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Não era pra ser uma data especial. Sem falar que a palavra "especial" me soa muito clichê, uma palavra bonitinha que todos usam descaradamente pra acobertar o falso sentimento de compaixão e harmonia. E sem falar que naquele dia você estava mais bêbado que frequentador de boteco numa quinta. Você transparecia o vazio, a necessidade de ser feliz saía como odor da sua boca.
Naquele dia senti seu verdadeiro lado, aquele que você escondia. Sentia que tinha textura de carne podre. Você estava apodrecendo, se segurando a um sentido de vida manipulado. Você se enganou, não é assim que as coisas acontecem. Você não é um coitadinho sem meios de sobrevivência mais digno.
Migalhas,
Migalhas de você mesmo
Migalhas de medo inventado
Migalhas
Grito de socorro induzido por um passado que você se recusa a superar.
Não era uma data especial. Acredite. Aquilo foi um golpe da vida que lhe socou o estômago e você preferiu achar que o mesmo arrancou-lhe suas pernas.
Você corre em círculos
Círculos milimetricamente feito por você mesmo,
Desprezível,
Eu sei de seu drama, eu sei quem você é. Eu sei o que você quer.
"...Ah! não acredito! Então vamos comemorar. Mas primeiro dê-me um abraço"
Você me abraçava forte, bem forte mesmo querendo ter forças suficientes para segurar uma alma que se partia enquanto eu tentava não surtar. Você dizia que o dia seguinte estaria tudo bem do mesmo jeito que alguém não menos importante já dissera há meses atrás. Eu não conseguia sair do transe que meus olhos vidrados na escuridão da madrugada impôs. Sentia que meu espírito se esvaíra para algum lugar. Minha alma se partia e vazava constelações. Mundos que deixei de viver por estender a mão a um mendigo faminto; eu só queria acertar. Não me restara segredos a guardar. Não me restara loucuras a fazer. Não me restou nada além da dor inexplicável por não ter os pés no chão. Por não entender o motivo das estrelas não terem esmagado o mundo com o brilho feroz que destaca um céu que eu um dia toquei e me decepcionei ao sobreviver à queda. Que me julgue egoísta, mas não desejaria tamanhos pensamentos sem respostas a quem já sobrevive a dias difíceis...
Você me abraçava forte e me trouxe de volta quando sussurrou ao meu ouvido “Você foi forte, você ainda é. Eu sei que vai conseguir...”.
Deixe seu coração determinar sua ida.
O mundo é um labirinto semi-conhecido, só vire à direita se quiser.
Poema
Certa vez eu estava sobre o topo de uma montanha. Dali podia ver tudo ao meu redor. Fiquei ali admirante e entristecida, vendo sua beleza e destruição! Suas riquezas e pobrezas! Suas alegrias e tristezas! Homens cantando, homens chorando! Crianças nascendo, crianças morrendo! Velhos amparados e velhos abandonados! Enfim, tudo o que há em nossa terra amada. Um homem ali ao meu lado que também observava tudo perguntou-me:
— O que vê?
— Um mundo tão desigual que beleza não tem igual. Seus verdes e montanhas, seus coloridos me fazem delirar, mas, a desigualdade me faz chorar.
— O que pensa sobre isso? — perguntou-me novamente o homem.
— Não sei! Daqui de cima nada posso fazer pelas crianças que choram e pelos homens que não tem o que colher!
— Então, fique com isso e jogue até eles! — pediu o homem, me entregando uma âmbula cheia de grãos, e antes que eu fizesse uma pergunta ele desapareceu. Então, olhei ao redor, e dali do alto eu fui jogando os grãos, e as pessoas, cada qual foi pegando um. De repente percebi que os grãos havia se acabado e chorei, porque muitas pessoas não tinham pegado e nem para mim havia sobrado um. De repente me transformei em um pé de milho, e, algumas pessoas que sobraram se tornaram animais e começaram subir a montanha para me devorar, mas não conseguiram chegar até mim, porque, fracos, morreram pelo caminho. E a esperança novamente em mim nasceu, porque pude florir, e, espigas de milhos brotaram em meu caule, e, aos poucos fui me espalhando e descendo pela montanha, onde até hoje, sou alimento e esperança de muitos.
Assinado: Um grão de milho.
