Textos e poemas
Se Permita Estar
Da para não me culpar dos nossos erros e acertos, das nossas brigas idas e vindas. Só peço que me escute no silêncio da sua noite, ouça como meu coração bate forte com sua respiração.
Somente escute, sem se preocupar com nada ao seu redor. Somente silencie tudo e vede como é lindo o silêncio em seu olhar. Sem se preocupar com os barulhos e ruídos, com os buracos advindos de seus erros cometidos, só por um dia silencie tudo, apenas sinta sua presença aqui. Pelo menos por um dia esteja presente de verdade, sem tentar concertar, sem medo de errar.
Só desta vez se permita estar, sem palavras agressivas, sem fúria no olhar. Só solte o seu melhor sorriso e se permita estar, com a alma e o coração. olhe para o lado, mas sem em nada pensar, so observe e sorria.
Responda para todos com seu sorriso lindo, que mostra estar vivo. Só se permita estar, sem pensar em como agir ou o que falar, apenas sinta o prazer, de plantar a felicidade em outro olhar.
Se permita estar, abrace sinta o cheiro, sem em nada pensar, só esteja, só seja a presença naquele olhar.
Apague às más memórias e permute-as por folhas vazias aptas a produzir, só se permita estar, sem hora para partir, sem hora pra chegar.
Sonhos
Todo sonho
De quem sonhou
Velho ou novo
Não se realizou
Vira assombração
Fica assustando os outros
Mandando avisos
Indecifráveis
Para terminarem
Os sonhos
Que Sonharam
Dá um trabalho enorme
Decodificar sonhos
Não realizados
Para edificar
Sonhos sonhados.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Com Que Cor Vou Vestir?
Não me vês
Meu bem
Visto Azul
Tudo Azul
Como o céu
E não me vês
Visto rosa
Tu discordas
E não me vês
Visto vermelho
Tu avermelhas e duvidas.
Visto estampas
Tu espantas.
Visto negro
Tu exclamas!
Onde estão as estampas?
E digo:
Espantastes?
Com tantas cores meu bem
Qual seria a minha estampa?
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Eu - Tu - Ele
Não chores menina
Vamos rezar
Contemplar os mistérios
Eu
Tu
Ele
Eu quero
Tu condenas
Ele Navega
Eu
Tu
Ele
Mistério
Conto
Metáfora
Eu
Tu
Ele
Eu quero
Eu devo?
Eu posso
Única pessoa
Único verso
Em um único desejo
Eu
Tu
Ele
Quem viajou nessa conjugação?
Eu
Tu
e Ele
Sem condenação
Gosto de todos
Eu
Tu
Ele
Somos uma realidade
Tu criticas
Ele foge
Eu fico sozinha
E no plural?
Nós
Vós
Eles
Nós eu desembaracei
Vozes não me escutaram
Eles sempre existiram
Vamos recomeçar (de novo)
Eu
Tu
Ele
Eu desejei
Tu estornou
Ele recolheu
Mas quem emende?!
Nós desembaraçamos
Vozes se apagaram
Eles nunca escreveram
Na realidade
Só sobreviveu
Eu para escrever
Tu para apreciar
Ele para me atormentar.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
"Vende-se"
Já pensou em amanhecer de carga vazia sem ter o que oferecer e ser dispensada de todos os favores, pois você mais parece água de um lago revolto e coloca a todos em desespero e sem rumo.
Já pensou em abrir sua bolsa e lá estivesse vazia e sua carteira como se fosse nova e você sem identidade?
Imagine abrir um livro em que todas as consoantes fossem banidas do dicionário.
Imagine contar infinitamente só os números ímpares, pois os pares não existem mais.
Cristalize falar e não ser compreendida.
Chorar e parecer estar sorrindo.
Soprar e tudo virar ventania.
Imagine:
...que tudo é realidade.
É o escritor
O que ele vende
Poucos compram.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Impressões
Noite de céu crespo sem lua. Silêncio sedicioso derramava em seus pensamentos agonias. O travesseiro ficara quente, as tábuas estalavam a secura do Mês de Setembro. Os ventos frios adentravam sem convites por todas as janelas. A rua já havia se esvaziado da festa e os papeis vagabundos e coloridos faziam folia com o sopro da madrugada.
