Som Alto
Instauraste uma interrogação acoplada numa reticência; perduro impermeável, ouço o som duma toada estrépita; um estoiro concupiscente, voluptuoso. Ah! Encontro-me envolto por xis/ene indagações. Qual há de ser a elucidação pertinente?
Eu vou seguindo na escuridão da noite , na neblina da madrugada , ao som de uma guitarra e com a voz arranhada.
Em cima de um velho piano está a minha sorte, radiado de velas em chamas para que em meio de lamas eu possa me achar.
Pouco antes do alvorecer
Acordei com um belo som
De, provavelmente, um belo pássaro.
Corri até a frente da minha gruta
Fechei meus olhos e apreciei
Deixei o canto e os raios tocarem-me.
Belo pássaro
Onde estará você?
Fugiu ao fim da madrugada.
Passei o dia todo esperando que voltasse
Para que eu pudesse ao menos ouvi-lo novamente
Em vão..
Há tempos não perdia meu tempo esperando pássaros
Ao anoitecer, vi a possibilidade de nunca mais encontra-lo.
Dormi preocupado, sono leve interrompendo-se noite adentro.
No dia seguinte, ao amanhecer
Ouvi o canto
Anunciando a chegada do sol.
Levantei-me e caminhei cauteloso até lá fora
Sentei próximo à entrada da gruta
E fiquei ouvindo-o.
Desta vez pude apreciar tal canto por mais tempo.
Descobri a direção do som
Segui-o
Meus passos eram silenciosos
Mesmo assim não pude vê-lo antes que fugisse
Bateu as asas e partiu.
Não fiquei triste
Vi a possibilidade de encontra-lo novamente
Se acontecer uma vez, poderá ser a única;
Se acontecer duas vezes, poderá ser um início..
Dormi bem, porém, bons pensamentos também roubam o sono.
Acordei próximo ao fim da madrugada
Falei com as estrelas
Disseram-me que o sol logo chegaria.
Será que elas sabiam
Que eu esperava alguém antes do astro?
Esperei sentado em frente à gruta
Olhando naquela direção
Ouvidos atentos a todo movimento.
Vi-o chegar
Dançava no céu escuro
Fez alguns movimentos e pousou
Logo depois
Cantou
Surgiram então
Os primeiros raios de sol
E pela primeira vez
Pude ver as cores do cantor
Tão belas quanto sua voz
Fez-se um sorriso em minha face
Atirei-lhe uma semente
Olhou-me
Olhou-a
Cantou
Encantou-me
E partiu.
Seu olhar era incrível
Queria tê-lo próximo a mim.
Ao final da tarde
Procurei por algumas larvas
E outros alimentos que ele poderia se interessar
E quando anoiteceu
Dormi cheio de esperanças.
Novamente levantei-me cedo
Falei com as estrelas
E preparei o banquete.
Ouvi a dança no céu
E seu pouso suave sobre um ramo
E seu canto
Que parecia mais belo a cada dia.
Quando pudemos nos ver novamente
Mostrei a ele o que eu tinha preparado.
Olhou para o presente
Depois para mim..
Desceu da árvore com toda sua elegância
Aproximou-se do alimento
Curvou-se pouco antes de chegar
Escolheu uma larva
E voltou para sua árvore
Cantou novamente e foi embora
Depois de duas semanas nós estávamos bem próximos
Seu canto se tornou comum.
Era mais um pássaro
Um belo pássaro
Mas eu estava
Novamente
Insensível.
Beijo bom é aquele que para o relógio, e o mundo deixa de girar, e o único som que ouve, são as batidas do seu coração.
Quando está escuro, estou no meio do silêncio e apenas escuto o som dos meus pensamentos, eu escuto a sua voz.
Vi uma silhueta
Não sei se desse planeta
Gritei, chamei
Fugiu
Me deixou de novo só
Entre as sombras
Por onde andei
Nossos corpos se entrelaçam, ritmados ao som de uma dança épica. Soam os sinos, os olhos incendeiam, nossos lábios se esmagam.Pele contra pele, lábios contra lábios, entre beijos e caricias nossos corpos se tocam e se consomem...
Vivemos na geração da depressão. Geração em que tudo está ao nosso alcance, em q tudo temos, mas somos tão infelizes...
Tudo vai voltar a ser como antes....
Sem cor, sem gosto, sem som, sem nome...
Tomara que eu saiba voltar pra mim!
Amor próprio estou voltando...
Vida que segue!
Eu sempre sobrevivo aprendendo e bato na vida!
A certeza que temos sobre tudo é a única prova de que a indução psicológica funcionou bem e hoje somos barro ou macacos, e não pessoas.
Faz-se necessário riscar o vinil para se produzir som,
machucar os joelhos também se faz necessário para conseguir vitória
Música
O som da alma.
O Silencio da vida.
O amor que vem do canto.
A pessoa amada.
A beleza da lua.
O orvalho, a sombra, a paz...
O mundo admira.
A troca.
É lento, não é rápido...
Eu não sei você sabe?
Eu só sei que é simples.
ONDE ESTÁ O CULPADO?
Sentada em minha velha poltrona ao som de sonhos vis, embriagada por um perfume barato, imagino a vida correndo lá fora, e discorro do que tento imaginar sobre o que seja... Não vejo o oxigênio, mas imagino o que ele consegue ser, através do que faz, enchendo os meus pulmões de vida, enquanto os poluo com a fumaça acinzentada que me persegue em momentos de solidão, tão parecido ao que imagino ver, pessoas franzinas andando por entre cubículos estreitos de uma viela que as levará para algum lugar, e se não levar, deitam-se por entre seus cacos e cantam alguma música cafona enquanto observam o céu, esperando ansiosamente pela noite...
