Sombra
Só a Graça Divina pode nos conceder sentir o verdadeiro amor, do qual o amor que conhecemos ordinariamente é uma pálida sombra
O mormaço.
Em dias de frio eu pego um casaco,
Dias de saudade pego seu abraço
Que é quente igual mormaço,
Daqueles que queimam até na sombra e dia nublado.
A força que nos move.
A força que nos move é a luz que se esconde na escuridão que nos rodeia, que equilibra o fraco com o forte, tornando o rígido e o inconsistente em maleável, para que haja o equilíbrio do discernimento.
Há sons e imagens que ficam dentro de nós fazendo um eco que só aumenta. É algo enlouquecedor, não é mesmo? Parece que nunca mais iremos nos livrar desse som, desse eco, dessa sombra tão escura, desse lugar de loucura.
Sozinho na escuridão (Alone in the Dark)
A escuridão que faz parte de mim sempre foi convidativa, por mais que os feixes de luz que atravessam meu vazio, ela ainda me consome. Aqui é nebuloso, frio, denso, existe um único reflexo, a minha sombra me puxando para baixo como uma singularidade de um buraco negro em contração infinita.
A morte me observa no breu, ela sabe que ainda não é hora, mas continua murmurando em meus ouvidos, me parece tão convidativa, um sorriso tão aconchegante antes de abrir os olhos. A minha alma se torna desesperada quando decido caminhar no limbo, sabe que estou perdido nos pensamentos, sente que não tenho medo de nada na vida, nem na morte, ela sabe que minha única dúvida é se faria tudo isso por mim mesmo. Ter perdido tanto, toda essa dor acumulada, sinto que estou desfragmentado em sequências matriciais e ao fundo o grito desesperado, estou amarrado a uma camisa de força suja, não sei se estou flutuando ou apenas com o pés no teto, não estou triste, talvez não consiga mais, o sangue evapora como as chuvas de verão, tons de cinza escuro e preto colorem minha casca, mergulho e tudo que sinto ao redor não passa de petróleo. Nesse momento me pergunto, onde se foram as minhas orações? Abro os olhos novamente e me afogo em outro copo de bebida, efeitos colaterais no labirinto, desejos mortos servem de fogueira para meu ego, lembro que acabou o "Risperdal", o que farei em mais uma noite em claro?
Estou desmoronando de dentro para fora, alguém me diga que eram apenas aspirações da minha cabeça, no meu leito de morte rogo aos antigos e novos Deuses, mas quem sempre me escuta são os meus próprios demônios e a única coisa que posso fazer com eles é brindar com outros dois copos ou mais.
No caule macio de uma pequena árvore
palavras escritas ao léu, ao céu,
da pequena que sob sua sombra nascera
coberta pela poética e seu inspirativo véu
sentimentos, ideias e ideais, os quais
realmente nem sabia o que eram,
versos ainda poucos, alguns roucos,
vindos de dentro do coração,
murmurando a poética pela tapera,
quimeras em metáforas de ilusão
Estamos passando por uma fase sombria, onde reina a escuridão e trevas. Precisamos transcender e fazer brilhar a nossa luz, caso contrário seremos sufocados por ela.
Quisera roubar um pedaço do crepúsculo e assim tocar o infinito, pois ele sempre existiu e existirá. Sigo então à procura desse âmbar intocável em mais uma tarde que esmorece em direção à noite. Nesses momentos sou uma sombra, perco-me e preciso cantar para saber por onde anda meu coração, pois ao crepúsculo de cada dia - mais um pedaço se vai. Sou finita, jamais saberei as verdades todas. Quem toca-me é a mão de veludo desse entardecer. Junto a ele faço uma prece, agradecendo mais um dia, mesmo que não tenha sido tão bom, mesmo que a esperança tenha vacilado ou que a saudade tenha dado o ar da graça dentro do coração, mas este é forte e tem lugar para muito mais ainda.
FISGA SOLAR
Que atração radiante o sol
É uma dádiva que fisga
Mais que um peixe olhar pro anzol
Vai clareando alguma cisma
Ceva os sonhos de um mortal
Que mal sabe o que precisa
Meio-dia tudo igual
Quando a sombra está concisa
Reconforta um ideal
Que "é levado" mais acima!
"O método mais simples consiste em listar todas as qualidades que não apreciamos nos outros; por exemplo, vaidade, irritabilidade, egoísmo, maus modos, ambição, etc.
