Sou a Loucura e a Sanidade
Tenho um medo terrível da sanidade, triste, previsível e efêmera. A loucura imaginativa das cores e formas me alimentam todos os dias, diante dos desconfortos da vida, como ela é. Sinceramente creio na maior liberdade do hospício muito mais que entre o zig zag dos autômatos fantasiados de gente nos escritórios contábeis, enforcados e engravatados.
Entre a sanidade e a loucura
É difícil delimitar o lugar onde começa a tua liberdade de calar e a minha de aceitar o teu silêncio. Não é fácil fazer com que você enxergue a tênue linha que divide o meu respeito pelo teu momento e o meu "tô nem aí", o "tanto faz" e, isso me angustia.
Qual foi o instante em que essa letargia ultrapassou tuas barreiras de defesa e como nuvem de fuligem impregnou os meus sentidos fazendo de mim tua aliada?
Quando o tic tac do relógio anunciará que sua vida voltará a fazer parte da minha? Diz-me, por favor, quando?
Qual o momento de estender-te a mão ou continuar permitindo me manter cúmplice das tuas loucuras?
Que hora é essa meu Deus que o eco do teu grito mudo alcançará a frequência do meu sentir como um pedido de socorro? Que hora é essa?
Qual o momento exato nesse espetáculo circense da vida, onde fazemos malabarismos diários sem rede de proteção que o teu salto ainda alcançará as minhas mãos?
Talvez, na realidade,
a loucura possa ser
uma amostra de sanidade,
uma fuga momentânea
para não surtarmos de verdade.
És a minha loucura,
És a minha sanidade,
És a minha ternura,
És a minha saudade,
És tudo o que me livra,
És toda a minha vida.
Você chega com a noite,
E também com a manhã.
És o meu Sol,
És a minha Lua,
És o meu sal,
És o meu mel,
És o meu céu,
És a minha doçura.
Você chega com a brisa,
E nunca vai embora.
És a minha batalha,
És a minha unção,
És a minha glória,
És a minha preferência,
És a minha história,
És a minha paixão.
Você nunca chega,
É porque nunca foste.
És a minha poesia,
És o meu verso,
És a minha prosa,
És o meu poema,
És a minha biografia,
És a minha trova.
Você sempre dentro,
da minha pele e do sentimento.
És o meu tudo,
És o meu nada,
És o meu recato,
És o meu tempo,
És o meu corpo,
És a minha vontade depravada.
Há vezes que a razão, a emoção e a loucura se juntam em minha sanidade de vida. Eu desfaleço nessa comoção infinita. Espavento meu de noites mal dormidas.
"A LOUCURA É TINO À SANIDADE. A HISTÓRIA FOI, É E SERÁ O CERNE DA LOUCURA, E OS "LOUCOS" SUJEITOS DO OBJETO"
Desconfio muito da sanidade dos "normais". Os que não sabem enlouquecer só conhecem um dos lados da moeda [o árido e sem graça]; para esses, rotular tudo é sempre mais fácil. Quem tem medo de abismos teme também os que voam alegremente sobre eles...
Para que não se apague em nós a brasa voraz da sanidade é necessário reavivá-la constantemente com um leve sopro de loucura.
A sanidade é o equilíbrio entre o emocional e o racional. O equilíbrio do emocional por não te levar a loucura das imaginações, cogitações e ilusões, e o equilíbrio do racional por não te levar a loucura das lógicas absurdas e céticas.
Sou um pouco louco
com relação à minha sanidade,
mas muito lúcido
quando se trata de meus devaneios.
Se parar para perceber
a sanidade da sociedade
e a santidade dos religiosos
poderás entender
que hospício é retiro
e o céu não é pra você.