Sertão
Se a vida bater forte
Querendo lhe derrubar
Fique firme e aguarde
Porque tudo vai passar
Não se esqueça da lição
Flor que nasce no sertão
É a que mais vai durar
Condeúba é mais do que um lugar, é meu refúgio particular. Meu lar familiar e meu pedacinho de chão. Esse cantinho no sertão é meu aconchego, o único lugar capaz de acalmar meu coração.
Dizem que cidade grande
É o melhor canto que há
Que tem tudo nessa vida
Que se possa imaginar
Mas na roça tem igual
Mais bonito e natural
Basta a gente comparar
.
A cidade tem o carro
O metrô e o caminhão
Não tem pássaro no céu
Não tem bicho pelo chão
A roça tem sabiá
Pato, boi, tamanduá
Cabra, peixe e pavão
.
A cidade tem farol
Com a sua luz acesa
Mas não tem o cintilar
Nem o brilho da beleza
O roçado tem luar
Com estrelas a piscar
No clarão da natureza
.
A cidade tem barulho
O roçado, amenidade
A cidade tem agito
A roça, serenidade
Na cidade, o tempo voa
No roçado, eu fico à toa
Na maior tranquilidade
...Tu é um aconchego nordestino
Tu é um desmantelo de amor
Tu é mandacaru que tem espinho
Mas que as vezes brota flor...
Ingratidão
Oh meu Deus me perdoe
A minha ingratidão
Nasci em cidade grande
Mas amo o meu sertão.
Não desejo tocar os prédios
Apenas tocar o chão
Descalço na terra correr
E na rede adormecer
Perdoe minha ingratidão
Mas não me vejo em cidade grande
Mas livre no meu sertão.
Alexandre C.
Poeta de Libra
Senhô, seu doutô,
Venho aqui te perguntá
Pro que é que existe fome
E um país tão desiguá?
Dizem que o Brasil
Tá endividado,
Quebrado, sentenciado,
Que todo ano gasta uma fortuna
Pra pagá juros de bacana
Dessa dívida de barco furado.
Agora te pergunto:
Que dívida é essa
Que a gente nunca termina de pagá?
Quem foi que comprô fiado
E nunca mais voltô pra acertá?
Um caloteiro miserável desse tinha mesmo é que se lascá...
Oxe, como pode um país rico igual o nosso,
Que só arrecada trilhão,
Com tanta gente passando fome,
Chega a sê humilhação.
Vamo acabá com essa paiaçada
E fazê uma renda de distribuição.
Se tá devendo, meu compadre, tem que pagá,
Agora num vem com essa desculpa esfarrapada
De que o país num tem recurso
Prum pobre comprá um pão.
Ofertá escola, lazer, saúde de qualidade
É obrigação...
Inclusive tá até na Constituição.
Mas acho que isso é demagogia,
Coisas que colocam lá
Pro pobre achá que tem direito
E exercê a tal cidadania.
Que diabo de cidadania é essa, homi,
Que só serve pro pobre no dia de votá?
Depois que passa a eleição, pronto, acabô a consideração...
E o povo fica esquecido, sem voz, nem solução.
Que miséria de direito é esse
Que não consigo usufruí,
Que só serve pra mantê a mamata
E sustentá vagabundo por aí.
Dizem que a cultura é cara, difícil de bancá,
Mas só favorece quem já tá na estrada, fazendo sucesso e botando pra quebrá.
Eu, por exemplo, sô artista independente, um simples poeta que luta pra existí,
E quando peço apoio, dizem que não dá pra investí:
"Orçamento tá apertado, a crise foi de arrasá,
Quem sabe no ano que vem a gente possa te ajudá."
Ora, dotô, e essa tal Lei Rouanet,
Que devia me apoiá, senhô, mesmo sabe que artista amadô neste país
Fica sem nada, sem apoio, sem chão,
Enquanto os grandes lá da mídia só sabem é faturá e influenciá a população.
Outra coisa:
Dizem que falta dinheiro, que a previdência está quebrada,
Ai eu te pergunto: e o véio que trabalhô a vida toda não merece tê uma vida descansada?
Dinheiro existe sim, seu doutô, mas nunca chega por aqui,
Só circula entre poucos, onde o povo num pode ir.
E não venha me dizê que tô errado,
Porque o recurso some nas mãos dos poderosos, enquanto o povo fica aí apertado.
Distribuição de renda é urgente, essa seria a solução,
Mas quem paga o pato somo nós, sem nem mesmo tê condição.
E assim seguimo lutando, com arte e cidadania,
Sonhando com um Brasil justo, sem fome e hipocrisia.
Pra finalizá, vô aproveitá e te perguntá:
Até quando essa injustiça vai durá?
Se o senhô tem o podê, é só querê e mudá,
Porque quem manda pode sim fazê o povo melhorá.
E esses são os meus versos em forma de protesto pro o senhô matutá.
RAÍZ DO VENTO
Sou a raiz do ventooo!
Falou a menina
Face aberta, olhos em riso
Braços desabrochados acolhendo a vida
Enquanto corria-brincava
No chão do sertão.
