Seca
Seca grande.
A seca grande que vejo
não arreda o pé do chão
o vaqueiro em seu pelejo
para salvar a plantação
como é triste o sertanejo
ver morrendo o seu desejo
de viver no seu sertão.
Brota.
O nordestino e o seu valor
na enxada não se cansa
na seca, na fome, na dor
na lágrima de uma criança
mas quando brota uma flor
também brota a esperança.
Viver é não se entregar ao acaso, afinal aquele que existe como folha seca ao vento jamais poderá pousar sobre seu querer.
DENTRO DA TARDE
A tarde seca e fria, de maio, do cerrado
Cheia de melancolia, deita o fim do dia
Sobre cabelos de fogo tão encarnado
Do horizonte, numa impetuosa poesia
A tarde seca e fria, de maio, do cerrado
O mistério, o silêncio partido pelo vento
No seu recolhimento de um entardecer
Sonolento no enturvar que desce lento
Do céu imenso, aveludado a esbater
No entardecer, seco, frio e, sedento
Perfumado de cheiro e encantamento
Numa carícia afogueada e de desejo
Seca e fria, a tarde, tal um sacramento
Se põe numa cadência de um realejo
Numa unção de vida, farto de portento
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
Desci o vale encantado do teu corpo.
Com o meu corpo a arder.
Como arde a madeira seca numa fogueira.
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ALVORADA NO CERRADO (outono)
O vento árido contorna o cerrado
Entre tortos galhos e a seca folha
Cascalhado, assim, o chão assolha
No horizonte o sol nasce alvorado
Corado o céu põe a treva na encolha
Os buritis se retorcem de lado a lado
Qual aceno no talo por eles ofertado
Em reverência a estação da desfolha
Canta o João de barro no seu telhado
É o amanhecer pelo sertão anunciado
Em um bordão de gratidão ao outono
A noite desmaia no dia despertado
Acorda a vida do leito consagrado
É a alvorada do cerrado no seu trono
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
LÁGRIMAS INTERNAS
Noite fria, alma seca, vida solitária
Pensamentos vagando,dor no peito, saudade insana,
alguma coisa em mim vai buscar longe uma recordação...
Nem sei se eu vivi mesmo o que lembro agora.
Nem sei ...
Mas essa saudade me revira pelo avesso e
me faz mergulhar num mar profundo de silêncios ,
de vazios , de desalentos.
E a chuva cai lá fora e aqui dentro estou fora de mim nessa busca de alguma faísca de ilusão que valha o momento.
Nada me alenta !
Uma lágrima escorre em meus olhos como se o mundo estivesse caindo sob minha cabeça e a solidão me doma ,
me rouba os segundos em que o meu silêncio só grita por ausências !
Ausências do que inda nem sei se de fato existiram ou
se são delírios desse momento.
Luz do abajur, vidro embaçado, silêncios exacerbados,
Meu corpo quer dormir e minha mente berra.
É hora de desistir de novo de mim.
É hora de partir para fora de mim!
As paredes gritam insanas e o instante se torna
um buraco imenso aqui dentro !
Preciso ir !
Pernoitar n'algum canto que me traga alento e
sonhos vestidos de encantos !
Nordeste verde!
Muita gente ainda acredita
que o nordeste é só sertão
que a seca braba é infinita
e não escapa uma região
mas essa terra é tão bonita
que até mesmo quem visita
quer ficar mais que o verão!
Realidade!
A seca maltrata o chão
nessa dura realidade
peço a Deus em oração
a chuva da fertilidade
porque assim é o peão
quem nasceu para o sertão
não se cria na cidade.
Porteira!
Por trás dessa porteira
eu só tinha felicidade
mas a seca traiçoeira
me mandou para cidade
do meu gado na cocheira
e da minha gente ordeira
me restou só a saudade.
A glória do vaqueiro.
Seca, suor e glória
luta, fome e destino
marcam toda trajetória
do povo de Virgulino
do couro tem a memória
do símbolo da história
do vaqueiro nordestino.
Folhagem seca
Mato sem vida, vento morno, terra cansada!
Sem tempo para florescer...
Onde o amor faleceu.
O tempo passa
passa o tempo
gaveta abre, gaveta fecha.
O sol aparece, o sol se vai
caneta seca, caneta nova
ontem aluno, hoje escritor.
E escutando o professor
Guimarães dizia:
- Do morro vem o recado.
E naquele vai e vem
lembrei-me das loucuras machadianas
dos sentimentos do mundo de Drummond.
Legado imortal
Quem vai continuar?
No mundo de palavras curtas
abreviadas.
Que vive apontando
no arrasta e aperta
esquece-se de pensar.
E a tinta vai secando,
os dígitos sumindo
e o ontem bonito vai se enquadrando
perplexo.
Vai geração mexe
vai canção cresce
vai criança brinque
Invente, tente
não congele
vai.
A seu jeito
porque a sociedade está
e você é.
O ontem, o hoje, o amanhã
e quem sabe a gente se encontra
e aí então você me conta.
Inspiração (Poesia premiada em 2016)
O amor pelo dinheiro e a ganância, adoece os homens, seca o ser, apesar desse distribuir sorrisos, o que existe é apenas um vazio incurável
Armas da seca!
O sertão ainda encara
o sol forte e cristalino
a água distante e rara
tem as armas do destino
e a seca é quem dispara
a bala da dor que vara
o coração do nordestino.
Me sinto fria como uma noite de inverno. Seca como o chão sem a chuva. Não me importo, não tenho reagido. Estou sem forças, sozinha. Tanto dei, hoje não recebo nada. Tanto fiz, agora ninguém faz por mim. Se valeu a pena? Não sei.
Chuva de inverno,
Chuva de verão,
Sem ti sou terra seca,
Contigo uma flor,
sem ti sou como a erva,
contigo um jardim florido,
Morro contigo,
Morro sem ti,
Partes comigo,
Partes sem mim,
Vibro contigo,
Não vibro sem ti,
Folhas ao vento,
Folhas o chão,
Deito-me contigo,
Deito-me sem ti,
Adormeço contigo,
Adormeço sem ti,
Sou feliz mas...não sem ti.!