Emil Cioran
Só sou eu mesmo acima ou abaixo de mim, na raiva ou no abatimento; em meu nível habitual, ignoro que existo.
Só os espíritos superficiais abordam as ideias com delicadeza.
Esforçar-se para entender o sofrimento do outro não diminui, portanto, a intensidade do nosso próprio. Em tais casos, as comparações não têm qualquer sentido, pois o sofrimento é um estado que se manifesta na solidão interior e que nada de exterior pode aliviar. Poder sofrer sozinho é uma grande vantagem.
Os homens ainda não entenderam que o tempo das admirações superficiais passou, e que um grito de desespero é bem mais revelador do que a mais sutil das argúcias; que uma lágrima tem sempre fontes mais profundas do que um sorriso.
É próprio das pessoas normais considerar a morte como algo que surge do exterior e não como uma fatalidade inerente ao ser. Uma das maiores ilusões consiste em esquecer que a vida é cativa da morte.
Os jovens falam da morte como de um evento exterior; uma vez atingidos em cheio pela doença, eles perderão todas as ilusões de sua juventude.
O homem faz um doloroso esforço para salvar – mesmo na total ausência de certeza – o mundo dos
valores em que vive e ao qual contribuiu; faz uma frustrada tentativa de vencer o Nada da dimensão temporal a fim de alcançar o universal.
Viver só significa nada mais pedir, nada mais esperar da vida. A morte é a única surpresa da solidão. Os grandes solitários nunca se retiraram para se preparar para a vida, mas, ao contrário, para esperar, resignados, seu desfecho.
Nós somos mais felizes hoje porque outros o fizeram para nosso bem? Que bem? Se alguém sacrificou-se verdadeiramente para que eu fosse mais feliz no presente, eu sou, na verdade, mais infeliz do que ele, pois não concordo em fundar minha existência sobre um cemitério.
Aqueles que têm poucos estados de alma e ignoram a experiência dos confins não podem se contradizer, uma vez que suas tendências reduzidas não saberiam opôr-se.
Aqueles que, ao contrário, sentem intensamente o ódio, o desespero, o caos, o nada ou o amor, que cada experiência consome e precipita em direção à morte; aqueles que não podem respirar abaixo dos cumes e que estão sempre sós, ainda mais quando estão cercados de gente – como poderiam seguir uma evolução linear ou cristalizar-se em sistema? Tudo aquilo que é forma, sistema, categoria, plano ou esquema procede de um déficit dos conteúdos, de uma carência de energia interior, de uma esterilidade da vida espiritual.
Se realizássemos uma investigação exaustiva sobre nós mesmos, o nojo nos paralisaria e nos condenaria a uma existência sem proveito.
As experiências subjetivas mais profundas são também as mais universais, na medida em que elas se ligam ao fundo original da vida.
Nada posso trazer ao mundo, porque a minha caminhada é solitária: a da agonia.
Uma das maiores ilusões consiste em esquecer que a vida é prisioneira da morte.
Somente os verdadeiros sofredores são capazes de uma seriedade autêntica.
Os homens nunca se suicidam por razões exteriores, mas por causa de um desequilíbrio interno, orgânico.
As mulheres desconcertam: quanto mais pensamos nelas, menos as compreendemos.
A eternidade não conduz nem ao triunfo do bem nem ao do mal: ela anula tudo.
Todo o prazer insaciado é uma oportunidade perdida pela vida.
Aqueles que amam com grande paixão nunca poderiam amar várias mulheres ao mesmo tempo: quanto mais força há na paixão, mais o seu objeto se impõe.
O sono faz esquecer o drama da vida, as suas complicações, as suas obsessões; cada despertar é um recomeço e uma nova esperança.
A maior estupidez que o espírito humano alguma vez concebeu foi a ideia da libertação através da supressão do desejo.