CORAÇÃO DO NORDESTE
Pernambuco é meu país,
terra de cabra da peste,
tem o frevo no Recife,
tem o forró no agreste,
e também tem o sertão,
onde nasceu Gonzagão,
coração desse Nordeste.
O cuscuz é muito bom,
bem melhor que caviar.
Na mesa do sertanejo,
serve para alimentar.
No Nordeste é tradição
do litoral ao sertão,
é cultura popular.
A rotina no roçado
é antes de o Sol raiar,
é alimentar o gado,
e a lavoura cultivar.
E, à noite, um forró
pra dançar com o "xodó",
e "adispois" ir namorar.
O mundo gira veloz,
o povo vive apressado,
correndo não sei do quê,
passa o dia estressado.
Só existe um lugar
onde a vida é devagar:
é aqui no meu roçado.
NOITE DO INTERIOR
Cai a noite no roçado
É tão bom para se ver
As estrelas lá no céu
Logo após escurecer.
O universo é tão grande
Acho que é semelhante
Ao que sinto por você.
Sentado á mesa, de frente para um prato de fava com farinha, minha tia me olha e diz: O menino come de tudo! e eu à respondo: Mas tia se eu for escolher eu vou ficar com fome!
Meu sertão.
A chuva chegou,
Eu já posso plantar!
É verdade, Padre!
Não me canso de plantar.
A chuva chegou,
Antes do direito!
É verdade, Padre!
Deus é sempre perfeito!
A chuva chegou,
Ela pode ir embora,
A vida é assim mesmo,
O ser humano não toma jeito!
A chuva chegou,
Só não chegou
- a vontade de mudar -
Desses políticos que não param,
- nunca -
De zombar da cara do sertanejo,
Não pensem eles,
Que o nosso povo desatento,
Nós sabemos à que viemos:
O sertanejo é poesia,
Não para de sonhar,
O sertanejo é um forte,
É o poeta da seca,
É o poeta da própria sorte,
O sertanejo é um forte,
- exausto -
Como disse a senadora,
Como disse o poeta,
E como canta o repentista:
- O sertanejo é um forte...
- Sobretudo! -
O sertanejo tem vontade de vencer
Quem fala o contrário:
Não conhece o sertão,
E não sabe o quê é viver...
A chuva chegou,
O ser humano continua o mesmo,
Ele não toma jeito,
Não conhece a vergonha,
Só conhece o ano eleitoral,
Zombar com a cara do sertanejo
Para alguns políticos se tornou normal!
O sertanejo.
Se for luxo e riqueza,
num tem, não senhor.
A minha nobreza
é ser trabalhador,
que vem da grandeza
de alguém de valor.
garimpo
entre cascalhos pouca a suavidade
passei pela idade e por ela os sonetos
eu os explorei os coloridos e os pretos
fados, todos de amor, e de verdade
e pelas gavetas sonhos ali secretos
cada qual nas prateleiras, dificuldade
suspiros, cometas, e tal multiplicidade
eu só queria estrelas, e sólidos tetos
o meu poetar é engatilhado, infinidade
e nesta esgrima, rima, ares inquietos
e os meus paradeiros, olhares eretos
das fissuras dos desvalidos, a metade
vasculho os sentimentos e quem diria
dos devaneios, garimpei a ousadia...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
22/09/2019
Guaianases, São Paulo, SP
Violeiros fazendo cantoria,
E cordéis pendurados lá na feira
No mercado farinha, macaxeira,
E nas ruas Reisado e Romaria
Com o povo resando com alegria
Padin Ciço em cima de um andor
Com beatas pedindo proteção
Sanfoneiro tocando um baião
Palmatória na mão de quem não leu
Só conhece estas coisas quem viveu
No cenário poético do Sertão.
Mote: Jesus de Rita de Miúdo
Glosa: Gélson Pessoa
Santo Antônio do Salto da Onça RN
Terra dos Cordelistas
09 Janeiro 2022
A melhor cidade desse mundo
Tem um nome embaraçado
Dadivada por dois rios
Nossos vizinhos de lado
Bem verdade seja dita
A paisagem já foi mais bonita
E os rios mais preservados.
A melhor cidade desse mundo
Não é melhor por perfeição
Tá bem longe disso
Falta saúde, falta educação,
Tem é muito politiqueiro
Bem pouco político verdadeiro
mas é nossa Princesa do Sertão.
A melhor cidade desse mundo
Tem um povo muito vivido
Tem roda de conversa à noite
Tem feirinha com seu atrativo
A água do rio corda gelada
A cadeira na porta da calçada
A família e as brincadeiras de amigos.
A melhor cidade desse mundo
ensinou-me a respeitar a natureza
jogar pião, peteca e bola na rua
Sem ter mania de grandeza
Coisas de cidade do interior
Mas que levo com muito amor
Pois minha raiz é minha riqueza.
A melhor cidade desse mundo
Nos traz mais proximidade
Não tem tecnologia avançada
Mas tem gente de verdade
Que conversa e escuta
Sem modernidade fajuta
Morar nela é felicidade.
A melhor cidade desse mundo
É a que cada um gosta de morar
A minha escolha é Barra do Corda
Se me perco, encontro-me lá
A vida vai passando depressa
Quando me distancio ouço: regressa!
Você sabe que aqui é seu lugar.