Emil Cioran
O desejo de morrer foi minha única preocupação; renunciei a tudo por ele, até à morte.
No pessimista se combinam uma bondade ineficaz e uma maldade insatisfeita.
Por que nos retirar e abandonar a partida quando ainda nos restam tantos seres a decepcionar?
Envelhecendo aprendemos a converter nossos terrores em sarcasmos.
Mais que uma reação de defesa, a timidez é uma técnica, aperfeiçoada sem cessar pela megalomania dos incompreendidos.
Se a História tivesse uma finalidade, como seria lamentável o destino daqueles que, como nós, nada fizeram na vida. Mas no meio do absurdo geral, nos erguemos triunfantes, nulidades ineficazes, canalhas orgulhosos de haver tido razão.
Que inquietude quando não estamos seguros de nossas dúvidas e perguntamos: são verdadeiramente dúvidas?
Por que desfazer-se de Deus para refugiar-se em si mesmo? Por que essa substituição de cadáveres?
O mendigo é um pobre que, ávido de aventuras, abandonou a pobreza para explorar as selvas da piedade.
Não se podem evitar os defeitos dos homens sem fugir ao mesmo tempo de suas virtudes. Assim, nos arruinamos pela sensatez.
Sem a esperança de uma dor ainda maior, eu não poderia suportar esta de agora, mesmo que fosse infinita.
O que me dá a ilusão de jamais ter sido um iludido é que nunca amei nada sem ao mesmo tempo odiá-lo.
Só medimos nossas próprias forças na humilhação.
A santidade me faz tremer: essa ingerência nas desgraças alheias, essa barbárie da caridade, essa piedade sem escrúpulos...
Há dois mil anos que Jesus se vinga de nós por não haver morrido em um sofá.
A possibilidade de renovar-se através da heresia confere ao crente uma nítida superioridade sobre o ateu.
Mais ainda que a religião, o cinismo comete o erro de atribuir demasiada importância ao homem.
Examinei devidamente todos os argumentos favoráveis a Deus: sua inexistência permaneceu para mim intacta.
Um monge e um açougueiro brigam no interior de cada desejo.
Apesar de tudo, continuamos amando; e esse “apesar de tudo” cobre um infinito.
Sem meios de defesa contra a música, estou obrigado a sofrer seu despotismo e, segundo seu capricho, ser deus ou farrapo.
Quando nem sequer a música é capaz de salvar-nos, um punhal brilha em nossos olhos; nada mais nos sustenta, a não ser a fascinação do crime.
Se Noé tivesse possuído o dom de prever o futuro, teria certamente naufragado.
Onde reinam a paz, a higiene e o conforto, as psicoses se multiplicam...