O gato
Um casal vivia em plena alegria, paz e harmonia. Eram recém casados, e faziam planos em construir uma família bem grande. Adotaram um gatinho que o homem encontrou abandonado. O bichano, compadecido pelo aconchego amor e carinho, passou a seguir os passos do acolhedor. Onde estava o homem, lá estava o gatinho, trançando em meio as suas pernas, todos os momentos. Chegado um dia, o homem teve que fazer uma viagem, despediu-se de sua amada esposa e adorado gatinho. Quando retornou, a esposa o recebeu com o mesmo amor... E o gato? O gato desapareceu horas depois que você seguiu viagem. — explicou a mulher. Horas mais tarde, o gato se colocou aos pés do seu dono, estava magro, desnutrido e faminto. A mulher também recebeu o animal com alegria, e fez questão dela mesma cuidar do animal que, em pouco tempo estava novamente recuperado. O homem então saiu em outra viagem, deixando a esposa e o gato. Quando retornou, tempo depois, encontrou a mesma situação. O gato outra vez havia desaparecido, e assim que ressurgiu, a mulher se colocou outra vez a cuidar do animalzinho. O homem, indignado, pela segunda vez, em ver os maus tratos que o bichinho viveu, começou uma longa discussão. Mulher ingrata, mentirosa, falsa, e tudo mais ela ouviu, mesmo procurando se defender pelo desaparecimento do bichinho. O lar não era mais o mesmo. Mal conversavam, mal se entendiam, e o gato era a razão de sempre começar um novo desentendimento. A paz já não mais reinava e o amor estava em segundo plano. Uma nova viagem surgiu. O homem antes de seguir o seu destino, colocou o gato nos braços da esposa.
— Quero que cuide do animal como se fosse nosso filho! — disse ele. — Não maltrate, não deixe passar sede e fome. Quando eu retornar, se encontrá-lo magro, desnutrido como já aconteceu por duas vezes, será o fim do nosso casamento. — e saiu sem mesmo dizer até logo. Quando retornou, não encontrou a esposa esperando por ele. Procurou com visinhos, parentes, e ninguém lhe deu notícias. Amargurado, desapontado com a mulher que tanto amava, chorou desiludido. E o gato? Lembrou-se ele do animal e o avistou vindo pela estrada, caminhando vagarosamente, se colocando aos seus pés, e vindo no mesmo caminho, a esposa seguindo o rastro do animal. Ele correu ao encontro dela, o abraçou com alegria:
— Mulher o que aconteceu? Onde estava? Porque saiu assim?
A esposa, desnutrida, faminta apenas respondeu:
— Da próxima vez que sair de viagem, leve o gatinho com você, assim vai poupar o bichinho de andar tanto, seguindo os seus rastros.
Moral da história — Para manter a paz, o amor e a felicidade tão desejada, muitas vezes o sacrifício vale a pena.
Depressão
Certa vez, sonhei que o mundo chegava ao fim. A terra não produzia nem mesmo água. A comida era raízes secas e ás vezes um lagarto que se encontrava escondido entre as rochas. Um animal sobrevivente como nós, talvez apenas para servir de alimento, mas, cada dia era mais raro encontrar um. O povo andava de um lado para outro sem rumo, sem ânimo, sem opções. O nosso grupo era grande, éramos todos da mesma família. Meu pai era o chefe de todos nós e não desistia como muitos chefes de outros grupos que se davam por perdidos, se entregando à depressão, e logo morriam da praga que dominava a alma até devorar todo o corpo, caindo em um canto no chão ficando ali até a morte. Os mais velhos do nosso grupo também começaram a ficar doentes. As crianças buscavam esperança no sorriso meio apagado de meu pai que pedia para não perdemos a esperança. Apareceu ali uma tropa de homens, mulheres e crianças pedindo água.
— Estamos a caminho da terra prometida. Não sabemos quanto tempo ainda devemos cavalgar, e não temos mais água. — disse o chefe do grupo.
Meu pai respondeu:
— Temos pouca água. O poço está quase seco e temos muitos velhos, doentes e crianças.
— Porque não pegamos toda água que você tem e vamos todos para a terra prometida? — falou o chefe do grupo. Meu pai olhou em volta vendo todos do grupo montados a cavalo, me disse:
— Temos poucos animais, não dá para todos.