Quando a lista estiver completa (e é provável que ela seja bem longa), destacamos as características que não só nos desagradam nos outros mas que também odiamos, detestamos e desprezamos.
Essa segunda lista será uma imagem razoavelmente exata da nossa sombra pessoal. Talvez ela seja difícil de acreditar e mais difícil ainda de aceitar.
É claro que nem todas as nossas críticas sobre os outros são projeções de traços indesejáveis da nossa própria sombra; mas sempre que a nossa reação ao outro envolve emoção excessiva ou reação exagerada, podemos estar certos de que algo inconsciente foi estimulado e está sendo ativado. Como já dissemos, as pessoas sobre as quais projetamos devem ter um "gancho" no qual a projeção possa se fixar."
📗ABRAMS, JEREMIAH; ZWEIG, Connie. Encontro Da Sombra, Ao. Editora Cultrix, 1991.
Universo Introspectivo
Dentro de mim, há mais do que o olhar alcança,
Sou um Mar profundo de pensamentos, em tempestades de emoção,
Navego por esses mares, como estrelas guias,
Que brilham como a luz da introspecção.
Ah, essas noites longas, em que me debruço sobre mim,
Onde o silêncio fala mais alto do que qualquer grito,
Descubro nas sombras que me cercam,
Ecos do meu eu antigo, sussurros de um destino esquecido.
Nessas horas, o mundo externo adormece,
Torna-se mero espectador de um drama íntimo,
Onde eu sou o ator e a plateia, mas sem diretor e a crítica,
Em um teatro onde cada pensamento é um ato e cada suspiro, uma cena.
E nesse palco, luz e sombra dançam,
Entrelaçam-se em um abraço de revelação,
A cada movimento, um mistério recôndito surge,
Numa coreografia de descobertas e transformações.
Em mim, o universo se expande,
Sou uma galáxia de possibilidades em um sistema solar de sonhos,
Cujo os pensamentos, tal qual um cometa errante,
Perdem-se em sentimentos em sua própria órbita.
E assim, nessa dança universal,
Encontro a verdadeira essência da existência,
Não no mundo lá fora, mas no universo aqui dentro,
Na revelação interior, onde cada estrela é um pedaço do meu ser.
Às vezes temos situações que devemos nos pôr de frente ao espelho e deixar aquele dedo apontando para si próprio, antes que o espelho se quebre e andemos apenas na sombra.
TUA VOZ
A tua voz acostumei-me,
Quando ela em meu peito era anuncio.
Feito presságio da noite desperta,
Por sobre o tempo reverberado.
Não aprendi pouco em teu olhar.
Fitei a luz e murmurei a sombra,
Para fazer-me, num só instante,
Andante aprendiz em tua estada.
Em horas presentes de infortúnios e tédios...
Eu choro e espero...
Diante ao vendaval que ruge...
Luto...
Não me entrego...
Tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas...
Junto a toda a gente que eu conheço e que fala comigo...
Em vão tentei quebrar o círculo mágico...
Inútil escapar...
Procurei esconder-me...
Em esperanças...
Em audácias...
Pensei em não mais lutar...
Poetas, que somos nós?
E bater, é bater com alma na bigorna...
Mas vou pelos passeios...
Entre a sombra e a luz...
Meu sonho conduz...
Tirando da alma os bocados precisos...
Nem mais...
Nem menos...
Só o que sinto...
Sandro Paschoal Nogueira
E do fogo veio uma fagulha
Não tenho espada então luto com unhas
Sinto o mar nos pés e quebra a onda
Olho pra cima pra luz
Não pra minha sombra
No silêncio da noite,
O grito de dor se ergue,
A vítima agoniza,
Enquanto a justiça dorme.
Os espectadores assistem o horror,
Permanecem em silêncio, sem se importar.
Eles se escondem atrás da indiferença,
E deixam a vítima sangrar.
A justiça é cega,
A justiça é surda,
A justiça é falha,
A negligência é uma ferida aberta,
Que sangra e dói sem cessar,
E a injustiça é uma sombra escura,
Que paira sobre o mundo sem parar.
§
Em seus olhos
a imagem do céu
sorrindo
transbordando paz
Confiei no tempo
nas palavras houve pausas
formas, reconciliação
Luz interior
em certas manhãs
o silêncio em sombras
nos faz brilhar.
§