Tradição Gaúcha
Um dia vendi meu cavalo.
Foi num domingo, nessas voltas de rodeio...
Eu garboso bem faceiro vinha com pingo a lo largo....
Me ofereceram um trago e seguimo ali proseando...
Logo vieram ofertando uns troco no meu Picasso...
Era lustroso o bagual, calmo como chirca em barranca...
Mansidão não hay quem compra, disse um velho paisano...
Largaram uns peso no pano de primeira refuguei...
Depois logo pensei, hão de cuidar do pingo...
Eu nunca fui de apego, meu rancho é a solidão...
Ainda dei o xergão e vendi o meu velho amigo...
Quando voltava pras casa, a pezito curando o trago...
Fui lembrando das andanças que fizemos pelo pago...
Lembrei até duma noite, que quase se fomo nas barranca...
Por causa de uma potranca o Picasso enlouqueceu...
Depois obedeceu e voltou a compostura...
São coisas da criatura, da natureza do bicho...
Eu sei bem como é isso comigo se assucedeu...
Mas eu já tinha vendido, de nada mais adiantava...
A vida continuava, quantos já venderam cavalos...
Uns bons outros malos, mas é coisa da tradição...
Depois pegamo outro potro...
Domamo e mais um tá pronto pras lides de precisão...
E assim se passaram os anos, e nunca mais vi o Picasso...
Mas ainda tinha a lembrança daquelas festas campera...
Debaixo de uma figueira nos posando prum retrato...
Eu virado só em dente, tamanha felicidade...
E ele bem alinhado, com pescoço arrolhado, mostrando garbosidade.
E o tempo foi passando, eu segui domando potros...
Mas um deu pior que outro nunca mais tirei pra laço...
Lembrava do meu Picasso, manso, bom de função...
Trazia ele na mão, nunca me refugo...
Desde do dia que chegou potranco bem ajeitado...
Se acostumou do meu lado vivendo ali no galpão...
A vida é cerca tombada, quando se sente saudade, dói uma barbaridade...
O coração em segredo as vezes marca no peito, qual roseta na virilha...
Não fica bem pro farroupilha ter saudade dum cavalo...
Que jeito se vai chorar, são coisas de índio macho...
Sentimento é um relaxo difícil de aquerencia...
Mas o tempo vem solito, não trás amadrinhador...
Num dia desses de inverno, juntando geada no pala...
Eu vinha nos corredor pensando nas cosa da vida...
Foi quando vi um cavalo magro ali atirado junto a cerca caída.
Fui chegado mais perto daquele coro jogado
Os olho perdido e triste, me perguntei qual existe gente mala nesse mundo.
Pra atirar assim um crinudo, pra morrer a própria sorte
Pedi licença pra morte em me cheguei sem alarde.
Não creio em divindade, mas o milagre aconteceu
Ali na beira da cerca, quando me olhou com tristeza...
Na hora tive a certeza que aquele pingo era o meu.
Levei ele pro rancho, tratei e curei os bixado...
Dei boia e fique do lado, até ele melhora...
Perdão meu Picasso amigo, agora ficas comigo...
Não te vendo nunca mais...
Por mim pouco importa se já não serves pra lida...
Aqui será tua vida até o dia que morrer...
Talvez não tenha perdão, sofresse em outras mãos...
O que fiz naquele dia?
Te vendi por alguns trocados, um amigo não tem preço, o que fiz foi judiaria...
Nunca mais vendo cavalo.
Pala amigo
Meu velho pala amigo
Companheiro de vaquejada
Contigo rodeei os muros
Das geladas madrugadas.
Meu velho amigo, meu pala
Do aço provaste o gosto,
E sem fazer muito esforço
Cerzi alguns buracos de bala.
Agora descansa ai...
Deitado sobre os pelegos,
Feito a velha gaita surrada
Pelo tempo e pelos dedos.
Minuano aguerrido,
Não te faz de distraído...
Com certeza tu sabes
Da enorme saudade
Que sibila na tua canção,
Pois traz na tua garupa,
Mais que frio... traz solidão...
Brasão farroupilha
Meu velho manto sagrado de pala a coberto
Sempre com muito valor te levei na minha encilha,
Hoje te trago por cima dos meus joelhos dobrado
Pois sei que no meu passado, muito tu me cobriu
Da chuva, do vento e do frio...
Hoje... porém, estou velho não monto só pastoreis...
Quando me despedir dos arreios que encilham esta vida
E se fizer liberta minha alma farroupilha,
Te levarei jaz ali... jogado por cima,
Minha mortalha, o meu brasão farroupilha.
"Gaúcho Raiz"
Sou peão, xucro mesmo
Levo minha prenda pela estrada
E não me preocupo com nada
Carrego sempre minha adaga
É ela quem me defende
Sou galdério de traz pra frente
E meu verso
Não é repetente
Sou gaúcho raiz
Nascido lá no rincão
E trago minh tradição
De sapiranga
A porto Alegre
Que aprendi la no galpão
Lembrança do meu casebre
Cabelos de Prenda
Os cabelos de uma prenda
devem ser bem cuidados,
e sobretudo perfumados,
os cabelos de uma prenda
podem ser como ela quiser
e podem até mesmo ser
curtos porque o comprimento
dos cabelos jamais definem
a feminilidade de uma mulher.
