Saudades da Pessoa Amada
Admiração –
Comprei umas coisas e, enfim, elas chegaram.
Olhei-as e gostei.
Mas sempre sinto que me falta alguma
outra coisa (maior),
e então entendi que tudo que tenho (possuo),
não me tem. — pessoas e bichos
me têm;
Sentimentos e dúvidas me têm;
Sensações e sentidos.
Sou do tipo — raro — de gente que "costuma
usar coisas e amar pessoas".
(Acho que ouvi alguém dizer isso
por aí).
Gosto de gente interessada, admirada,
intensa, sincera.
Se quer algo frio e últil: compra
uma geladeira.
Amor é devoção, entrega — admiração.
Já não me interesso mais por gentes desinteressadas... Ao contrário, seria como dar remédio ao morto. Me seduz as almas que insistem em ter-me por perto, apesar das minhas faltas e medos...
Tal Como É –
Olha só que céu
lindo! — eu disse-lhe.
Mas não está um pouco
nublado? — questionou-me.
Sim, sim. — eu outra vez.
Mas ainda assim,
tão belo quanto ontem ou
há sete dias.
Na verdade,
o encanto, a beleza, a graça das coisas
se perdem somente nas pessoas.
A coisa ainda tá lá,
tal como é.
E,
no fundo,
quase todo problema
é gente.
Eu sou aquela pessoa que vive com a mente elétrica, pensando em mil coisas, neurônios fervilhando... enquanto o corpo está mole, cansado, devagar e quase parando.
Uma pessoa humilde,
não corre o risco de envergonhar-se
diante de situações na vida;
E, jamais terá dificuldades
em atingir seus objetivos!
No fundo, a gente nunca conhece um pessoa de verdade. É impossível. Coloque uma pessoa num contexto diferente do que ela está acostumada e essa pessoa vai revelar certas características que nem ela mesmo imagina que tem.
16/12 -
Ora,
por que haveria de ser
diferente?
Apenas deite
e durma.
Amanhã será só mais um dia
a menos como todos
os outros.
O sol nascerá a leste;
A vista da janela
ainda será a
mesma;
O tempo se desenrolará
na mesma velocidade
de todos os outros
dias.
Então,
arrumarei a cama e
os cabelos como
em todos os
outros;
Escovarei os dentes
e mijarei como em
todos os outros;
Prepararei o café e os
ovos e os pães (se houver
pão), como em todos
os outros dias.
Ao fim da tarde
sentirei fome e sede
e saudade como
em todos os
outros.
Ao fim do dia
estarei aqui sozinho,
assim, como estou:
no escuro do quarto,
deitado na cama,
como há sete dias,
como ontem,
como agora e em
todos os outros.
Vamos,
apenas deite e
durma. — amanhã será só
mais um hoje a
menos.
Nossa Importância —
Que loucura!
Precisamos estar vivos
para que nos queiram
mortos.
E mortos para que nos
façam vivos.
Algumas pessoas merecem
nosso sorriso,
nunca, nunca nossas
alegrias.
Golpe Baixo –
E de repente você pensa
em quantas coisas conseguiu fazer
esta semana:
De quantos oportunistas conseguiu desvencilhar-se;
Quanta gente idiota, mesquinha
e mau-caráter conseguiu
evitar, entre ir ao supermercado pela
manhã e tentar entender o porquê
de tanta coragem antes de
dormir à noite.
E, naturalmente, há algo
a ser comemorado.
De certo modo, você tem
sido forte:
tem conseguido controlar alguns
desejos impulsivos, algumas paranóias,
alguns medos.
E tudo isso, por enquanto, tem segurado-o.
E isso é bom, ainda que passe. — e passa.
Mas quando você acha que,
finalmente, está começando a dominar
o adversário, a luta — o jogo —
de repente, num simples descuido,
acontece o golpe fatal.
E lá está você, outra vez, nocauteado, dominado, vencido.
Golpe baixo, às vezes,
é algo te fazer lembrar
dois belos olhos castanhos
e uma boca carnuda
mordendo você.
Por Eles -
Eu sempre vou amar os jovens,
os adolescentes.
Claro,
falo do verdadeiro espírito
dessa fase da vida — a liberdade,
a espontaneidade, os sonhos,
a urgência.
Alguns traços de rebeldia,
a malícia com um certo ar de ingenuidade,
a vivacidade, tudo isso que (por muitas vezes,
em conjunto ou não), extrapolam alguns limites, mas, ainda assim (envolto de algum traço de poesia), é uma necessidade
à alma — à vida.
Naturalmente, hora ou
outra,
também vou odiá-los,
mas,
logo em seguida,
perdoá-los.
Eles estão no lugar onde a vida mais entorta,
mais destoa, mais balança.
Ainda que, sob a benção da distração, não percebam a real de tudo isso.
Eles não sabem bem o que são,
nem mesmo sabem o porquê
de não saber o que são.
Mas eles precisam saber, urgentemente precisam saber e ser o que ainda desconhecem.
A vida cobra decisões de gente grande,
e eles ainda não o são.
Ser criança ou ser adulto é, de certo
modo, mais confortável:
Ou se vive num sonho
fantasioso, relativamente
ainda seguro,
ou numa realidade
palpável. — se não a ideal,
o mais próximo da
mais provável.
Ser jovem, adolescente
é viver tudo ao mesmo
tempo.
Uma mistura — agredoce — uma doce maldição poética,
e sem tempo (ainda que
tenham tanto), para maiores entendimentos.
E isso confunde, sufoca,
dá medo.
(E digo jovem, adolescente,
não somente falando
de idade).
Algumas adolescências
beiram os trinta, os quarenta anos...
Mas penso que todo ser
humano com alguma coisa
especial,
independentemente
da idade,
carrega algo jovem, algo adolescente
no espírito.
Acho que é, também,
por eles e por isso
que eu escrevo.
Sigo —
Sigo com uma enorme angústia em
formade mágoas e decepções.
Mas sigo.
E sigo,
simplesmente
porque é o que me resta.
Não direi-lhe mais nada, nem cobrarei nada.
Nem a deixarei mais me ver chorar.
Apenas seguirei... como um rio
calmo e esquecido que aparenta estar secando, mas ainda em fluxo.
Ainda.
E espero que um dia melhore;
Espero que um dia aceite;
Espero que um dia passe.
Espero... mas, por ora, não a
espero mais.