Tag soneto

26 - 50 do total de 1111 com a tag soneto

SONETO LXV
Se a morte predomina na bravura
Do bronze, pedra, terra e imenso mar,
Pode sobreviver a formosura,
Tendo da flor a força a devastar?
Como pode o aroma do verão
Deter o forte assédio destes dias,
Se portas de aço e duras rochas não
Podem vencer do Tempo a tirania?
Onde ocultar - meditação atroz -
O ouro que o Tempo quer em sua arca?
Que mão pode deter seu pé veloz,
Ou que beleza o Tempo não demarca?
Nenhuma! A menos que este meu amor
Em negra tinta guarde o seu fulgor.

SONETO LXX
Se te censuram, não é teu defeito,
Porque a injúria os mais belos pretende;
Da graça o ornamento é vão, suspeito,
Corvo a sujar o céu que mais esplende.
Enquanto fores bom, a injúria prova
Que tens valor, que o tempo te venera,
Pois o Verme na flor gozo renova,
E em ti irrompe a mais pura primavera.
Da infância os maus tempos pular soubeste,
Vencendo o assalto ou do assalto distante;
Mas não penses achar vantagem neste
Fado, que a inveja alarga, é incessante.
Se a ti nada demanda de suspeita,
És reino a que o coração se sujeita.

Soneto de aniversário

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envelhecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

Vinicius de Moraes
Antologia poética

Soneto

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio

~ Soneto 53 ~

De que substância foste modelado,
Se com mil vultos o teu vulto medes?
Tantas sombras difundes, enfeixado
Num ser que as prende, e a todas sobre excedes;

Adônis mesmo segue o teu modelo
Em vã, esmaecida imitação;
A face helênica onde pousa o belo
Ganhou em ti maior coloração;

A primavera é cópia desta forma,
A plenitude és tu, em que consiste
O ver que toda graça se transforma

No teu reflexo em tudo quanto existe:
Qualquer beleza externa te revela
Que a alma fiel em ti acha mais bela.

~ Soneto 29 ~

Quando, malquisto da fortuna e do homem,
Comigo a sós lamento o meu estado,
E lanço aos céus os ais que me consomem,
E olhando para mim maldigo o fado;

Vendo outro ser mais rico de esperança,
Invejando seu porte e os seus amigos;
Se invejo de um a arte, outro a bonança,
Descontente dos sonhos mais antigos;

Se, desprezado e cheio de amargura,
Penso um momento em vós logo, feliz,
Como a ave que abre as asas para a altura,

Esqueço a lama que o meu ser maldiz:
Pois tão doce é lembrar o que valeis
Que está sorte eu não troco nem com reis.

Quase um soneto para ela.

Eu preciso de tudo em você
Do seu choro ao teu sorriso
Para que eu complete o meu ser
E o teu ser conforte-se comigo.

Eu preciso que tu me envolvas em paz
E que seus olhos curem o meu coração ferido
Tu não sabes o bem que me traz
Quando estou fraco e sentindo-me perdido.

Eu preciso ficar em tuas doces mãos
Com teu sorriso que acalma minha alma
E alegra por inteiro meu pobre coração.

Eu preciso do teu amor para sentir
Que será a minha mais bela inspiração
Para que simples assim, eu faça sorrir teu coração.

Thalita
Ela entrou sem pedir nada, apenas sorriu.
E como fosse pouco, deu carinho, beijo e abraço.
E cada hora era minuto, se desfez o tempo e o espaço.
E, nos seus braços, algo de bom em mim surgiu.

Mas cada centímetro de distancia é dor, é falta.
E a ausência do teu cheiro é quase inexistência de ar.
E ela, serena, me acalma quando sua presença ressalta.
Menina dos olhos puxados, como não amar?

Abrace-me, como fez no primeiro dia.
Me enlace como se não houvesse outro dia.
E a cada dia eu sei que por você tenho mais desejo.

Pois quando estamos juntos somos apenas um.
Me diga, como não amar uma pessoa tão afetuosa?
Meu anjo, meu bem, antes de dormir, meu beijo.

Soneto do amor platônico

Foi na tua ausência que senti
Onde existia você, ficou a dor
Razão pela qual “Je suis ici”
A cumprir mecanicamente meu papel de ator

Tentando não ser apenas um número
Entre tantos moribundos, reconheço meu vazio
Meu amor, desatento, na madrugada de frio
Eu não sei em que rua entro

Rondo, ando, paro e fico
Ganho tempo, mas nada muda
Ouço o vento de melancolia, me ajuda?