Às vezes, também passo o dia esperando pela noite, somente para ver no céu, a brilhantina cabal de estrelas com olhos curiosos, enquanto imagino-me olhando-as, são as taizinhas que lá estão sempre no mesmo lugar e horário a observar o mundo sob os seus pés.
As estrelas curiosas olham estupefatas as ignorâncias mórbidas a saltarem em timbres reluzentes das valetas humanas... O ódio fede a roupa mofada no obsoleto gesto inútil do falso abraço por conveniência. Conveniência política, comercial nos passos da globalização... Uma palavra bonita, mas que possui o significado tão mesquinho ao cobrir a beleza natural daquilo que o homem não criou e sempre esteve lá, para ser apreciado, ou destruído pela fumaça imunda de meu cigarro, ou gases soltos no ar das infernais máquinas industriais de um submundo qualquer de se ganhar dinheiro.
Ah... Não tenho culpa por morrer entregue ao desleixo... Sou franzina, fraca e medíocre aos olhos do mundo... Não posso me levantar de minha velha poltrona e mudar nem mesmo o que existe dentro de mim... A ganância fétida de um dia atrás do outro... Os dias passam... Passarão a vida toda... Vou olhar para o lado para achar o culpado, ele deve estar em algum lugar... Dentro de mim, não iria se esconder, sou impotente, já pronunciei-me réu confesso com as mãos presas à corrente da cegueira, não posso mover sem perder o descanso que traz o cochilo após descarregar a lavagem de consciência... Já disse, o problema não está em mim. Já estou fazendo a minha parte tentando achar o culpado e entregá-lo à humanidade sedente de justiça com os seus dedos apontados como as armas no morro da roçinha tentando achar o culpado.
Quem quiser seguir, este rumo, pode seguir, fazendo-o com os olhos fechados, na busca do culpado das mazelas que soltam pus de um mundo pachorrento habitado tão somente por designados inocentes como a mim.
A esta altura, abraço-me às almofadas e tento me esconder para não verem em minha face sem vergonha as veredas da hipocrisia, até que meu desassossego enverga o som tímido que sai quase insignificante de minha voz... Digo – sim... Talvez eu possa ter tido alguma parcela de culpa em algum aspecto de minha vida, mesmo que mínima... Escondo-me novamente, olhando pela espreita da almofada o feixe de luz que causa fobia a minha visão turva.
Grite! Uma falta de paz inunda a arapuca armada dentro da consciência. Obedeço – Sim! Sou culpada, pronto! Pronto? Levanta daí... Faça o que pode fazer e não faz porque quer escrevinhar poesias... Escreva, vamos! Assine seu atestado de culpa, gritando em letras... Se não chegar aos becos e vielas fedidas, chegará a algum lugar que se há alfabetização... Olhos que aprenderam a ler e não crescerão ridicularizados por sua própria ação em ler o mundo entre as almofadas do meu sofá. Eles lerão, não somente o que eu queira escrever, mas saberão que nas entrelinhas existe alguém que se acovarda diante de sua oportunidade de ser melhor, diante de um mundo que poderia se tornar melhor, se ao menos eu, começasse por mim, a fazer a minha parte.
As palavras que mais tocam o coração provém dos momentos em que o som do amor nos fazem lembrar daquela nossa velha banda de garagem.
Por várias vezes descobri a morte,
umas nas ruas sob o som dos bares,
em meio à alegria e luz dos peões
outras,dentro de mim, em forma de dor.
Ao sair da estação de metrô de Stamford Brook para a escura noite de outono, ouvi um som rápido atrás de mim. Não tive tempo de reagir e alguém me bateu com força na cabeça e me jogou no chão. Instintivamente, segurei firme a bolsa, onde estava a única cópia de um manuscrito que eu acabara de escrever. Mas o meu agressor não se deixou demover. “Dá a bolsa” gritava sem parar.
(…)
Mais tarde a polícia quis saber por que eu tinha arriscado a vida por uma bolsa. Tremendo e dolorida, expliquei: “É que o meu livro estava dentro dela.”
“Um livro?”, admirou-se o policial. “Um livro é mais importante do que a sua vida?” Claro que a vida é mais importante do que um livro. Mas, em muitos sentidos, o meu livro era a minha vida. Era o meu depoimento sobre a vida de mulheres chinesas, o resultado de um trabalho de muitos anos como jornalista. Eu sabia que tinha sido imprudente: se tivesse perdido o manuscrito, poderia ter tentado reescrevê-lo. Mas não tinha certeza se seria capaz de enfrentar novamente as emoções extremas provocadas pela redação do livro. Fora doloroso reviver as histórias das mulheres que eu tinha conhecido, e ainda mais difícil pôr as minhas lembranças em ordem e encontrar uma linguagem adequada para expressá-las. Ao lutar pela bolsa, eu estava defendendo meus sentimentos e os das mulheres chinesas, O livro era o resultado de muitas coisas que, caso se perdessem, jamais poderiam ser reencontradas. Quando alguém mergulha nas próprias recordações, abre uma porta para o passado; a estrada lá dentro tem muitas ramificações e a cada vez o trajeto é diferente.