Se for uma prenda veterana
de cabelos longos em especial
se usa um elegante coque
para mostrar quem é quem
manda como um fino toque
de quem conhece todos
os passos e ritmos percorridos
que a lapidaram como mulher.
Os cabelos de uma prenda
sempre são capazes de capturar
o coração de um gaúcho
como se pega um peixe no rio,
por isso devem receber
o devido trato sempre fio a fio.
Quem pega e jamais se apega,
Quem ao amor não se entrega,
Carrega um coração de pedra!
Guria da Poesia Gaúcha
PIEDADE
Que inquieto vazio desajeitou meu corpo e
Incomodou tanto a minha acomodada alma,
Quando à tua frente te enxerguei diferente.
Foi estranho não achar mais nos teus olhos,
Um facho apenas da luz dos meus e os teus
Passos transviados, da nossa rota desviados.
Te confesso que foi difícil eu te ver confuso,
Acertando os pés por caminhos obtusos e te
Saber à margem da tua própria sorte e morte.
Sinceramente, te olhei àquela hora e tive pena,
Dó de verdade e me questionei como pude um
Dia amar quem agora me desperta só piedade!
Pedaços de Mim, página 63, 1999
No dia da criança, pensa, inventa, experimenta e aprenda
que presente não compensa presença, mas que a presença
recompensa mais que qualquer presente pra gente que sente!
Guria da Poesia Gaúcha
Agarra com garra o presente que é este teu dia presente, antes
Que as horas levem embora e vire passado pra sempre na gente!
Guria da Poesia Gaúcha
Confesso que eu acordei triste, sem
Vontade para ligar o celular, ver TV
E até de te ver, e talvez seja por que
Hoje descobri que mais que cansada
Ou estressada estou é decepcionada,
Por ceder tudo e receber quase nada!
Guria da Poesia Gaúcha
ELEGANTE
É fazer gentileza onde quer
Que estejas, é ter singeleza,
É desenvolver a delicadeza,
É só falar quando solicitado,
É mais do que calar, escutar,
É liberdade sem libertinagem,
É comentar só após ponderar,
É juízo sem ganho ou prejuízo,
É vontade de praticar bondade,
É ter ímpar habilidade como par,
É ser tolerante e nunca arrogante,
É atitude de solicitude jamais rude,
É quem se compensa porque pensa,
É exercitar o lugar do outro ao falar e
Legal respeitar gente, igual ou diferente!
Guria da Poesia Gaúcha
Desejo que a Páscoa seja o acontecimento que marque o
Renascimento dos teus maiores e melhores sentimentos!
Guria da Poesia Gaúcha
Guardar mágoas é aguardar lágrimas, é cativar
O que existe de triste, é cultivar o que de pior
Insiste, persiste, resiste e que por nada desiste...
Guria da Poesia Gaúcha
Ela se vestiu todinha de setembro no
Sentimento e saiu por aí borboleteando,
Gaivotando, passarinhando, polinizando,
Margaridando, poetizando, primaverando!
Guria da Gaúcha Poesia
À Flor da Pele
Poesia para mim é mania, é a
Catarse de todo dia, é epifania,
É lenitivo bem-vindo de vinda e
Ida de vida, é terapia, é intuição,
É se expor, é cura interior de dor
De amor, é comunhão do meu eu
Com o do meu Deus, é usar o meu
Talento como o instrumento pra eu
Tentar ajudar quem por aqui passar,
É alertar para evitar os perigos que
Eu não consegui desviar, é eu poder
Escrever e descobrir que escrever é
Meu poder, é refletir, respirar, ironizar,
Filosofar, desabafar, ponderar, é sorrir,
Rir ou chorar, é não saber silenciar, é
Gritar e sussurrar, é romantizar o amor,
É se auto vitimizar, exagerar, extrapolar,
É sensibilizar, é tocar sem enxergar, é o
Tempo todo autoconhecimento, é deixar
Ficar na entrelinha a pá-lavra a garimpar,
Trabalhar, cavar, a ressignificar ou rimar,
É semear, florescer, fortalecer e podar, é
Ter o coração sempre pronto pra renascer
A cada estação para de novo viver, sofrer
E morrer tantas vezes quantas preciso for
Para prosseguir na sua missão de amor!
Guria da Gaúcha Poesia
Daqui pra frente, vai ser bem diferente,
Pois só vou deixar andar ao meu lado
Quem ao invés de tentar deixar o meu
Dia escuro, o faz ainda mais iluminado!
Guria da Gaúcha Poesia
Poesia é quando o sentimento tem sintonia com o pensamento,
E pede pra transformar em palavras aquele momento no tempo!
Guria da Poesia Gaúcha
MEU AMOR QUERIDO!
Se ainda me sinto vivo é porque sigo atraído e
Seduzido pelo teu amor tão cativo quanto ativo!
Guria da Poesia Gaúcha