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Hoje é apenas mais um dia que eu penso em você.

Hoje não senti fome, frio, cheiro e nem sabor
É como se meus sentidos não existissem
Apenas resignaram-se com as amarguras de anteontem.
Mais do que nunca estou sem chão.
Um, dois, três, quatro ou cinco anos não farão diferença,
dia esses que virão, assim como aqueles que passaram,
que se foram e que obedecem uma frequência inexata.
Eu, embora seja fraco,
penso em continuar resistindo, pois de nada adiantaria se não estivesse pensando em
você.

Inserida por viniciusleall

Desesperado

Na incerteza de um amanhã, meu corpo segue resignado,
Olhos fundos, peito fechado e pensamentos x, y e z na mesma equação.
É como se as forças que me prendem estivessem aumentado
Meu fantasma, esprito, alma, éter, estão fora de comunhão.

Nesse embaraçar "entranhoso", uma angústia permeia-me
Sem pedir licença, esta me faz rogar por cessar
E inconformado com a vida, procuro-te
Para que possas me ajudar.

Embora seu coração seja bom, optas por me deixar
Ao léu, sem explicação.
E eu, por me deixar levar
Acabo sempre sozinho numa longa e fria escuridão.

Inserida por viniciusleall

“Eu espero por novos sorrisos. E quem não espera? Por novas cores, novos hábitos. Eu espero um “bom dia” de quem eu não conheço, um “dorme bem”, mesmo que eu desconheça a sensação disto também. Eu espero que a semana acabe rápido, mas que as horas felizes sejam eternas. Eu espero um dia cinza, um livro bom. Eu espero uma amnésia boa. Eu espero por não saber o que fazer. Eu espero ser a espera de alguém. Eu espero que o café não siga o meu exemplo e não esfrie também. Eu espero não tremer com um nome, que as pernas não se arrepiem com uma presença. Eu espero uma risada alta quase que o tempo todo. Eu espero me perder para me encontrar, me encontrar para me desfazer. Eu espero por dias melhores. E quem não espera? Por obras do acaso, por novos acasos. Eu espero que o meu cabelo cresça mais rápido do que as minhas paranoias e que eu mantenha a promessa de deixar as unhas crescerem assim como as minhas certezas, as quais também espero. Eu espero ganhar na loteria, viajar o mundo sozinha, aprender mandarim. Eu espero por um dia de chuva, um céu escarlate. Eu espero por nuvens tão carregadas de tristeza quanto eu só para não me sentir sozinha. Eu espero que os minutos não gritem até o tempo ensurdecer, que o tempo não se cale como a minha voz, que não se intimide com o meu silêncio e siga a diante como tem que ser. Eu espero por uma primavera cheia de flores para me lembrar que mesmo no meu desalento mais profundo, o mundo é tão exato, tão bonito. Eu espero pelo outono para me reestruturar assim como as árvores dos parques. Eu espero alguém que não me abandone por não me entender, que não me entenda e mesmo assim não consiga se desfazer de mim. Eu espero por uma adrenalina que sinto mesmo parada admirando de longe um clandestino que me faz mal. Eu espero sentir de novo a vontade chorar como a chuva , do afeto de um raio de sol. Eu espero que as guerras do meu mundo cessem. Eu espero esquecer um perfume, esquecer uma valsa e qualquer outro vestígio que impeça a liberdade do pensamento. Eu espero voar como um pássaro. E quem não espera? Por uma chance de descobrir o que ninguém nunca pensou em procurar. De curar doenças, de ouvir histórias de amor e dizer que plural é sempre bom, mesmo que isso vá contra os meus novos princípios. Eu espero um mundo bordado de pontes sólidas e olhares sinceros. Eu espero um mar que não cante os versos que eu quero esquecer. Espero novas notas nas ondas, que a areia misturada ao vento não machuque as minhas lembranças, mas que também as carregue junto da brisa contrária. Espero o verão para aliviar o pânico e me mostrar que até o tempo tem a chance de ganhar uma hora a mais, que o tempo não faz diferença pra quem não tem nada a perder. Eu espero uma madrugada tão agradável quanto um abraço inesperado. Eu espero um abraço que eu nunca senti. Eu espero que o passado não me corrompa a cada meio segundo. Espero um antídoto para a minha arritmia e para as faltas de ar. Eu só espero que o frio permaneça, mas que o gelo passe para que eu possa sentir de novo. O que, por enquanto, não me importa mais.”

Inserida por AmandaSeguezzi

Um menino chamado... 