Caminhou pela casa, pegou um livro, as letras não acolchoavam sua cabeça. Acomodou as malas na soleira da porta. A esta hora ainda estava sem sono. Revirou suas anotações, tentou dar curso e poesia aos guardados e a página permaneceu imaculada. Olhou pela janela e viu que a cidade repousava.
Parecia que já era hora de amanhecer e acendeu todas as luzes e esquadrinhou todo o lugar como se o mapeasse para a sua memória. Deitou com seus pensamentos vazios e muitas perguntas. Revirou na cama e talvez fosse o estômago vazio esta insônia.
Foi à cozinha. Açúcar queimado com canela e leite cheirou, aguçou suas papilas. Os biscoitos de queijo ajeitaram o doído do vazio. Limpou os dentes pacientemente um a um com pasta de hortelã. Passou creme de nozes nas mãos e percebeu que durante sua estadia não havia tocado o piano.
Foi até a sala onde ficava o esplêndido. O lustre iluminou junto o recinto. Talvez fosse o lugar mais austero da casa, moveis delicados com instantâneos das descendências em poses agoniáveis. Todos pertencendo ao passado com histórias confusas e nunca narradas. Mirou cada face como se retirasse de seus olhares suas existências. Tudo mudo. Todos impassíveis.
Abriu a maravilha, o piano, teclado amarelado em marfim liso e gelado; soltou seus tons que espalhou pela casa, e todos valsaram. A cortina dançou, o vento parou para escutar, os papéis se esconderam nas esquinas, os pensamentos acalmaram e os instantâneos dependurados pelas paredes se pintaram. Sua insônia se demitia e na última valsa sentiu um vulto se aproximar. Fechou os olhos sem medo e dedilhou a última melodia.
No avião sua mãe comentou:” Que foi aquela andação à noite pela casa?Agora virou assombração?”
–Foi só indigestão.
–O que comeu?
–As assombrações não digeriram bem os biscoitos de queijo e ficaram por lá brigando, dançando com azias. Brancas, aparentes, empoadas de farinha...
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Saudades em poesia
Seu cheiro derramado em poesias
Seu cheiro arrastado nos versos
Cheiro espairado
Repartido
Cheirando espalho
Vetado
Revive em mim seu corpo em perfume
Flui
Esparrama a sua vontade
Somos mistura
Dos céus e dos ares
Somos nós e nó
Você existiu
Para... sempre...
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Dor existencial – 2
Aspirante a poeta, em versar sobre o ser
Oque sou, o que serei, para onde vou
Em ebulição com o devo e não devo fazer
Minhas origens, o passado, presente e futuro
Me encontro no meio da linha do tempo
Olho e vejo dois eus, o fui e o que sou
Mas entrementes um eu terceiro surgindo
O que serei, escolhas que afetarão a terceiros
Penso em minha nobre estirpe
Sigo seus passos, ou faço os meus
Começo a crepitar, pássaros em tumulto
Me atormentam e me questionam
Nessa bifurcação paralisei
Efêmeros eus, efêmero ser
Em consternação gritei
Serei eu a dona do meu viver!
Era uma arvore vigorosa de raízes bem fincadas,
com seu tronco bem exuberante e galhos fortes e folhosas,
morada de muitos pássaros, que neles se aconchegavam,
uma sombra fresca oferecia a quem quisesse fugir do sol
e debaixo dela deitar-se e descansar.
Mas não era assim que era vista,
humanos insanos,
amputaram seus galhos
e sem piedade expulsaram os pássaros
e fincaram em seu coração
o que eles chamam de modernidade
mas a raiz dela era profunda
afinal ela era fêmea
fértil e bélica por natureza
com o tempo se refez inteira;
e hoje olham para ela admirados
como pode uma arvore dessas
conviver com a modernidade?
Segredos só dela.
Quando
Quando morrer, não me espetem de flores, porque representam a vida e sua resplandecência é rápida: florescem, envelhecem e morrem.
Me alfinetem de palavras que sejam somente substantivo abstrato: felicidade, sucesso, angústia, desejo, prazer, cumplicidade, compromisso, inocência, perdão, amor, confissão.
