados, meus cuidados. Será que é o meu azul que está te fazendo falta? Será que você entenderá que solicitar por você nos desalentos desses dias é minha forma mais louca de amar você? Fico com as músicas, com os versos soltos lidos de algum lugar, com a porta aberta, minhas cores para te dar e uma saudade que se transforma em ventania e, ainda assim, fico impossibilitado de distinguir se é maior o amor ou a saudade que se repete todos os dias.
Nessa atmosfera intensa, agora me encontro suspenso, destinado aos cuidados dessa saudade alheia. Ah se ela conseguisse escapar aqui de dentro!!! E talvez assim eu lhe visse adentrando pela porta aberta, atingindo de cores todas essas paredes cinzas que permanecem esquecidas nas limitações de um dia sem suas cores circulares que transbordam lentas e contidas de uma vontade avassaladora de sentimentos. Quem sabe assim você pudesse chegar como grãos de areia desenfreados que em instantes espraiaria toda essa sala!!! Vou colocar aquela calça que você me deu e regozijar-me nessa manhã, recuando qualquer tentativa incômoda que me afaste de você.
Vamos chegar ali onde a vida parece mais simples e nos impulsiona numa cadeira de balanço. Vamos atravessar a rua porque parece evidente que lá as horas escorregam devagar. Vamos parar um pouco e esquecer o som dos automóveis porque os pássaros cantam eriçados uma felicidade que agora adensa o dia.
Que o dia nasça e a gente continue pisando num justo e completo chão de sonhos possíveis. Que continuemos não aceitando o que o mundo nos propõe, enquanto toda essa realidade permanecer assim, desconhecida de verdades e em absoluto silêncio. Que as nossas respostas tenham voz em reconhecimento do nosso olhar, que é diferente pra tudo. Que logo ali, bem naquela praça, onde as crianças contam suas historias, possamos descobrir aquilo que anda suspenso visto que, estamos ávidos por justiça, por uma despida e imensa realidade doce, pura, estendida às pessoas de bem que todos os dias abrem seus reposteiros esperando uma manhã com aura distraída para alcançarem unicamente um desejo, irradiações de felicidade.
Hoje o dia chegou me trazendo inexplicáveis lembranças. Num ponto de encontro onde termina o mar e o horizonte eu te encontro num impacto vivo de luzes, de cores que me chegam simples e deixa o dia todo assim, azul. Hoje não quero definir essa saudade estática, não quero ler o jornal sôfrego e nem tirar você dos meus pensamentos. Ainda que o dia surja numa incompreensão contida de lapidadas possibilidades, vou optar pelo involuntário, você.
Que o dia chegue escavando alegria e deposite em nós aquela felicidade que deixamos no horizonte. Que o tempo goste de simplicidade e despiste essa saudade teimosa que insiste permanecer no inverno e nos traga primaveras redefinindo o momento exato em que deixamos àquelas estrelas, aquela vida pulsante na superfície dourada de um céu que só fazia chover salvação. Que o seu sorriso continue na ressonância da minha mais ínfima lembrança, surgindo dessa forma inesperadas alegrias que caminham desencontradas, longe de você. Assim, nessa totalidade, talvez hoje a saudade seja carcomida por uma imensa perspectiva de primaveras que anseiam por nós.
Tenho sido tão repetitivo mas, não há manhãs que a saudade de você chegue menos abrasiva. Ontem o carteiro apareceu deixando sua carta, caminhando devagar fui lendo trechos em que você dizia também estar guardando uma saudade. Disse ainda que sente falta dos meus braços e desconhece outros beijos e cheiros. Enquanto o café esfriava reli dez vezes o trecho que você me queria para cuidar de ti, que meus carinhos de manhã é o que você deseja e o meu amor ainda permanece nos seus lençóis. Ainda existe aquela parte de mim que você adora, aquela em que olho fundo nos seus olhos enquanto canto aquelas cantigas ou coisa assim, de um jeito ainda que sem jeito mas, que você entende que elas sempre principiam as nossas lembranças. Ainda acordo de manhã e lembro-me dos dias que não envelheceram, das vezes que te segurava por mais um tempo nos mesmos braços antes de você sair e fechar a porta. Daí me afundo no travesseiro e peço silenciosamente que o sol continue nos deixando a mesma impressão e que o dia continue escorrendo sobre nós ainda que na forma mais farpada de saudade porém, a nossa indizível e absoluta verdade, o amor.
Se você começa o dia pensando em girassóis já é uma boa justificativa para seu poço encher. Se o seu primeiro pensamento for a pessoa que você ama, renda-se então sem demasiadas definições, avance naturalmente nessa estreita linha e cegamente continue olhando só pra dentro. Se começar o dia sem exigências, restaure o que for bom pra você e dessa forma suas verdades tomarão outras dimensões. Se começar o dia aceitando o que lhe é imposto não se permita ficar até o fim, afinal, não existem problemas insolucionados.
E lembrarás que não sentiremos culpa, não inventaremos maneiras para permitir que uma saudade opaca fique entrecaminho dos nossos dias futuros. Não amenizaremos nenhum sorriso, nem deixaremos encolhido, cinza e distante qualquer lembrança daqueles dias de inverno, dos momentos que deixamos nos pertencer às solicitações de felicidade que chegava inteiro, consciente, todas as manhãs que você acordava em mim e o dia por si recusava-se a não estampar um céu claro e amarelo. Haverá tempo e os dias seguirão assim quando acordarmos de manhã, eu desenhando pingos de chuva e nuvens brancas enquanto você amontoa as estrelas.
E se a saudade insistir muito em ficar aqui tentarei dobrá-la num gesto ou numa palavra e fugir num momento oportuno. O dia hoje apareceu meio escorregadio, me levando para você numa consciência espreita e impossível de recuar. Os pratos estão na mesa, os chinelos ainda estão pela casa e o carteiro ainda não passou. Vou amenizando sua lembrança e deixando bem de leve aquele sorriso, distinguindo as surpresas para o dia. Vou esparramando sobre a mesa aquelas palavras que você me disse e dessa forma segurar forte comigo as satisfeitas lembranças que ficaram cercadas, impossíveis de serem interrompidas. Talvez eu te espere naquele mesmo bar da esquina. Enquanto isso ficarei desvendando os segredos do dia, esparramarei um pouco mais de amarelo adornando essa tarde branca e silenciosamente ficarei com você, nesse pensamento indecifrável, em primazia absoluta de te encontrar brevemente.