E tentando – ela milésima vez – ter um pouco de ti nos meus contos, percebo que o perco a cada maldita palavra, as mesmas que, por birra ou consentimento, fazem um carnaval em minha mente todos os dias. Percebia então a minha falta de respeito com o destino não aceitando outras linhas tortas no meu caminho, justamente por me adaptar em tua linha, tão confusa, e conseguir me aninhar nela. Desespero, talvez. Ver-te assim, tão vivo, tão morto, tão seco, fingindo prazer no nada, letargia óbvia, consciência adormecida, olhar vazio, consegui distinguir do sonho qualquer zelo que a ti já dedique, qualquer adoração maluca que, por milhas do tempo, me acompanharam feito uma máscara de porcelana. Tinha uma boca na tua boca que não era a minha. Você provou outro gosto, outra espessura. Você arruinou qualquer possibilidade do nosso par – por mais sem sentido que fosse -, e todos os afetos que algum dia pensei em te presentear num embrulho dourado. Eu não chorei, porque, veja bem, por mais que sentisse a enxurrada de lembranças me dando pontapés no estômago, a fuga das borboletas, a vontade de verter tudo que um dia escapou junto com o sol naquele fim de tarde. Apesar das pernas bambas, do caos me consumindo, do impulso insano de sair correndo e não ver, de ficar parada e aplaudir. Apesar da inveja de quem não conheço, do sentimento de sorte por cair à ficha. Eu descobri que eu alimentava um monstro aqui dentro, o alimentava com a tua presença, que num piscar de olhos pareceu morrer. E ao final de tudo eu ainda conseguia sentir pena daquele menino ali tão amedrontado, tão vazio. Ele era só um menino. Ele era um menino tão só. Contemplei a inexatidão dos olhos que há muito me acompanhavam nas mais diversas formas de sonho. Eu admirava o medo transcendendo em silêncio, e posso até ousar ao dizer que eu sentia o cheiro do teu desespero e ele fedia. Compreendi então, num lapso, que não precisaria mover um dedo, encontrar um significado para tanto desalento ou um conforto para a tua desordem. Percebia através da nuvem negra no contorno do teu corpo que tua desconsolação iria te matar aos poucos e você iria seguir  se depredando. Sumindo. Virando o pó de uma biblioteca com livros sem história alguma. E até me atrevo a dizer que Gabito Nunes lhe dedicou a frase: “Você mal deve ter uma alma, quanto mais gêmea de alguém.”. Caiu a ficha de que eu não preciso querer o mal de quem faz isso sozinho, sem precisar de alheios. Acho que você vai me acompanhar pra sempre a cada loucura, a cada gargalhada alta. Porque você preencheu um vazio em mim que eu nem sabia que existia, e agora eu me sinto vazia também. Vazia de nós. Depois de tudo, eu ainda te desejo um novo recomeço e uma nova perspectiva. Eu te desejo um infinito mais bonito, mesmo que nunca o tenha visto. Desejo nunca mais te ver de novo. E pode passar quanto tempo for, eu acho que ainda vou te dedicar os meus melhores versos.
 Um menino chamado...     
Desculpa, mas eu acho nem sei o teu nome direto.

Inserida por AmandaSeguezzi

O Conto de Alice 

Ele provavelmente não fazia à menor ideia de que, há algum tempo, eu havia passado por seis longos anos de aulas de dança, muito menos que em algum momento nos meus oito anos, jurei que seria a melhor professora do mundo. Ele me conhecia há tão pouco tempo, apenas sabia a cor dos meus olhos, se é que sabia. Porque eu o encarava – mesmo que inconscientemente – e via refletindo no mar cor de bronze a minha vida toda. Via um passado movediço, um futuro tão borrado quanto o presente incerto. Eu cobiçava a vontade de ser dele, de ser uma bailarina, uma professora. Eu só cobiçava. Queria abraçar o mundo num sufoco só, sem me dar conta que de ele estava me mudando e não ao contrário. E nas vezes que pensei em desistir do teu sorriso, lembrava das tantas outras vezes em que tu sussurrava meu nome no escuro como se conseguisse a proeza de fazer carinho nele. A mim me encantava a nossa poesia silenciosa, descompasso bonito de se admirar. E do dia para a noite eu não era apenas Alice, eu era a Alice do menino dos olhos cor de bronze e, sinceramente, eu nem me importava. Comparava a presença dele com uma manhã fria acompanhada de raios solares efêmeros, e num abraço, sentia a calmaria de uma noite de Natal. Acho que a felicidade tem exatamente o contorno da sua alma – de alguma forma -, acho também que nunca me imaginei feliz, mas se caso assim fosse, o imaginava do meu lado. Achava os nossos horizontes desproporcionais, nossas sinas tão distintas quanto. Não o queria pra sempre, apenas o queria por aqui, por perto. Porque descobri através dos dias sem notícia alguma que um lugar bom mesmo é aquele onde ele está. Nas horas a fio, procurando um antídoto para a falta de sossego, um equilíbrio entre o pensamento e o corpo, nas horas sem sentido, nos minutos sem ele, sem sentir o perfume tão presente na ausência, eu entrava em combate com o controle das minhas ações e o encontrava nelas também. Tinha urgência dos teus instintos persuadindo os meus, queria ouvir teus passos num rumo que você sequer cogitou conhecer. Acho que as estrelas não serão mais as mesmas sem o teu semblante, assim como as nuvens tão cinzas sem o teu disfarce. Eu nunca serei tão eu sem a parte de mim que foi embora. Num beijo salgado que nunca mais irei sentir, no desconforto das palavras que estão cansadas e querem repousar também. Eu devo ter te perdido a cada frase que nunca disse. A cada mudança de estação. Pegava-me desconsertada, olhando uma xícara quente e me perguntando o porquê de você não sentir a dor que eu sentia a cada gole que, a mim, vinha acompanhado do teu gosto. Encontrava-me desnorteada, perdendo tempo sentindo inveja de quem tu conheceste antes de mim, sentia ciúme do teu passado, das outras bocas, dos outros abraços. Desejava que você tivesse me conduzido as aulas de dança naqueles seis anos, que me incentivasse a ser a melhor professora do mundo. Desejava que você me conhecesse tempo suficiente para que já soubesse de cor os nuances dos meus olhos. Sabe, tive que me costurar na tua pele para descobrir que o teu avesso te revela muito mais, que os teus poros têm a necessidade que uma respiração desregulada que por infortúnio não é a minha. Nunca imaginei que o nosso final seria assim, uma roleta russa sem balas. Numa guerra silenciosa, sem escoriações visíveis. Eu só queria ter tido tempo de dizer que de todos os meus desamores, b’shert, você foi o mais bonito. Que a sorte te acompanhe, já que nem isso mais eu posso fazer. 

A história tão bonita de fim trágico fez a menina mudar de nome, mudar de tom.
E tudo virou um amontoado de recordações. Um amontoado de causas perdidas.
Tudo virou apenas mais um conto de Alice.
Que chorou, chorou, conseguiu recolher seus pedaços e foi embora.               

Inveja de Alice. 

Inserida por AmandaSeguezzi

A história que eu nunca quis contar. 