— Vamos a pé — falei para o meu pai. — Coloca os velhos, os doentes e as mulheres com filhos pequenos nas carroças e o resto seguem a pé.
— Não sabemos quanto tempo ainda resta de caminhada. — falou novamente o chefe do grupo. — Com certeza a pé não chegarão nem à metade do caminho.
— Temos que tentar — respondi muito confiante. — Se lá é um lugar para todos, devemos tentar nem que demore uma eternidade. — Não haverá comida e nem água o suficiente para todos, se demorarmos pelo caminho — falou o chefe. — Devemos cavalgar dia e noite para poupar o que temos.
— Não importa — respondi. — Chegaremos depois de vocês, é só nos dizer o caminho.
Meu pai olhou-me profundamente aos olhos, e falou depois de uma leve pausa.
— Vamos conseguir. Acredito que sim!
Enquanto os doentes eram levados para as carroças, a água restante era tirada do poço enchendo os barris. Penduramos candorras com água nos ombros e partimos atrás das tropas. Aos poucos as pernas foram se cansando e logo perdemos todos de vista, nos restando apenas a indicação do chefe, pois não estávamos nem na metade do caminho. Os pés sangravam deixando junto com os rastros gotas de sangue, mas não desistimos até chegarmos a uma encruzilhada de três partes. Numa havia um portal, na outra não havia rastro dos animais, indicando que haviam seguido por ali, e á frente não teríamos como subir por um grande barranco. Olhei para trás e nada vi que pudesse indicar o caminho certo. Estávamos perdidos! As palavras do chefe voltaram à minha mente “Um portal azul”. Olhei para o que estava ali, era vermelho-escuro como sangue pisado. Achei que o chefe havia confundindo a cor e entramos por ele. Um homem de preto nos recebeu na entrada e pediu que seguíssemos. Enquanto, caminhávamos naquele lugar como se fosse outro mundo, pior que aquele que vivíamos, vi várias pessoas acorrentadas trabalhando como escravos. Pensei em perguntar alguma coisa ao homem, mas ele estava distante já entrando em um galpão, onde entramos também por ele e ficamos ali aguardando como pediu o homem. Ouvi barulhos nas paredes, bem abaixo, quase ao chão, e gavetas se abriram acorrentando todos. Saltei, quando se aproximou de mim e consegui me libertar. Vi todos serem arrastados como animais para outro lugar e obrigados a trabalharem na fundição de ferro debaixo de chicotadas. Corri para fora do galpão até o portal, mas não tive coragem de sair por ele, então voltei, não podia deixar meus companheiros e companheiras naquela situação de escravos. Procurei soltá-los das correntes, foi em vão. Procurei por chaves que pudessem liberta-los, não encontrei. O homem havia desaparecido e por mais que eu procurasse não o encontrava. Vi minha sombra, que parecia dar gargalhadas pelo meu desespero. Levei minhas mãos na garganta com a decisão de tirar a minha própria vida, e, vi minha sobra afastar-se de mim ainda dando gargalhadas de minha aflição. Ouvi gritos de pavor e quase em desmaio consegui correr. Vi minha sombra aproximar-se novamente de mim. Sem pensar saltei agarrando-lhe pelo pescoço e o homem nela apareceu. Era minha alma que naquele momento estava presa em minhas mãos e lutamos por horas pela sobrevivência, até que consegui acertá-la com um golpe jogando-a morta ao chão. Todos foram libertados das correntes e correram em direção ao portal enquanto eu olhava o homem morto no chão. Minha mente dizia ser eu assassina, mas não senti remorso. Olhei para fora não ouvindo mais ninguém e vi o portal azul. Lentamente aproximei-me e entrei por ele, vendo ali meu pai, minha mãe e meus irmãos, mas não consegui aproximar-se deles. Naquele instante fui condenada, jogada em uma cela, prisioneira do crime que cometi. Por vários anos paguei pelo meu crime. Matei minha própria alma que se perdeu na tristeza, angustia e sofrimento do meu próprio corpo.
Que Alívio! Acordei! Era apenas um sonho. E lutei contra meu próprio corpo que não desejava nada a não ser a morte. Venci a “Depressão".
A vida anda louca.
As pessoas andam tristes e solitárias.
