Texto Filosófico

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⁠⁠Aos Meus Avós ‐

⁠De onde se é capaz de se imaginar,
eu sinto, como uma primeira
força, que eu nasci dos
meus avós.

Dali:
de onde eu alcanço
o sonho,
os primeiros choros,
os primeiros
passos.

Dali:
da casa cheia, maior,
de todos.
Dos grandes encontros,
das brincadeiras no balanço
da rede, do colchão no
meio da sala,
da sala, dos quartos cheios,
das risadas com os primos
e tias e tios.

Nasci do chão áspero (que
desgastava só os lados
dos pés),
das plantas e da caixa d'água
(fria), com pequenas pedras
e latas em cima e o que eu não
me lembro agora.
Dos quintais de objetos
e pinhas e mamão.
Das histórias
(depois, repetidas inúmeras
vezes),
do pequeno velho espelho amarelo
no lavabo de mãos ao lado do
velho quarto com objetos
e um forte cheiro
de sertão.

Nasci dali:
das conversas, das piadas,
dos longos cabelos, da
tagarela que não para
de falar.
Nasci de onde eu reconheço
(hoje),
o primeiro colo,
o afeto, a ternura, a doçura
nas palavras, nos gestos,
nos cuidados — a proteção.

Assim,
de onde se é capaz de amar incondicionalmente,
eu sinto como uma primeira
força maior que eu nasci
(e eu não sabia ontem),
do primeiro amor dos
meus avós.

Inserida por SilvioFagno

⁠De Coração -

Morrendo como todo
mundo,
sentindo como
poucos.

É assim, de coração:
sentir e ignorar os sentimentos
e desejos mais urgentes,
mais intensos, mais
sinceros,
enquanto aprende a suportar
o medo de perder o que
não é seu. — o que nunca
foi seu, nem nunca
será.

E taí um ato inútil de bravura
daqueles que não têm
mais escolha.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠⁠⁠⁠Os Cães Presos -

A liberdade é algo,
humanamente, muito mais
interior.
As prisões também.

Os cães presos costumam
ser mais agressivos
que os soltos.

Os cães presos
são as pessoas amarguradas,
feridas, ressentidas,
que vivem acorrentadas em submundos,
prisões interiores (frias e
solitárias),
construidas à base de desejos
e sentimentos reprimidos
(rejeitados);
De histórias e planos,
drasticamente, interrompidos;
De confiança e sonhos, cruelmente, destruídos por pessoas (antes,
seus mundos),
irresponsavelmente livres
e inconsequentes - perigosas
demais para estarem soltas
para laços e afetos
verdadeiros.

Inserida por SilvioFagno

⁠Não Me Deixa Te Esquecer Completamente -

Olha,
tenta fazer o que for preciso
paraque eu caia na real e,
de alguma maneira,
te esqueça.

(Me mostra o quanto fica
bem sem mim,
o quanto é capaz de sorrir
com outras pessoas...
Sei lá,
posa ao lado do seu novo
amor).
Mas não exagera
muito!

Deixa sempre alguns dedos
seus encostados em
minha pele;
Deixa alguma pétala caída
em algum caminho por onde
eu possa passar;
Distraída,
finge esquecer alguma
coisa sua aqui em casa,
para que possa voltar;
Sem querer...
deixa um pouquinho
do seu cheiro em algum
objeto meu;
Permita que o brilho da lua,
vez ou outra,
entre pela fresta da
minha janela,
numa madrugada qualquer;
Timidamente,
de vez em quando,
canta, baixinho,
algo da
gente...

Mas não me deixa te
esquecer completamente.

Foi o Tempo que nos
apresentou quando tudo
parecia impossível de
acontecer.

E enquanto houver vida,
haverá tempo para o
impossível acontecer de
novo,
e talvez então, bem maior,
mais seguro emuito
maisbonito.

Inserida por SilvioFagno

⁠Namorados -

⁠Definitivamente,
é a palavra mais bonita
que eu encontro.

Observem a escrita, a forma,
o som...

NAMORADOS.

Além do que, dentro dela
há a palavra Amor.

Pra mim, ela traz a essencial
dúvida de quando se é
adolescente,
aprendiz.
Pois assim,
mantém-se uma certa
malícia com alguma
ingenuidade.

