Álvaro de Azevedo
E o homem? Pois bem! Homem não é ave! Não é pássaro! O homem não tem asas… não voa!
O que o homem faz então?
Pensa! Almeja no frio a forma de ignorar sua situação… faz do futuro sua glória, e do presente superação!
E quando não dá certo?
Então ele se esconde, como fez na gruta.
E da gruta reage com palavras de praxe, lampejando... esperando a luz que o mesmo produz, mas não vê que reluz.
O presente é uma constante progressão!
O passado uma regressão presente...
E o futuro, um presente passado.
Sabedoria não se remete somente a inteligência.
O que define um sábio, não é seu acervo de informações, e sim como escolhe utilizá-las.
Sorriso de frio
Sorriso que sorri vazio, sorriso de frio...
Sorri como quem já sorriu, mas sorri de calafrio.
Ri diante do frio, range os dentes, treme os lábios.
Por hora o riso sombrio, disfarça a cova nos orvalhos...
Mas seus olhos não mentem… Seu sorriso não sorri…
Somente prendem a mente, de quem o olha rangir.
E que não vê a névoa por trás do colibri.
Pobre sorriso vazio, breve sorriso de frio...
Solene
Combine os lírios, as rosas, as margaridas
Junte tudo numa só forma de poesia
Faça da rima seu refúgio, e dos versos sua alforria
Resgate a vida nas palavras, fazer-se-às, cura de suas feridas...
Caminhe novamente nesse altar
Mostre o colibri perdido em seu olhar
Do sorriso, até as vestes da alegria
Sucinta porém exuberante! És maré da minha vida.
E leva-me contigo em teu encalço,
Deixe-me fazer parte deste embaraço
Mas se não puderes, tenho um último desejo, somente peço-te mais um enlace...
Pois, Assim de ti, eu aprendi o valor que tem o amor
Por mais químico e cerebral, creio no abstrato real
Então somente quero, antes que se vá, um mero abraço concreto...
Palavras são palavras... Nem mais, nem menos. O que muda, é o sentido de quem as profere, e o entendimento de quem as recebe.
Shakespeare, em sua obra "hamlet"
perguntou-se em primeira instância:
“Ser, ou não ser? Eis a questão…” Diria então a Shakespeare, que prefiro não ser!
Prefiro apenas estar!
E nesse estado, me fazer independe do sentido.
Logo, não serei...
Não tomarei para mim as dores que assolam o sentido!
Estarei ao meu ver, covarde de ser!
Porém, estarei intrinsecamente humano...
E essa vã escolha, se transformará apenas numa Ilusão futura, do estado que virá...
Somos todos poetas Fernando…
No entanto, nem todos os poetas, são poesias…
Nem todos fingem dor em demasia,
para alcançar a alma e trazer calmaria…
Alguns se vão na dor… Outros no temor, refletem o verso em agonia.
Sua própria vida… Seu refúgio, sua alforria…
Que nas palavras encontram a passagem para a utopia…
E do inato se dá o formato: prosa, cordel, crônica, poema, poesia…
E de longe Fernando, nos encaixamos também!
Pois se um poeta somente finge, queria eu fingir além…
E que a dor fingida me fizesse bem…
Mas o real não mente, não distorce, não desmente…
O poeta escreve com alma!
Por mais que finja em sua mente, é inconsequente…
E nas próprias armadilhas cai em ressalva...
Sonho com um pensamento
Que pense por mim
Que me prenda em seu tempo.
E nesse confinamento
Me traga a certeza do sentido
No algoritmo do momento.
Que me carregue nos braços
Sobre o leito do sofrimento
Aprisionado aos seus enlaços.
Que me mostre o seguimento
Pelas calhas do compasso
Até o fim desse desalento.
Sonho em pensar nesse sentido,
Sem sentimento...
Funções
Navegantes estagnados,
em movimento constante
Uniformemente variados,
em pontos equidistantes
Inconscientemente posicionadas,
as aspas em seus semblantes
Intrinsecamente caracterizados, pela ambiguidade incessante
Indefinidas as preposições,
em proporções edificantes
Visíveis desilusões, para o
invisível das sensações! Sentimentos ludibriantes...