Estava a dois anos dormindo no sofá da sala da sua vida sem previsão de me mudar ou ir embora. Desculpe o incômodo, a inconveniência e a imensa vontade de ficar por aí. Desculpa não ter tido a coragem de sair correndo porta a fora, de pular pela janela. Desculpa não entender a tua bagunça, mas mesmo assim conseguir me ajustar a ela. Não sei em qual canto você me jogou para que fosse tão facilmente esquecida, mas ainda bordo os meus sonhos nas paredes dos meus devaneios e estais nele - de algum modo. E mesmo com o mau jeito na coluna, a falta de jeito com as pilhas e mais pilhas de recordações que não consigo me desfazer, mesmo te querer não querendo, mesmo assim eu quis ficar pra te ajudar caso o teu mundo desmoronasse. Eu queria te servir de apoio, imoralidade, válvula de escape. Eu só queria te proteger num dia de tempestade, mesmo que o grito dos estrondos nunca lhe inspirasse o medo. Mas você não me deu a oportunidade de passar do sofá da sala. Estava a dois anos passando fome de novos hábitos e dormindo com as expectativas em posições desconfortáveis. E não entendia o que me prendia numa morada que não era minha, num lugar que não me pertencia. Talvez, só talvez, eu tivesse medo de te ter por perto na mesma proporção em que tenho medo de nunca mais te ver. Tenho medo dos meus limites incalculáveis quando o assunto é o nosso par. Tinha medo de pagar pra ver e me arrepender, tinha receio de não ser nada além daquele sofá. E num belo dia senti a agonia dos raios de sol tentando vencer a solidez das frestas das janelas, então percebi que a minha pele tinha urgência pelo afago quente, sede de novos imprevistos, novos infinitos. Esta, quem sabe, é a história que eu nunca quis contar. Porque mesmo depois do desfecho inesperado, do atrito entre sala e quarto, mesmo depois da convicção dos erros, do caos que arrepiava apenas os meus sussurros. Mesmo depois de dois anos, eu ainda tenho medo de que você bata na porta e saia correndo sem ao menos avisar. Ao fim, enfim. Primeiro passo porta a fora e consegui ficar extasiada com as cores que procurava em quatro paredes, sem sucesso. Senti a poesia passando por aqui insegura e frágil, guardei-a no bolso logo após sussurrar ao pé do ouvido que eu tinha uma alma ferida, cheia de espinhos e flores alternadas. Falou que dentro de mim habita uma primavera obscura feita de procuras e visitante silenciosos. E pela primeira vez fiquei com vontade de escrever histórias prontas para serem lidas, aturdidas esperando por propagação sem temor. Que as utopias nos tragam mais sorrisos do que incertezas. Que o abraço do acaso seja tão confortável quanto o esquecimento do passado. Que nada lhe impeça de sentir a barriga doer num gargalhar alto. Da história que nunca quis contar, foi tristeza até o último suspiro de sentimento bom. Não diga que eu não tentei. Acho que pela primeira vez os ventos contrários estão a favor.
E pela primeira vez eu não te quis. 

Queremos outros encantos. – Pensei.
Queremos outro tempo. 

aos olhos cinza

Inserida por AmandaSeguezzi

“Ali estava eu, construindo árvores com suspiros, girando na órbita errada e tendo espasmos dos sentimentos mais variados possíveis. Bukowski, com profunda certeza, estaria me fitando com uma mão na testa e certo ar de desapontamento do outro lado da praça. E ali estava você. Daquilo que não temos controle, senti dores musculares como se tivesse carregado um peso de cem quilos nas costas, mas, na verdade, apenas fiquei lendo os seus pensamentos em posições desconfortáveis. Estranho, você tem cheiro de poesia mansa que me dá a motivação errada para fazer a coisa certa. Tem cara de gente que dá carona no guarda-chuva, que não dorme com o barulho da tempestade. Olhar incisivo, rugas cansadas, expressão vacilante de quem soletra os clichês de trás pra frente. O rosto descarregava pieguice na escrita e frieza nas ações. Será que estaria disposto a compartilhar um silêncio confortável comigo? Tinha cara de quem aparecia, parecendo até que gostava que ficar, daqueles que gosta quando a pessoa chama pelo nome como se fizesse carinho nele. Então vamos numa apresentação de circo, num bosque de ecos convictos e alívios imediatos conversar e “sentimentar” sem compromisso, sem descaso. Ne me quitte pas dançando com a saudade, não deixe a solidão sem par. Vamos compartilhar dessas motivações que renascem do nada, vasculhar gavetas, estantes, instantes, coisas que a gente pode empilhar. Dormir para adiar dores, quem sabe até amores.
Vale a pena, não vale a pressa.
Olhei dos pés à cabeça e disse: “Moço, até que você é abraçável.”
E ele sorriu de volta.
Minha alegria naquela tarde me embalou num sussurro e não queria soltar mais.

