Emil Cioran
A duração e a consistência de uma coletividade coincidem com a duração e a consistência de seus preconceitos.
Assim ocorrerá com o homem: continuará suas proezas, mas seus recursos espirituais se esgotarão, da mesma forma que o vigor de sua inspiração.
O universo começa e acaba com cada indivíduo, seja Shakespeare ou joão-ninguém; pois cada indivíduo vive no absoluto seu mérito ou sua nulidade.
Os valores não se acumulam: uma geração só produz algo novo pisoteando o que havia de único na geração precedente.
Incapaz de alcançar as claridades da morte, rastejo na sombra dos dias, e ainda existo somente pela vontade de deixar de existir.
O pessimista deve inventar cada dia novas razões de existir: é uma vítima do "sentido" da vida.
Só nos tornamos cúmplices da vida quando dizemos – de todo coração – uma banalidade.
Só se suicidam os otimistas, os otimistas que não conseguem mais sê-lo. Os outros, não tendo nenhuma razão para viver, por que a teriam para morrer?
Como gostaria de ser uma planta, mesmo que tivesse de velar um excremento!
O conhecimento em pequenas doses encanta; em grandes doses, decepciona. Quanto mais se sabe, menos se quer saber. Pois aquele que não sofreu do conhecimento não terá conhecido nada.
Uma constatação que posso verificar, para meu próprio pesar, a cada instante: somente são felizes aqueles que não pensam – ou, dito de outra forma –, aqueles que pensam apenas o estrito necessário para viver. O verdadeiro pensamento se parece com um demônio que atormenta as fontes da vida, ou antes, com uma doença que afeta as sua próprias raízes. Pensar o tempo todo, colocar-se problemas capitais a cada instante e experimentar uma dúvida permanente quanto ao seu destino; estar cansado de viver, esgotado por seus próprios pensamentos e por sua própria existência para além de todo limite; deixar atrás de si um rastro de sangue e fumaça como um símbolo do drama e da morte do seu ser – isto tudo é ser infeliz a ponto de que o problema do pensar dê ânsias de vômito e a reflexão apareça como uma danação.
O poeta: um espavitado que sabe atormentar-se sem motivo, que se dedica com ardor às perplexidades, que as procura por todos os meios. E depois, a ingênua posteridade se apieda dele...