Lembrança póstuma
Para não dizer que o mundo perdeu-se de seus amores
Para não desver as flores, ao longo do tempo, com opaco das cores.
Para não fazer-se carrasco, aos nobres olhos dos doutores
Para sempre levares como epifania, a parábola dos sofredores
Para assim, carregar na penumbra, a claridade dos autores
E enfim, fazer-se-a, a vontade dos seus senhores…
Rosa dos ventos
Aos quatro cardeais, trago-lhes as boas novas
Nos ventos do cerrado, à Nordeste,
Veio a última rosa.
Trouxe consigo, mais duas pétalas honrosas
Essências perdidas no momento...
Porém, no cálice do tempo, puseram-se a prova!
Enfim, aos dezesseis sentidos, o enigma aflora
Na essência das capitais, caídas sobre o ferro vibrante
O intrínseco silêncio do recomeço, sobre o fim, toma o agora
E a invalidez das últimas rosas, dá lugar a suavidade do momento
A nova flora.
Enigma
Em vestes póstumas, se foi a razão;
Levou o espelho, deixando o reflexo;
Da imagem nociva, um ponto convexo;
De curvas varridas, transcritas a mão.
Em marcas de ferro, a fogo na folha;
Na tábula rasa, o contraste, a escolha;
De dias nascidos, ao perdido momento;
E noites passadas, sob o sofrimento.
Agora na falta, o caminho é distante;
Paralelo a maldade a inata verdade;
Escondida nas sombras de um meliante.
Se faz insolúvel, a passos de vaidade;
O tal enigma, em mudança constante;
A espera da luz, no reflexo da lealdade.
Dor de alma
Ausência pouca, camarada!
Por que a mim traria dor,
O que mais vejo na estrada?
Por que com olhos de terror,
Enfrentaria essa jornada?
Se com os mesmos olhos o amor,
Cavalga a mim, na alvorada?
Por que perder-me do favor,
De mais um dia em caminhada?
Culpando o tempo sofredor,
Nas demasias desgastadas?
Por mais que eu sofra em temor
O Temor de mim, não leva nada!
Senão o próprio precursor,
O medo, o sofrer; a dor passada...
Laranjeira
Havia, abaixo do largo monte, acima de uma videira,
Numa relva de cores vibrantes,
As calhas de uma laranjeira.
Plantada em solo distante,
Longe das terras alcoviteiras.
Perto dos mares triunfantes,
Ao lado de tumbas traiçoeiras.
Sublime, porém errante,
Moldada em raízes rasteiras.
Contada em romances Cervantes,
Como raspa de brisa em bandeira.
Por hora o desencanto a saboreia,
Tomando-na em risos deflagrantes.
Zombando o término de sua candeia
Mas inesquecível será, o tal acre sabor, dessa laranjeira...
Pouco amor resta no mundo.
Mas muita dor rege o peito de cada um, a cada segundo.
Tristes são aqueles falsos risonhos.
Sorriem com o sorriso do ter, mas não sentem o sentido de sorrir, em se perder…
Uma vez disseram que nada dura para sempre... É de se entristecer...
Queria ter a minha frente, que disse isso, é falar-lhe:
"O momento pode não durar para sempre, mas o que esse momento foi, continuará tendo sido, eternamente.
Assim como as partes de um inteiro, mesmo que retiradas do meio, um dia o tornaram completo…"
A mente só é uma prisão, no cogitar de que se prende.
Pois não há trancas, nem chaves.
Há somente o homem, que se confinou por medo de não se libertar.
Confinamento esse, inexistente,
pois sempre esteve livre…
Nada passa de uma armadilha de si próprio, para consigo mesmo.
Crendo piamente no quilate de suas correntes.
Ao galope de mais um verso
Entristecido
Com passadas de tinta no papel
O poeta fez em sua folha, outro cordel
Declamando com um gesto emudecido
O esforço de fingir além do véu
A alegria, na amargura, em seu pincel...