Versos para uma Pessoa Bonita
Saldo Negativo -
- O que tu tens,
meu filho?
- 15 contos em mãos,
173 de dívida no
mercado,
167 na farmácia,
71 de saldo negativo
na conta
e um
grande amor vivo
e perdido,
despedacando minh'alma.
Alma Adolescente -
Todo poeta tem alma
adolescente.
E
se você consegue
sentir
o que eu digo,
é porque há algo jovem
aí
dentro.
É Por Medo -
É por medo da rejeição
tantas vezes
provada.
É por medo da vergonha
tantas vezes
sentida.
É por medo
que a gente deixar de dizer
o quanto tem
saudade;
o quanto
pensa;
o quanto sente
falta.
E são por esses mesmos
motivos
que a gente assiste - sangrando -
um (possível) grande amor
indo embora.
Tão Perdido e Confuso Quanto Ele -
Eu olho um adolescente e
penso:
ele ainda tem chance - tem tempo.
Pode optar por algo
seguro como
estudar,
arrumar um emprego
e formar uma família.
Eu já estou no meio dos trinta,
não tenho diploma
algum,
estou desempregado,
sem nenhuma
perspectiva,
e destruíram, covardemente,
meu sonho de
família.
E o mais assustador:
eu me sinto tão perdido
e
confuso quanto
ele.
Aquelas Noites -
Ainda lembro
aquelas noites quando ainda
éramos nós
e,
de tão cheia,
a cama faltava espaço
e só eu não conseguia
dormir.
Mas,
ainda assim,
olhando vocês ali,
meu coração respirava
aliviado.
Agora
a cama até sobra espaço
e, ironicamente,
meu peito está apertado
e,
de novo,
só eu não consigo
dormir.
Delinquente -
Quando (por alto), você
ouve de um delinquente
a expressão:
"você não tem coragem",
algo muito sério
pode estar por
acontecer.
Gente Grande é Mesmo Idiota -
Ontem,
enquanto brincávamos no
quarto,
meu filho e eu,
lembrei de certas
coisas corrosivas que, hora ou
outra,
ainda me alfinetam o peito,
me tiram a calma.
E então,
junto àquelas lembranças,
eu fiz aquele som com a
boca, que denuncia
alguma insatisfação, algum
lamento ou incômodo.
Meu filho,
que agora está com quatro
anos e meio,
ouvindo aquele estalo
me questionou:
"o que foi, pai?"
"Nada". Eu o respondi.
"E por que essa cara feia,
então?!" Ele outra vez.
Eu,
sem graça,
pensei:
gente grande é mesmo
muito idiota - desperdiça o pouco
tempo que lhe resta,
sofrendo por coisas e pessoas
estúpidas.
O Cinza é a Minha Cor Preferida -
Eu esqueci,
durante alguns segundos,
esta tristeza profunda
que bagunça minha morada
interna.
Nestes poucos segundos de
desatenção, eu respirei livre,
sem dor, sem angústia.
Neste breve estar de leveza,
eu não fiz quase
nada.
Serviu apenas
para lembrar-me que, apesar
de muito difícil,
hora ou outra, sem muita explicação,
a vida nos traz traços de felicidade
em pequenas e raras porções de paz e tranquilidade.
Aproveite para aprender:
há uma saída, ainda que a gente morra
no final.
Sim,
meu universo já voltou
ao normal.
Há aquele detalhe significante
Sobre a pessoa que te ama e a pessoa que diz te amar.
É notável a diferença no tratar de ambas.
Só não enxerga quem não quer...
O Último Não, Será o Meu -
Eu estava errado quando
na primeira oportunidade de
deixá-la eu não a deixei.
Havia chance... (?!)
E veio a segunda, a quinta,
a décima-quarta e eu
continuei errando.
Me transformei em uma
máquina de colecionar
derrotas e mais
derrotas.
Logo
eu era a própria derrota.
Fui ao inferno, vi o diabo de ser
humano de perto,
mais de perto ainda, algumas
outras vezes.
(Perdido, eu só era mais um
entre tantos).
Mas eu estava certo quando,
certa vez,
com lágrimas de sangue nos
olhos e um coração de
calos endurecidos,
me virei para ela e em claro
e grave som disse-lhe:
Não!
E o último não, será o
meu.
Distância -
É sempre muito,
muito complicado quando
amamos alguém que
está longe.
Longe o suficiente para sentirmo-nos
inúteis, impotentes diante
da sinuosa e fria
distância.
É um troço meio esquisito:
é a coisa amada lá - longe -
e os sentimentos
explodindo cá - dentro.
Um aperto sem toque;
um sentir sem cheiro;
uma saudade sem
tamanho.
Fecho, abro os olhos
e tudo é deserto,
vazio, distante.
Tudo, menos o teu
nome.
Esse...
ah, esse é segredo!
Não Há Escapatória -
Eu entendo:
não há escapatória.
Não posso estar muito
longe do cinza das
tempestades,
da névoa da melancolia,
do abismo da rejeição - da tristeza.
A maior parte da minha poesia
morreria.
Assim como não posso viver
totalmente
mergulhado nesse
caos,
nessa escuridão sombria,
sem um pouco de luz quente,
gestos leves, alegria
genuína.
Minha cabeça explodiria.
Morreria, então,
o poeta.
Eu sei parte dos motivos
e escolhas
e consequências.
E,
independentemente
da cor do dia,
do estado meteorológico,
mental, físico,
tudo que eu preciso é
escrever,
somente escrever.
Nada além de
escrever.
Depois dos interesses,
há que se destacar três coisas
que costumam unir
e transformar
pessoas:
O amor, o tempo e as tragédias.
Nu Com Minha Poesia -
Descobri, esses
dias,
que sou extremamente
exibicionista.
Gosto mesmo de mostrar-me
descaradamente.
Dispo-me sem vergonha e deixo-me
à mostra para quem quiser
ver.
Ora, ora, se vou esconder
sentimentos - Poesia.
O Meu Eu Ideal -
O meu "eu ideal”
teria que ter a imaginação e os
sonhos de quando eu era
criança.
A saúde e disposição de
quando eu era
jovem.
A sabedoria e consciência
da fase adulta.
Coragem, espiritualidade,
sorte, esperança, família,
amigos e amor de
uma vida.
Não é Mais Um Dia: É Menos Um -
Percamos tempo alimentando
orgulho e vaidade,
e colecionando perdas e
despedidas.
O Outro -
Sim,
somos, também,
responsáveis pelo outro.
Mas acredito que,
a partir de certo ponto,
devemos tratar as pessoas
tal como elas se comportam diante
dos outros e de si mesmas.
Porém,
em se tratando das piores,
eu aconselho distância e
indiferença.
Cheio e Vazio -
Acho que é isto que mata
a gente:
Esse "cheio e vazio
do peito",
em forma de expectativas
e decepções
que a vida costuma nos proporcionar diariamente.
Correndo -
Às vezes,
eu fico olhando adolescentes
à toa, se divertindo como
jovens que são
e acho graça da maneira como fazem as coisas.
É tudo tão tosco e bobo e
besta,
e nada é tão sério e tudo
tão necessário.
E então,
me percebo rindo
e logo me sinto velho, triste
e bobo e besta,
e agora tudo é tão sério
e nada mais tão
necessário.
(Contaram-nos a história
errada?).