Confesso que o perfume das flores paira no ar, mas as palavras perfuram e permanecem interpretadas por quem não tem preconceito, mas sonha.
Quero deixar esta herança.
Sonhos.
Sonhe e o os sonhos são proféticos, eternos como os céus e as estrelas que nos cobrem.
Cubra-se somente de sonhos.
E sonhe somente seus sonhos.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Eu até pensei em doar
a coleção de ferros
que levei na vida
mas pretendo futuramente construir
uma escada que me leve ao céu
ou que desça até o andar debaixo
(nem eu sei o que será de mim)
ou construir uma ponte para chegar às pessoas
e/ou aos lugares que amo
mas tudo o que eu for construir sempre faltará um ferro
o que se encontra no meu braço direito
e juro ter pensado ser o braço direito de alguém
ledo engano
pois eu era muito mais que um braço
penso eu
mas agora eu sou eu mais eu
eu, por eu mesma
eu além de mim
eu só para mim
e me dou por satisfeita!!!
Fernanda de Paula
Instagram: fernanda.depaula.56679
Novo Instagram: mentepoetica2020
doando um desperta(DOR)
porque já perdi tempo demais
despertando as dores
agora eu quero mais
é perder a hora e a cabeça
de vez em quando
e também quero perder o juizo
e sair do prejuizo
quero viver
pois ainda há tempo para tudo
e talvez outro tempo para nada!
falou a (des)entendida do assunto
Fernanda de Paula
Instagram: fernanda.depaula.56679
Novo Instagram: mentepoetica2020
“Cozinhando”
Tinha cheiro perfumado
de cardamomo moído
no ar
nosso jeito de amar
Vermelho
Rubro
Intencional
Despido
Tomates descascados
despelados
refogados
sufocados no azeite
ferviam
esparramando desejos
Não dava para esperar
ervas benziam
alecrim
tomilho
mangericão
coentro
hortelã
para acalmar o mar de dentro
Esperei...
Abri um vinho...
Ele não chegou
MEU DEUS !...
Para AMAR
COZINHAR
Basta o Sal
do mar
e das lágrimas
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Meu amor de ontem
Ele havia chegado.
Foram 25 cinco anos de sertão. Barba por fazer, desodorante faltando, mal-cheiro falando.
Português capenga, só ficava rachando lenha, trabalho braçal mesmo. Verbalizar algumas palavras somente depois de uns goles de pinga.
Até que morava bem, num “igarapé” fresquinho às margens do Rio das Mortes, uns 100 quilômetros da cidade, na seca. Na chuva nem tiro ideia. Ventilação só do vento nos buritis.
Lugar bonito por lá. Tem duas estações: a seca e as águas. Ouvi dizer que vendem perfumaria nos alagados.
Vizinhança próxima, toda sorte de animais silvestres e rastejantes.
Ele me explicou bem como era feliz. E fez esta viagem com proposta de sermos mais unidos.
Na verdade fiquei embasbacada e pensando se o banheiro
tinha lixa de pé e “bidê”.
Olhei sua camisa de um algodão rústico e desbotado, seus pelos agora também descoloridos saindo revoltos entre os botões.
O vento derrubou meu chapéu panamá e ele não se inclinou para pegá-lo.
Disse que tinha hóspedes e muita pressa.
Saí da conversa com um calor sufocante e uma pergunta im- pertinente.
“Será ele o mesmo que tanto amei ?”
Ele virou Anhanguera e não o reconheci.
Lembranças, às vezes, é um lugar confortável.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Você me bagunça
Você me mostra caminhos opostos
caminhos que nunca trilhei,
gosto do seu conteúdo
gosto de como me tira da razão
me faz corar, se envergonhar,
Mas também me assusta
por que sinto vontades,
sinto desejos até então ocultos,
Aahhh que confusão ...
dúvidas e medos!
Mas uma imensa vontade
de acompanhar você!
Estávamos assim, frente a frente,
Eu e o meu eu lírico,
foi um intrigante discussão...
Há tempos que ele me cobra,
me intimida, incomoda.
Sua primeira pergunta...
Que tal transformar a dor em flor?
Eu cego, no meu ego, franzi a testa e respondi...
Não consigo falar, sem a mim observar.
Só sei falar de mim,
da minha própria dor, do meu desamor...
