Tag negros
Os brancos pretendiam saber melhor do que nós quem nós éramos e de onde vínhamos. Eles nos apalparam, nos pesaram, nos mediram. As conclusões a que chegaram foram categóricas: nossos crânios eram caucasianos, nossos perfis, semíticos, nossa estatura, nilótica. Eles conheciam até mesmo nosso ancestral, estava na Bíblia e se chamava Cã.
O mundo sempre dirá que você é outra coisa. Muito escuro, muito baixo, tanto faz. Precisamos mostrar que mulheres e homens negros são emotivos, fortes, espertos, intuitivos.
Se Vênus Contasse
Uma desconhecida atravessa o caminho de um desconhecido.
Um desconhecido conhecia uma desconhecida.
O desconhecido lembrara de ter visto a desconhecida em algum momento.
A desconhecida de cabelos coloridos fora xeretada pelo desconhecido que queria se enturmar.
O desconhecido foi implicante com a desconhecida.
A desconhecida foi bem-humorada com o desconhecido.
O desconhecido viu que a desconhecida era lerda.
A desconhecida viu que o desconhecido era bobão.
O desconhecido ficou intrigado com os cabelos da desconhecida.
A desconhecida disse que seu cabelo era rosa ao desconhecido.
O desconhecido sugeriu que a desconhecida o pintasse de azul.
A desconhecido queria culpar o desconhecido pelo resultado.
O desconhecido disse que sugeriu a desconhecida um gênero musical.
A desconhecida não soube o que pensar sobre ao que se referia o desconhecido.
A desconhecida era diferente do desconhecido.
O desconhecido se sentiu desconfortável pela desconhecida.
Mas os desconhecidos pareciam que já se conheciam.
Faz tempo desde este dia.
Aqueles desconhecidos são mais desconhecidos.
Aquelas criaturas desconhecidas encantaram-se uma pela outra.
Aquela desconhecida apaixonou-se por aquele desconhecido.
Aquele desconhecido apaixonou-se por aquela desconhecida.
Seus toques desconhecidos tornaram-se conhecidos.
Hoje, o desconhecido abriga-se no futuro.
Eles esperam ser felizes com seus conhecimentos.
O bobão sudestino com a sua implicância; A lerda sulista com os seus cabelos negros, porém castanhos.
Toda vida importa, mas as VIDAS NEGRAS vem de um sofrimento secular, marcas e cicatrizes na pele e acima de tudo na ALMA!
Todas as vidas importam, mas, algumas pessoas, não dão importância quando é de um negro. Então, Vidas negras importam.
Me arrisco a dizer que se os negros não se organizassem em movimentos poderosos ao longo desses anos a população negra teria sido dizimada ainda na primeira metade do XX.
Estou saudando o Atlântico negro, para que me traga notícias de lá, eu quero meu sobrenome Africano da minha linhagem familiar, pois sinto que não sou daqui, pra casa eu quero voltar
"Vivemos a diáspora, respiramos ela. Somos ela. E por ser uma história de todos nós, temos que assumir o compromisso coletivo, político e educativo de apoio e reconhecimento desse patrimônio cultural".
quando um negro chega a um lugar importante, todos os negros devem sorrir pois através daquela pessoa, o mundo está um pouco mais perto de ver nós negros de uma maneira melhor
Desejo aos meus amigos paz e serenidade para entender e conviver com os desiguais. Desejo, também, a perspicácia de um guerreiro para enfrentá-los quando estes se rebelarem contra a liberdade, as mulheres, os negros, a natureza, a humanidade.
Não existe mais espaço para se jogar futebol nas grandes cidades. Os jovens negros são as primeiras vítimas desse fenômeno.
[...] É para mim justo,
por sua morte não farei luto.
Eu a odiava, era recíproco.
Fez mal aos meus irmãos
mas passou como vulto,
não vou cantar canção,
Não lhe prestarei culto.
O cafetão que a usou,
cruel ladrão, astuto.
Feriu, engravidou[...]
Matou, tudo oculto.
Seja por ele, ou por ela,
não falarei, não farei tumulto.
Não terá traço em minha conduta
Ainda que veja em alguns, a sombra
Seu olhar não me assusta
Sua voz não me assombra.
Em mim, habita o perdão
É o núcleo da minha religião
O sonho agora tem direção,
Preto, índio ou branco, é tudo meu irmão.
