CRIPERGUE
"Vaticínio: num próximo ano a montanha de lugar trocará com outras. O bonobo terá um neurônio a mais e será proclamado rei. Nenhuma bandeira acima dos mares de sangue será mais içada porque a pungente glória terá sido alcançada. O único holocausto celebrado no mundo será o da injustiça. A leoa já não mais subjugada, com único brado, terá diante de si curvado quem perdeu o galardão e que se chame por leão. E o derradeiro ser utopista há do sono hermético despertar, em que um rei morto quão devotadamente sonha encontrar."
"Quando alguém censura a conquista alheia, confessando profunda abnegação material - 'o indivíduo morre, dessa vida nada leva' -, finge uma modéstia. No mínimo é um preguiçoso, um perdulário ou um invejoso."
"A concepção sobre Deus, ainda que indelével, seria razoável e menos infesta sem um arquivo histórico."
"Paraíso é aquilo que fantasiamos, a fim de massagear nosso ego e enchê-lo de esperança, à medida em que, de nós, afastamos a ideia, o medo da finitude. Nossa causa está no além, onde não há fim, não na vida. Do inferno não temos medo porque já sabemos que a esse não pertencemos."
"Toda guerra é bestial, é desnecessária, até que lhe cerque o inimigo a própria casa, invada-a, viole seus pertences, macule cada canto do lar, reduza-o a um cômodo, suprima sua dignidade, tiranize-o e... mate-o."
"Amor não cabe numa sociedade porque esta é feita de gente. O mundo carece de mais engajamento por consonância, não de pieguismo ou quimera."