Inserida por AmandaSeguezzi

“Tem gente que deixa a nossa vida mais bonita, e chego até a suspeitar que morem em algum beco do arco-íris. Acho que os invejo de certa forma, porque do meu ponto de vista as estrelas estão espalhadas ao chão e eu nunca teria a capacidade que pregá-las junto ao céu de novo. Vejo um mundo antagônico com cores invertidas, ventos contrários e até me acomodo no avesso. Já não me reconheço e isso é uma das piores sensações que se pode existir. Tem gente que é tão linda por dentro que chego até a cogitar que tomem perfume doce. Elas não conhecem conversas, muito menos sentimentos unilaterais, e eu também as invejo, uma vez que sempre acabo confirmando a teoria de que o mundo é uma fábrica de chateações. A partir disto, vou me enchendo de coisas inacabadas, meia garrafa de vinho barato, meio cigarro, meia-vida. Valorizando objetos inanimados e seres humanos do mesmo escalão, evitando a refração dos raios solares e até me aliando aos redemoinhos convidativos que passam por aqui de vez em quando. E não há o que me comova ou fé que aguente, paz em outros tons, esperança de cheiro afetivo. Porque assim que a solidão me surra eu a encaro com pesar, ela até sorri com os olhos e me faz acreditar que meu coração apenas acordou mal humorado. E com a mesma frequência com a qual eu tento me reinventar, percebo que sou parte de um todo indivisível, que apenas mostro aos outros o que os cativa e encanta. Na verdade, sinto a podridão de dentro e o recesso da alma, sinto uma verdade escondida bem no fundo de onde nunca pensei em procurar. E eu sinto muito, mas não por mim. Partindo do pressuposto que de nada me importa e que por muitas vezes até consegui me imaginar sendo feliz com alguém nesse muro de lamentações. Mas não importa. Saúde é o que importa. Saúde absoluta que não se compra em farmácia, amor muito menos. E saúde e amor nem sempre são relativos, o que me intriga, porque eu me sinto saudável quando as pessoas que me rodeiam se encaixam em metáforas que ouso até afirmar como amores reais. E até que gosto. Porque meu coração palpita esperança repentina quando vem o cheiro de calmaria dentro de um livro. Porque o meu coração fareja doses inconstantes de confiança de quem está disposto a ser lido e não ter medo do resultado. Tem gente que traz nos olhos milhares de fogos de artifícios e eu até desconfio que eles cultivem furacões. E se as tempestades da alma forem igual um pré-temporal de fim de tarde, eu até consigo encher o meu vazio de sentimento bom e ser feliz por alguns minutos. Ou horas.”

Inserida por AmandaSeguezzi

“Somos pequenas granadas de hesitação, não somos? Quem sabe até bombas atômicas implosivas. Flertes impulsivos, cartas que não foram enviadas, quiçá escritas. Somos lençóis de aromas distintos, hálitos, diferentes hálitos. Pra você o céu é vermelho, já o meu um cintilante lilás. E continuamos assim, um camuflado de folhas caídas. Calmaria que esvai junto ao vento. Tão leve... Somos as somas dos erros e as sobras das palavras. Somos o diminutivo de carinho: que não existe. Por que não sermos um? Somos aquelas frases clichês ditas no calor da hora, as malditas risadas durante um beijo. Um furacão que não cessa. Paz que não se acomoda, somos um trilho sem fim que não aceita paradas bruscas dentre as estações. E o que eu faço? Se procuro qualquer rastro teu nos variados desatinos dos querubins, em rostos indiferentes, eu procuro. Descubro então que tenho tratado a dor e não a causa dela, que não encontro a melodia que tanto preciso se não for me arrastando por tua rodovia de quase-estrelas. Até o tempo está me perdendo e parece não se importar. Em todos os sentidos, os opostos, os corretos, os incertos. Não acompanha meus rastros, minhas pegadas num sentido torto ou noutro que eu desconheça. Não se convence de que, por sentir demais, minhas direções se tornaram incontáveis. E era assim, apesar do teu todo ser uma tempestade infindável eu sempre me perguntava como conseguira roubar todo o brilho do sol só para si. Aí, entre as queixas, entre a curva do teu queixo, eu compreendo que também somos criminosos, eu com a selvageria imprudente do coração e tu com as gotas de mal-me-quer escorrendo pela boca disfarçadas de veneno doce. Rodopiávamos na mesma sinfonia, contudo não no mesmo ritmo. Os teus olhos expressavam a pressa, os meus procuravam conforto na eternidade de apenas um segundo. Eu até podia supor que éramos os suspeitos habituais de uma pesarosa mágoa que não traz culpa nem vontade, mas sim voracidade e descaso. Entendi que nossos laços, sanguíneos, sarcásticos, abrasadores não se encontravam nas mesmas vielas. Porque nós somos um camuflado de folhas caídas que correm por veias diferentes. Coágulos de finitos desamores.”

♦ No último segundo de vida a gente pensa em quem?

Inserida por AmandaSeguezzi

“Eu acho que a gente se acerta.
Na mesma fagulha, no mesmo teto. Na correnteza contrária, no elo infinito. Num beco da vida, num banco de praça. Ah, a gente se ajeita. Num cômodo pequeno, em foto 3x4. Em ideias fúnebres, em um blues anos 60. A gente se ampara até nos desencontros. Nos contrapontos, rumo contra o tempo. A gente se restringe a uma história por dia e três sorrisos por mês. Matamos quatro lembranças e dois dragões por sonho. A gente se acerta nos erros, na curva do engano, na rota do ego, na estrada dos ensejos. Ah! Sim. E chegamos a fingir que os sentimentos suspiram como balas perdidas inesperadas, e nos enganamos, pela milésima vez, de quê somos de naipes diferentes, peças de quebra-cabeças totalmente distintos que se encaixam de vez em quando. Que não ligamos para a laceração do orgulho ou pro precipício da eternidade. Acho que a gente se acerta. Você aí e eu aqui. Evitando os olhares certos, os lugares errados, a hora hipotética apenas para não se render aos encantos de um perfume doce. E posso até cogitar que a gente se equilibra. Na solidão das queixas, no vazio ao qual o preenchimento ainda é uma incógnita. Na carência flamejante, na cama desarrumada, respiração desregulada. Percebo então a falta do xeque-mate, da surpresa que não surpreende mais, nos carinhos intermitentes. Porque eu aceito as circunstâncias da confusão para que o segredo das mordidas no pescoço continue oculto. Eu suporto o peso regresso, as sensações anacrônicas, mas nunca a risada sarcástica das despedidas que pesam os teus ombros, e nos meus olhos. E assim eu acho que a gente se acerta. Você com os olhos negros distantes e eu poetiza dissimulada. Ambos sonhadores e criminosos.
Ah, a gente se ajeita.
Quando dá, a gente até se fantasia de criadores de caso e adoradores do caos pra nunca se perder de vez.”

