Tag andre
Baixa a cabeça, solta os ombros.
Suspira. Exausta. Pois estava cheia de amor.
E se perguntassem o que vem a ser o certo, a moça olharia com a cabeça torta como a de um cachorro quando parece não compreender o que se passa. O olhar de repente vidrado de quem tem sede de entender as coisas que acontecem ao redor. Ela não sabia amar, talvez. Então mais um amor havia chegado ao fim. E nessa imensa individualidade onde ninguém podia entristecê-la, sempre cresciam espinhos. Espinhos para machucar aqueles que a machucavam, então, assim, não a tocavam. Não a tocavam porque o medo da mágoa não deixava que lhe tocassem, ou então, havia medo porque não haviam tocado fundo o suficiente para que o medo não existisse. Que triste então estava sendo, mas parecia tão acostumada. Acostumada e fria, porque depois de tantas lágrimas, ela finalmente parecia ter secado. A maquiagem borrada em volta dos olhos tinha sido limpa na noite anterior. Quando ele, o moço, e ela se encontraram; ela parecia inteira. Inteira porque não tinha ficado nada dela para trás. Seus olhos eram de desilusão, de cansaço. Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão, do fim, ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes. Era tudo tão doído, tão choroso, tão arrastado. Fosse o ponto final sua última lágrima de dor, já havia, então, sido decretado. Decretado num discurso mudo, num adeus em silêncio dito através de tudo aquilo que não havia sido falado. O moço não parecia prestes a dizer nada. Ela também não diria; se pudesse escolher, teria ficado calada, mas lhe escapou: Meu coração tá ferido de amar errado. De amar demais, de querer demais, de viver demais. Amar, querer e viver tanto que tudo o mais em volta parece pouco. Seu amor, comparado ao meu, é pouco. Muito pouco. Mas você não vê. Não vê, não enxerga, não sente. Não sente porque não me faz sentir, não enxerga porque não quer. A mulher louca que sempre fui por você, e que mesmo tão cheia de defeitos, sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te quis só meu. E você, cego de orgulho bobo, surdo de estupidez, nunca notou. Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter; são como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado. Seja feliz.
Não sente porque não me faz sentir, não enxerga porque não quer. A mulher louca que sempre fui por você e que mesmo tão cheia de defeitos, sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te quis só meu.
Do conto: Gabriela, Luiza, Ana, Clara, Bruna, Carolina... de 2009, Março
Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão, do fim, ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes.
Aquele final de um dia muito estressante em que você tira os sapatos e descobre que foram eles que tiraram você.
Quero ouvir a verve gritando ao mundo, ao pouco, como louca rara. Preciso da sua leitura de corpo nu em noite tão escura que nem estrelas deram as caras.
Escrever muita gente pode/escreve/deve/quer, mas conteúdo é outra história. Se o autor ficar atormentado com fama, barganha, carreira e/ou lucro, não sobrará tempo para evoluir na escrita; há de se ler e escrever ao extremo, com constância, afinco e exaustão (e toda a redundância que há). A meu ver a escrita tem que primeiramente ser um hobby, algo que se faça com muito amor e muita paixão, que caminhe junto com sua labuta normal/diária (ganha pão).
Vez ou outra há um milagre só pra tal pessoa; não há registro, palavra, pintura, período, motivo ou à toa; não há contorno ou qualquer som que ecoa. Os olhares e bocas insanas em agonia sequer saberão o que realmente houve, e se houve... não importa a vil lamúria dos olhos rebeldes da cobiça.
Existe o mundo como enorme tela branca à qual tem que curvar-se para pintar perto do chão e todos observarem, ou subir a extensa escada para o pincel alcançar o limite onde a visão é parca; a tela onde alguns pintam a pobreza, outros o conforto, alguns criticam, não gostam, atrapalham as pinturas e tentam lavar com água e sabão enquanto a própria consciência fica aguardando o esfregão; Eles existem e coexistem, mas muitos deles, muitos mesmo, nem sabem o que é pintar.
Há estradas fáceis que levam ao pecado, mas há também caminhos íngremes que estendem o tapete vermelho pro nada.
Não sabe o porquê, nem por onde ou por quem, só sabe que dança a dança mais zen; dança no embalo do samba da vida, na alma o brilhar, bailar dos amores, cheia de cores, de festas, de todos; é a dança frenética, sem ritmo ou tambores, de velho, menino, gigante que é rei, de ruas e rios de deuses plebeus; se dança na raça e na praça ditosa, no coreto da vitória e no viés do além.
Hoje tem manga, pés descalços para encarar a subida, alegria do doce na boca, o melado no rosto e a brusca sensação de ser moleque; hoje tem manga, ontem teve manga e amanhã é mistério.
Vê-se a razão que não mingua, fala-se em matrimônios - mistérios, infindos sem afins nem começos, assim dá-se o nome de vida.
Pare por um minuto e pense nas mentes comuns ou raras, nas ideias imaginativas ou simples, nas bocas que comem, calam, falam, e nas cintilantes que cantam belas canções; pense no olhar sereno dos animais selvagens e no olhar dócil e pensativo dos gatos e cães; pense nos pássaros que vem e vão voando em nuvens sobre as águas que correm rio abaixo e em todos os peixes coloridos, ou não, que sobem em contramão; pense, mas não se apresse com a distração; alguém reservou o resto da vida para ter o prazer de pensar em você... assim é a mãe!
Será mesmo que importa se alguém faz a boa ação para se sentir bem e atender ao ego, se mostrar altruísta e abrilhantar sua imagem para seu vizinho, amigos e parentes? Bem, para os que têm fome e frio garanto que não!
A escrita é extremamente democrática; se aceita a escrita livre, padrão, clássica, insana, inventiva, irreverente e até a convencida (pretensiosa); pena que nesse último caso quase sempre vem aos moldes do dono.
Adoro jiló, mas toda vez que digo isso vem alguém me dizer que é comida de passarinho... Ora bolas, salmão é comida de urso, milho de galinha e cenoura de coelho.
O que mais a infância deixou-me de saudade foi a maneira inventiva de lidar com a vida: quando acabava o prazer de comer iogurte começava o deleite de falar no "telefone".
De repente aquela pessoa que te vê como concorrente se sente envergonhada, pois percebe seu desinteresse em entrar na corrida e ela esteve todo esse tempo ao seu lado, parada.
O corpo foi na onda e saiu do dilúvio, forte e firme em direção ao sossego; o abraço (prévia do beijo) fez-se ao relento e o medo (descalço e bêbado) caminha viúvo.
Num dia quente de verão brota um amor quente que faz quentes a alma e o coração... é, e só assim "fico frio"!
Acordei acessível, com novos aforismos e ansiando ouvir tua voz. Acordei querendo ser o ser mais admirável, amar-te com maior tenacidade e experimentar tua sensualidade. Acordei famélico, querendo me entregar, querendo te possuir.