Seca
Minha voz está estranha
Rouca
Falhada
Seca
Talvez seja meus gritos
Ou a falta de uso deles.
Tenho arame farpado na garganta
Pregos nos lábios
Você consegue ouvir meu pedido de socorro?
Consegue?
Sou como vinho. Posso ser seca, ácida, doce… depende do dia, da estação, de como você deseja fazer a degustação.
Como o vinho posso ser seca, tinta, suave, encorpada. Me diga teu gosto que assim serei, para ser degustada, e, aos pouquinhos, então desvendada.
Louco, louco o mundão é tenebroso
O espírito abatido seca até os ossos
A gente mata, a gente morre, por histórias que distorcem
O inimigo não tem dó, até embarca nesse corre.
Entre relâmpagos e sentimentos
Me relaciono como quem pisa na terra seca,
à espera da chuva. Primeiro,
deixo que a poeira envolva meus pés,
tímida, apenas levantando o véu do chão.
Mas, quando estou pronto para sentir
o toque suave das primeiras gotas,
o céu inteiro se desfaz em trovões:
relâmpagos e sentimentos.
Uma rajada de água desce,
apaga minhas pegadas,
desfaz meus rastros e certezas.
O amor, aparentemente, não é apenas um chuvisco,
mas uma tempestade que encharca cada canto,
sem pedir licença, ocupando todo o espaço
que sempre foi seu.
ALVORADA NO CERRADO (outono)
O vento árido contorna o cerrado
Entre tortos galhos e a seca folha
Cascalhado, assim, o chão assolha
No horizonte o sol nasce alvorado
Corado o céu põe a treva na encolha
Os buritis se retorcem de lado a lado
Qual aceno no talo por eles ofertado
Em reverência a estação da desfolha
Canta o João de barro no seu telhado
É o amanhecer pelo sertão anunciado
Em um bordão de gratidão ao outono
A noite desmaia no dia despertado
Acorda a vida do leito consagrado
É a alvorada do cerrado no seu trono
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
DENTRO DA TARDE
A tarde seca e fria, de maio, do cerrado
Cheia de melancolia, deita o fim do dia
Sobre cabelos de fogo tão encarnado
Do horizonte, numa impetuosa poesia
A tarde seca e fria, de maio, do cerrado
O mistério, o silêncio partido pelo vento
No seu recolhimento de um entardecer
Sonolento no enturvar que desce lento
Do céu imenso, aveludado a esbater
No entardecer, seco, frio e, sedento
Perfumado de cheiro e encantamento
Numa carícia afogueada e de desejo
Seca e fria, a tarde, tal um sacramento
Se põe numa cadência de um realejo
Numa unção de vida, farto de portento
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
Quem aborreceu porque o choro levanta a cabeça, seca as lágrimas a tua força é invisível você já venceu.
Socorro de Sede
Minha carne anseia por você em uma terra seca e sedenta. - Salmo 63: 1
Foram muitas milhas para pernas pequenas pedalarem. Eu sabia disso antes de começarmos. O que eu não lembrava era que as boquinhas também ficam com sede.
Minha família e eu estávamos pedalando pelo perímetro de 8 milhas da Ilha Mackinac, que fica perto do ponto onde o Lago Huron e o Lago Michigan se encontram. Não fomos longe quando percebemos que precisávamos de ajuda para a sede. O aluno da segunda série Steven estava com sede. Realmente com sede. Eu não posso continuar com sede. E o único lugar para tomar uma bebida foi de 5 quilômetros de distância.
A ironia disso tudo era a abundância de água fresca e convidativa. O Lago Huron nos cercou, mas não ousamos beber dele por medo de poluição.
Estamos frequentemente na mesma situação espiritualmente. Somos tão secos quanto um ciclista ressequido, indo o mais que podemos em direção aos nossos objetivos, enquanto estamos rodeados de bebidas que não estamos dispostos a beber. Mas a diferença é que nossa água espiritual nunca é insegura; nós simplesmente não tomamos tempo para colher um grande gole dele.
Davi escreveu que sua alma tinha sede de Deus (Sl 63: 1). Mas ele saciou sua sede procurando o poder e a glória do Senhor (v.2), louvando a Sua benignidade (vv.3-5) e meditando sobre Sua bondade (v.6).
Vamos tomar a ajuda que Deus oferece. Não há razão para ficar com sede quando Ele está tão perto.
Minha fome pela verdade Ele satisfaz;
Sobre a Palavra, o Pão Vivo, eu alimento;
Nenhuma sede seca eu sei, porque a Sua graça,
Uma piscina de profundeza infinita, supre minha necessidade. —Sanders
O que a Palavra de Deus é para a alma, a água é para o corpo. Dave Branon
As lágrimas de uma mulher,
com um beijo devemos secá-las...
LÁGRIMAS DE MULHER
Marcial Salaverry
São sempre lágrimas sentidas,
mulheres não são fingidas...
bem... quase nunca...
Lágrimas sentidas são aquelas
derramadas quando o amor se vai...
e a alegria de viver se esvai...
São lágrimas doloridas...
de um coração machucado, infeliz...
que apenas queria ser feliz...
Lágrimas para curar as feridas,
de uma alma que chora...
e precisa de outro amor sem demora...
Onde está esse amor?
Lágrimas de mulher...
Pedem carinho...
e a um denguinho,
resistir, quem há de?
Marcial Salaverry
Quem planta mentiras... jamais irá colher credibilidade. É um plantio que não germinará... e a seca total... é simplesmente... vidente...!
O quadro nu na parede seca
faz sala na rosa sobre a mesa.
Copos vazios de meias palavras enfeita
cinzeiros cheios em meio a madrugada.
E aos olhos do olho da nuca cega,
a verdade na retina da palavra certa
faz companhia à lua, majestade daquela noite.