- Ao regresso que odeia despedida.

Inserida por AmandaSeguezzi

Lembro-me de você uma vez por mês
Lembro-me de você somente 1 vez por mês,
Porque não há muito que lembrar,
E de lembrar uma vez por mês,
Eu vou esquecendo-me de lembrar,
Vou editando a memória, apagando as histórias,
E por fim, apagar... apagar tudo da memória.

Em lembrar que me lembro de você uma vez por mês,
Lembro que não me lembrei de você em setembro,
Nem setembro, nem agosto, nem julho,
Sim, lembrei-me de você em junho, me recordo disso.

Inserida por ammyandrade

Liberte seu lobo, antes que ele te destrua por dentro, e em seguida por fora.

Inserida por AmandaLB

Escrever não é assim simples... Mas podemos fazer isso transparecer como o sorriso difícil no rosto de um dançarino esforçado...

Inserida por AmandaReznor

Aos que me dão lugar no bonde

e que conheço não sei de onde,
aos que me dizem terno adeus
sem que lhes saiba os nomes seus

Inserida por amandadelara

Coloquei uma boa música e fechei meus olhos. Ao fim da música me despertei, sem me dar conta de que fui até outro mundo e voltei, em minutos.

Inserida por amandagomez

E em cada olhar um novo rosto!
um novo sorriso!
um novo sentimento!
que não se apresa para o sucesso,ela anda! E essa pessoa é a

Inserida por michaeldouglasoficial

E em cada olhar um novo rosto!
Em cada sorriso uma alegria
Em cada olhar uma armonia!
você é linda como uma deusa,mas tem coração de humana!
Isso foi pra você <3 AMANDA <3

Inserida por michaeldouglasoficial

Lembre-se: o inposivel é apenas uma das especialidades de DEUS!

Inserida por amanda10tose

amigo verdadeiro é aquele que ri, chorra, as vezes igninora mas que numca vai embora!!!.......

