Telefone
Vivemos em uma era em que opiniões valem mais que fatos. Qualquer um com um telefone e uma conexão é um especialista, e o ruído coletivo substituiu o conhecimento. A ironia é que temos acesso à maior quantidade de informações da história, mas nunca estivemos tão desinformados.
A falta de amor entre um casal não é culpa de um telefone celular. Culpar o telefone é eufemizar o desequilíbrio afetivo que existe
e os olhos não permitem enxergar. O telefone é apenas um instrumento de fuga real e subjetivo para não admitir que o ponto que chegou a relação.
Uma reação emotiva
ao atender o telefone
e ouvir uma voz capaz
de fazer o meu coração
tocar como um sublime
conservatório em gala
por fazer-me fascinada.
Com cumplicidade vamos
adiante ao que interessa
como quem passeia de bonde
desfrutando a paisagem sem pressa;
Porque um mundo novo não será
nunca mais adiado e nos espera.
Envolvidos pelo perfume
dos nossos desejos místicos,
Como invencível trindade
eu, você e o amor atlântico
sagramos o nosso romantismo.
ENTRE AS MOSCAS
Toda vez que o telefone toca meu coração dispara como cancioneiro errante.
Testando o cheiro hediondo da gasolina.
Antes do sorriso, da flor e do “amor”.
Existe o morro, a fome e pessoas pobres.
E o sonho de ser feliz que permeia-se no gemido calado do filho mal nascido da madona que nutre os filhos de uma realidade perenal fundada na tônica que embala o discurso formal.
Não devemos romantizar essa realidade que sangra!
Meu Brasil...
De onde veio meus destinos.
Tantas almas espichadas no curtume sob o negacionismo estrutural.
Funde minha cuca...
Essa noite eu deixei uma luz acessa todo o tempo.
E sob seus poucos lumes, me transportei a um passado presente.
A morte não é cessação da vida!
abraçar, beijar, amar, sorrir, chorar, sonhar. Por que guardar isso?
Eram poucos os fios prateados do vovô.
Seus parcos sonhos divergentes aos da criança que queria ser grande.
Mas ele nunca contou nem me deixou saber que a vida depois de crescido
Rala o peito.
Há mulheres que vivem murmurando, ouvindo novelas e falando o que não presta ao telefone, sem notar que a mente está sendo corrompida por estas influências negativas.
Pare os relógios, cale o telefone; evite o latido do cão com um osso; emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie a vinda do caixão, seguido pelo cortejo. Que os aviões voem em círculos, gemendo e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu. Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu. Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste, meu oeste. Meus dias úteis, meus finais-de-semana; meu meio dia, meia-noite, minha fala e meu canto… As estrelas não são mais necessárias, apague-as uma por uma. Guarde a lua, desmonte o sol. Despeje o mar e livre-se da floresta. Pois nada mais poderá ser bom como era antes.