Ela carrega algo de saudade,
de recordação, de nostalgia.
Traduz a poesia de uma
fotografia antiga.
E,
ao mesmo
tempo,
é de onde se sonha
um futuro a dois
para mais.

Traz o compromisso onde
nada é tão sério
e tudo tão necessário.
(Porque depois,
tudo torna-se tão sério
e nada mais, equivocadamente,
tão necessário).

Ela é o que encontramos
nos intervalos do
colégio e nas séries de TV
no sofá de casa.

Ela tem o encanto dos fins
de tarde dos sábados e
das viagens com os
amigos.

A dois,
é como caminhar de mãos
dadas até um jardim
secreto,
cheio de sonhos e
fantasias,
com muitas flores,
alguns animais mitológicos
e uma bela cachoeira.

Ok! Ok! Ok!
Te assusto, né?!

Pareço romântico demais,
sentimental demais,
sonhador demais?

Ora, certamente
porquesou!

Há,
de certo modo,
um jardim assim dentro
de mim.
E
sair,
definitivamente
desse jardim
édesbotar.

Inserida por SilvioFagno

É Isto -

⁠A vida,
quase sempre,
é isto:
algo comum - um
cumprimento, um banho,
uma dúvida.

Uma troca de mensagens,
de roupa, de calçada.

Uma olhada no relógio,
no espelho, na tela.

Um beijo, uma lágrima,
uma despedida.

Uma vontade, uma saudade,
um esquecimento.

E o que se nota
é,
ironicamente,
sempre o que mais
nos falta
ou
o que sobra do que a
gente complica.

Tudo que é calmo,
tranquilo,
sereno...
perde a graça, esfria,
desinteressa.

Porque a vida,
me parece,
é isto:
o barulho das coisas
caladas;
a presença do que
está ausente;
a saudade do que não
foi vivido...

A vida é, então:
desordem, drama, descontentamento.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠⁠⁠⁠⁠É Tão Fácil Escrever -

⁠Saiba que não há
aqui,
com isto de:
"é tão fácil escrever",
um descaso ou desdenhe
com a escrita.
E sim,
um louvor, uma devoção
entusiasmada com o
sentimento.

Digo,
distribuir palavras
no branco do papel,
ainda imaculado.

Despejar metáforas,
anáforas, ironias,
afim de alimentar desejos;
afim de iluminar sonhos;
afim de enxuguar lágrimas
ou chorá-las mais e
mais em versos:
celebrar!

Ganho, com isto,
coragem para confessar
aqui um caso,
quase um romance
com os advérbios.
Indubitavelmente eles
me acolhem,
me protegem,
me apontam para novos
sentidos, para novos rumos,
para novas direções.

É difícil viver num mundo
onde precisamos,
a todo custo, a todo
momento,
explicar, justificar
adjetivos.

(Que as interjeições não
me ouçam sobre os
advérbios: as quero
também).

Mas, neste
"caos-linguístico-poético",
difinitivamente,
não sou criatividade
em Pessoa
nem tenho a fineza
do corte preciso de
um Machado
nem mesmo a essência
disfarçada de Pássaro
Azul ou Corvo,
encoberta por uma
melancolia crônica
de escritores (genialmente
malditos), do
submundo.

(São as dúvidas que me
dominam e por elas
eu também escrevo).

Em certos dias,
tudo flui de maneira
orgânica, natural.
(Quase não procuro,
com tanto esforço,
as palavras, os
encontros).

Agora mesmo elas me
acham e eu não
tenho muito a
escolher,
a não ser sê-las.

Mas há dias que eu
perco a fala,
a ideia,
o pensamento.

Há dias em que sou
esquecido pelos deuses
ou pelo diabo,
não sei.

Há dias tão vazios,
ocos,
que nem a Poesia
me alcança.
Dias em que eu fico
por dizer, entalado,
sufocado...
pois, difícil mesmo,
extremamente complicado é,
com tanta coisa
por gritar:
calar-se - silenciar,
emudecer.

Inserida por SilvioFagno

⁠Aos Trinta -

Agora
que já estou em meio
aos trinta
(considerando que sou um
tardio leitor),
quero ler pouca coisa,
pouquíssimas,
só alguns poucos
e decentes autores.
Não quero me compromissar
com tantas gente
assim.