Amor é como um buraco negro... Te cega da realidade dentro dele, ao redor é lindo e brilhante, e uma vez dentro dele, é difícil sair.
PELOURINHO
.
Bate na palmeira o vento
E o negro por um momento
Julga ser a brisa do mar
Mas percebe muito tarde
Que são brancos covardes
Que vieram para lhe buscar.
.
Sem se despedir da família
Sob gritos que o humilham
Vê distanciarem-se os coqueiros
E num barco com outros tantos
Prisioneiros em pleno pranto
É levado ao navio negreiro.
.
São centenas de nativos
Transformados em cativos
Homens, mulheres e crianças
Que no porão do navio
Passam calor, fome e frio
E perdem a noção da distância.
.
Os que se mostram valentes
São presos com correntes
E obrigados a se calar
Pois com crueldade desmedida
Não relutam em lhes tirar a vida
Os lançando ao frio mar.
.
Ao serem tratados feito bichos
Não entendem a razão do sacrifício
Pelo qual estão passando
Será maldição dos orixás
Ou os demônios vieram nos buscar
E para o inferno estão nos levando?
.
Depois da árdua viagem
Os de maior força e coragem
Chegam ao porto estrangeiro
E aquela estranha gente
Falando numa língua diferente
Os troca por algum dinheiro.
.
Vão para lugares variados
Os de sorte se tornam criados
Mas os demais que a elite avassala
Têm como destino os açoites
E as delirantes noites
No duro chão das senzalas.
.
O cepo, o tronco e a peia
Lhes tiram o sangue das veias
E a sua resistente dignidade
Os grilhões e máscaras de flandres
Lhes derrubam o semblante
E eles sucumbem à saudade.
.
Muitos veem nos pelourinhos
A única alternativa e caminho
Para fora da vida trágica
Pois o escravo que é forte
Encontra na própria morte
A chance de voltar à África.
Enquanto não formos humanos conscientes da cor das nossas ações e das reações causadas em função delas, a cor da nossa pele continuará sendo importante
Afeto entre nós é conexão ancestral.
Por que eu não te amaria se eu me vejo em você?
Pode parecer narcisismo, mas olha sua cor, tão perfeita! ela parece com a minha. Seus olhos castanhos e seus cabelos negros, seus traços, seus gestos, tudo em você é tão sutil e agressivo ao mesmo tempo que me sinto afetada. Encantada.
Afeto.
Seus lábios grossos, quentes. Sua pele num "tom aveludado", suas mãos, suas dores; elas se parecem com as minhas. Nos seus olhos eu consigo ver todo julgamento que jogam em você, eu sinto o peso que é estar nessa pele. Não no corpo, o peso do teu corpo eu sinto de outra forma, sinto fisicamente. Mas o seu sofrimento, o seu olhar me mostra.
Por isso me sinto afetada. Por isso eu quero sentir a temperatura da sua respiração no meu pescoço. É como um café quente, recém coado que me estimula nas manhãs.
Quero aliviar, pra gente, tudo que já passamos. Dentro de mim tem uma vontade incansável de te salvar de todo o caos que já nos causaram. Te oferecer isso é como se estivesse fazendo a mim mesma. Por que eu me vejo em você.
Quanto te tenho em meus braços é como se me abrigasse num mundo feito de nós mesmos. Naquele mundo que nossos ancestrais nos mostram naqueles sonhos lúcidos feito de nostalgia de uma vida que não sabemos como as vezes vem a tona, mas sabemos que existiu.
Eu te quero, te aceito, te mantenho em mim. Por que me vejo em você e você é para mim tão importante quanto eu.
Disseram que tudo ia melhorar.
Pois bem, não mentiram
Só não falaram para quem.
Não importa o século, a história só muda o cenário. E assim continuamos a mendigar serviços por meras migalhas...
Triste é ver autores (certamente brancos) colocarem brancos para interpretarem índios, brancos para interpretarem indianos e ainda brancos para representarem personalidades negras em filmes, peças de teatro e novelas!
Deixem-nos contar a nossa história através da representação!
Para mim não existem brancos, negros, índios ou amarelos, apenas seres humanos: opressores e oprimidos.
Quando deram a liberdade aos negros, nosso abandono continuou. O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade. Mas que liberdade?