Álvaro de Azevedo
Todos, por menos que se importem,
acabam por porta-se as reflexões.
Sobre os dias que passaram,
os que não chegaram, e os que virão.
É assim então que vem a maresia. Sensações de amor, dor, esperança e alforria. Num desabafo da alma que se esvazia, na breve reflexão desta poesia.
Alguns questionam-se: Como os que podem ter tudo, ainda assim são infelizes?
Exatamente por isto! Quando se pode ter de tudo, não há sentido em buscar mais nada. Os que têm pouco, olham para o muito, como meta.
Os que têm muito, olham para o pouco como vitória.
A alienação que sofremos, está intimamente ligada a nossa necessidade de nos alienar.
E as causas que por conseguinte, cegamente defendemos, tanto quanto as que julgamos, refletem sobre nós mesmos a hipocrisia que temos, em detrimento da razão que esquecemos, nos pondo a julgar o que sequer entendemos.
São as borboletas nas flores que trazem consigo, no ar da manhã, a paz e a saudade
Com suas cores, encantam e iluminam a paisagem, de encontro ao olhar venenoso da cidade.
Me pego às vezes ouvindo a paisagem, repleta de diferentes sons. Tão diferentes que juntos se completam numa harmonia saudosista e melancólica.
Não há métrica, nem melodia. Não há sinfonia, nem percussão. Há apenas o som do tempo que passou. Pois tão rápido como chegou, se foi sem tempo para se despedir.
Busquei por um tempo o poço dos desejos, mesmo sabendo que não havia um. Não me julguem, todos o buscamos. E quanto mais perto pensamos estar, mais longe nos encontramos.
Propícias são
as situações fatais.
Indefinidas são
as respostas de tais.
Irreversíveis são
os danos gerais.
Impiedosos
os que se dizem leais.
Numerosos os que se
Fazem rivais.
Era assim, sem palavras enfeitadas (não por preguiça, mas por fraqueza) que o escritor arranhava seus versos sem nenhuma ternura nem cuidado, num pedaço de papel rasgado. Apenas repensando tentativas de fugir de si mesmo, e deliberando o fracasso adiantado ao perceber que não há para onde ir, se não para si mesmo.
Julgamos nossas mentes, como nossa maior prisão. A pior parte é que essa "mente" somos nós! Não há nada que nos prenda, se não nós mesmos. Mas ainda assim, nos forçamos a crer que nunca nós libertaremos! Quando na verdade, nunca houve confinamento.
O desencanto me conduziu ao abismo, e em reflexão cheguei na desgraça. Agora, é previsível que de início eu seja mais um carrasco em função do pessimismo.
Esperando novamente um encanto qualquer que me engane brevemente, e me tire por hora, da realidade que eu impus como verdade.
Os filósofos da sabedoria, de palavras a sílabas, caminharam a despedida, escrita na lápide da razão. E em prantos sem esperança, ao escreverem com coração, se esqueceram da filosofia dos sábios. Agora só lamentam. Cegos e com sede de tempo.
Mas não há mais tempo. Pois enquanto se indagavam sobre a vida, a vida passou.
Enquanto discutiam sobre a morte, a morte chegou.
Sou comum como muitos uns.
Tenho de tudo um pouco, e por pouco não tenho nada
Mas esse tudo que tenho, é o nada de quem tudo tem
Pois quem por pouco não tem, somente o muito de tudo convém
E nada do pouco se vale, pois já de tudo se tem.
Não quero repensar o passado. Nem trazer ao presente os pensamentos que eu queria ter pensado. Também não quero me focar no futuro, ao cogitar se o que pensarei, será o que eu penso agora.
Mas por ironia, mesmo que nada disso eu pense, continuarei pensando em não pensar novamente.
Eu não perdi a esperança na humanidade.
Dizer isso seria o mesmo que de dizer que perdi a esperança em mim mesmo.
Horas se passaram, e eu tentando escrever. Não consegui pensar em nada, a não ser em não conseguir escrever. Os versos não vieram, as letras não se juntaram, as vogais não soaram como soam toda manhã. As métricas não se encaixaram, nada fazia sentido. Às rimas não rimaram, não havia sequer um motivo.
Mas é comum as vezes, o poeta perder os seus dizeres. E o melhor a fazer quando se quer dizer sem saber, é escrever, sobre não conseguir escrever.
Perco-te nos dias que passam, e cada minuto é um perder a mais. E perco-me todos os dias, ao entender que não te tenho mais.
Carlos, que falta fazes aqui! Que saudade eles têm de ti, com teus contos sobre os colibris. E que nostálgico é relembrar o que tu fizestes aqui. Desculpe o meu egoísmo, de hoje não te deixar ir.
Carlos meu amigo, eu sempre te lembrarei! Nos mesmos desencantos, que trazem em teus versos encantos, nos prantos que eu beberei.
Porque alguns preferem a escravidão?
Na escravidão em si, há dois pesos e duas medidas.
A privação da liberdade em razão da garantia de sobrevivência.
E a chave para o funcionamento de tal, é o medo.