Meu eu lírico, triste, decepcionado,
Colocou-me contra a parede e propôs-me um desafio...
Tente, ao menos tente, seja o que vier na mente.
Aprenda a flutuar, ao escrever sejas tudo. Permita-se.
Antes que eu lhe perguntasse, nem mesmo deixou que eu falasse,
Transportou-me de mim mesma, a ser outras coisas,
a ter outros olhares. Olhe em volta! Veja os versos!
Dos poetas que admiras. Eu, o eu lírico, sempre estou.
Num poema sejas flor, no outro, um gato
ou qualquer outro bicho…
Seja uma dama recatada…
Em outro uma amante debochada…
Fale como se fosses um nobre Cavalheiro,
ou quem sabe sejas, um bêbado na estrada…
Criança, adulto ou idade avançada,
liberte-se e escreva sobre tudo!
Seja o que desejares, o que na escrita te inspirares!
Na natureza sejas tudo!
Fogo, água, ar, tempestade!
Sinta e seja todos os sentimentos,
para uma escrita intensa, fundamentada.
Fale de fé, com cuidado e respeito,
fale do bem e fale do mal.
Eu já sem fôlego, entusiasmada e o eu lírico?
Não parava, pois, era infinito o seu ser,
e queria a minha escrita ampliada!
Enquanto ele falava, eu fechava os olhos
e tudo imaginava.
Desejando que ele nunca mais se calasse.
E segui caminhado na imaginação da minha estrada,
passando por eles, todos os personagens,
que na caminho me esperavam.
À medida que eu andava, percebi,
eu e o eu lírico éramos um,
ele era tudoo que eu internamente desejava.
E todos os meus futuros poemas,
há tempos moravam em mim.
Você é a pessoa mais linda de ser contemplada
Consegue amo mesmo tempo ser básica e sofisticada
É organizada, determinada...
O que pode te parar? Nada
Pois você é gentil e corajosa
É atenciosa, estilosa...
E claro, muito amorosa
Enfim, você é maravilhosa!
E sempre tem um propósito claro ao levantar da cama:
Amar o que faz e fazer o que ama
No calor da tarde,
Um simples abraço -
Sinal covarde.
Virou amasso.
Perdurou por dias,
aquela Paixão (ardente).
Acabou-se porque vias:
o final era pendente
Como um emaranhado -
tão difícil para ser arrumado
(Se faz).
Como apenas um fio
(Se desfaz).
Sente que se vai;
não se vê quando vem
Grito!
Ó paixão!
Preferiria a solidão...
Não fosse tão difícil seguir a razão.
Silêncio; Pensamento
Amor te quero!
Mas ninguém quer me dar-te.
Me desespero.
Procuro pelo abate.
Abate da solitude.
Um fim sem finitude.
Arrasado...
Em busca do parado,
Pela noite acordado.
No amor marcado;
Encontra-se um agrado
Amor onde te acho?
Na rua,
Dentro de um carro,
Sob a luz da lua,
Ou no meio do riacho?
Pensamentos desvairados
Seguem o passado.
Daquilo que já foi,
Áquilo que há tentado.
Indignado,
Coração sem rumo
segue o traçado.
Quem sabe o luto
Te deixa paralisado.
ELA ...
Ela entendeu que ninguém fica
Não existe prisão somente liberdade
Ela entendeu que seu cuidado maior é dela
Ela se ama,
Ela se cuida
Ela sabe que as noites na cama vazia não são solitárias por tê-la consigo
Mas ela também sabe que nunca será esquecida
Todos que sentiram seu gosto jamais a esquecerá
Ela estará povoando seus pensamentos pela eternidade
Porque todos que ela possuiu sentiram seu doce veneno capaz de embriagar o espírito
Indo à Luta
Antes de sair deixo
último poema beijado em
cada corpo que despede
o calor da mão acarinhando na
pele a certeza da presença
que me alimenta
olhos vendo que chegam as
dúvidas, companheiras de viagem
que me abençoam.
Antes de sair
fica último abraço pregado em
cada rosto que despede;
e você, não fique triste
nem se preocupe comigo:
preparei as palavras para quando
a saudade soprar o sabor
do teu perfume. O teu perfume.