Inserida por amanda10tose

"De um modo geral, todas as minha conversas mais produtivas traziam consigo uma generosa quantidade de álcool no sangue. A sobriedade nunca me caiu bem e, certamente, as melhores teorias, as quais encaro até hoje, foram criadas no meu pior momento de frenesi. A solidão caminhava por entre as ruas constantemente ao meu lado, entrelaçávamos as mãos e raramente decepcionava-me. O silêncio era bom, a madrugada era fresca, perigosa e pela primeira vez na vida eu não precisara dar satisfações a ninguém do por quê estar caminhando sem rumo aquela hora. Talvez o ato mais falho do ser humano seja esse, procurar amor numa dose de álcool, esperando um milagre, uma morte súbita, um subsídio repentino. Esperando, esperando. Esperar.. Confinar-se na fachada da aparência, bordando traços de um vazio trivial, constituindo máscaras, expandindo muralhas, encobrindo rastros, cultivando declínios e ocultando emoções. Através de um silogismo fraco, deparo-me com a conclusão óbvia de que nascemos para almejar, aguardamos a fase boa, a ruim, a péssima, somos constantes pessimistas; seres inanimados consumidos pelas horas de felicidade. As minhas eram essas. A calmaria era primordial, assim como a ausência de som sucumbia as distrações. Álcool é coragem líquida, cronômetro disparado, conselheiro mórbido e dissociativo. Procurei nos bolsos do casaco alguma senha ou comprovante que confirmasse à minha consciência de que minha hora de sucesso chegaria, porém não o encontrei. Deveria existir algo do tipo, um breve rascunho do futuro. Certezas! Até que este dia chegasse eu ansiaria, definharia. Alucinar sobre espaço e tempo fazia o mesmo rodopiar rapidamente. Em parte era revigorante. Era. Frases sobre o tempo que cura tudo já não fazem mais efeito sobre mim. Quem sabe, expectar a metamorfose das ideias era algo de nascença e presente no subconsciente humanitário. O que é desvantagem em qualquer meio. Expectativas em algo ou alguém é falta de juízo, é o serial killer das probabilidades, tal qual Esperança é o nome de um penhasco escorregadio. Presenciei em várias situações a nunca colocar fé em nada e nem ninguém. Num mundo onde empatia e álcool estão sempre em crise, nascer com um coração e um fígado já era um dano auto destrutivo. Morre-se por amor ou por cirrose. Dane-se, lobotomia doía e o elixir da amnésia imediata constantemente era fundamental.."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Penumbra constante, dissipando a memória, sugando as esperanças, desafiando os sonhos bons. Abismo de ilusões, buraco negro de situações errôneas e obscuridade leviana. Neblina negra que obstrui o elemento "força de vontade" e incendeia a serenidade."
Escrevi este verso em uma capa de livro há alguns anos, lendo-o hoje, percebo que minha opinião não mudou uma vírgula sequer. O amor é aquela praga que infesta plantações, corrói folhas, apodrece as raízes da sanidade. É aquele relógio parado. Agoniante. Felicidade provisória tal qual egoísmo é o vírus expansivo pertinente. Cada gota do temporal é uma lembrança e cada dose é uma ressaca de recordações. Amor é aquela religião inventada pelos fracos, de auto-confiança escassa, incapazes de sustentar-se em seu próprio eixo. Se fosse algo bom, nasceríamos costurados em nossa alma gêmea, usaria-se rédeas e grilhões. Entretanto, veja bem, num sopro de bom senso, obtém-se o direito de escolha, constando que seguir em frente é sim opcional.
Perder-se em um vício ou aliar-se à ele? Eis a questão.
Ser uma pseudo escritora falida levava-me a flertar com o garçom do bar toda sexta à noite. Enquanto servia-me, imaginava quantos desgraçados ele conhecida todos os dias, se era alcoólatra ou procurava libertinagem a cada noitada.
"Eu deveria trabalhar num lugar assim." - Pensei.
Meus versos de falso amor para uma pessoa falsa de nada valiam, todavia um depósito de destilados me cairia bem. Pelo menos em algo bom isto é lembrado, neste mundo tão vasto, existem mais órgãos compatíveis do que pessoas adaptáveis. Dissimular sobre estes assuntos tão moralistas era como repelir qualquer tipo de bons fluídos, estes que ainda compõe uma pequena parte do mundo. Ao invés que aumentar minha capacidade filosófica, envelhecia-me uns 20 ou 30 anos. Eu não deveria ficar tão surpresa com essas situações que encontram-se em constantes modificações. Sentimentos se perdem quando a consciência é imposta.
Cada segundo passado pelo ponteiro do relógio incita teu nome, porém eu o enfrento, desafiando o estado inerte de minha alma. É revigorante. Ao invés de um surto, trepidando-me emocionalmente, sento diante de minha velha máquina de escrever, desenvolvendo a crônica mais ingênua possível e parando bruscamente no clímax, aquele onde decidistes atravessar porta à fora, deixando-me sem ao menos um tostão de felicidade. Tão clichê. Outra tentativa. Flagrei-me mais uma vez ironizando os fracos sentimentalistas que por aí estão. Sentia-me um pouco mais contente. Sentia a onda forte de hipocrisia inundando meus limites e expondo feridas adormecidas. Sensação vaga essa. Nada que uma sutura de alegrias momentâneas não resolvesse. Por ora.."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Quase toda manhã, compro um café e sento na praça para apreciar as pessoas. Elas são engraçadas, passam correndo, gesticulando, falam alto ao telefone, meio lesadas. Não parecem possuir sentimentos muito menos problemas. São máquinas auto destrutivas e, de certa forma, isto me transmitia segurança, alívio e até receios. Os imaginava em um tabuleiro de xadrez. Os enamorados são as primeiras peças eliminadas. Eu os repudio. Essa felicidade genérica em suas expressões é tão momentânea e superficial. Excepcionalmente hoje, observar os pássaros parecia-me imensuravelmente mais interessante. Observem-os. Tão livres e coloridos, o maior de seus problemas é migrar no inverno para um lugar tropical.
Ah o calor!
Contudo, a parte mais aguardada era às 10hs, a saída da ruiva misteriosa da livraria, tão bonita e despreocupada. Se a mesma fizesse parte do jogo, certamente seria a rainha, ao julgar pelo livro de Jack Kerouac apertado entre seus braços. Da loja até a esquina mais próxima, ela desfilava uns cinco metros, parecia tão decidida e firme. Eu gosto de admirá-la, como um irmão, um avô, até mesmo como o pai dos seus filhos. Eu poderia esbarrar nela propositalmente e elogiar sua escolha literária, perguntar se passou pela prateleira dos livros menos procurados e encontrou o meu por lá. Arrumaria um emprego na livraria e a indicaria Bukowski, colocando um bilhete entre as páginas, tal qual sendo um convite para jantar. Em meia hora de conversa, ela me acharia um cético fanático, mas iria rir sobre minha forma de ver o mundo e soltaria frases de Nietzsche para que nossos assuntos entrassem em sincronia. Nos viciaríamos um no outro. Ela me conheceria bem e eu decoraria o aroma que ela traz. Entretanto eu sempre ansiaria o fim. Quem sabe a ruiva era uma engenheira ou professora, será que se importaria em casar-se com um escritor falido e sem ideias? Eu ficaria cego por seus encantos e até arriscaria compor o poema amoroso mais babaca, todavia o mais apaixonado que poderia ser feito.
Mas qual é a cor daqueles olhos?
Podem ser aquele tipo de arco-íris fatal, um carnaval tão convidativo, tão belo... Armadilha tão tentadora. Quem sabe se ao invés de ficar bebendo nas madrugadas de insônia, eu a observasse dormir. Quantas aleatoriedades levariam-me a arrastá-la ao melhor restaurante, ajoelhar-me diante dela e falar durante dez minutos sobre o quanto a admiro, persistindo na certeza de que a tal ruiva é sim o meu amor pra vida inteira.
Mas como se nem ao menos sei o nome dela?
Ainda desconheço o melhor método de indagar alguém. Qual é a melhor forma de tentar uma aproximação imediata se eu não gosto de apertos de mão e beijinhos no rosto me deixam nervoso? Reflito por mais alguns minutos e percebo a inutilidade de todo este esforço.