Amargam a forma de viver desses novos tempos, onde o individualismo reina soberanamente.
Hoje não se pode dizer que se tem um amigo, desses que você pode contar para o que der e vier.
As pessoas andam tão só.
Não se pode dizer que você tem um verdadeiro ombro para chorar seu fracasso, sua lágrima de dor.
As pessoas andam loucas. Andam sem rumo, sem pudor, sem sentimento verdadeiro, estão sempre representando alguém que apenas gostariam de ser.
As pessoas andam tão frágeis.
Escravas do politicamente correto, reféns das dezenas de fobias, contra gordos, pretos, homossexuais e tantas outras que surgiram. Será que é importante o jeito que o outro é, a forma que resolveu viver, exceto escolhas ilegais?
As pessoas andam precisando desesperadamente de paz.
Acordar e dormir tranquilo com a consciência limpa de que é um bom ser.
As pessoas andam precisando praticar o desapego.
Desapego do dinheiro, de coisas materiais que não acrescentam nada moralmente em suas vidas.
As pessoas andam precisando de felicidade.
De parar de criar grupo disso ou daquilo, de parar de se preocupar com a vida alheia, aceitar a si e ao outro como é verdadeiramente, diante do espelho, sem máscara, afinal você que ler esse texto agora sabe bem quem você é, sem disfarces, nas noites de insônia, sabe das suas falhas, do seus erros, dos seus acertos, do que fez de bom hoje.
As pessoas andam precisando de serem mais “ser humano”.
De olhar ao redor, de saber perceber a dor alheia, principalmente de quem você chama de amiga, de amigo, de irmão e de sei lá mais o que.
As pessoas andam precisando de “ser” mais fiéis. Mais leais.
As pessoas andam precisando tanto de mais lealdade. Seja e receba, afinal cada um colhe o que planta. O que você precisa?
Reflita e faça a sua colheita.
Outubro de 2021: por causa da pandemia, sigo ainda numa liberdade vigiada, dois anos depois da última mudança, que seria o início das liberdades.
Desse período, foram dezenove meses totalmente confinado até que a segunda dose da vacina anti covid fosse aplicada.
Sinto vontade de botar novamente o "saco nas costas" e sair por aí, achar um canto novo.
Mas ainda preciso de confinamento de multidões furiosas, mesmo quando a ciência declarar vitória sobre a pandemia de Covid.
Talvez eu possa colonizar um lugar onde eu possa levar todas pessoas que apoiaram o próximo e pensaram no bem coletivo durante as fases mais críticas da pandemia.
E se não conseguir um lugar físico para essa nova pátria, vou declarar o meu coração a nação independente dos solidarios, dos empáticos, dos que cortam em quatro partes (ou milhares) o seu pão, a sua amizade, a sua arte, a sua inspiração, a sua sanidade e a sua alegria.
Quero as pessoas que compartilharam o lenço na hora do choro e que marcaram presença (mesmo à distancia) na agonia. Estes viverão como embaixadores.
E serão libertos todos aqueles que foram maculados pelo SIM, quando a resposta deveria ter sido NÂO aos seus predadores...
Não haverá ambiente para abusos, pressões, subordinações ou comandos possessivos.
E não serão permitidas relações abusivas , manipulações individuais ou coletivas, mentiras, calúnias e difamações.
Pessoas que buscam evolução serão bem vindas e aprenderemos de mãos dadas.
Atraversiamo!
#abdução
Envoltos num céu de um azul intenso,
juntos emanamos uma forte energia,
alimentada pela euforia de nossos sentimentos,
um dia que parece um sonho
do nosso lúdico momento,
como sempre, estás radiante
e muito graciosa,
talvez, eu tenha perdido a sanidade,
não importa se estou enfeitiçado
e apaixonado por um conto de fadas,
mas se for o caso, não quero ser acordado,
quero apenas estar contigo minha amada.
A vida nem sempre é como nos filmes, nunca espere por um príncipe encantado, finais felizes nem sempre existem, pare de se iludir por amor, príncipes e princesas não existem na vida real, as vezes você corre tanto atrás de alguém, e se esquece de você, não corra atrás de migalhas, quem vive de restos é lixo, e você vale mais do que tudo isso.