É sempre um peso,
uma responsabilidade
submeter-se aos grandes
filósofos, poetas, escritores
da história.

Não, não quero!

Não quero ser influenciado
por mais gente além de
Pessoa,
Saramago
e Bukowski.

Talvez
um pouco de Clarice,
Gullar e Drummond.
Não muito,
só um pouco.
Ou alguma coisa de Neruda,
Bauman, Kant, Kafka ou Poe.

Nunca li Shakespeare,
nem Quintana,
nem mesmo Machado
ou Camões.
Nem seres como
Dostoiévski, Aristóteles,
Sócrates e Platão.
E Nietzsche e Shoepenhauer
eu desisti no primeiro
livro.

Não,
não quero conhecer a
essência do céu
ou do inferno
dessas grandes
mentes.

(Fragmentos,
aforismos:
isso me basta).
Não quero mais que
isso!

Há,
assim,
uma espécie de alívio,
uma certa paz
ou talvez liberdade
ou... sei lá o quê,
qualquer coisa assim...

menos a resposta.

Inserida por SilvioFagno

⁠Nada Mais Será Seu -

⁠É tão difícil não poder dizer
o que se quer
gritar.

Ter que observar calado,
seu pequeno grande
mundo - coração -
escapando por aí,
mundão afora.
E você distante, incapaz,
inseguro,
sabendo que mais cedo
ou tarde nada,
nada mais será seu.

(Ora,
mas afinal,
quando é que foi?).

Inserida por SilvioFagno

⁠Num Só Peito -

Mais cedo ou mais tarde
chega um momento
na vida
que é preciso sossegar
num só peito.

De cheiros e gostos
repetidos;
de manhas e manias
repetitivas.

Então,
quando o sentimento se faz
maior que a própria
vontade (se tornando a
própria vontade),
chegou a hora de largar
mão de aventuras
passageiras e fugazes
e, no afeto,
garantir o melhor e
mais seguro abraço
do mundo:
o da volta pra casa.

Inserida por SilvioFagno

⁠Acabará Logo Ali -

Vai acabar logo,
não tem jeito.

De maneira natural,
tudo acabará
logo ali.
E se algo der errado:
antes,
sem nenhuma
chance.

Entre uma gripe
e outra,
entre um arranhão
e outro,
entre uma diversão
e outra,
enquanto brincávamos
a infância se foi.

Entre uma dúvida
e outra,
entre um medo
e outro,
entre amigos, namoros,
corações partidos,
experimentos e
aventuras,
sem que percebêssemos,
lá se foi a adolescência.

Entre um boleto
e outro,
entre aniversários e
filhos e sexo
e brigas
a vida vai se desgastando
calada (com todo seu
barulho),de sonhos
edesilusões,
misteriosa,
ligeira e
finita.

(O último apaga
a luz).

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Coisas Que Me Interessam -

Faça o que quiser,
como quiser.
Afinal,
ninguém tem
nada a ver.

Mas saiba que, pelo menos
pra mim,
na hora de analisar
uma pessoa,
entre tantas coisas que
me interessam,
eu costumo olhar atentamente
caráter -pois todo o resto
é sempreconsequência
desse.

Inserida por SilvioFagno

Certamente Pensam -

⁠"Que cara mais chato,pessimista, resmungão..."
certamente pensam.

A verdade é que eu também
gostaria de poder escrever
aqui
algo belo sobre respeito,
sobre reciprocidade,
sobre admiração...
algo feliz sobre o amor.

Mas acontece queeunão
sou um exemplopositivo
de alguém queconheceu
o amorenquanto
era-o.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Já Era Tarde -

Apesar de escrever, naturalmente, desde sempre,
gostaria de ter me descoberto
poeta mais cedo:
talvez,
no início da adolescência.

Quem sabe assim teria
escrito coisas mais
leves,
mais lúdicas, mais
positivas.

Quando me descobri
poeta já era
tarde:
O amor havia perdido
a cor, o gosto,
o cheiro.

Minha escrita já estava revidando pancadas,
golpes violentos, covardemente
praticados.
Já andava meio amarga,
nostálgica e quase
sem esperança.