Lugar nenhum é seguro com sua ida
Poucos são os espaços para o amor
Entre tantos desejos, a sua volta é a mais querida

“Dia 1
-
Um prelúdio necessário aos tolos
Numa busca incansável pelo recomeço
O ensejo de esperança em todos
Faz surgir até mais subtil apreço;

Se tu sabes que, de facto, sempre penso
E penso que neste motim não me vinculo
Há esperança em tudo o que vejo
Bem como o pessimismo estrídulo;

Os vícios são relativos a cada ser que vive
Insanidade é mantê-los almejando mudança
Nisto vê-se no início dos comemorantes ineptos

E mantém-se um hábito que insiste
Num passado imerso em inseguranças
Erros que se repetem como implícitos preceptos.”

CHORO A VENDA

Vende o choro da esperança
lagrimas expelida a banho
vende o avanço da medicina
em gotas soltas de sonho.

Compra um canto de um canto
de um amor belo encantado
compra felicidade com encanto
e paz reinando a todo lado.

Compra as flores do arrebol
com lenço branco exposto ao sol
dadiva de luz, sem nostalgia.

Compra a energia do universo
junto à poesia rimas e versos
e felicidade expressando alegria.

Antonio Montes

ESQUIVAMENTE

Pensar é uma virtude pensativa
de quem pensar resolve em pensamento,
discernindo, pois tem discernimento,
e agindo, ativamente, na passiva.

Parece que pensar é coisa viva
que atinge por si só o seu intento,
porém, se de pensar morre o jumento,
pensarei em pensar de forma esquiva.

Eu penso, logo existo, diz contente
quem não existe mais pois já não pensa,
e, mesmo estando morto, está presente.

Pensar não é tão mau, mas é doença
se alguém põe-se a pensar constantemente,
e penso que pensar não me compensa.

Marcos Satoru Kawanami

.

⁠seduza com sua mentalidade, pois o corpo é muito barato. 
tão barato que pode ser negociado,
pois há quem o trate como um prato
suje como fazem os ratos

já estamos num grande cardápio

use um osciloscópio
tome um pouco de ópio
sinta o êxtase onde não há energia a compartilhar, 
somente peças a desembrulhar.


seduza com sua mentalidade, pois é o único lugar onde ainda há liberdade. pois do corpo já somos prisioneiros, 
feito porcos num chiqueiro.
do corpo somos julgados, até sermos abusados.
do corpo somos rotulados, até sermos pós-graduados.


não há sensibilidade no coração da sociedade
não há demagogia num peito em hemorragia


seduza com sua mentalidade de tal modo que não importe sua idade. 
de tal modo que esconda toda futilidade diante de toda a superficialidade.
mais barato que o corpo ainda é uma mente que não enxerga igualdade. 
é uma mente em efemeridade.

Amor frio não é amor, o nome disso é 'costume', amor é fogo que arde sem se ver [...]

Ninfa justiceira

Sou ninfa justiceira das matas selvagens
Sob o cajado da justiça os olhos da águia
Ao instinto de um lobo no ato das imagens
Nos passos de uma onça que me faz guia,

Sobre a devoção da força de um tigre, vou!
Nos passos que descanso meu pé no chão
Aos malfeitores de dores meu forte não;
Minha sentença de ninfa justiceira dou!

Depois de dez olhos mirados no tempo,
Condeno até ao mínimo vil pensamento
Sem a sombra malévola, tudo fica limpo!

E depois das matas a cidade de pedra
Na metrópole posta - me guardiã o vento
As feras na simbiose em mim se faz Esdra!

Perfume de infância

O perfume no jardim
Espalhou o jasmim
Brincando por ali
Logo o perfume senti!

Que infância bela,
Tínhamos eu e ela!
Eu e meu pé de flor
Cúmplice de amor!

Eu dizia assim:
- Flor de jasmim,
Traz um príncipe pra mim!

O jasmim me ouviu
Um príncipe me buscou
E a bela flor por lá, só ficou!

Soneto de Natal

Um homem, – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca.
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Machado de Assis
Ocidentais (1901).

SONETO DUM PISCIANO

Sou peixes, das águas da emoção
dum olhar profundo, sou cardume
que bóia na nascente do coração
das irrigas condoídas, e de nume

Ter zelo e dedicação, sua missão
doar-se num dos lados do gume
alma encharcada de expressão
gota a gota, afeto com perfume

Banha o outro nas tuas chagas
içando doçura nas tuas austagas
peixes, místico servidor do amor

Neste mar, e com suas dragas
devora a tirania, e as pragas...
Do zodíaco, eterno sonhador!