Tem gente que faz a vida parecer conto de fadas! Tem gente que faz questão de te lembrar todo dia que Fada do Dente não existe e que além de ficarmos banguela, não vamos ganhar moedinha nenhuma!
Primeiro passa o vô da banana cantando a venda...
Pede moleque, pode pedir!
Depois o carro do ovo 🐣
Aí vem os garis, o caminhão soprando freio e enquanto eles correm, e essa é a melhor parte da manhã, tem uma casa lotada de crianças e os garis e as crianças gritam um eeeehhhhh de alegrar até o mais sofrido...
Nisso os passarinhos já estão cantando há um tempão e hoje ainda ta chovendo.
Isso é a Mangueira.
Tem bom dia melhor eu sei, mas o meu ta bom.
Você pode prometer castelos, tesouros, bebês
Eu não ligo
Porque agora você é o suficiente para mim
Eu te quero perto
Como um conto de fadas, sentir seu hálito no pescoço
Você lembra o que eu amo, então, amor, me reconquiste
Chifrudo é o Diabo
Josineide pensa que me engana com esse papo de caô-caô,
todo domingo saindo perfumada, dizendo que vai ao culto do senhor.
Mas só volta para casa de madrugada, descabelada e deita ao meu lado.
Devagarzinho vai se aconchegando, enquanto eu roncando finjo dormir!
No outro dia já acorda cansada, toda disfarçada e prepara o café.
Eu fico só de butuca com o meu jeitão de mané.
Depois puxa papo e inventa lorota tentando me enrolar;
dizendo que fica até mais tarde no templo ajudando o pastor orar.
Para salvar umas almas perdidas, que já estavam nas mãos do cão.
Enquanto o outro chifrudo aqui em casa, fica assistindo as bostas da televisão.
Se dormir no trilho, meu irmão - não adianta rezar;
Pois se o trem já esta desgovernado,
não há santo que possa ajudar.
Se fosse São Tomé - só acreditaria vendo.
Se fosse Pôncio Pilatos - lavaria minhas mãos.
Mas sou cabra da peste, devoto de Padinho Cícero.
Descendente do cangaceiro, com sangue de Virgulino Lampião.
Por isso vou ter que dar um chego lá no igreja,
ter um lero com esse pastor e resolver a situação.
O cabra resolver acabar de vez com a hora extra do culto,
ou então que se entenda com o meu três oitão.
Se vendeu a alma para o diabo, meu irmão, não adianta rezar.
Depois que o chifrudo descobre, a conta ele vai cobrar.
Chifrudo é o diabo - literalmente.
A FACE DO MEDO
Noite fria, eu andava
próximo do cemitério,
ouvi sussurros ao longe,
vinham de lá? Mistério!
Cores da escuridão,
um arco-íris sombrio,
o revoar dos morcegos,
ouço passos, calafrio!
Sons invadem meus ouvidos,
há barulho de corrente,
coração acelerado,
o mal bem na minha frente!
Com rosto desfigurado,
e muito sangue nos dedos,
criatura demoníaca,
terrível face do medo!
Segurando motosserra,
a entidade funesta,
estava ao meu encalço,
fugi, entrei na floresta.
Escapei, pulei no lago,
o monstro tocou meu pé,
consegui desvencilhar,
subi morro, ao chalé.
Por trás da casa, a rua,
vi carros e seus faróis,
desci lá, dependurado,
num corda de lençóis.
De carona me salvei,
já não há o que temer,
hoje em dia eu só quero
esse dia esquecer.
Você precisa alegorizar toda essa narrativa, tá? Transforme tudo que está acontecendo num jogo ou um conto de fadas, ou na trama de um filme da Pixar.
Simultaneamente, a liberdade emocionante de um bando pássaros, sobrevoando essencialidades livres, graciosas, cavalgando em espíritos libertos, disposição poderosa, cenário notavelmente libertador, céu azul e vasto, sol que vivamente resplandece, cabelos soltos ao vento, viveza que surpreende, ar poético de renascimento de uma cena lúdica como se saída de algumas páginas, elementos de uma linda história de um exímio conto de fadas.
Eu gosto de livros de ficção científica. A ficção científica pode te mostrar um novo mundo maravilhoso. Mas eles não são apenas contos de fadas… São extensões de nossas vidas normais. Eles me fazem sentir como parte de um conto também… No mundo real, eu sou apenas um figurante.