Poderíamos brigar, eu sairia bravo, poderia sofrer um acidente. Posso passar mal e descobrir que tenho apenas alguns meses de vida.
É. Não vale a pena tentar montar esse quebra-cabeças de cinquenta mil peças.
Existem pessoas que despertam nossos interesses, sentimentos confusos, estranhos. Convive-se com ela por um determinado período e é obrigado a admitir que o cachorro é sim o melhor amigo do homem. Passa um tempo, sofre-se o suficiente até chegar ao extremo de conhecer outro alguém. É o ciclo interminável da incapacidade de ser só. O medo maior é morrer sozinho, mas é sempre assim. Tenho que me acostumar com despedidas, trens partem o tempo todo, assim como os pássaros que acabam sempre voltando aos ninhos. Não importa o que aconteça, eu estarei toda manhã sentado na praça com o meu café amargo, contemplando o retrocesso humano.
Até o dia do xeque-mate..."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Entre tantos medos que me afligem nenhum deles compara-se ao pânico do passado. Aquele veneno doce, sublime e passageiro. Ah o passado. Quem me dera repetir momentos que nunca tornarão a suceder. Quem dera não tornar-me o que sou hoje. Ah lembranças. Que tanto machucam, que tanto ardem. Passado é aquela música chata que não sai da cabeça, é aquele zumbido pertinente no ouvido. Uma luz no fim do túnel que nunca parece chegar.
Ah os ecos derradeiros do pensamento. Esse aperto no coração que não decide em ser certo ou errado. Ah essas palavras soltas em frases imprudentes cercadas de intenções fúteis, entretanto tão confortáveis quanto um manto quente no inverno. Ah essa tristeza que me consome e me atormenta, mudando minha percepção de "tempo e espaço", difundindo minha personalidade e desencadeando detalhes antigos até então nunca observados. Ah aquele último abraço que não parecia ser definitivo. Talvez nossa almas fossem como aquele whisky envelhecido que melhora ao longo dos anos, distinto, raro e melhor avulso. Ah bebida. Meu estado de tristeza era basicamente como ir à festa e beber socialmente, eu escondia meus piores vícios numa máscara de porcelana. Sorriso no rosto, vestida com a audácia de um lobo, coberta por um manto de individualismo e de expressão tendenciosa. Escrúpulos não me moviam mais, contudo sempre era capaz de esquecer o esquecimento e afundar-me aquele mar de desalento inebriante. Ah o dom da memória seletiva. Amnésia nunca fora tão bem-vinda, dei dois tapinhas em seu ombro e a convidei para beber comigo.
Eu gostava de sentar na mesa de bar e observar o gelo do copo derreter, o que constatava minha teoria de que tudo que é sólido pode deformar-se e deixar de existir, que nada dura.. Gostava também de ouvir de estranhos histórias de amor que não deram certo. Era engraçado, as pessoas que quase nunca sabiam ser sinceras, quando baixavam a guarda, raramente dialogavam olhando nos olhos. Ah o corpo que tanto fala, sinais tão imperceptíveis que fazem toda a diferença. Toque no seu local mais sensível e descubra que o ponto G está nos ouvidos. Você também adquire conhecimento ficando de boca fechada e prestando atenção nos erros dos outros para não cometê-los futuramente. Mas sempre os comete.. Os contos são sempre os mesmos, porém com personagens diferentes que já tentaram alguma vez criar um mundo perfeito e esporadicamente o conseguia. Assista de camarote essa estrutura se romper e sinta o sentimento de viver de ruínas antigas. Ah esse labirinto inacabável de rancor e felicidade, onde o paradoxo é visível e a utopia é um quadro bonito e intocável. Ah essa loucura de não conseguir desvencilhar-se dos trilhos do sentimento, dos mapas desse sorriso traiçoeiro, de um olhar incisivo e vazio. Amor é tudo o que não é. Amor é só uma palavra que, dependendo das escolhas, altera o sentido da vida. São as palavras que machucam, as suposições que agonizam, que colocadas de má vontade acarretam lembranças com o dobro da vivacidade com que aconteceram. A memória, essa sim, inimiga frequente que te encara com um sorriso malévolo no rosto. Quero desatar todos os nós que nos prende, assim como aquelas manias já irrevogáveis. Vontade de queimar aquele colchão que ainda traz teu cheiro, me desfazer do passado que insiste em aparecer por aqui de vez em quando. Devolva-me, me quero de volta. Eu só não preciso de maus conselhos. Assim como qualquer ato que conecta minha linha de pensamentos com a tua teia imaginária de falsas ilusões não existe mais. Não posso mais ser aquela menina má que quebra as barreiras do esforço involuntário para visitar-te nos teus sonhos quando você bem quer. Tenho que me comportar. O inferno ficaria pequeno demais para nós dois..."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Por mais sem sentido que fosse, eu simpatizava muito com a ideologia de esconder-se num mundo irreal e imaginário. Nele eu invento. Sou rainha, dama da noite, a peça que se encaixa em todos os quebra-cabeças. Nele eu te moldo. Reestruturo tua sensibilidade e altero o status da tua liberdade. Nesse mundo perfeito, viajamos através das cores do arco-íris e Sofrimento é o nome de um reino distante. Aquela valsa só não é mais bonita que o pôr do sol refletindo a cor do teu olho, aquele sol não é tão mais puro quanto o sossego entorpecente que tua presença me traz. Entretanto nunca saberás deste lugar. Não correrás comigo na chuva de algodão e não saberás que as flores do campo se abrem devido ao teu sorriso e não por culpa da primavera. Neste espaço, te esculpo em mil faces, mil trejeitos. Te sequestro de mil maneiras, te roubo, me envolvo precipitadamente, contudo não me precipito em querer-te tanto só pra mim. Ficas perdido em meus labirintos, na trama dos meus cabelos e nas curvas do meu corpo.
Apenas te perco quando desperto. Meus dedos sempre dançam nas teclas da máquina de escrever, enquanto te desenho com minhas palavras. A realidade é perturbadora, assim como aquela saudadezinha que bate na janela de madrugada de vez em quando. Eu não me adaptava a isso tudo, só assim eu pudera perceber que as ilusões escaparam pelas frestas do pensamento e assumiram um papel real. Era engraçado como eu amava sozinha. Era engraçado alimentar um animal sedento por afeto, atribuindo qualquer pequeno gesto como um sinal de esperança serena. Realidade é olhar para uma estrela cadente e querer desejar qualquer coisa, no entanto sempre acabar comparando o sorriso dele com o brilho de uma constelação. Inevitável não pensar. É dançar conforme uma música desregulada onde sabes que os passos estão errados, mas sabes que não se pode modificá-la ou trocar o disco por não seres tu o ser dominante. Queria reviver aquele ensejo onde não precisava visitar esse mundo paralelo com frequência para sentir teu semblante, aquela ocasião onde eu não precisava decorar o teu cheiro e lembrá-lo todo dia, pois eu podia senti-lo a cada madrugada quando estavas ao meu lado. Ah que frenesi. Te desfaz nos meus braços de novo e me mostra que o infinito é quando nossas almas entram em sintonia e se reconhecem. Infinito era aquela tatuagem discreta no antebraço que ele possuía. Era como eu definia aquele pequeno instante que passava mais que depressa. Era como se perder num universo colateral e não se importar se a eternidade perpetuasse. Era veracidade e virou quimera. Era exatidão e transformou-se em teorias impraticáveis. Aquilo que existe de fato nunca fora bem-vindo, converteu-se em infortúnios cercados de linhas cruzadas e reviravoltas inimagináveis. Quem diria que trazendo nosso mundo à baixo eu conseguiria sorrir amarelo para as possibilidades reais da vida? Mas é assim mesmo, ninguém se alimenta de presenças e lembranças não te fazem respirar. Não tem volta e eu já me conformei. Faço do teu silêncio um argumento e da tua ausência um contrato com o sossego, enfim."