Hoje, inevitavelmente,
aceiteia condição:
Não há cura para quem
nasceu poeta.

Inserida por SilvioFagno

É Por Medo -

É por medo da rejeição
tantas vezes
provada.

É por medo da vergonha
tantas vezes
sentida.

É por medo
que a gente deixar de dizer
o quanto tem
saudade;
o quanto
pensa;
o quanto sente
falta.

E são por esses mesmos
motivos
que a gente assiste - sangrando -
um (possível) grande amor
indo embora.

Inserida por SilvioFagno

Tão Perdido e Confuso Quanto Ele -

Eu olho um adolescente e
penso:
ele ainda tem chance - tem tempo.

Pode optar por algo
seguro como
estudar,
arrumar um emprego
e formar uma família.

Eu já estou no meio dos trinta,
não tenho diploma
algum,
estou desempregado,
sem nenhuma
perspectiva,
e destruíram, covardemente,
meu sonho de
família.

E o mais assustador:
eu me sinto tão perdido
e
confuso quanto
ele.

Inserida por SilvioFagno

Aquelas Noites -

Ainda lembro
aquelas noites quando ainda
éramos nós
e,
de tão cheia,
a cama faltava espaço
e só eu não conseguia
dormir.
Mas,
ainda assim,
olhando vocês ali,
meu coração respirava
aliviado.

Agora
a cama até sobra espaço
e, ironicamente,
meu peito está apertado
e,
de novo,
só eu não consigo
dormir.

Inserida por SilvioFagno

Onde Eu Tanto Quis Estar -

Eu sei,
agora é só questão de tempo
até que ela anuncie um novo
romance,
antes de outros que,
possivelmente, ainda
virão.

Sim,
provavelmente nem será,
de fato,
o seu grande amor ou o seu
último romance.

Mas eles serão, por um
tempo,
somente um do outro
(imagina-se).

Trocarão mensagens antes
de dormir e ao
acordar;
passearão de mãos dadas em
shoppings e praças e
festas;
assistirão filmes e
séries e ouvirão
músicas no modo aleatório ou
não,
boas ou não,
dividindo um pote de chocolate
e
fones de ouvido já gastos,
num sofá na sala a meia
luz, sob um cobertor
macio nos dias
mais frios.

Contudo,
haverá esforço e
cuidados de um mais do que
do outro e, ainda
assim:
beijos, abraços e carícias
serão deles para
eles.

E eu estarei aqui,
assim: distante, mais
distante ainda.

Só.

A observar e lembrar e pensar:
olha só que cara de
sorte - está exatamente
onde eu tanto quis
estar.

Inserida por SilvioFagno

Gente Grande é Mesmo Idiota -

Ontem,
enquanto brincávamos no
quarto,
meu filho e eu,
lembrei de certas
coisas corrosivas que, hora ou
outra,
ainda me alfinetam o peito,
me tiram a calma.

E então,
junto àquelas lembranças,
eu fiz aquele som com a
boca, que denuncia
alguma insatisfação, algum
lamento ou incômodo.

Meu filho,
que agora está com quatro
anos e meio,
ouvindo aquele estalo
me questionou:

"o que foi, pai?"
"Nada". Eu o respondi.
"E por que essa cara feia,
então?!" Ele outra vez.

Eu,
sem graça,
pensei:
gente grande é mesmo
muito idiota - desperdiça o pouco
tempo que lhe resta,
sofrendo por coisas e pessoas
estúpidas.

Inserida por SilvioFagno

O Cinza é a Minha Cor Preferida -

Eu esqueci,
durante alguns segundos,
esta tristeza profunda
que bagunça minha morada
interna.

Nestes poucos segundos de
desatenção, eu respirei livre,
sem dor, sem angústia.

Neste breve estar de leveza,
eu não fiz quase
nada.

Serviu apenas
para lembrar-me que, apesar
de muito difícil,
hora ou outra, sem muita explicação,
a vida nos traz traços de felicidade
em pequenas e raras porções de paz e tranquilidade.

Aproveite para aprender:
há uma saída, ainda que a gente morra
no final.

Sim,
meu universo já voltou
ao normal.

Inserida por SilvioFagno