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

ENTRE SOMBRAS (soneto)

Ao pé de mim vem o entardecer sentar
No cerrado, a noite desce, sombreando
Vem ter comigo hora pensativa, infando
Em uma visão das saudades a lamentar

Pousa tua mão áspera em mim, causando
Nostalgias no coração dolorido a chorar
São suspiros vaporosos ecoados pelo ar
Tão tristes, ermos, do vazio multiplicando

Na noite há um silêncio profundo a orar
Exalando a secura da dor impactando
No peito, que põe os olhos a lacrimejar

Eu a escuto imóvel, apático, sem mando
No vago da solidão, e me ponho a urrar
Às estrelas, que no céu voam em bando

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano

PRIMAVERA (soneto)

Ah! Chegou a estação da primavera
Quimera, com seu perfume multicor
Que sejamos tal. Ah! Quem nos dera,
Assim desabrochar no botão do amor!

Pelo chão musgos, nos troncos a hera
Em cada haste, a prenda do Deus cultor
Traz à poesia cor. O belo assim quisera,
E o afável em espera, cheiro acolhedor;

Cantam os pássaros, na doce aurora
O sol então suspira, e a vida ao dispor
Cada tempo, encanto, de hora em hora;

A qual a alma da terra gorjeia chão a fora.
Nasce a primavera... e neste tenro andor:
As flores diversas, ornam a variada flora...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
23 de setembro, 2018
Domingo, Cerrado goiano

De corpo, alma, mente

Sentindo teu coração pulsar,
Batendo bem forte,
Percebo a sorte
Que foi te encontrar.

Meu sangue ferve.
Nesse quarto a gente se ama,
Nos deliciamos nessa cama,
Minha alma fica leve.

Não vejo a hora passar,
Em teus braços
Sinto o tempo parar.

Nos encaixamos perfeitamente.
Eu te amo
De corpo, alma, mente.

Aos encantos vindos de ti me apego
Embebido à sombra de teu carinho
Certo de não mais estar sozinho
E se for preciso do mundo abnego

De súbito na vida me acho cego
Ao ver surgir a ti novo caminho
Restando-me a tristeza que carrego
Assim o jasmim se exibe espinho

É o destino agindo fora de hora
Um alerta agudo no peito que arde
E de repente te vejo ir embora

Dar valor ao que se tem é pura arte
Ante o adeus que surge cedo ou tarde
Porque na vida toda pessoa parte

30/06/2018

Minha rosa é toda flora, reluz!
Colorida, pungente, gradiente encanta e seduz.
O delicado perfume inebria
e um misterioso encanto irradia

Minha rosa garbosa, não chora! ela se ri!
Se ela se ri, também prá mim sorri !
Se reza ou se ora, em toda flora é glamorosa,
Pra rezar e pra sorrir inspirado no encanto da rosa.

Minha rosa parece que chora,
Ora, também comungo com ela, se ela chora ou se ela ora.
Ela de pétalas unidas e eu à fitá-la de mãos caídas.

Minha rosa está formosa, nas pétalas seu brilho é fulgor.
O sol é seu alibi, nele forja-se o próprio encanto e vigor
E aqui nasce o mito da flor!
(ODE À ROSA - meu primeiro soneto ACarlos)

04/07/2018

QUEIRA-ME BEM
Queira-me bem porque o resto tu tem,
vem de mim este ousado querer,
abrindo este novo amanhecer.
Este é o maior bem, meu bem, "te tenho me tens"!

A conjugação é restrita, cabe no exíguo espaço de um simples querer.
Te quero, me queres...
Querer por querer é apenas uma simples medida de ser
mas, amar por amor este sim tem calor.

Na alquimia do amor, o querer vem como desejo de ter,
enquanto o ter se confunde com o ser...
Te tenho, me tens...não apenas sou, somos!

Somamos prazeres e conquistamos lindos amanheceres
"A vida em nós acontece enquanto em nós sonhos florescem
Vivendo sempre este novo amanhecer de calor e amor!"

Através da vidraça os olhos já não alcançam
o horizonte em detalhes acinzentados,
descortina-se lá fora a visão da liberdade,
embora ali dentro existam braços acorrentados

Sobre a mesa simples a louça especial,
ornando com a toalha de renda branca e linda,
tingida por pétalas de flores caídas,
apenas lembranças, outra tarde quase finda...

O corpo transpirou e quase dormente
deixou agitar o coração em desarmonia,
n'alma os sonhos, aos poucos, sucumbiram...

Percebeu grande vazio, tão de repente !
flutuando nesse escuro vácuo de agonia,
ao amor que se ausentou, lágrimas surgiram...