As palavras sempre fazem bem
para isto tem muito poder
desde que sejam boas
e não façam mal a ninguém
Muitas vem de língua comprida
que diz algo sem saber a razão
a pessoa escutou em algum lugar
e fala aumentando o textão
Pode crer que o mal semeia
pois quem ouvir vai aumentar
estica a história e porque anseia
alguma novidade para fofocar
Fala disso ou daquilo que nunca viu
pois uma língua maldosa lhe contou
e esparramou boatos qual fogo no pavio
e logo uma história errada se formou
Sabe o tal - quem conta um conto?
assim agem sempre as fofoqueiras
cada uma vai aumentando um ponto
pondo inocentes em sujeiras
Conto desimportante
No espaço sideral das coisas mais desimportantes,pairava um
clichê insignificante, muito fofinho e de alma simplesinha.
Ele não tem a mínima noçãoooooo de quão grande são seus feitos…
Vida, simplesmente é o responsável por costurar as estrelas no céu, aham, as estrelas que enfeitam as noites do mundo inteiro.“Vida” é o nome dele, e ele nem imagina que tem um dos trabalhos mais lindos que Deus criou, depois de fixar as estrelas no céu, uma a uma, ele fica todo iluminado, mas calma que agora vou contar a melhor parte…
O desimportante em suas horas vagas, pode ficar o tempo que quiser em seu espaço exclusivo no céu. Vida, é muito humilde, só ele tem a permissão de Deus pra adentrar no céu e peneirar o sol durante o dia, eis a sua maior paixão: “peneirar sol”. E como vocês repararam, até o nome dele é grandioso, ainda assim, nem por isso ele se gaba, se sente ou se acha melhor que os outros. Isso que é lindo!
Depois de se iluminar de sol e estrelas, Vida, rega os desertos e calabouços de sua própria alma.
Silmara Nogueira
Onze Anos na Escuridão
Era o ano de 1997, eu com meus 11 anos e o céu estava carregado e eu na janela observava eufórico a chegada da chuva. Contando as horas para mais uma vez fazer o que eu tanto gostava, brincar nas enxurradas que desciam nas ladeiras íngremes da minha cidade e assim foi mais uma tarde de diversão. Só não sabia que iria mudar minha vida, depois de umas semanas acordei com os olhos inchados e vermelhos da cor de sangue, mas pensei "logo isso passa". Não passou, lá se foi médicos e nada de descobrir o que era. Cada dia só piorava, parecia que tinha espinhos nos meus olhos. Era uma dor que doía na alma, eu com 11 anos e na escola. Acho que a fase mais gostosa da vida de ser criança, mas não foi o meu caso. Lembro que ia pra escola e até tentava estudar, mas quando a professora escrevia no quadro da sala. Juro que tentava escrever no meu caderno, mas as páginas ficavam molhadas pelas lágrimas que escorriam no meu rosto. Lembro me de "Dona Dilma" minha primeira professora, que por me tinha um carrinho e acho também que minha situação lhe comoveu o seu coração. Várias vezes me levava no médico que nada sabia o que era e passavam remédios que de nada adiantava. Não esqueço dela até hoje e que sou muito grato. E assim foram se passando dias, meses e anos e os médicos não descobriam o que era. Tinha dias que acordava, mas não via a luz do Sol, pois não conseguia se quer abrir os olhos. Foi me ferindo tanto que a dor não era só nos olhos, mas também na alma. Apesar de tanto sofrimento não perdi a vontade de viver, mas confesso que cansei. Já não via mais esperança, queria "ser normal" como as outras crianças. Eu andava fechando os olhos nas ruas pra ver se aliviava a dor. Foi em um dia desses que aconteceu algo engraçado. Fui inventar de fechar os olhos e na frente tinha um caminhão parado, não deu outra, de olhos fechados eu bati em cheio na carroceria e tinha um senhor olhando perguntou se estava tudo bem e eu respondi que estava me preparando para minha nova realidade. Tinha medo de não poder enxergar um dia. Depois de alguns anos um médico disse que quando eu completasse meus 22 anos eu estaria livre de tudo aquilo. Eu não liguei , pois já tinha ido em vários médicos e nenhum tinha a solução. E lá ia vivendo com meus olhos de sangue e alma escura, já não tinha vontade de abrir os olhos. Foram 11 anos na escuridão que não parecia que ia ter fim. Assim foi minha infância e adolescência, até que completei meus 22 anos no dia 28/09/2008 e por incrível que pareça a partir daí não sentir mais nada. Até hoje não sei o que eu tive e o que foi que me curou, se foi milagre, não sei. Sou grato a Deus por tudo, hoje sou uma criança de 33 anos e muito feliz. Todos nós temos um fardo pra carregar, mas Deus nunca nos dá um que não seremos capazes de carregar. Mesmo que a vida pareça injusta não desanime. Lute e busque força pra seguir em frente, pois tudo na vida passa. As coisas ruins acontecem para que possamos darmos valor nas coisas boas. Sentir vontade de escrever esse texto que aconteceu comigo e espero que dê alguma forma possa servir pra você que está lendo.