Inserida por AmandaSeguezzi

"Essa é mais uma daquelas histórias sem final feliz, uma vez que ainda não teve fim. Mais uma história quanto tantas outras que vagam pelo universo, cercada de caminhos cruzados e situações antagônicas.
Não lembro ao certo como começara o envolvimento entre Maria Beatriz e Pedro Henrique, e não faço muita questão de recordar. Creio que fora em uma festa a qual ele se interessou nos fios do cabelo loiro dela e ela se encantou por aqueles olhos verdes. Trocaram telefones, toques imperceptíveis e risadas esbaforidas. Ele a convidou para uma bebida em seu apartamento, contudo pela primeira vez, sentia-se estranho por não invitá-la com segundas intenções. Maria Beatriz lembrava sua ex-namorada, todavia possuía um certo mistério que a tornava interessante e diferente das outras. Ela, por sua vez, não era aquele tipo de garota fácil que aceitava visitar o apartamento de um desconhecido. Mas algo a instigou a ir. Pelo meio do caminho discutiram sobre o melhor álbum do Metallica e ela ria descontroladamente pela mania que Pedro Henrique tinha de fazer sons estranhos com a boca quando faltava-lhe assunto. Subiram as escadas em silêncio e ao chegar na porta de número 13, Pedro Henrique a encarou por alguns segundos. Maria Beatriz sentia-se incomodada com encaradas bruscas, tomou a liberdade de virar a chave e abrir a porta como se frequentasse a casa de um velho amigo, gostou do que viu e surpreendeu-se com a organização do tal local. Em meio a vinhos e risadas surgiu aquele tipo de envolvimento manso, e de certa forma estranho, dócil e fugaz, deixando aquela sensação de querer novamente. Maria Beatriz acordara cedo e não sabia exatamente como agir com o menino que dormia ao seu lado. Que angelical. Ela queria poder sair correndo ou que o chão se abrisse no meio do quarto. Será que ele gostava de café na cama? Não Maria, não. Ela queria poder voltar a esse espaço em alguma outra oportunidade, então "esquecera" o casaco propositalmente em cima do sofá laranja. Passou-se um tempo. As visitas eram constantes, assim como as idas ao cinema, restaurante, shows, peças de teatro, enfim. Era um mundo novo para Pedro Henrique, Maria Beatriz era como aquela amiga de infância que ele nunca tivera, era aquela amizade colorida a giz-de-cera, meio borrada e com traços não tão definidos assim. Ela pensara em esquecer o casaco novamente no apartamento dele para assim ter sempre um motivo que a fizesse visitá-lo e cuidá-lo. Mas ele era mais esperto, preferia que, ao invés de esquecer o tal casaco, ela pudesse se esquecer um pouquinho por ali. Era tudo uma grande brincadeira. Com o tempo, ela pegou a mania dele de dormir com os pés descobertos, já ele, não passava mais nenhum domingo sem ouvir Florence and the Machine no volume máximo. Ah esse circulo vicioso de imperfeições que unidas formam um ser quase perfeito. Ele gostava do cabelo dela bagunçado pela manhã, entretanto gostava mais quando o mesmo fazia a bagunça. Maria Beatriz vestia suas camisas e ficava abismada com a capacidade dele de jogar as toalhas molhadas em cima da cama. Não, eles não moravam juntos, muito menos tinham algum relação.
Ela tinha medo de que ele não conseguisse explicar o que ela queria entender, ele tinha receio de que ela entendesse o que não tinha explicação. Amor? Não. Era um esquema mais simpático. Amor se finda, amizade permanece e cumplicidade, essa sim atravessa as barreiras de um relacionamento comum. Eles sistematizavam a fidelidade como uma camada fina de emoções momentâneas. Utilizavam-se da lealdade como quem respeita a pureza de uma criança inocente. Trocavam segredos, experiências sem sucesso, mas nunca sentimentos mais fortes, era a regra numero um da boa convivência impessoal. Maria Beatriz e Pedro Henrique nunca tiveram seus nomes marcados em uma música do Legião Urbana e tampouco combinavam. Eles se perdiam em outras pessoas, mas rapidamente conseguiam se encontrar em um abraço quente. Maria Beatriz não sabia o por quê de ser obrigada a ir ao pequeno apartamento, naquela vila tão distante em outra cidade para conseguir paz de espírito. Talvez o "13" estampado na porta era seu número favorito e a outra cidade seja mais receptiva e tranquila. Ou só talvez, passar algumas horas com aquele amor-amigo servisse como uma terapia de choque, que por enquanto ainda não doía. Por enquanto.
Eles dois eram como aquela mágica de encontrar um novo sinônimo para a palavra Amor a cada olhar que trocavam. Mais do que flechar seu coração, ela alcançou sua alma e acomodou-se por lá. Quem diria hein Pedro Henrique. Quem diria que seu coração bateria mais forte pela menina de sardinhas no rosto..”

Inserida por AmandaSeguezzi