Em que tipo de forma nos colocaram?
Desde crianças somos alimentados com o conto da forma, somos alertados que a felicidade mora na estabilidade. Que o anseio primordial é a segurança. Que o risco deve ser sempre evitado, e assim seremos felizes. Nos matriculamos então em prisões travestidas de casa do saber; grandes muros, vigias, celas com divisórias.
Para reivindicar algo é necessário levantar a mão e pedir permissão ao vigia presente. Quem discordar ou contrariar irá sofrer as sanções. Talvez uma advertência ou suspensão.
Mas o tocar do sino nos trazia sempre uma esperança. Afinal, no "banho de sol" entitulado de "recreio", tínhamos um breve momento de liberdade onde podíamos partilhar nós mesmos. Depois, o martírio recomeçava.
Com o tempo fomos nos moldando e percebendo o giro desta roda. Bastaria que fôssemos bons de memória. Decorar seria o suficiente para avançarmos. Em poucos meses entendiamos que se replicássemos o padrão, jamais teríamos qualquer problema.
No fim, entregavam um diploma àqueles que tiveram boa memória, então pregávamos um riso largo no rosto; algo nada discreto, mas também não podia ser diferente, é que nossos pais estavam logo ali, bem à nossa frente, com um orgulho estampado na cara e aliviados porque você, afinal, é um promissor replicante.
Para coroar a cerimônia final, chamada "Formatura", os adultos ali presentes entoavam gritos de bravura e aplausos calorosos. A graça era manifesta e evidente.
E ali, inconscientemente, aprendemos que todas as vezes que desejássemos obter aquela saudação, só precisaríamos entrar na forma.
E o que veio depois?
Nos "formamos" na faculdade, no ensino médio, na pós-graduação. E vamos nos moldando em várias formas, tomando a forma de algo que nem nós mesmos sabíamos. Porque quando questionávamos, apenas diziam: "eu não sei, mas é que todo mundo faz assim"
Até que uma coisa acontece: um grito ensurdecedor implora para sair de dentro do seu peito. Sabe o que é isso? a sua essência aprisionada por toda uma vida, constitucionalizada no padrão, na média. Trancada dentro da própria casa, mas em vez de libertá-la, você faz o que foi programado a fazer: se adapta!
Ou por não saber do próprio potencial, afinal, não houve treinamento para isso; ou por medo do risco. Não é o que te dizem? "mais vale o certo que o duvidoso" .
No fim, você termina correndo em torno do próprio círculo, sonhando com um horizonte que não foi feito para você, afinal, foi o que disseram na TV. Você corre sem nunca ter saído do lugar.
E assim, vamos replicando o padrão. Erguendo cada vez mais muros e nos jogando dentro. Carimbando nossas carteiras e nos enfileirando em departamentos de nomes compridos.
Mas assim como no passado, há um alívio momentâneo. Um recreio que aqui o chamam de "Happy Hour". Uma sexta-feira tão aguardada que nem nos damos conta que estamos desejando que a vida passe mais rápido. E assim possamos contemplar cada vez mais outras sextas-feiras.
A tão antes desejada estabilidade foi se tornando uma condenação. Uma espécie de perpétua, a Firma em Forma de Prisão. E para não parecer um estranho nesse ninho, você se ajoelha e diz sim para uma vida moldada pela forma.
Até que um dia a catástrofe é percebida: Você finalmente se formou na vida!